Uma rápida viagem pela imprensa fez-me lembrar o que aqui escrevi em Maio. Peço desculpa, mas vou repetir.
Nos meus tempos de gaiato, a avó Leonor, uma das mulheres
mais extraordinárias que conheci, com a mais-valia de ser minha, a minha avó,
quando nós caíamos em alguma asneira e tentávamos as esfarrapadas desculpas que
a imaginação, ou a falta dela, ditavam ou ainda, quando as pequenas ou grandes
mentiras não saíam bem, tentava compor um ar severo, desmentido por uns olhos
claros infinitamente doces, e dizia, “não sejam troca-tintas”.
Não me lembro se alguma vez lhe perguntei se sabia a origem
da expressão, mas nestes tempos que vamos vivendo lembrei-me da avó Leonor e
dos troca-tintas.
É grande a preocupação, o cansaço e o desânimo que o
contexto social e político dos dias que correm provocam. O acompanhamento
regular dos discursos e comportamentos de boa parte das lideranças políticas,
sociais ou económicas são elucidativos do “troca-tintismo” que os informa, vale
tudo sem limites éticos ou o respeito mínimo pela verdade. Insultam-nos com a
desconsideração com que somos percebidos. Haverá certamente excepções, mas são
isso mesmo, excepções.
É neste “troca-tintismo” que se sustenta e promove a eclosão
do ovo da servente, dos ovos da serpente.
Vão feios os tempos.
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