quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A TUA CARREIRA POR 350 PALAVRAS E 20 EUROS. (take 2)

Inicia-se hoje o período de inscrição na Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades, destinada aos professores sem vínculo. Apesar das iniciativas legais das organizações de professores, o Ministério da Examinação, desculpem, o MEC, teima nesta narrativa, como agora se diz.
Ainda não se conhece o guião da que será e o processo ainda está em curso pelo que retomo algumas notas sobre exame de acesso à carreira docente, perdão, Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades em mais uma habilidade de manhosa com as designações.
Como tenho referido, de uma forma pouco sustentada, do meu ponto de vista, o MEC estabelece o exame de acesso à carreira docente, perdão a Prova de Avaliação  Conhecimentos e Capacidades, para todos os professores que não tenham vínculo à função pública o que cria a incompreensível situação de milhares de professores com muitos anos de prática avaliada positivamente terem de se submeter a essa prova que, obviamente, não avalia de forma alguma as Capacidades de um professor, tal objectivo consegue-se com prática acompanhada e não com uma prova de conhecimentos e capacidades.
Neste contexto, foi entretanto divulgado que a componente comum deste exame será constituída por uma só questão, "de desenvolvimento" na gíria da avaliação, e terá entre 250 e trezentas palavras como limite na resposta. Notável.
Depois da deriva sobre o impacto do exame e dos pagamentos para sua realização, o MEC assume o despudor e a incompetência de entender que avalia num texto com 350 palavras no máximo, estas notas têm 429 palavras, as "Capacidades", isto é, as competências e qualidades de um professor para além dos aspectos científicos que constituem a componente específica da prova. Relembro que estamos, também, a falar de professores com muitos anos de experiência e com prática avaliada positivamente. Não sei se fico envergonhado, muito, se indignado, muito.
Ficámos também a saber que alguns professores correctores dos exames nacionais terão sido  convidados pelo MEC para examinar os seus colegas recebendo 3 € por resposta corrigida podendo avaliar até 100 provas. Estes professores irão avaliar em 350 palavras se o seu colega do lado com vários anos de experiência, avaliado ao longo dos pode, ou não, aceder à carreira da qual tem feito funcionalmente parte funcional ainda que na situação de permanente descartável.
Do meu ponto de vista é a cereja em cima do bolo da incompetência e da indignidade deste processo.
Não estou profissionalmente envolvido nesta situação, por isso, talvez cometendo um abuso, creio que os professores "séniores" não deveriam colaborar num processo desta natureza e com estes objectivos e formato.
Não pode valer tudo.

9 comentários:

não sei quem sou... disse...

Confesso que desconheço as consequências dos resultados dos exames.

Ao longo dos 35 anos da minha carreira profissional muitas vezes fui avaliado sem interveniência minha e outras tantas fazendo provas de conhecimentos e capacidades.Nunca me preocupei nem tão pouco o meu sindicato veio a terreno insurgir-se contra qualquer espécie de prova.
Quem está seguro do seu bom desempenho profissional não tem que ter receio algum.

Esta conversa faz-me recordar que existem lobbies que necessitam de fortes e claras provas de vida.


VIVA!

Zé Morgado disse...

É mesmo desconhecimento e a prudência aconselha que se fale do que se conhece ou sabe

não sei quem sou... disse...

Fui claro! Apenas desconheço as consequências, disse eu...
Quanto ao resto reafirmo o que comentei salientando "QUEM ESTÁ SEGURO DO SEU BOM DESEMPENO PROFISSIONAL NÃO TEM QUE TER RECEIO ALGUM"


VIVA!

não sei quem sou... disse...

POST SCRIPTUM

No entanto agradeço-lhe o conselho, Senhor Professor.


VIVA!

Anónimo disse...

Atualmente, a preocupação é:

Os professores com alguns anos de carreira realizarem e ser avaliados numa prova.

Coloco uma questão?
Só para esses professores é que a realização da prova está em discussão? E então, os professores que não lecionaram, ou não têm vínculo, ou estão a prosseguir os seus estudos, nomeadamente num mestrado para o ensino também deviam estar a ser "comentados". Pagam-se propinas e prestam-se provas.

Unknown disse...

Sr. não sei quem sou:

Ninguém tem medo de prova nenhuma! O que não se admite é que o MEC venha inventar maneiras de quem há vários (20, no meu caso) anos é professor, avaliado anualmente, poder aceder à carreira. Que deixem de ser cínicos, hipócritas e mentirosos e digam a verdade por trás da prova. E, sobretudo, se há professores a mais, porque continuam a investir na sua formação? Haja coerência e vergonha na cara. E pior: pagar 20 euros no acto da inscrição??? Só podem estar a gozar. Quer dizer, cobram 20 euros para pagar 3 euros a quem corrige! Grande negócio, não? As fotocópias estão caras lá no MEC, só pode!
E os professores do particular? Esses são todos tão bons que não precisam de prestar provas? Ou aí já não é responsabilidade do MEC, porque não lhes paga o ordendado? Então não é o MEC que os financia? Não, não é, somos todos e o senhor também! Eu tenho um diploma que me confere habilitação para a docência com data de 2013! Acha que não estou habilitada? Já fiz todas as provas que me pediram para o obter e não custou 20 euros, não. Já não chega?

Unknown disse...

Perdão, uma correção:
O meu ÚLTIMO diploma que me confere habilitação para a docência, tem data de 2013 (sim, porque tenho vários!)

não sei quem sou... disse...

Senhora Professora Cristina Neto

Excelente explicação sobre as intenções do MEC.

Os meus agradecimentos


VIVA!

Janita disse...

O que é um bom professor?
-Aquele que só sabe argumentar de forma eloquente, que tem um discurso oral e escrito elaborado, que "divulga", de forma superior, as suas ideias, junto dos seus alunos e que, de uma forma tão distinta, não se encontra na "proximidade" deles e, por isso, não consegue fazer passar a mensagem?
- Aquele que, sabendo do que fala, "explora" com os alunos, que todos os dias se tenta aperfeiçoar, que ri e chora com eles, que os consegue motivar, que os faz gostar um pouco mais da escola, que não é brilhante nas palavras escritas, que não tem vergonha de dizer "isso não sei" mas vamos procurar em conjunto, que os ajuda a crescerem como pessoas?
O que queremos para os nossos filhos?
Acham, por acaso, que são as palavras que fazem toda a diferença? Como se mede envolvimento, paixão, disponibilidade, persistência, criatividade? Em quantas palavras?
Será que chegam 350?