quinta-feira, 26 de novembro de 2015

DO ESTADO DE GRAÇA

No jargão da política é uso recorrer-se à figura "estado de graça" quando se verifica mudança de Governo ou de Ministros, por exemplo.
Dadas as circunstâncias inéditas desta alteração o habitual "estado de graça" terá contornos particulares e altamente polarizados entre quem não acredita e nem sequer reconhece legitimidade democrática ao Governo realizando, aliás, um estranho exercício de democracia e quem apoia e deseja veementemente que tudo corra bem com o Governo que inicia funções.
Algumas notas pensando sobretudo na área da educação.
O Ministro anterior, não me refiro naturalmente à Ministra por dias, beneficiou na altura da sua entrada no Governo de um verdadeiro estado de graça.
Essa situação decorreu, do meu ponto de vista de duas grandes razões. Por um lado, resultou do consulado desastroso, que convém não esquecer de Maria de Lurdes Rodrigues, que lançou muitas das bases do que Nuno Crato veio a realizar posteriormente, e que mergulharam boa parte da comunidade educativa num tempo de instabilidade e reacção a vários aspectos das suas políticas. Estava criado um ambiente propício à mudança.
Em segundo lugar pelo seu trajecto e exposição de opinador em que, para além de de entender que o MEC deveria ser implodido, contestava as políticas educativas com base num sedutor discurso de qualidade, exigência, rigor e competência. Era, parecia o que estava ser preciso.
O resultado ... é história
Chega Tiago Brandão Rodrigues e a forma como lhe é criado o inevitável "estado de graça" desde estruturas sindicais a opinadores é com referências como "é alguém que vem de fora", "não tem vícios" "com uma boa equipa de secretários de estado pode correr bem", etc. Tal como na mudança anterior, o que estava era tão negativo que qualquer coisa pode ser bom mesmo protagonizada por alguém completamente fora do universo da educação.
Na verdade, tal como não me entusiasmei com entrada de Nuno Crato, escrevi na altura que aquilo de que ele falava encerrava uma agenda que se tornou clara com o tempo, também não estou tão entusiasmado quanto gostava com as políticas educativas que se adivinham. 
Do que se conhece, em termos mais práticos releva o fim do exame final do 1º ciclo e o fim da sinistra PACC. Do meu ponto de vista são medidas acertadas mas curtas e que devem ser encaradas com prudência como, aliás, já escrevi. De resto, o que é enunciado em termos gerais e o que foi a política do PS em matéria de educação, recordo de novo Maria de Lurdes Rodrigues, não autorizam, creio, que as expectativas de mudanças significativas e concretas sejam elevadas. Estas mudanças deveriam ser num sentido de reforço e valorização da escola pública, da valorização social e profissional dos professores, da autonomia real das escolas, da promoção efectiva de uma educação inclusiva, de um repensar de um caminho de municipalização e privatização cheio de ambiguidades e alçapões, etc., etc.
Sou dos que entendo que é este o Governo que nas actuais circunstâncias deve Governar, desejo muito que tudo corra bem mas nesta área não vislumbro alterações significativas. Estarei enganado? 
Era bom que assim fosse mas ... vamos indo e vamos vendo.

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