sexta-feira, 9 de maio de 2025

NÃO TRATAR A ÁRVORE DO DESENVOLVIMENTO

 Sem surpresa, veja-se o que se passa nos Estados Unidos, os ventos não sopram favoráveis ao trabalho de investigação científica. Os critérios de financiamento às estruturas de investigação científicas portuguesas foram profundamente alterados.

Em consequência, as entidades que na avaliação tiveram “Muito Bom” vão sofrer um corte orçamental da ordem dos 68% o que, obviamente, compromete o trabalho em curso.

O ministro argumenta que o objectivo é “premiar o mérito” criando um fosso gigante entre as estruturas que obtiveram “Excelente” e as com “Muito Bom” levando a que as primeiras tenha um financiamento quatro vezes superior. A carta aberta subscrita por 78 estruturas de investigação é elucidativa a situação

Parece-me estranho que o Ministro, com experiência de ensino superior afirme o objectivo de “premiar” o mérito. O apoio à investigação não é um “prémio” é um eixo crítico no desenvolvimento das instituições das comunidades e do país. Compreende-se alguma diferença face à avaliação do trabalho das unidades e centros de investigação, já não se compreende que a diferença seja tão significativa e, mesmo, ameaçadora da continuidade dos trabalhos desses centros. Um corte de 68% terá certamente um impacto brutal.

Recordando uma afirmação já antiga do Professor Carlos Fiolhais, o ME “está a matar a árvore do desenvolvimento”.

Na verdade, está estudada e reconhecida de há muito a associação fortíssima entre o investimento em educação e investigação e o desenvolvimento das comunidades, seja por via directa, qualificação e produção de conhecimento, seja por via indirecta, condições económicas, qualidade de vida e condições de saúde, por exemplo.

A verificar-se o desinvestimento fortíssimo e a inviabilização de boa parte dos centros e estruturas de investigação corremos o sério risco de ver ameaçados e destruídos os excelentes resultados que os centros, laboratórios e unidades de investigação e as instituições de ensino superior têm vindo a alcançar e que atestam o esforço e a competência da comunidade científica portuguesa e o trabalho realizado no âmbito do ensino superior e investigação, traduzidos no reconhecimento internacional das nossas instituições.

Opções políticas desta natureza poderão ter consequências sérias em termos de desenvolvimento científico e económico para além, evidentemente, do impacto nas carreiras pessoais assim ameaçadas de muitas que investigam, criam conhecimento, promovem desenvolvimento e que, provavelmente, desistem ou emigram.

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