quinta-feira, 18 de maio de 2017

E VOLTAMOS À QUESTÃO DOS CHUMBOS

No âmbito da sua participação no “Educação 2030” em Lisboa, Andreas Schleicher, director da OCDE na área da educação e competências afirmou em entrevista à TSF, entre outras ideias e a propósito do problema ainda severo do insucesso traduzido em níveis elevados de retenção que “A resposta não passa pela progressão automática mas por uma sinalização mais precoce de quando os alunos estão a ficar para trás. É preciso dar mais apoio aos professores, os professores em Portugal continuam a ter muito pouco tempo para fazer outras coisas além de dar matéria”.
Como é habitual no que respeita ao que vem da OCDE ou de outras fontes, seja na forma de estudos seja na forma de ideias ou enunciados, a leitura e interpretação dos conteúdos ou dados é de uma enorme latitude desde a negação ou omissão, à desvalorização ou sobrevalorização em função de agendas políticas, institucionais, corporativas, individuais ou de outra natureza.
Nenhum de nós foge isso e matérias como “qualidade na educação” “sucesso”, “mudança”, etc., etc. são sistematicamente referidas em modo “cada cabeça (ou interesse) sua sentença”.
Assim sendo e porque também ando neste mundo da educação aqui fica, mais uma vez, … a minha sentença que, neste caso, se aproxima da análise do responsável da OCDE.
O chumbo, a retenção, não transforma o insucesso em sucesso, repetir só por repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme os estudos mostram quer se queira, quer não.
Assim sendo, o que deve ser discutido e objecto de políticas adequadas será que tipo de apoios, que medidas e recursos devem estar disponíveis para alunos, professores e famílias desde o início da percepção de dificuldades com o objectivo de evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo. Disto decorre a concordância com Andreas Schleicher.
Importa também que as políticas educativas sejam promotoras de condições de sucesso para alunos e professores.
O número de alunos por turma em algumas escolas e agrupamentos, modelos curriculares extensos e prescritivos, insuficiência de dispositivos de apoio competentes e adequados são também exemplo de outras variáveis a considerar.
Este tipo de discurso não tem rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito menos, com melhoria "administrativa" das estatísticas da educação, uma tentação a que nem sempre se resiste.
Assim sendo, insisto, o essencial é promover e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo. É fundamental não esquecer que o insucesso continua a atingir fundamentalmente os alunos oriundos de famílias com pior condição económica e social o que inibe o objectivo da mobilidade social, replicando o velho "tal pai, tal filho". Aliás, o recente estudo da Direcção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência “Resultados escolares por disciplina - 2º ciclo - ensino público evidencia isso mesmo, como sempre.
É necessário também diversificar percursos de formação com diferentes cargas académicas e finalizando sempre com formação profissional mas não em idades precoces criando percursos irreversíveis de "segunda" para os "sem jeito para a escola" e "preguiçosos".
Assim sendo, a qualidade promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, sim, naturalmente, mas também com a avaliação mas também com a valorização do trabalho dos professores, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio eficazes, competentes e suficientes a alunos e professores, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente, nos países com mais baixas taxas de retenção escolar.
É o que não tem acontecido em Portugal.
Ponto.

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