terça-feira, 1 de dezembro de 2020

UM HOMEM QUE NOS PENSAVA E FAZIA PENSAR

 Partiu Eduardo Lourenço, um daqueles que, citando Camões, “por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”. Um Homem que nos pensava e fazia pensar, há poucos.

Nos tempos que atravessamos, faz todo o sentido visitar e reflectir sobre o seu pensamento. Recordo o título de uma das obras de Eduardo Lourenço, “O Esplendor do Caos”, e das palavras iniciais de um dos textos, “Enquanto dura, o que nós chamamos o caos evoca a ideia não apenas de confusão e desordem dos elementos, mas de incapacidade do espírito para compreender e, ainda menos, dominar um estado de coisas, do mundo, da sociedade, da história, onde não se vislumbra a sombra de uma ordem”.

Quando cada vez com mais urgência parece necessário um estabelecimento de um desígnio, de um entendimento mobilizador que congregue esforços e projectos, mais se assiste ao despudorado calculismo decorrente de interesses pessoais ou partidários. Quando parece urgente a elevação de padrões éticos e de transparência na coisa pública, sempre aparece mais um episódio de nível ainda inferior, quando já pensávamos ter batido no fundo.

Quando a situação dramática que aflige milhões de nós exigiria que essa situação fosse a prioridade das prioridades, emerge um ruído ensurdecedor sobre questões acessórias.

Os modelos de desenvolvimento social e económico hipotecados aos deuses do mercado fomentam e produzem pobreza e exclusão.

O inquietante é que parecem longínquos os indicadores de mudança, “não se vislumbra a sombra de uma ordem” como refere Eduardo Lourenço.

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