terça-feira, 4 de outubro de 2011

OS JORNAIS SÃO COMO OS DIAS, NUNCA ACABAM

O Público de hoje volta a um recorrente assunto dos últimos anos, o futuro sempre discutido dos jornais face aos novos desenvolvimentos tecnológicos. Este tipo de discussões é frequente envolvendo também e por exemplo, os livros e a música.
Não me vou referir aos conteúdos do trabalho, apenas retomo o excelente texto de José Vítor Malheiros, como lhe é habitual, intitulado "Nenhum gadget vai salvar o jornalismo". O texto termina com "O jornalismo só sobreviverá, se o for realmente. E, se não for, que morra, Alguma coisa aparecerá".
De facto, apesar das mudanças em tecnologia e das incidências do mercado, acredito que os jornais, são como os dias, nunca acabam. Se forem jornais, bons jornais. Ao ler o texto, ao pensar nestas linhas, lembrei-me de jornais e jornalistas que me têm acompanhado ao longo da vida e que me fazem manter leitor diário de jornais em papel. Apesar de também consumir informação noutros suportes, não é a mesma coisa.
Sem a preocupação de ser exaustivo ou seguir qualquer ordem que não seja a memória, algumas referências que vão dentro da minha mochila.
Quando era miúdo aguardava com a maior das ansiedades que o meu pai chegasse do trabalho no Arsenal do Alfeite para trazer a Bola já lida por muitas mãos e onde se "aprendia" a ler com o Vítor Santos ou o Aurélio Márcio.
Lembro-me como a adolescência e juventude ficaram ligadas a títulos como o Comércio do Funchal com Vicente Jorge Silva, o Jornal do Fundão com o António Paulouro ou o Notícias da Amadora, janelas, frestas, por onde se espreitava a realidade um regime espesso e fechado teimava em esconder e censurar.
Recordo com saudade o Diário de Lisboa com o suplemento A Mosca com Luís Sttau Monteiro ou as ilustrações do Abel Manta ou o Diário Popular com o Baptista Bastos que ainda anda por aí. A circunspecção formal e competente do Diário de Notícias com Mário Mesquita e o outro Mário, o Bettencourt Resendes ou a inovação e agitação trazida pelo Independente de Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas. Não esqueço a abertura possível verificada com a "ala liberal" de Pinto Balsemão ou Sá Carneiro ligada ao Expresso que mexeu seriamente com o jornalismo em Portugal.
Finalmente, o registo do aparecimento do Público, um companheiro com quem me zango tantas vezes mas que continua a entrar diariamente cá em casa na versão papel.
Pois é, meu caro José Vítor Malheiros, os jornais são como os dias, nunca acabam. Enquanto fizerem jornalismo.

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