A newsletter semanal do Público tem como tópico de relevo esta semana a relação entre a escola e os pais e, naturalmente, da importância do nível e qualidade de comunicação.
Creio que é consensual a
necessidade de que exista e seja positiva a relação entre pais e escola e é sempre oportuno reflectir sobre o
papel e o contributo dos pais no sucesso educativo e escolar dos miúdos.
Melhorar este papel e a relação dos pais com a escola não é tarefa fácil e não
é problema resolvido em nenhum sistema educativo, apesar de em todos os sistemas
existirem bons exemplos dessa relação e, naturalmente, entre nós também assim
é.
Não é uma questão fácil e as alterações
ainda mais difíceis da complexidade de variáveis implicadas.
Uma primeira questão com implicações
relevantes remete para os estilos de vida modernos, sobretudo em zonas urbanas,
a própria inerência das dificuldades, pela próre, por outro lado, perceber pela
inerência das dificuldades, conteúdos curriculares e cultura escolar
desconhecidos por muitos pais e encarregados de educação, solicitações e
motivações presentes na vida dos miúdos, etc.
De qualquer forma parece inegável
a necessidade de o envolvimento dos pais e a qualidade desse envolvimento para
que o trajecto educativo dos miúdos seja mais positivo
É reconhecido o afastamento dos
pais traduzido, por exemplo, na baixa participação em reuniões. Como causas
referem-se as dificuldades em termos de legislação e horários laborais e também
o menor empenhamento ou mesmo desinteresse.
Defendo de há muito que em sede
de Concertação Social seria de avançar com propostas de alteração legislativa,
sobretudo, na organização horária do trabalho que poderia, essa sim, ter
impacto na disponibilidade dos pais. Não me parece impossível que em muitas
profissões os tempos de trabalho pudessem ter outra distribuição permitindo
mais tempo com os filhos e menos tempo destes na escola.
No entanto, julgo de considerar
outros aspectos. Costumo afirmar que os pais, exceptuando os pais negligentes,
que existem, e vão menos à escola ou não aparecem mesmo, se podem dividir em
dois grupos, os pais que não alcançam a escola e os pais que a escola não
alcança. Os primeiros são os que entendem consciente, ou inconscientemente, que
a sua presença é irrelevante, não sabem discutir a escola, a escola é que sabe
e decide sobre os filhos. Os outros, são os pais para quem o discurso produzido
pela escola sobre os seus filhos os leva a afastarem-se progressivamente. A
experiência mostra que quando as crianças são mais pequenas, pré-escolar 1º
ciclo, os pais aparecem e começam a afastar-se sobretudo a partir do 2º ciclo,
o que tem como razão principal o crescimento dos filhos o que, evidentemente,
não explica esse afastamento.
Neste quadro, creio que se o
desejo de maior envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos for mais do
que uma retórica, o sistema educativo, através dos modelos de funcionamento e
recursos das escolas, deverá introduzir alguns ajustamentos.
Ajustamentos nas funções dos
Directores de Turma e das condições de exercício da função pois são peças
nucleares nos processos educativos e estão muitas vezes com demasiado tempo
gasto em burocracia, criação de dispositivos com professores motivados, existem
muitos, que possam ir ao encontro dos pais que a escola não alcança. Talvez da
carga burocrática que rouba tantas horas de professores se pudessem recuperar
algumas para outro tipo de trabalho não docente, mais útil e mais motivador.
Sabemos da situação crítica da falta de docentes que não se resolve de imediato e que os exercícios de “wishful thinking” também não ajudam. No entanto, existem tantas horas de professores adjudicadas a trabalho não docente, burocrático, e a iniciativas, projectos, experiências avulsas e descontextualizadas que seriam certamente mais úteis neste contexto, relação escola e pais
Mudança nas formas e suporte do
contacto, relação, comunicação entre a escola e a família, por exemplo,
repensar a tipologia e conteúdos das reuniões de pais. Será neste contexto que
os recursos digitais podem ser úteis se utilizados de forma regulada, não
tóxica.
Parece também importante a
existência de estruturas de mediação entre a escola e a família o que implica a
existência de recursos humanos qualificados e disponíveis.
Recurso concertado às Associações
de Pais como mediadores entre a escola e os pais que não vindo à escola, também
não são dos que integram as Associações.
O tempo é curto, os recursos são
insuficientes, o clima não é o mais amigável, mas creio que pode ser possível
ir um pouco mais longe na tentativa imprescindível de maior envolvimento dos
pais na vida escolar dos miúdos, questão em mudança, sempre, e que obriga a uma
contínua reflexão sobre os papéis, os processos e formas de envolvimento.
O risco da inacção é, por
exemplo, dar asas ao que acontece, por vezes, com o funcionamento de grupos de
pais no WhatsApp, por exemplo, que, frequentemente, se transforma em mais um problema.