domingo, 27 de maio de 2018

PAI, ESTOU DOENTE, MUITO DOENTE, NÃO POSSO IR À ESCOLA


Apesar da minha proximidade ao mundo da educação e ao mundo da escola e sendo também por várias razões utilizador diário da “net”, confesso que foi com alguma estranheza que soube pela imprensa de hoje da existência de milhares de páginas, incluindo vídeos no Youtube, com conselhos sobre formas de conseguir encontrar “desculpas” para faltar às aulas.
Encontram-se materiais como "5 desculpas para faltar a aula" ou "10 Desculpas para não ir à Escola" que em conjunto somam 13 milhões de visitas. 
É possível aprender “simular febre, enxaqueca, dores de estômago, náuseas e cólicas, mas também diarreia, vómitos ou uma erupção cutânea.” Notável.
Sem dramatizar creio que é um sinal que nos merece reflexão.
Leva-me a recordar umas notas de há algum tempo quando me convidaram para participar num evento com o tema “Fugir para a escola”
Seria muito interessante, mas não passa, provavelmente, de um romantismo não compatível com a dureza crispada, agressiva e feia, dos tempos e da vida actual, imaginar que os miúdos quisessem fugir para a escola, não porque fugissem de algo mau, o contexto familiar, por exemplo, e que em bom rigor e lamentavelmente é por vezes tão mau que obriga a fugir, mas porque os miúdos quisessem correr para a escola por nela se sentirem bem.
É verdade que para a maioria dos miúdos a estadia na escola é positiva, no aprender, no ser e no gostar. No entanto, para alguns outros a escola é um lugar de onde apetece fugir e muitos destes acabam por fugir da escola ou sentirem-se empurrados para fora.
Serão estes os que recorrem aos conselhos sobre a for de encontrar uma desculpa para não ir à escola?
As escolas vão construindo muros cada vez mais altos e mais fortes. Nunca sei muito bem qual a verdadeira função dos muros da escola, impedir que os miúdos saiam ou impedir que os miúdos entrem. Acho que os muros da escola conseguem ambas, o que parece estranho.
Por outro lado, nos tempos que correm também muitos professores, bons professores, mostram por cansaço ou desesperança que já não fogem para a escola, um lugar de realização, de trabalho duro mas com uma das maiores compensações  que se pode ter, ajudar gente pequena a ser gente grande.
O clima institucional, a burocracia, a deriva política vão levando a que a escola não apeteça, foge-se ou é-se empurrado para fora, apesar dos muros altos. Felizmente, muitos outros professores ainda conseguem fugir para escola, os alunos desses professores são miúdos com sorte.
No entanto, também sabemos que muitos professores, um número demasiado elevado, se encontram mal, em situação de exaustão e cansaço, à procura de algo que lhes permita, tal como aos miúdos, não ir à escola.
Que andamos a fazer com a educação, com a escola, connosco?
Será que ficou mesmo impossível acreditar que os miúdos e os professores, de uma forma geral, queiram fugir para escola?

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