domingo, 13 de abril de 2025

O SUCESSO EDUCATIVO ESPERADO QUE NÃO ACONTECE

 Lamentavelmente e sem surpresa, o relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência relativo a 22/23 mostra que o número de alunos que terminam os ciclos de ensino no tempo esperado baixou em todos os ciclos incluindo o ensino profissional com excepção do 2.º.

Também não é uma surpresa que os alunos de famílias com mais dificuldades económicas e com apoios da Acção Social Escolar tenham um abaixamento mais acentuado na conclusão de todos os ciclos no tempo esperado.

Esta questão, recorrente, no nosso sistema educativo e também está bem expressa num trabalho que integra a recente newsletter da Educação do Público numa peça de Cristiana Faria Moreira.

Tantas vezes aqui tenho abordado a relação mais do que estabelecida entre o desempenho escolar e a pobreza que se torna difícil inovar.

Os dados são inquietantes, o abaixamento global e mais acentuados nos mais vulneráveis e está bem estudada a relação entre a situação económica, laboral e nível de literacia familiar no trajecto pessoal sendo que, sem surpresa, são estes alunos que, globalmente, mais dificuldades sentem no desempenho escolar bem-sucedido.

Também sabemos que a pobreza tem claramente uma dimensão estrutural e intergeracional, as crianças de famílias pobres demorarão até cinco gerações a aceder a rendimentos médios, um indicador acima da média europeia.

A escola é certamente uma ferramenta poderosa de promoção de mobilidade social, mas, por si só, dificilmente funciona como elevador social.

O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares como o rendimento escolar ou o comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas.

Por outro lado e em termos mais globais, dado o também global abaixamento do número de alunos que termina os ciclos de estudo no tempo previsto é crítico um ajustamento nas políticas públicas de educação e sociais.

É essencial promover e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo. Em Portugal os bons alunos são os que mais trabalham em casa, TPCs e explicações, dado a que, evidentemente, não é alheio ao nível de escolaridade dos pais e ao estatuto económico.

É claro que mudanças estruturais têm custos pelo que será de considerar a necessidade de investimento sério em educação, 6% do Produto Interno Bruto o que está definido pela UNESCO como meta para 2030. Talvez a aposta na Defesa condicione a aposta no futuro, a educação.

É crítica a necessidade de uma política que atraia novos docentes com um modelo de carreira valorizada, justa e atractiva.

É imprescindível é dotar as escolas de forma continua e estável dos recursos necessários para minimizar tanto e tão rápido quanto possível as dificuldades que identificam.

É necessário promover a desburocratização asfixiante e reflectir sobre modelos de governança das escolas mais adequados, competentes e participados.

Com real autonomia, com mais recursos e com modelos organizativos mais adequados e desburocratizados as escolas poderiam certamente fazer mais e melhor. que quem vem de fora numa passagem transitória, mais ou menos longa, mas transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de escrutínio, regulação e avaliação também externa, naturalmente.

Escolas com mais auxiliares, auxiliares informados e formados podem ter um papel importante em diferentes domínios.

Directores de turma com mais tempo para os alunos e professores com menos alunos poderiam desenvolver trabalho útil em múltiplos aspectos do comportamento e da aprendizagem.

Psicólogos e outros técnicos em número mais adequado poderiam acompanhar, promover e desenvolver múltiplas acções de apoio a alunos, professores, técnicos e pais.

Mediadores que promovessem iniciativas no âmbito da relação entre escola, pais e comunidade seriam, a experiência mostra-o, um investimento com retorno. Repetindo e sintetizando, os professores sabem como avaliar e identificar as dificuldades dos alunos.

Uma nota final para sublinhar a necessidade de estabilização curricular e da questão da avaliação e percurso escolar dos alunos e reafirmo a importância da avaliação externa como reguladora do trabalho realizado.

É este o desafio que enfrentam as políticas públicas de diferentes sectores. Estamos num período pré-campanha para legislativas, talvez seja de saber de programas e intenções neste universo e que não passem de retórica de campanha.

Em nome do futuro, não podem falhar, repito, não podemos falhar.

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