quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 DE ABRIL

A 25 de Abril, para as pessoas da minha geração, é impossível não falar  do 25 de Abril, daquele 25 de Abril, do nosso 25 de Abril, do meu 25 de Abril. Este ano o dia parece marcado por uma polémica, do meu ponto de vista inconsequente, sobre a presença de instituições ou figuras na sessão comemorativa oficial na Assembleia da República. A História tem actores, principais e secundários,  heróis ou vilões, e figurantes, mais ou menos anónimos, mas não tem donos. Tenho pena, mas não estranho. Também como nunca nos nossos dias, atravessamos tantas dificuldades, com tantos milhares de pessoas a sofrer a luta pela sobrevivência. Também por isso, voltemos à substância, o nosso 25 de Abril em que, lamentavelmente, já não estará um homem sério, Miguel Portas.
Há algum tempo, numa conversa informal com alunos, jovens, do ensino superior, alguns questionavam-me sobre como era a vida académica, e não só, antes desse 25 de Abril. Ao procurar dar-lhes um retrato desse tempo e do que era a nossa vivência diária, deu para perceber alguma perplexidade nos jovens não tanto pelas referências às grandes questões, mas, sobretudo, pelas pequenas histórias do dia-a-dia.
Histórias do clima de desconfiança e suspeição sobre a pessoa do lado que nos prendia dentro da gente; do livro que se não tinha; do filme que se não podia ver; do disco que se contrabandeava; do teatro que não se podia fazer; da conversa que se não podia ter; do professor de quem não se podia discordar; da ideia que se não podia discutir; da repressão visível e, mais pesada, invisível; do beijo que não se podia dar em público; do livro único para formar um pensamento único; de tantas outras histórias com que se tecia um mundo pequeno que nos queria pequenos.
Aquela conversa foi muito estimulante. É certo que me deixou a doce amargura da idade mas, mais interessante, fiquei convencido que aquele pessoal não permitirá nunca que se possa voltar a ter histórias daquelas para contar a gente mais nova.
Acho até que esta gente não vai mesmo estudar para ser escrava, esta gente vai, apesar de por vezes se sentir à rasca, chegar ao futuro.
Gosto de acreditar nisto. Também por causa daquele 25 de Abril.
E porque é mais fácil e mais bonito, "Traz outro amigo também".

1 comentário:

anónimo paz disse...

Senhor professor, tem razão quando diz que a História não tem donos,apenas actores.

Poderia ter ido um pouco mais além e não esquecer-se dos apagadores da História. Aqueles que deslustram, tiram o brilho e obscurecem acontecimentos, quando o povo tem participação activa, importante e quase decisiva como aconteceu no 25 de Abril de 1974. As gerações posteriores não sabem exactamente que regime foi deposto nesse dia. Não lhes ensinam na Escola! E se aludem a esse acontecimento, é de forma vaga. Não faltará muitos anos para cair no limbo...suprimir o feriado ou avançar para o Domingo seguinte.

No Século 18, o Papa Pio VI disse: "Há alguma coisa mais disparatada do que decretar Igualdade e Liberdade para todos ?

Volvidos 3 Séculos, há muita gentinha pensando da mesma forma e em todas as Latitudes.

Grande perda o desaparecimento de Miguel Portas. Destoava na política pelas melhores razões.


saudações