segunda-feira, 19 de outubro de 2020

DO ENSINO PROFISSIONAL PARA O ENSINO SUPERIOR

 

Acompanhando a subida significativa de estudantes no ensino superior foi agora divulgado que entraram 753 alunos vindos do ensino profissional e artístico que se inscreveram em perto de 500 cursos.

Como escrevi há algumas semanas escapa-me a reserva e desvalorização desta subida expressas em alguns discursos. A qualificação é um bem de primeira necessidade, não existe qualificação mais, existe desenvolvimento a menos que inibe a absorção de mão-de-obra mais qualificada.

Como sempre tenho dito, entendo que o processo de acesso ao superior deveria ser revisto, mas também entendo como positiva a existência de múltiplas vias de acesso a formação de ensino superior desde que reguladas e transparentes

Agora importa responder adequadamente aos desafios que este aumento de alunos coloca, novas exigências de qualidade nos processos de formação e nos recursos disponíveis, mas mais uma vez é o que se espera de políticas públicas adequadas.

Face às reservas sobre a “tipologia” e conhecimentos dos alunos quando entram e como entram, interessa-me mais as competências e saberes quando saem considerando a múltipla oferta no ensino politécnico e universitário. Mais uma vez me lembro que quando entrei no superior tinha "estatuto" de aluno de baixo rendimento, era pouco interessado na generalidade das matérias do secundário, cumpria serviços mínimos e carregava na mochila muitas negativas e um “chumbo” pelo meio, sem esquecer alguns interesses e actividade indesejáveis na altura. No superior, no curso que queria, as minhas notas subiram e após uma carreira profissional acabada formalmente há pouco acho que não estive mal, passe o juízo em causa própria.

E para que os que agora entram acabem e acabem com boa formação precisamos de garantir os recursos em termos de apoios sociais que previnam o abandono, as famílias portuguesas são das que maiores custos suportam com a frequência de ensino superior.

Precisamos de equipas docentes e de investigação renovadas e competentes no ensino politécnico e universitário, público e privado.

Precisamos de investimento no ensino superior e na sua frequência que seja o garante da qualidade da formação e, portanto, do futuro.

Parece-me ainda, talvez fruto de algum irrealismo ou falta de “pragmatismo”, que o conhecimento é construído com as pessoas e para as pessoas. Neste sentido, insisto na ideia de que em todos os cursos de ensino superior deveriam existir créditos obrigatórios para áreas como ética e filosofia.

Os dias que vivemos e a forma como a ciência é tantas vezes (des)tratada sublinham este entendimento e um dia, creio, assim será.

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