sábado, 11 de março de 2023

SOBRESSALTOS DA DESMATERIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO

 Como sabemos foi decidido que as provas de aferição do 2º, 5º e 8º ano deste ano lectivo serão realizadas por todos os alunos em formato digital. De acordo com o Público os alunos serão distribuídos por dois turnos em cada dia para que haja equipamentos para todos.

Confesso alguma perplexidade e inquietação. Parece depreender-se desta decisão que não existem recursos nas escolas para que os alunos de três anos de escolaridade acedam em simultâneo a equipamentos digitais. Não que me surpreende a insuficiência, preocupam-me os meandros da desmaterialização. Algumas notas.

Em primeiro lugar parece claro que em múltiplas áreas e, naturalmente, também na educação, a transição digital parece incontornável e torna necessária a utilização das ferramentas digitais de forma generalizada e integrada nos processos de ensino e aprendizagem, bem como em todos os processos relativos à organização e funcionamento escolar e do sistema no seu todo. Nenhuma dúvida sobre isso. Sem meios digitais não podia estar a escrever este texto.

Em segundo lugar é fundamental que a transição digital não faça parte do problema, mas da solução o que, por exemplo, a burocratização “platafórmica” que se verifica na vida de escolas e professores parece sugerir.

E a verdade é que existem queixas frequentes relativas ao acesso a equipamentos atempado por parte dos alunos, à qualidade dos equipamentos, que, de acordo com os directores de escolas e agrupamentos não parece ser a sua especificação mais relevante, os recursos necessários à adequada utilização dos equipamentos, mas escolas, em particular nas salas de aulas, infra-estruturas eléctricas e rede de net eficientes, por exemplo. Deste cenário podem decorrer situações sérias de desigualdade entre escolas e entre alunos.

Por outro lado, por razões e responsabilidades conhecidas, estão a chegar às escolas cidadãos com formação científica em diferentes domínios, mas sem formação para a docência. Chama-se “desprofissionalização” que se atenuará com uma onda de “capacitação” e com o jeito e boa vontade que, obviamente, todos terão. Professor é uma profissão fácil como se sabe.

Temo que este movimento imparável de desmaterialização da educação possa vir a envolver a desmaterialização dos professores, substituindo-os algo como   uns(umas) Siri(s).

Quanto aos alunos, bom, a esses parece impossível desmaterializá-los.

Estamos e vamos certamente continuar perante uma realidade que se pode chamar de desafiante.

Como por aqui dizemos, deixem lá ver.

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