terça-feira, 26 de maio de 2020

ATRIBULAÇÕES DO ENSINO SECUNDÁRIO


Sem estranheza, nada nestes tempos parece normal, também o ensino secundário vai ter um final de ano atribulado.
Considerando a opção de não introduzir mudanças no processo de candidatura ao ensino superior os exames nacionais do ensino secundário teriam de acontecer o que, naturalmente,  tem levantado um conjunto significativo de dúvidas e dificuldades. Algumas notas.
Se não se realizassem exames abrir-se-ia uma porta larguíssima à "simpatia" de algumas escolas, fenómeno reconhecido e investigado, que inflacionam a avaliação interna dos seus alunos de forma a, por assim dizer, ajudá-los a dar um “saltinho” na média final. É sabido que o “saltinho” pode ser decisivo para entrar, embora seja de pouco proveito para a continuidade da carreira escolar como diversos estudos têm evidenciado.
Assim, havendo exames e dadas as circunstâncias teriam de ser adiados, a primeira fase vai realizar-se entre 6 e 23 de Julho e a segunda fase entre 1 e 7 de Setembro.
A existência dos exames justifica ainda a manutenção da realização de aulas presenciais para estes alunos como também justifica que as aulas presenciais só se realizem para as disciplinas sujeitas a exame por integrarem os critérios de acesso aos diferentes cursos.
Ficámos então com aulas presenciais para preparação dos exames para alguns alunos e cerca de 10% que não regressaram às aulas provavelmente porque os pais entendem que com as “explicações” se preparam melhor para os exames.
Tivemos ainda algumas dúvidas sobre que disciplinas teriam aulas presenciais ou não como também se adensou o receio com a “generosidade” das avaliações de algumas escolas, já conhecidas muitas delas, pois os exames contarão apenas como prova de ingresso e não para o cálculo da nota final de disciplina. O Ministro da Educação afirmou a precupação com a "simpatia" de algumas escolas a que os inspectores da Inspecção Geral da Educação responderam com a dificuldade de o fazer por falta de recursos.
Para os alunos que não frequentam as aulas presenciais, as escolas não estão obrigadas a disponibilizar ensino à distância nas disciplinas em que há aulas presenciais a decorrer.
Por outro lado, as escolas definiram a carga horária das disciplinas com ensino presencial consoante as disponibilidades logísticas existindo turmas em que foram leccionadas metade da carga horária da disciplina.
Neste contexto como e com que critérios de equidade será feita a avaliação dos alunos, com carga horária total, parcial ou que não foram às aulas presenciais e não tiveram ensino à distância? Será (mais) uma dificuldade em todo este processo.
Não será, pois, estranho mais do que habitualmente acontece, a corrida aos centros de explicações. Sendo habitual esta “corrida”, sem aulas presenciais “normais” com uma alternativa com alguns constrangimentos como é o “ensino à distância de emergência”, a procura desta ajuda será certamente bem maior.
Se como também é reconhecido, a capacidade das famílias para acederem a estes apoios “extra” constitui um factor de potencial desigualdade entre os alunos, na situação actual com quebras de rendimento significativas em muitos agregados familiares o risco de desigualdade é ainda mais preocupante.
Tenho a certeza de que as escolas e os professores no tempo que têm e com os meios que possuem desenvolvem melhor trabalho possível de preparação dos alunos, mas … é uma tarefa gigantesca.
É verdade e sublinho a decisão que a estrutura dos exames será adaptada através da criação de grupos de respostas opcionais e de respostas obrigatórias que cria a possibilidade de os alunos responderem às questões para cuja resposta se sintam melhor preparados. Também foi anunciado nas respostas opcionais são só vão contar para a classificação final os itens em que os alunos tenham “melhor pontuação”.
Neste contexto, manutenção dos exames, parece uma medida ajustada.
Dado tudo isto e riscos enormes de desigualdade de oportunidades continuo a entender teria sido mais prudente adiar mais os exames de modo a permitir com maior segurança aulas presenciais promotoras de mais equidade. Não me parece que não fosse acomodável no ensino superior começar os trabalhos do 1.º ano algum tempo depois. Como também creio que seria possível adiar umas semanas o início das aulas no ensino secundário do próximo ano lectivo para os alunos que neste momento estão no 9.º. 10.º e 11.º
No que respeita ao ensino superior não seria a primeira vez que tal acontecia e não seria algo que comprometesse a carreira escolar dos novos alunos e o funcionamento dos estabelecimentos de ensino superior.
Mas as decisões estão tomadas, não sabemos como tudo irá evoluir, mas sei que escolas e professores fazem o esforço necessário para que o difícil período que se vive seja tão bem-sucedido para todos quanto possível.
A ver vamos.

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