domingo, 25 de novembro de 2018

DAS TURMAS MISTAS (COM VÁRIOS ANOS DE ESCOLARIDADE)

No DN encontra-se um trabalho sobre as designadas (do meu ponto de vista erradamente) por turmas mistas, turmas do 1º ciclo constituídas por alunos dos quatro anos de escolaridade. Sobretudo por razões demográficas mas também fruto das opções seguidas nos últimos anos na reorganização da rede escolar tem aumentado o número de turmas nesta situação.
Este cenário é genericamente entendido como um risco para a qualidade e resultados positivos do trabalho de alunos e professores. Era, por exemplo, o entendimento do Conselho Nacional de Educação quando presidido por David Justino e percebe-se a abordagem.
No entanto, não tem que acontecer assim, na peça do DN também se divulgam situações bem-sucedidas e recordo uma experiência divulgada pelo Público em 2016 de uma escola de uma aldeia do concelho de Santarém composta por alunos do 1º ciclo a frequentar os diferentes anos de escolaridade, do 1º ao 4º. Nesta turma, devido às estratégias adoptadas pelo professor titular e pelo Agrupamento o trabalho tem sido bem-sucedido sublinhando-se que esta turma tinha 18 alunos.
Algumas notas estas estranhamente chamadas turmas mistas.
Em primeiro lugar importa sublinhar que o trabalho do professor é uma variável individual fortemente contributiva para o sucesso do trabalho dos alunos, algo que tantas vezes é esquecido a ver pelos tratos sofridos pelos docentes e pelas suas condições de trabalho.
Em segundo lugar é preciso existir um quadro de autonomia e desburocratização que permita a direcções e professores encontrar, face às suas especificidades de contexto, a melhor forma de organizar os alunos e os dispositivos de apoios ao seu trabalho e ao dos professores.
Mais autonomia sustenta melhor trabalho, é assim na generalidade dos sistemas educativos. No entanto, falar recorrentemente de autonomia não é o mesmo que promover, de facto, a autonomia de escolas e agrupamentos, matéria onde há muito que fazer.
É ainda relevante que a dimensão das turmas seja compatível com o seu perfil diversidade nos anos de escolaridade dos alunos o que nem sempre se verifica.
Do ponto de vista curricular e apesar da “flexibilidade” em vigor, creio que decorrente da forma como está a ser operacionalizada possa ainda existir um trabalho ligado à “cultura” das metas curriculares e da “manualização” excessiva do ensino que dificulta a resposta à diversidade dos alunos potenciada pela existência de diferentes anos de escolaridade.
Acresce ainda a disparidade de práticas na resposta às dificuldades dos alunos, designadamente, nos alunos com necessidades especiais cujo processo está em mudança acentuada. Torna-se imprescindível a existência de recursos adequados e suficientes.
Na verdade, a existência de alunos de diferentes anos de escolaridade na mesma turma não tem que necessariamente ser um problema inultrapassável e com consequências negativas inevitáveis. Mas é bom que que se assegurem as condições necessárias.
Caso contrário, pode ser mesmo um problema, não uma solução.

2 comentários:

J.Gaspar disse...

Esta opinião só pode ser de alguém que desconhece o que é realmente trabalhar com turmas mistas.. Façam uma sondagem junto dos professores do 1º ciclo e tenho a certeza que mais de 90% dirão o contrário...
E analisem os resultados não apenas de uma turma "modelo" onde, alegadamente, correu bem...

Zé Morgado disse...

Agradeço o comentário J. Gaspar. Conhecendo a realidade como será o seu caso e tal como na peça do DN se retrata, existem muitas situações em que a alternativa às chamadas turmas mistas seria a insustentável criação de turmas de muito poucos alunos por cada ano.
O que eu procurei dizer não remete para a defesa das turmas mistas em sim mesmas mas que quando se torna necessário este modelo, com os apoios e recursos adequados, pode ser de facto uma solução e não um problema.
Conheço muitas situações em que as coisas correm bem, tão bem quanto pode correr o trabalho educativo numa sala de aula que nunca é fácil. Mas também conheço situações de grandes dificuldades que, no meu entendimento, não são uma fatalidade, podem e devem ser minimizadas.