No calendário das consciências assinala-se hoje o Dia Mundial da Saúde Mental. Vários trabalhos na imprensa abordam esta matéria o que, relativamente ao que se passava há alguns anos, representa uma diferença significativa de tratamento e importância atribuída apesar do muito que ainda precisamos de caminhar pela saúde mental e bem-estar das pessoas, grandes e pequenas.
Começando pelos mais novos, recordo o trabalho realizado pelo Observatório de Saúde Psicológica e Bem-Estar
Social com a coordenação da Professora Margarida Gaspar de Matos em que dados divulgados
2022 envolvendo 8.067 crianças e adolescentes do pré-escolar ao 12.º ano mostravam
sinais preocupantes de mal-estar..em mostravam níveis preocupantes de mal-estar.
Um segundo estudo
realizado através de um inquérito a 60 agrupamentos realizado entre Março e
Abril de 2023, com o objectivo de com vista a “identificar, antecipar, alertar
e recomendar acções necessárias a curto, médio e longo prazo” no que respeita à
saúde mental e bem-estar na escola. Os indicadores relativos sinais de
depressão e ansiedade agravaram-se em particular nas raparigas e nos alunos do
secundário. É referido que “Também nestes grupos foram descritas dificuldades
ao nível físico e psicológico, menor tolerância à frustração, maior
desinteresse, desmotivação e inércia.”
Também nos estudantes do
ensino superior os sinais de mal-estar são inquietantes.
Dados do Inquérito às
Condições Socioeconómicas e Académicas dos Estudantes do Ensino Superior
coordenado pelo ISCTE com respostas de 10600 alunos do ensino superior público
e privado no ano lectivo 22/23 revelaram que 9% dos alunos referiram ter um
problema de saúde mental o que duplica o resultado, 4,4%, do inquérito
realizado em 20/21.
Também um inquérito
realizado pela Universidade de Lisboa entre Abril e Junho de 2022 abrangendo
7756 alunos dos cerca de 52 000 de todas as faculdades da Universidade que
também já tinha dados que mostravam níveis elevados de mal-estar.
Apenas 36,4% dos alunos
refere sentir "engagement académico" pelo menos uma vez por semana.
A equipa que promoveu o estudo definia este quadro como “estado psicológico de
bem-estar cognitivo-afectivo positivo".
Mais pesado se torna o
cenário se considerarmos que apenas 14,5% diz sentir este bem-estar na maior
parte do tempo. No que respeita a indicadores de saúde mental, 15,3% revelam
sintomas burnout, 25% dos estudantes revelam níveis severos ou muito severos de
stress, 26,4% apresenta níveis de ansiedade e 25,2% de depressão. Desde 2015
aumentaram 300% os serviços de apoio psicológico.
Um estudo coordenado pela
Escola Superior de Enfermagem de Coimbra durante o ano lectivo 21/22 envolvendo
5.440 jovens, com uma idade média de 14 anos e de mais de 150 escolas do
Continente e Madeira encontrou sintomas de depressão em 42% dos adolescentes.
Este este aumento está em linha com outros estudos, nacionais e internacionais.
Os dados não são
surpreendentes, estão em linha com outros estudos, nacionais ou internacionais,
mas são preocupantes, muito preocupantes.
Numa abordagem mais geral,
em 2023 venderam-se em Portugal cerca de 12 milhões de embalagens de
antidepressivos, o valor mais alto de sempre, sendo que entre 2013 e 2023 se
verificou um aumento de 80%. Também a venda de antipsicótico subiu 75% entre
2013 e 2023, cerca de 5 milhões em 2023.
Este número pode ser
explicado por maior atenção aos problemas de saúde mental, mas também, se
verifica, de acordo com alguns especialistas um excesso de prescrição ou de
prescrição inadequada.
Em Maio de 2023 a
imprensa divulgou alguns dados de um inquérito realizado Lundbeck Portugal,
farmacêutica especializada em doenças neurológicas e psiquiátricas, 33,6% dos
inquiridos refere que já teve um diagnóstico de depressão, 62,1% já terá
sentido sintomas de depressão em algum momento e 77,3% têm um familiar ou amigo
com diagnóstico de depressão. São, na verdade, dados preocupantes, mas não
surpreendentes.
A generalidade dos
estudos sobre saúde mental em Portugal sugere uma alta incidência de problemas e
a tendência de subida mantém-se.
Aos dados divulgados
relativos venda dos psicofármacos faltará o volume de situações de mal-estar
não abordadas através dos fármacos, as não tratadas e o contributo da
automedicação apesar da exigência de prescrição médica para este consumo. Este
quadro levará a que o número de consumidores seja superior às prescrições e
número global de situações de mal-estar seja bem superior aos indicadores de
consumo.
Também aqui referi na
altura um trabalho divulgado em 2021 realizado pelo investigador na área da
economia da saúde da Nova SBE, Pedro Pita Barros, “Acesso a cuidados de saúde -
As escolhas dos cidadãos 2020, em que se referia que 10% dos portugueses não
vão ao médico quando sentem algum mal-estar e que desta população, 63% recorre
à automedicação.
Como defende Miguel
Xavier, coordenador nacional das políticas da Saúde Mental “Os problemas de
Saúde Mental previnem-se antes de aparecerem. Através de bons programas de
parentalidade, bons programas sociais, como os programas de apoio às populações
vulneráveis”, o que envolve a necessidade de políticas integradas, mas também a
importância dos recursos adequados.
Esperemos que o processo
de reforma dos serviços de saúde mental que está em curso possa ter um impacto
positivo. A saúde mental tem sido o parente pobre das políticas públicas de
saúde.
Existe muita gente a
passar mal, pode ser na casa ao lado.
No entanto, como agora se
diz, somos resilientes e queremos viver, seremos capazes de continuar.
Sem comentários:
Enviar um comentário