terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

A SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS E JOVENS. DE NOVO

 No Público de Domingo encontrava-se um extenso trabalho sobre a saúde mental de crianças e jovens. Muitas vezes aqui tenho abordado esta questão, mas a realidade conhecida justifica a insistência.

As circunstâncias vividas nos últimos dois anos têm vindo a evidenciar impacto significativo na saúde mental e no bem-estar de crianças e jovens.

O recurso a apoios na área da saúde mental tem vindo a crescer provocando o aumento dos tempos de espera para primeiras consultas, assim como o recurso às urgências e o número de casos referenciados por outros serviços de saúde. A insuficiência de recursos impede uma resposta em tempo mais oportuno.

Na peça refere-se a situação do Hospital de Dona Estefânia em que a espera chega aos seis meses, do Hospital de São João, no Porto, três meses e meio e o Hospital de Braga a espera era superior a oito meses no final do ano.

Em Janeiro noticiava-se que nos dois anos que vivemos neste cenário de pandemia os pedidos de ajuda ao Centro de Apoio Psicológico e Intervenção em Crise do INEM aumentaram 52,8% nos jovens até aos 19 anos em dois anos de pandemia.

Numa peça do Público de hoje refere-se que dados preliminares da actividade em 2021 de algumas Comissões de Protecção de Crianças e Jovens evidenciam  um aumento de criançs e jovens em risco com problemáticas de saúde mental.

Recordo um trabalho divulgado em Agosto e que aqui citei realizado pela Universidade de Calgary, no Canadá em que foram analisados 29 estudos de diferentes países envolvendo 80879 crianças e jovens. Como dado mais relevante constata-se que um em cada quatro crianças ou jovens tem sintomas de depressão elevados e um em cada cinco apresenta sintomas de ansiedade altos devido à pandemia da covid-19.

Os especialistas referidos na peça do Público referem a peso dos mesmos quadros clínicos nos pedidos de apoio.

De facto, têm sido múltiplos os estudos que referem esta questão, a deterioração da saúde mental de crianças e jovens, mas também de adultos, no quadro da pandemia. Os confinamentos a que se associaram os períodos de isolamento, a falta de rede social dos pares, as dificuldades de diversa ordem sentidas nos contextos familiares terão dado um contributo significativo. Os dados mais recentes acentuam a importância desta matéria.

Deste quadro resulta a necessidade e urgência de atenção à saúde mental de crianças e jovens ainda que habitualmente a saúde mental seja um parente pobre das políticas públicas de saúde.

O impacto da pandemia nas aprendizagens tem sido muito referido e está a ser objecto de um plano específico, Plano 21/23 Escola + que, esperamos, mobilize os recursos e as intervenções necessárias aos que se propõe. Seria importante que a esta recuperação no plano das aprendizagens estivesse associada a uma forte preocupação com a saúde mental de crianças e jovens com os apoios e recursos necessários. Ao que tem sido divulgado o Plano de Recuperação e Resiliência prevê um investimento nos serviços de saúde incluindo a saúde mental, a ver vamos.

Crianças e jovens que passam mal, não aprendem, vivem pior e correm riscos sérios de comprometer o futuro pelo que os apoios e resposta não podem, não devem, falhar.

Como o povo diz, é de pequenino que se torce o … destino.

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