terça-feira, 3 de junho de 2014

O EXAME DE INGLÊS. O que nasce torto ...

"Resultados do teste diagnóstico de Inglês adiados por falta de professores avaliadores"

Prossegue a deriva do exame de Inglês. Agora não saíram os resultados pois por falta de professores avaliadores o processo ainda não está concluído. Certo, tudo dentro da normalidade.
Recapitulando. De forma coerente com a sua obsessão com os exames, o MEC, numa pouco habitual e de estranhos contornos parceria público-privada, envolvendo a Universidade de Cambridge, Porto Editora, BPI, Connexall, Fundação Bissaya Barreto e Novabase, instituiu um exame de Inglês para os alunos do 9º ano e aberta também aos do 10º, 11º e 12º.
Acontece que os professores classificadores deste exame, professores de inglês obviamente, realizariam esta tarefa, que envolve ainda um período de formação em regime de voluntariado. Ao que parece, a apetência dos professores de inglês pelo voluntariado terá sido revista em baixa, é de grande austeridade, pelo que faltaram os avaliadores e temos, assim, um atraso na divulgação de resultados pois o processo de avaliação sofreu evidentes atrasos.
O MEC, de forma expedita, por mail e telefone (é uma abordagem mais personalizada) entrou em contacto com os directores das escolas e agrupamentos solicitando que indiquem “voluntários” para o exame de inglês. Vários directores consideraram este procedimento uma forma de pressão inaceitável, mais um factor de instabilidade nas escolas e criou uma situação de difícil gestão dada a sobrecarga de trabalho que implica nesta altura do ano, pelo que não indicam “voluntários” ou fazem-no por receio de eventuais consequências.
Toda esta história constitui um exemplo, mais um, da deriva em que se tem tornado boa parte da PEC – Política Educativa em Curso. Um exame nacional imposto e obrigatório, independentemente da bondade da medida e do modelo escolhido, não pode assentar no voluntariado dos docentes. 
O MEC não tem que promover o voluntariado dos professores para que desempenhem as tarefas que entende atribuir-lhes.
Acontece ainda que o exame realizado não correspondeu ao nível esperado, B1, correspondente ao 9º ano, mas o nível A2, que corresponde ao 7º ano. O Instituto de Avaliação Educativa afirmou que será assim por uma questão de prudência, justificação que me fez recordar as recorrentes afirmações de Nuno Crato quando era opinador e se insurgia contra "o facilitismo" dos exames para promover estatísticas com melhor aspecto, por assim dizer. Agora, o MEC reconhece que não pode esperar que os alunos tenham as competências que deviam e ... baixa a exigência do exame em vez de tentar, tentarmos, criar as condições para que as aprendizagens esperadas aconteçam.
Por outro lado, a Associação dos Professores de Inglês também entende o nível mais baixo do exame pois com as condições de ensino actual, carga horária da disciplina  de inglês e número de alunos por sala, as aprendizagens esperadas não têm condições de se realizar.
Finalmente e ao que parece, muitas famílias não terão solicitado o certificado do exame, uma outra perplexidade. O MEC institui um exame obrigatório, com um nível "facilitado" durante a escolaridade obrigatória. Se o aluno quiser o respectivo certificado deverá pagar a módica quantia de 25 €, considerada pelo IAVE uma "oportunidade única para obter um certificado reconhecido internacionalmente a um preço simbólico”, pois no mercado “o preço normal deste certificado é de cerca de 75/80 euros”, embora, como é habitual entre nós, faz-se uma atençãozinha, os beneficiários do escalão de acção social mais elevado ficam isentos de qualquer pagamento, os do segundo escalão pagam apenas metade do valor.
Tenho umas dúvidas pequeninas, este exame, assim, serve para quê? Para aferir se os resultados em Inglês dos alunos do 9º ano ou de anos posteriores atingiram as competências do 7º ano? Qual o valor desta certificação? 
Porque é será que tudo isto deixa uma enorme sensação de desconforto e estranheza?

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