Desta vez em Vila Franca de Xira. Um menino de seis anos faleceu em consequência da queda de um 4.º andar.
O povo costuma dizer que “ao menino e ao borracho, põe Deus a mão por baixo". Desta vez não, a tragédia foi definitiva. Dada a regularidade destes episódios, algumas notas, de novo.
De acordo com a Associação para a
Promoção da Segurança Infantil, as quedas são a quarta causa de morte acidental
e a primeira razão para recurso ao número de emergência 112 e necessidade de internamentos.
Num relatório produzido pela APSI em 2022 referia-se que em Portugal, entre
1992 e 2020, mais de 6500 crianças e jovens morreram na sequência de um
traumatismo e lesão não intencional ou acidente. Acresce que, entre 2000 e 2021,
quase 150 mil crianças e jovens foram internados na sequência de um acidente.
Realizaram-se cerca de 200 mil chamadas de emergência por causa de acidentes
nesse mesmo período.
Continuamos a ser um dos países
europeus em que acontecem maior número de acidentes domésticos com crianças.
Nas mais das vezes verifica-se alguma negligência ou excesso de confiança da
nossa parte, adultos, na vigilância dos miúdos a que se junta a inexperiência e
o à-vontade próprios dos mais pequenos. Também as piscinas continuam anualmente
a ser palco de acidentes com alguma gravidade ou fatais.
No caso particular das varandas é inaceitável a quantidade de varandas que se continuam a ver com gradeamentos construídos na horizontal, uma escada convidativa para a escalada de crianças pequenas como acontece com qualquer aparelho de um parque infantil. Não pode continuar como é referido na peça do Público. Importa uma regulação mais eficiente (e cumprida) da construção, em particular no que respeita a varandas e gradeamentos
A dor e a culpa que alguém pode
carregar depois de episódios desta natureza serão, creio, suficientemente
fortes para que deixemos de lado o aspecto da culpabilização que aqui nada
acrescenta.
O que me parece importante
sublinhar é que num tempo em que os discursos e as práticas sobre a protecção
da criança estão sempre presentes, também se verifica um número altíssimo de
acidentes, por vezes mortais, o que parece paradoxal. Por um lado, protegemos
as crianças de forma e em circunstâncias que, do meu ponto de vista, me parecem
excessivas e, por outro lado, em muitas situações adoptamos atitudes e
comportamentos altamente negligentes e facilitadoras de acidentes que,
frequentemente, têm consequências trágicas.
E não adianta pensar que só
acontece aos outros.
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