Na próxima semana recomeça a escola e, para não variar, não começará de igual forma para todos e não se vislumbra quando assim será. É impossível a indiferença, a educação em geral e a educação escolar mais em particular, foram e continuam a ser o meu universo profissional e a minha paixão, é-me difícil não “pensar” na escola. Também será verdade que com os netos em idade escolar a atenção ainda é maior.
O olhar para a escola, enquanto
instituição, não nos (me) sugere a tranquilidade que desejaria e julgo ser
necessária apesar dos sobressaltos próprios de uma instituição viva, multidimensionada e diversa.
Creio que muitos de nós ligados à
educação e à escola continuamos a ter um olhar encantado sobre a sala de aula e
sobre o estar com alunos, mas um olhar muito desencantado com a escola ainda
que não queira produzir generalizações abusivas. Também é verdade que este
olhar desencantado coexiste com uma visão e discursos que parecem assentes num
exercício de “wishful thinking”, particularmente promovidos pelas sucessivas
tutelas em que (quase) tudo parece estar bem e no bom caminho.
Não vou considerar aqui os
aspectos críticos ligados às questões de natureza profissional do maior grupo
que está na escola, os docentes, desde logo a dramática falta, a sua valorização
e a carreira adequada e actualizada, os modelos e impactos da sua avaliação, o
estatuto salarial, as características demográficas, o cansaço e as
consequências que daí advêm, entre outros. São muito importantes e exigem uma
acção que tarda.
Estas notas dirigem-se mais para
a escola enquanto instituição e o desencanto que parece estar a produzir. São
múltiplas as dimensões contributivas para algum mal-estar.
Muitas vezes aqui tenho abordado
algumas dessas questões e sem ordenar por qualquer critério creio que o modelo
de governança da escola, a esmagadora carga de burocracia que consome esforço e
tempo por docentes e técnicos, uma narrativa assente numa permanente ideia de
inovação e mudança de paradigma que produz uma chuva de projectos e de
iniciativas, muitas vezes, vindas do exterior, quer em programas de
intervenção, quer em programas de formação, agora diz-se capacitação, que
consomem recursos (tempo, materiais e humanos) com avaliações que nem sempre
são suficientemente sólidas, são alguns exemplos.
Para além dos professores, são
insuficientes os técnicos e auxiliares de educação como ontem aqui referi. A
escola carece de dispositivos de apoio suficientes e competentes para alunos e
professores bem como de recursos que sempre se anunciam, mas sempre se atrasam,
meios digitais, por exemplo. A designada transição digital é um mar encapelado.
A autonomia das escolas e dos
profissionais que estão na escola, associada a caminhos nem sempre claros de
municipalização e regionalização, também são variáveis desta equação.
Como disse, não tenho qualquer
intenção de produzir discursos negativos e muito menos catastrofistas, confio
na escola, sou obrigado a isso, a escola é a base que sustenta o desenvolviento e o futuro, mas, para que assim seja, importa que tenhamos uma perspectiva
realista dos problemas, a única maneira de poder procurar um caminho mais
positivo.
Que caminhos percorreremos este
ano?