sexta-feira, 8 de junho de 2018

PAS DE CELLULAIRES, S'IL VOUS PLAIT

Conforme já tinha sido anunciado foi aprovado ontem pela Assembleia Nacional a proibição já no próximo ano lectivo do uso de telemóveis nas escolas básicas e secundárias sendo que a proibição também envolve os professores. O Ministro da Educação refere a aprovação de uma “lei da desintoxicação”, 90% das crianças francesas a partir dos 12 anos tem telemóvel.
Os dispositivos podem ser usados para “fins educacionais” ou por alunos com necessidades especiais para os quais sejam imprescindíveis.
O Ministro defende “Hoje em dia, as crianças já não brincam no recreio, porque estão todas à volta do seu smartphone e entende que a decisão é "uma mensagem de saúde pública para as famílias".
Embora a razão que a sustenta, o uso excessivo deste tipo de dispositivos por parte de crianças e adolescentes com risco directos e indirectos reconhecidos, seja óbvia a decisão não é consensual.
Ao que parece existem pais que se inquietam com a impossibilidade de contactar com os filhos e também levantam algumas questões de funcionalidade.
se colocam questões de natureza logística, como recolher, guardar e devolver a quantidade de telemóveis no entanto esta é a parte que me parece menos discutível se bem que a dificuldade logística seja evidente.
Acresce que a utilização dos smartphone e telemóveis nas salas de aula como ferramenta de trabalho e de suporte à aprendizagem e ao conhecimento está aí e está para se incrementar o que me parece natural. Fica algo estranho que nas aulas possam trabalhar com os dispositivos e no intervalo sejam proibidos de os utilizar.
Não tenho nenhuma convicção que esta estratégia de proibição devolva crianças e adolescentes à conversa e aos “jogos tradicionais” embora seja imprescindível a regulação do seu uso.
A questão estará a montante, a utilização que nós todos damos a estes dispositivos. Seria bastante mais interessante que se discutisse a sério nas comunidades educativas a regulação dos comportamentos e definição de regras e limites, sem “supernannys”, sem “superdaddys” ou “superstores”. No entanto esta discussão tem de ser acompanhada pela nossa, adultos e profissionais, regulação da sua utilização. Se olharmos para muitas famílias em “convívio” ou para muitos contextos profissionais em “reunião” e repararmos o que está acontecer nos ecrãs que muitos terão à sua frente perceberemos o que está por fazer, comportamento gera comportamento.
Apesar de bem-intencionada a decisão de proibição não me parece eficaz e, mais do ue isso, poderá levantar novos problemas. conflitualidade, por exemplo.
Tenho alguma curiosidade sobre a apreciação que os docentes das nossas escolas farão da medida e do seu potencial de eficácia.

2 comentários:

Ana disse...

Estou totalmente de acordo com todas as suas considerações.
Apesar de me parecerem anedóticos os argumentos dos pais, como se as escolas não tivessem as portas abertas e os telefones disponíveis para as necessidades de força maior, também julgo desacertado abrir uma guerra à modernidade, para facilitar o trabalho de quem tem de educar as crianças e jovens, em todos os sentidos.
Passamos a vida a ver famílias amesendadas em restaurantes, em que cada membro está com o seu equipamento tecnológico enquanto espera, inclusive bebés ainda sentadinhos em cadeiras próprias, de tão pequenos que são.
Então, é caso para perguntar se será justo que os miúdos sejam "castigados" nas escolas por défice de educação dos adultos que os tutelam, e se um dos objetivos visados - combater a indisciplina e o "bullying" na escola - não terá precisamente o efeito contrário, sendo que o fruto proibido é sempre o mais desejado.

Na minha família, onde o mais novo tem 25 anos, toda a gente conhece um anúncio muito expressivo sobre esta temática.
Este: https://www.youtube.com/watch?v=bMf_qVLNrlI
E quando alguém prevarica à mesa, por exemplo (muito raramente), eu pergunto logo:
"- Querem que vá buscar a máquina de escrever?" :-)

Ana disse...

Não era ANÚNCIO, mas sim VÍDEO.