segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

A QUEDA DE UM ANJO, OUTRA VEZ

 Desta vez em Vila Franca de Xira. Um menino de seis anos faleceu em consequência da queda de um 4.º andar.

O povo costuma dizer que “ao menino e ao borracho, põe Deus a mão por baixo". Desta vez não, a tragédia foi definitiva. Dada a regularidade destes episódios, algumas notas, de novo.

De acordo com a Associação para a Promoção da Segurança Infantil, as quedas são a quarta causa de morte acidental e a primeira razão para recurso ao número de emergência 112 e necessidade de internamentos. Num relatório produzido pela APSI em 2022 referia-se que em Portugal, entre 1992 e 2020, mais de 6500 crianças e jovens morreram na sequência de um traumatismo e lesão não intencional ou acidente. Acresce que, entre 2000 e 2021, quase 150 mil crianças e jovens foram internados na sequência de um acidente. Realizaram-se cerca de 200 mil chamadas de emergência por causa de acidentes nesse mesmo período.

Continuamos a ser um dos países europeus em que acontecem maior número de acidentes domésticos com crianças. Nas mais das vezes verifica-se alguma negligência ou excesso de confiança da nossa parte, adultos, na vigilância dos miúdos a que se junta a inexperiência e o à-vontade próprios dos mais pequenos. Também as piscinas continuam anualmente a ser palco de acidentes com alguma gravidade ou fatais.

No caso particular das varandas é inaceitável a quantidade de varandas que se continuam a ver com gradeamentos construídos na horizontal, uma escada convidativa para a escalada de crianças pequenas como acontece com qualquer aparelho de um parque infantil. Não pode continuar como é referido na peça do Público. Importa uma regulação mais eficiente (e cumprida) da construção, em particular no que respeita a varandas e gradeamentos

A dor e a culpa que alguém pode carregar depois de episódios desta natureza serão, creio, suficientemente fortes para que deixemos de lado o aspecto da culpabilização que aqui nada acrescenta.

O que me parece importante sublinhar é que num tempo em que os discursos e as práticas sobre a protecção da criança estão sempre presentes, também se verifica um número altíssimo de acidentes, por vezes mortais, o que parece paradoxal. Por um lado, protegemos as crianças de forma e em circunstâncias que, do meu ponto de vista, me parecem excessivas e, por outro lado, em muitas situações adoptamos atitudes e comportamentos altamente negligentes e facilitadoras de acidentes que, frequentemente, têm consequências trágicas.

E não adianta pensar que só acontece aos outros.

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