sábado, 12 de dezembro de 2020

OS BRINQUEDOS PODEM SER PERIGOSOS, MAS A NEGLIGÊNCIA TAMBÉM

 

Talvez este seja o Natal mais estranho da vida das pessoas que habitualmente têm Natal, há quem não tenha.

Ainda assim, não faltará certamente de uma forma mais ou menos próxima a troca de presentes, os mais novos não entenderão certamente que que a pandemia seja um motivo suficientemente forte para que tal aconteça.

A propósito de prendas, mais precisamente de brinquedos, no Expresso estão duas peças que merecem alguma atenção.

Em 2020 o Sistema Europeu de Alerta Rápido para os Produtos Não Alimentares identificou 916 brinquedos diferentes que são vendidos nos países da UE e com a indicação de conformidade que podem ser perigosos, seja pela toxicidade dos materiais seja pelo tipo de construção ou dimensão das peças.

Em Portugal, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica apreendeu cerca de 1120 brinquedos por questões de rotulagem e segurança.

É verdade que existem riscos em alguns brinquedos tal como a Associação para a Promoção da Segurança Infantil e a DECO já têm referido alertando para o facto de que tal estar no brinquedo o símbolo CE não é suficiente como garantia de segurança. A DECO tem também alertado para o risco da compra de brinquedos através da net.

Neste cenário, tanto como o trabalho das instituições, importa sublinhar o papel dos pais como os "verdadeiros inspectores" da segurança dos brinquedos. No entanto, parece-me, como sempre, necessário usar de algum bom senso e evitar excessos de zelo que também não são positivos, ainda que em matéria de segurança infantil o excesso seja melhor que o defeito.

Esta referência à segurança nos brinquedos é importante e oportuna, estamos em pleno espírito natalício, o também o tempo dos brinquedos, mas gostava de reforçar o facto de continuarmos a ser um dos países da Europa com taxa elevada de acidentes domésticos envolvendo crianças, de que as quedas de janelas ou varandas, os afogamentos ou o contacto com materiais perigosos não devidamente acondicionados, são apenas exemplos tragicamente frequentes.

O que me parece importante registar é que num tempo em que os discursos e as práticas sobre a protecção da criança estão sempre presentes e muitas vezes e em múltiplos aspectos com comportamentos de excessiva protecção, em que é recorrente a referência aos perigos dos brinquedos, também se verifica um número altíssimo de acidentes o que parece paradoxal.

Por um lado, protegemos as crianças de forma que, do meu ponto de vista, me parece excessiva face às suas necessidades de autonomia e desenvolvimento e, por outro lado e em muitas circunstâncias, adoptamos atitudes e comportamentos altamente negligentes e facilitadoras de acidentes que, frequentemente, têm consequências trágicas.

E não vale a pena pensar que só acontece aos outros.

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