sexta-feira, 14 de outubro de 2011

OS TRABALHOS DAS MULHERES, PROSTITUIÇÃO E DIGNIDADE

No JN e no CM de hoje é referido o aumento embora não quantificado da prostituição feminina, acentuando-se a degradação das condições de exercício desta actividade no que parece ser mais um trágico efeito colateral das dificuldades económicas que atravessamos. De facto, segundo a referência de hoje, aumenta significativamente o número de mulheres que recorrem à prostituição para conseguir padrões mínimos de qualidade de vida para os seus filhos. Em Portugal temos cerca de 300 000 famílias só com um progenitor em casa e sabe-se que as famílias monoparentais são as mais vulneráveis ao risco de pobreza.
No Relatório Society at a Glance 2011 da OCDE, constava que Portugal é o quarto país dos 29 considerados com maior diferença entre homens e mulheres, no que se refere a trabalho não pago, sobretudo a tão portuguesa “lida da casa”, cozinhar, limpar, cuidar dos filhos, etc. Entre nós a diferença é de quase quatro horas.
No mesmo sentido, foi conhecido há algum tempo um estudo realizado pela Intersindical com base em dados do INE e do Ministério do Trabalho, segundo o qual, as mulheres portuguesas trabalham média 39 horas semanais e realizam mais 16 horas de trabalho não remunerado relacionado com a família o que me leva retomar algumas reflexões já aqui deixadas. Também há algum tempo um trabalho internacional revelava que as mulheres portuguesas são das que mais tempo trabalham fora de casa. Existem também indicadores sustentando que as mulheres portuguesas são de entre as europeias as que mais valorizam a carreira profissional e a família, a maternidade.
Este cenário mostra como na actual crise, as famílias monoparentais com a mãe estão numa situação particularmente em risco e quando afectadas por desemprego o recurso à prostituição pode ser uma trágica e incontornável opção colocando a mulher numa situação de perda do seu maior bem, a dignidade.
Uma sociedade em que valores como solidariedade, apoio ou dignidade tenham algum valor residual não pode deixar de atentar nestas realidade sem um, como agora se diz, sobressalto.
A questão mais grave é que, muito provavelmente, este problema vai passar para a categoria dos problemas transparentes, isto é, sabemos que existem, mas não os vemos (não os queremos ver).
E depois toda a gente enche a boca com a defesa do estado social, seja lá isso o que for. Tretas.

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