Bateu no fundo a indignidade de uma bancada de arruaceiros ignorantes chefiada por um "troca-tintas" sem escrúpulos.
Não sabem o que significa Direitos e, muito menos, o que significa Humanos.
"E o mundo ..., sou eu que o contemplo, é ele que me contempla, ou trocamo-nos? ..." Herberto Helder
Bateu no fundo a indignidade de uma bancada de arruaceiros ignorantes chefiada por um "troca-tintas" sem escrúpulos.
Não sabem o que significa Direitos e, muito menos, o que significa Humanos.
De acordo com a imprensa o MECI definiu novas orientações para regulação da mobilidade estatutária de docentes que possibilitarão a diminuição de cerca de 35% das situações existentes.
Eta iniciativa pretende combater
escassez de professores nos grupos de recrutamento, quadros de zona pedagógica
e escolas deficitárias” e “permitirão o regresso às escolas públicas de
centenas de professores no próximo ano letivo”.
Dada a latitude das
possibilidades de mobilidade estatutária parece positivo um ajustamento nessas
possibilidades.
Por outro lado e por razões
óbvias, parece também que entre as modificações introduzidas seria desejável
que estivesse inscrita a publicitação das situações de mobilidade.
A ver vamos, para além de fazer
as coisas certas, importa fazer certas as coisas.
Nos tempos que correm não é fácil encontrar boas notícias no mundo da educação e do desenvolvimento das comunidades, tal como se passa com várias outras dimensões. O mundo anda feio, muito feio.
Leio no Expresso que em Vila
Velha de Ródão, o concelho mais envelhecido do país durante mais de 25 anos, o
número de crianças desceu até 172, cerca de 5% da população.
Acontece que de há seis anos para
cá a população aumentou estando registadas 355 crianças que representam 10% da
população. O ensino secundário reabriu
este ano e uma escola do 1º ciclo encerrada desde o princípio do século vai
reabri com creche e, um dado curioso, o minibus que assegurava a vinda à escola
das crianças das aldeias do concelho será substituído por um autocarro maior.
A peça mostra com clareza um caminho de desenvolvimento que poderia servir de modelo para muitas comunidades do país apostando nos apoios à habitação, na existência de respostas de educação e de natureza social e na criação e manutenção de emprego. Fiquei particularmente satisfeito pois a minha querida e sempre lembrada avó Leonor era de Vila Velha de Ródão, nasceu numa aldeia, o Alvaiade, onde estive muitas vezes.
Contrariamente à irresponsabilidade e ignorância dos discursos de arruaceiros xenófobos, os modelos de desenvolvimento actual assentam na diversidade das populações. A diversidade e a inclusão constituem uma riqueza, não um obstáculo.
Vão-se repetindo as referências às enormes dificuldades sentidas por pais e escolas na resposta adequada a alunos com necessidades especiais, desculpem a insistência na terminologia, não me dou muito bem com a inclusiva arrumação de alunos nas gavetas das medidas “universais”, “selectivas” ou “universais”.
No JN surge mais um trabalho
elucidativo destas dificuldades referindo-se situações dramáticas vividas pelas
famílias.
Como há algum tempo a propósito
do pedido de escusa de responsabilidade de um grupo de professores de educação
especial de uma escola em Almada, os ventos não vão de feição para os mais
vulneráveis.
Reconheço e conheço, aliás, como
sempre conheci, excelentes e inspiradores trabalhos de professores, técnicos,
pais, escolas ou instituições ao longo destas quase cinco décadas de paradigmas
diferentes. No entanto, também importa reconhecer, veja-se os testemunhos da
peça acima e outros, por exemplo de relatórios da IGEC, que propagandear
discursos sobre inclusão assentes em “wishful thinking” ou torturar a realidade
para que se mostre diferente não é assim muito eficaz. Não, muitos alunos não
estão incluídos nem sequer integrados, estão “entregados” com as consequências
que professores, técnicos e pais bem conhecem.
Desculpar-me-ão a heresia ou
descrença, mas uma escola inclusiva é algo que não existe e, provavelmente, não
existirá nos tempos mais próximos. Os modelos e estilos de vida actuais,
económicos, políticos, sociais, culturais, as assimetrias brutais que se mantêm
não são compatíveis com “uma escola inclusiva”, de todo, são brutalmente
inquietantes os tempos que vivemos. Existem escolas, isso sim, que desenvolvem
excelente trabalho com alguns alunos, o que é diferente de “uma escola
inclusiva”.
Eu sei e gosto de acreditar que a
escola é, também, uma alavanca de mudança, mas a verdade é que a escola, de uma
forma ou de outra, é sobretudo um reflexo da sociedade que serve no tempo
histórico em que vive.
No entanto, em nome dos meus
netos que serão o futuro e das minhas convicções, e como disse acima, acredito
numa escola que possa, quanto possível, tentar promover educação, a relação
diária entre quem está na escola, assente em princípios de educação inclusiva.
E neste sentido em todas escolas existirá educação inclusiva, há sempre quem a
promova mesmo em contextos menos favoráveis.
Finalizo voltando ao início, as
políticas públicas são onerosas, a política pública de educação é onerosa, a
suficiência de recursos será sempre uma questão problemática, mas é, também,
por aqui que se avaliam a competência e adequação das… políticas públicas.
E, fazendo bem as contas, a
exclusão tem custo bem mais elevados.
Muitos pais, muitos alunos,
muitos professores, muitos técnicos, não são “abandonados pelo sistema de
ensino", estão abandonados na incompetência das políticas públicas e na
retórica em matéria de educação inclusiva, seja lá isso o que for.
Em 4 de Julho de 2013 escrevi aqui no Atenta Inquietude:
“Hoje, entrei no mundo
encantado da avozice, nasceu o meu neto. Esta mudança de geração é um momento
mágico que nada hoje conseguirá perturbar. Assim se cumpre a narrativa de um
homem de sorte.”
O tempo voa, já lá vão 12 anos de
magia e aprendizagem neste mundo mágico no qual entrei com a abençoada chegada
do Simão há doze anos e do Tomás há nove. Acho que ainda não consegui acomodar
os sentimentos e a magia de acompanhar de perto, tão de perto quanto possível,
mas sem o excesso da intrusão inibidora de autonomia, o crescimento destes
gaiatos que têm uma geração pelo meio.
Tem sido um divertimento, uma
descoberta permanente viver também os sobressaltos do crescimento e a percepção
de um outro sentido para uma vida que já vai comprida e também, desculpem a
imodesta confissão, cumprida.
Num tempo estranho e duro tropeço com uma notícia no Record que me deixou surpreendido e, simultaneamente, me levou numa viagem no tempo que, como sabem, é uma tentação frequente dos mais velhos.
Há poucos dias disputou-se em Zaragoza o Campeonato Mundial de Matraquilhos em que na final se defrontaram Portugal e Espanha que venceu. Desconhecia a existência desta modalidade enquanto tal e o desempenho notável de muitos praticantes neste campeonato que aqui se regista e felicita..
Por outro lado, andei muito para
trás no tempo, a entrada na adolescência quando jogar matraquilhos era uma
actividade muito comum para muitos de nós.
Não tínhamos telemóveis,
computadores e mesmo os brinquedos mais sofisticados estavam longe das bolsas
de muitos pais, incluindo os meus.
Os matraquilhos eram uma
tentação, mas também era preciso ter a moedinha. Muitas vezes fazíamos viagens
a pé de casa para Almada ou volta para poder jogar aos “matrecos”.
Lembro-me de em Almada jogar no
café Ver Cruz e ter a sorte de ter um parceiro, o Zé Miguel, cigano, que era
uma máquina a jogar à frente e eu desenrascava-me na defesa. Muitos lanches
tivemos à conta da habilidade ofensiva do Zé Miguel e, claro, da minha solidez
defensiva.
Também na minha terra, Feijó,
nome muito referido diariamente nas rádios de devido às filas de trânsito para
a ponte 25 de Abril que estão muitas vezes perto das pontes do Feijó, jogávamos
matraquilhos na Tasca do Manel.
Recordo ainda os matraquilhos
porque, ainda miúdo, conseguíamos tirar, por assim dizer, uma bola para,
imaginem, jogar hóquei em patins, modalidade em alta naquele tempo.
Claro que ninguém de nós tinha
patins nem sticks. Recorríamos a uns talos de couve com uma curva que pudesse
fazer de stick ou construíamos em madeira, solução mais frágil.
Eram tempos outros. Quando conto
estas histórias aos meus netos fico com a sensação de que estão a ouvir
(imaginar) ficção científica ao contrário.
De novo, as felicitações aos
intervenientes pelo desempenho no Campeonato Mundial.
Desculpem a insistência, mas existem matérias que não podem, não devem, sair da agenda de preocupações em termos de cidadania e, obviamente, das prioridades das políticas públicas. A violência doméstica é uma dessas questões.
O número de mortes em contextos familiares
aumentou 42% nos primeiros seis meses de 2025 face a 2024.
Para além de sabermos o que a
violência doméstica está habitualmente no topo das participações acresce que este
mundo é bem mais denso e grave do que a realidade que conhecemos, ou seja,
aquilo que se conhece, apesar de recorrentemente termos notícias de casos
extremos, é "apenas" a parte que fica visível de um mundo escuro que
esconde muitas mais situações que diariamente ocorrem numa casa perto de nós.
Por outro lado, para além da
gravidade e frequência com que continuam a acontecer episódios trágicos de
violência doméstica e como recorrentemente aqui refiro, é ainda inquietante o
facto de que alguns estudos realizados em Portugal evidenciam um elevado índice
de violência presente nas relações amorosas entre gente mais nova mesmo quando
mais qualificada. Muitos dos intervenientes remetem para um perturbador
entendimento de normalidade o recurso a comportamentos que claramente
configuram agressividade e abuso ou mesmo violência.
Importa ainda combater de forma
mais eficaz o sentimento de impunidade instalado, as condenações são bastante
menos que os casos reportados e comprovados, bem como alguma “resignação” ou
“tolerância” das vítimas face à situação de dependência que sentem relativamente
ao parceiro, à percepção de eventual vazio de alternativas à separação ou a uma
falsa ideia de protecção dos filhos que as mantém num espaço de tortura e
sofrimento. Felizmente este cenário parece estar em mudança, mas demasiado
lentamente. Os sistemas de valores pessoais alteram-se a um ritmo bem mais
lento do que desejamos e estão, também e obviamente, ligados aos valores
sociais presentes em cada época.
Torna-se criticamente necessário
que nos processos de educação e formação dos mais novos possamos desenvolver
esforços que ajustem quadros de valores, de cultura e de comportamentos nas
relações interpessoais que minimizem o cenário negro de violência doméstica em
que vivemos. A educação, a cidadania e o desenvolvimento que sustentam
constituem a ferramenta de mudança mais potente de que dispomos.
É uma aposta que urge e tão
importante como os conhecimentos curriculares. Percebe-se, também por estas
questões, a importância da abordagem do universo da “Cidadania e
Desenvolvimento” na educação escolar e para todos os alunos. Seria ainda
desejável que a ignorância, o pré-conceito e, também, o preconceito não
inquinassem a discussão.
Entretanto, torna-se fundamental
a existência de dispositivos de avaliação de risco e de apoio como instituições
de acolhimento suficientes e acessíveis para casos mais graves, um sistema de
protecção e apoio eficiente aos menores envolvidos ou testemunhas destes
episódios, e, naturalmente, um sistema de justiça eficaz e célere.
A omissão ou desvalorização destas mudanças é a alimentação de um sistema de valores que ainda “legitima” a
violência nas relações amorosas, que a entende como “normal”. Tudo isto tem
como efeito a continuidade dos graves episódios de violência que regularmente
se conhecem, muitos deles com fim trágico.
Apesar da natureza estranha e
complexa dos dias que vivemos, é fundamental não esquecer questões como estas
que devastam o quotidiano ou a vida de muita gente. Pode estar a acontecer numa
casa ao lado.
Neste contexto, é também de
registar a iniciativa há tempo divulgada de criar um primeiro instrumento legal
de âmbito europeu para combater a violência doméstica e contra as mulheres.
O dramático problema de habitação, evidencia um direito que não assiste a muitos milhares de pessoas. Políticas públicas, nacionais, regionais e autárquicas sustentaram o drama de quem não tem casa ou vive em situações indignas. O mercado desregulado e sempre insatisfeito completa e aproveita, sem surpresa, evidentemente.
É um direito por cumprir mais de
50 anos da data que nos devolveu a esperança, 25 de Abril de 1974, o 25 de
Abril.
Desse tempo, alguns recordarão um
tema de Sérgio Godinho do álbum “À queima roupa” que se chamava “Liberdade” e
que se transformou numa bandeira.
Dizia o Sérgio Godinho que:
(…)
Só há liberdade a sério quando
houver
A paz, o pão
habitação
saúde, educação
(…)
Muito caminhámos desde esses
tempos, passámos por muitas mudanças, alcançámos o que não julgávamos poder
alcançar por mais que agora muita gente queira esquecer ou torcer a história.
Mas muito caminho está por fazer.
As situações que se passam no universo da habitação, mas não só, são um
atropelo a um direito, um atropelo à dignidade.
A impossibilidade de aceder a um
tecto, a um abrigo, deveria ser reconhecida como uma prioridade absoluta em
matéria de políticas públicas.
Sem jogos, sem manhosices e com
uma regulação que minimize obscenidades económicas que atropelam muita gente e
com benefício de muito poucos.
A história não vos absolverá.
É, por assim dizer, uma história estranha, ou não. A consultora KPMG contratada pelo MECI começou a realizar em Novembro de 2024 uma auditoria com o objectivo, entre outros, de apurar o número de alunos que não tiveram professor a todas as disciplinas. A auditoria constituiu um encargo de 52750€ e deveria produzir alguma informação até final do ano lectivo.
Terminada a auditoria, ficámos a saber que não
saberemos o que deveríamos ficar a saber, embora, ao que parece, se tenham produzido
umas ideias sobre como ficarmos a saber o que deveríamos saber após a
realização da auditoria.
Talvez valha pena recordar que o
MECI tem como estruturas: Secretaria-Geral, Inspecção-Geral da Educação e
Ciência, Direcção-Geral da Administração Escolar, Direcção-Geral da Educação,
Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, Direcção-Geral de Estatísticas
da Educação e Ciência, Instituto de Avaliação Educativa, Instituto de Gestão
Financeira da Educação, I. P.
Será que nenhuma destas tem
capacidade de resposta para esta questão tão fácil de enunciar, “Quantos alunos
não têm professor a todas as disciplinas?”
Como também já aqui escrevi, talvez
por ignorância minha, seria expectável que as direcções de escolas e
agrupamentos tenham dados seguros sobre a falta de docentes para os seus
alunos.
Nem me parece que para agregar
estes dados seja necessário um sistema altamente sofisticado.
Enfim, uma história típica desta
terra onde acontecem coisas.
Estamos em plena época de exames finais do secundário. Dentro de pouco tempo milhares de jovens irão tomar decisões com impacto no seu futuro. Lembrei-me de uma história.
Era uma vez um Rapaz que vivia
numa família curiosa. Desde pequeno o Rapaz começou a ouvir os pais a dizer e a
esperar, que tudo o que o Rapaz fizesse deveria ser sempre muito bem feito. Era
preciso dar o salto, diziam eles, querendo significar que o Rapaz não podia ser
como os outros, tinha de ser melhor, sempre.
Quando entrou na escola o Rapaz
ia cumprindo de forma positiva a tarefa de aprender, mas todos os dias os pais
lhe lembravam que ele tinha de ser mais perfeito, de preferência o melhor, ou
seja, tinha de dar o salto.
O Rapaz, como quase todos os
rapazes, ia tentando corresponder e esforçava-se para melhorar o seu desempenho
na generalidade das tarefas, mas no fim, lá está, ouvia que podia fazer melhor,
era preciso dar o salto.
Ao chegar à adolescência e ao
tempo das escolhas, para dentro e para fora, o Rapaz começou a pensar na
narrativa que o levaria ao futuro. Desde logo foi ouvindo dos pais que aquela
escolha, aquelas escolhas, eram a escolha dos medíocres, dos que não chegariam
a lado nenhum, dos que, claro, não davam nem nunca dariam o salto.
A situação não ficou fácil, de um
lado, o seu, o Rapaz sentia a pressão de escolher o caminho que queria
percorrer, do outro, uma pressão cada vez mais pesada no sentido de dar o
salto, a grande e contínua exigência dos pais.
Um dia, o Rapaz decidiu-se. Deu o
salto, um enorme e definitivo salto.
A Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgou través do portal Inforcursos alguma informação sobre o trajecto dos alunos do ensino superior.
Uma primeira abordagem para a questão preocupante da subida do abandono dos estudantes no final do primeiro ano de frequência do ensino superior que continua a subir e do tempo que os alunos demoram a concluir os seus cursos.
Em 23/24, nos cursos técnicos
superiores profissionais, CTeSP, 28.1% dos alunos não estavam a frequentar o
ensino um ano depois de iniciarem o curso e nas licenciaturas a taxa de
abandono é de 11,2%, também superior aos anos anteriores.
No que respeita à conclusão dos
cursos, nas licenciaturas de três anos, apenas 45,6% acaba no tempo esperado.
A estes indicadores não serão
certamente alheios os custos da frequência do ensino superior ou o “desencanto”
com a escolha.
Como tantas vezes tenho afirmado,
a qualificação é um bem de primeira necessidade e um forte contributo para
projectos de vida bem-sucedidos pelo que o elevado abandono é uma questão crítica.
Nos últimos tempos tem-se
verificado um aumento do número de candidatos a bolsa, tal como em aumentado o
número de estudantes que entra no ensino superior. Também é reconhecido que em
muitas famílias se tem verificado uma perda de rendimento.
No entanto, apesar destas
dimensões poderem constituir alguma justificação creio que importa não esquecer
uma questão de natureza estrutural, estudar no ensino superior é muito caro em
Portugal. Também a mais recente alteração do regulamento de atribuição de
bolsas não minimizou esta situação.
Algumas notas começando por
alguns dados que já aqui tenho citado.
De acordo com Relatório do CNE,
"Estado da Educação 2019", a percentagem de alunos que em Portugal
acede a bolsas de estudo para o 1º ciclo do superior está no segundo escalão
mais baixo da análise, entre 10 e 24,9%. Para comparação, Irlanda, Países
Baixos estão no intervalo entre 25% e 49,9% e a Suécia no superior a 75%.
Países como Espanha, França, Reino Unido e muitos outros têm percentagens de
alunos com apoio superiores a nós e, sem estranheza, também maior nível de
qualificação.
Em 2018 foi divulgado um estudo
já aqui citado, “O Custo dos Estudantes no Ensino Superior Português” da
responsabilidade do Instituto de Educação da U. de Lisboa, relativo ao ano
lectivo de 2015/2016 mostrando que cada estudante universitário gastou em média
6445€ em despesas como propinas, material escolar, alojamento ou alimentação.
Os alunos de instituições universitárias privadas têm uma despesa perto dos
10000€ e nos politécnicos privados o custo será de 8296€. De facto, sendo a
qualificação superior um bem de primeira necessidade para os cidadãos e para o
país, é um bem muito caro, demasiado caro para muitas famílias e indivíduos.
Estudos comparativos
internacionais, “Social and Economic Conditions of Student Life in Europe”, por
exemplo, também mostram que as famílias portuguesas são das que suportam uma
fatia maior dos custos de frequência do superior sendo que ainda se verifica
uma forte associação entre a frequência do ensino superior e nível de
escolarização e estatuto económico das famílias.
Apesar de um abaixamento do valor
as propinas no ensino público, as dificuldades sentidas por muitos estudantes
do ensino superior e respectivas famílias, quer no sistema público, quer no
sistema privado com valores bem mais altos de propinas, são frequentemente considerads, do meu ponto de
vista, de forma ligeira ou mesmo desvalorizadas.
Tal entendimento parece assentar na ideia de que a formação de nível superior é
um luxo, um bem supérfluo pelo que ... quem não tem dinheiro não tem vícios.
Não é particularmente animador o que a actual Secretária de Estado do Ensino Superior, Cláudia Sarrico, tenha referi em 2022 que, “as propinas de licenciatura são baixíssimas — muito menos do que se
paga pelo infantário dos miúdos”, e que o “ensino superior gratuito, ou quase,
tem um efeito regressivo”.
A questão é que a qualificação é
a melhor forma de promover desenvolvimento e cidadania de qualidade pelo que
apesar de ser um bem caro é imprescindível.
O recentemente divulgado o “Balanço Anual da Educação 2025” produzido pelo think tank EDULOG, da Fundação Belmiro de Azevedo que contém um conjunto de dados verdadeiramente "surpreendente". Vejamos alguns indicadores.
Entre 18/19 e 22/23 e
considerando os diferentes níveis de ensino aumentou o número de docentes com
mais de 50 anos.
Em 22/23, cerca de 60% dos docentes
do 2.º e 3.º ciclo bem como os do secundário tinham 50 anos ou mais. No 1.º
ciclo seriam 44.5% e no pré-escolar, 56.1%.
Um outro dado relevante, continua
a verificar-se um número muito significativo de professores com contrato a
termo, 18% no 1.º ciclo e 24% no 3.º ciclo e secundário sustentando uma
situação de instabilidade pouco amigável para o desempenho e para atractividade
da profissão.
Mais a sério, para além destes dados talvez
seja oportuno recordar alguns dados do estudo que já aqui citei realizado pelo
Observatório da Saúde Psicológica e do Bem-Estar, da Direção-Geral de
Estatísticas da Educação e Ciência relativo a 2024, coordenado pela Professora
Margarida Gaspar de Matos, que envolveu 6112 alunos, do pré-escolar ao
secundário. Teve também a participação de mais de 900 elementos adultos das
comunidades escolares, professores, psicólogos, assistentes técnicos e
operacionais ou encarregados de educação.
Vejamos alguns dados ainda que
com prudência dada a dimensão da amostra, 390 professores. Numa escala de 1 a
10, 62% dos docentes referem portam uma satisfação com a vida igual ou superior
a sete. No entanto, metade afirma sentir-se nervoso, 50,4%, triste, 48,4%,
irritado ou de mau humor, 49,2%, pelo menos uma vez por semana. É ainda de
considerar que 18,3% refere frequentemente está tão triste que parece não
aguentar.
Como sinais de mal-estar, 45,6%
refere dificuldades em adormecer, dois terços dizem que recentemente sentiram
agitação, dificuldade em relaxar, assumindo ter reagido excessivamente a
determinadas situações e sentido irritabilidade.
A propósito, recordo um trabalho
divulgado em Agosto de 2024 realizado pela FNE com a participação de 3750
docentes.
Em termos globais, quase 90%
entendem que a profissão não é socialmente reconhecida, 53,1% afirmam gostar
muito de ser professor, mas apenas 12% se sentem valorizados. Dos inquiridos,
89% identificam como dimensões críticas, as pouco ou nada atractivas perspectivas
de carreira que 95% consideram não estar ao nível das competências e
qualificações que lhes são exigidas.
É ainda referido por 86% o
excesso de trabalho e a carga burocrática. A avaliação de desempenho constitui
uma preocupação para dois terços dos respondentes e três em cada quatro
afirmam-se preocupados ou muito preocupados com a progressão na carreira.
Como tantas vezes aqui tenho
abordado e recuperando notas já escritas, os problemas que envolvem a classe
docente e as suas consequências a curto e médio prazo, sendo conhecidos de há
muito, são agora claramente reconhecidos apesar de algumas tentativas de torcer
a realidade. Nos últimos anos têm sido recorrentes as referências, relatórios e
estudos evidenciando a preocupante falta de professores, o envelhecimento da
classe, os níveis de cansaço e de exaustão emocional, a baixa atracção dos mais
jovens pela profissão associada a modelos de carreira, contratação e
valorização pouco motivadores e justos. Os professores passam por dispositivos
de avaliação pouco transparentes e competentes que desmotivam, causam mal-estar
e climas institucionais pouco amigáveis, para ser simpático na adjectivação.
O modelo de governança das
escolas é também apontado com frequência como motivo de mal-estar e
desmotivação.
No entanto, também é de registar
que de uma forma geral continuam a merecer a confiança das comunidades.
Este quadro, de um mal-estar
reconhecido, não pode deixar de ter impacto. Como muitas vezes afirmo,
crianças, enquanto grupo social, e professores, enquanto grupo profissional,
constituem dois grupos nucleares nas sociedades contemporâneas. Os mais novos
porque são o futuro e os professores porque, naturalmente, o preparam, tudo
(quase) passa pela escola e pela educação. Entre nós, este entendimento ainda
me parece mais justificado porque, devido a ajustamentos na organização social
e familiar e, é minha convicção, devido a políticas públicas sociais e
educativas inadequadas, os miúdos passam tempo excessivo na escola, alterando a
dinâmica educativa familiar o que sobrevaloriza o papel da escola através dos
professores.
Raramente a profissão professor
tem estado tanto em foco como nos últimos anos bem como a necessidade de
defender a qualidade da escola pública. Os tempos que vivemos sublinham uma
questão e outra de forma crítica.
Múltiplas acções e decisões
políticas, bem como alguma imprensa e "opinion makers" têm
contribuído para degradar a sua função, fragilizar a sua imagem social e
comprometer o clima e a qualidade do trabalho desenvolvido nas escolas apesar
dos professores continuarem a ser uma das classes profissionais em que os
portugueses mais confiam.
A atenção que tem estado centrada
nos professores advém de boas e más razões. Não cabe aqui um balanço, e entendo
que, tal como os miúdos, os professores não têm sempre razão, os discursos dos
seus representantes são, por vezes parte do problema e não parte da solução e
também sei que existem alguns professores que o não deviam ser. No entanto, a
verdade é que a esmagadora maioria dos docentes são ... Professores, muito bons
Professores.
A valorização social e
profissional dos professores em diferentes dimensões é uma ferramenta
imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. A valorização e
reconhecimento passam também pela necessidade de ajustamentos na formação, de
modelos de carreira e de avaliação justos e transparentes que sustentem,
reconheçam e promovam competência, empenho e atracção pela profissão.
Estamos num novo ciclo que precisa de ser um ciclo novo. Urge o
ajustamento nas políticas públicas de educação, e não só. Este caminho está a
esgotar-se e o futuro parece comprometido, atentemos nos resultados mais
recentes da avaliação externa do desempenho dos alunos e no cenário retratado acima relativo aos docentes. Não vale a pena negar a realidade que parece
constituir uma tempestade perfeita.
E o futuro não pode esperar e não perdoará.
Considerando os níveis de sofrimento envolvido, a dificuldade de prevenir, intervir e conhecer com rigor o volume de situações verificadas, o bullying é sempre uma matéria que está na agenda.
No JN encontra-se uma peça sobre
o bullying e são referidas situações impressionantes de mal-estar e sublinhado o impacto do impacto
que causa.
São citados dados do relatório “Bullying e Ciber-bullying em Contexto Escolar” produzido pelo Grupo de Trabalho criado
pela Ministério da Juventude e Modernização com o objectivo de combater e
prevenir o bullying que já aqui citei. O trabalho foi coordenado por Manuela
Veríssimo do ISPA – Instituto Universitário, a minha casa de formação e de
trabalho nas últimas décadas.
Em inquérito que envolveu 31133
participantes entre os 11 e os 18 anos, 5,9%, 1837, referiram já ter sido
vítimas de bullying. Também sem surpresa, a maioria das vítimas são raparigas e
a maioria dos agressores são rapazes
Importa considerar que uma parte significativa
de episódios desta natureza não são reportados tornando, naturalmente, mais
difícil a intervenção.
Relativamente ao fenómeno do
bullying e em particular do cyberbullying, não há muito de novo a dizer,
continua a ser fonte de sofrimento para muitas crianças e jovens e,
naturalmente, uma fonte de preocupação para famílias, professores e técnicos.
Recordo que no ano lectivo 22/23 a GNR registou 140 crimes de bullying e
cyberbullying no ano lectivo 22/23. No entanto, esta será apenas uma parte
pequena do volume de episódios, muitos dos quais sem divulgação.
Importa insistir nesta questão e
retomo algumas notas.
Um relatório da Agência dos
Direitos Fundamentais da União Europeia divulgado em Maio de 2024 afirmava que
cerca de 66% dos alunos portugueses da comunidade LGBTIQ sofreram bullying ou
foram humilhados na escola algo que também é perceptível nos dados agora
conhecidos.
Um trabalho que aqui referi,
“Global estimates of violence against children with disabilities: an updated
systematic review and meta-analysis”, divulgado em 2022 na The Lancet Child
& Adolescent Health, mostrou com indicadores alarmantes, mas,
lamentavelmente, não surpreendentes. Cerca de uma em cada três crianças ou
adolescentes com deficiência é vítima de algum tipo de violência, física,
emocional, sexual ou negligência. No caso mais particular do bullying
verifica-se um significativo nível de vitimização, cerca de 40% das crianças
com deficiência terá sido alvo deste tipo de comportamento. O bullying
presencial, violência física, verbal ou social como bater, pontapear, insultar,
ameaçar ou excluir é mais comum, 37%, do que o cyberbullying (23%) que está a
aumentar com a presença esmagadora do digital.
O estudo recorreu a dados
relativos a mais de 16 milhões de crianças de 25 países, recorrendo ao
tratamento de 98 estudos, realizados entre 1990 e 2020, de que 75 respeitam a
países de mais elevados rendimentos e 23 relativos a sete países de baixo ou médio
rendimento.
Os dados conhecidos no que
respeita ao bullying e considerando que não correspondem ao universo de
ocorrências, mostram a necessidade de uma séria reflexão e intervenção nos
contextos educativos que chegue a todos os alunos e que promova a qualidade das
relações interpessoais, a empatia, solidariedade e inteligência emocional, etc.
O cyberbullying parece ser
actualmente a variante de bullying mais preocupante. Contrariamente ao bullying
presencial o cyberbullying não tem “intervalos”, normalmente os fins-de-semana,
pois ocorrem predominantemente nos espaços escolares. Não sendo presencial o(s)
agressor(es) não tem, ou não têm, uma percepção clara do nível de sofrimento
infringido o que em algumas circunstâncias pode funcionar como “travão” e
inibir o comportamento agressivo. Esta situação é potenciada quando se junta a
um menor nível de empatia pelo outro o que ficou muito claro no primeiro
trabalho citado acima e que merece leitura.
Também por estas razões é
fundamental uma atitude ajustada face a este tipo de comportamentos.
Em termos globais e como já
referi, a ocorrência de situações de bullying é bem superior ao número de casos
que são relatados. Uma das características do fenómeno, nas suas diferentes
formas, incluindo o cyberbullying, é justamente o medo e a ameaça de represálias
a vítimas e assistentes que, evidentemente, inibem a queixa pelo que ainda mais
se justifica a atenção proactiva e preventiva de adultos, pais, professores,
técnicos ou funcionários.
Este cenário determinaria, só por
si, um empenhado investimento em recursos e dispositivos que procurassem
minimizar o volume de incidências, algumas das quais de gravidade severa.
Neste contexto e dada a gravidade
e frequência com que ocorrem estes episódios, é imprescindível que lhes
dediquemos atenção ajustada a sinais dados por crianças e adolescentes, nem
sobrevalorizando, nem tudo é bullying, o que promove insegurança e ansiedade,
nem desvalorizando, o que pode negligenciar riscos e sofrimento.
Neste universo e mais uma vez
importa considerar dois eixos fundamentais de intervenção por demais
conhecidos, a prevenção e a intervenção depois dos problemas ocorrerem. Esta
intervenção pode, por sua vez e de forma simplista, assumir uma componente mais
de apoio e correcção ou repressão e punição, sendo que podem coexistir. Com
alguma demagogia e ligeireza a propósito do bullying, as vozes a clamar por
castigo têm do meu ponto de vista falado mais alto que as vozes que reclamam
por dispositivos de prevenção, intervenção e apoio para além da óbvia punição,
quando for caso disso.Esta utilização mostra a necessidade de dispositivos de
apoio e orientação absolutamente fundamentais para que pais, professores e
alunos possam obter informação e suporte. Entretanto estão criados vários
portais e estão disponíveis alguns canais de denúncia e procura de orientação e
suporte dirigido a pais, professores, técnicos e, naturalmente, alunos.
Lamentavelmente, parte
significativa das entidades e iniciativas de apoio e suporte é exterior às
escolas e ilustra a falta de resposta estruturada e global do sistema
educativo, para além das insuficiências de recursos e na formação de técnicos e
de professores sobre esta complexa questão, desde logo para o seu
reconhecimento e identificação.
A existência de dispositivos de
apoio sediados nas escolas, com recursos qualificados e suficientes,
designadamente no que respeita aos assistentes operacionais com funções de
supervisão dos espaços escolares, é uma tarefa urgente.
Do meu ponto de vista, o
argumento custos não é aceitável porque as consequências de não mudar ou não
fazer são incomparavelmente mais caras. Depois das ocorrências torna-se sempre
mais fácil dizer qualquer coisa, mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes
evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar e sofrimento a que, por vezes,
não damos ou não conseguimos dar atenção, seja em casa, ou na escola.
Estes sinais não devem ser
ignorados ou desvalorizados. O resultado pode ser trágico.
Esperemos que o Grupo de Trabalho
referido acima seja mais um contributo para percorrer o caminho adequado,
minimizar o risco de sofrimento para muitas crianças, adolescentes e jovens.
Parece estarmos a atravessar no mundo da educação um período informado pela conhecida lei de Murphy que se pode traduzir em algo como “o que pode correr mal, está mesmo a correr mal”. Numa versão mais portuguesa podemos recordar a muito conhecida “cada cavadela, cada minhoca”.
Para além das dificuldades que se
registaram na realização em formato digital, surge agora a questão da divulgação das questões colocadas nos exames associada ao risco da realização em dois
turnos horários. Recordo a ideia de criar em cada exame um conjunto de questões
âncora que permitissem a comparação de resultados durante vários anos.
Esperemos que um emergente
movimento no sentido de repensar o papel crítico, sublinhe-se, dos recursos
digitais possa contribuir para um maior equilíbrio e, naturalmente, assegurar a
garantia de equipamentos suficientes e adequados para a sua ajustada utilização
ao longo da escolaridade.
O sistema educativo precisa urgentemente de
alguma serenidade, previsibilidade e competência.
Há dias no DN e de acordo com um representante dos directores escolares no ano lectivo 24/25 refere-se que se verificou uma média semanal de 35000 docentes em falta. Entretanto, ainda não se sabe o resultado da há meses anunciada auditoria externa à consultora KPMG para encontrar o mágico número de alunos sem docente a todas as disciplinas.
Há algum tempo, talvez por
ignorância minha, escrevi que seria expectável que as direcções de escolas e
agrupamentos tivessem dados seguros sobre a falta de docentes para os seus
alunos. Nem me parece que para agregar estes dados fosse necessário um sistema
altamente sofisticado.
A falta de docentes estava
escrita nas estrelas e sucessivas equipas ministeriais, para além de más
políticas públicas que afastaram milhares de professores das escolas negavam a
evidência, ouvia-se o mantra dos “professores a mais”.
Apesar de não acompanhar suficientemente
de perto a situação noutros países para ter uma perspectiva comparativa, em Portugal parece existir uma espécie de síndrome que afecta a classe
política com experiência de poder. Esta síndrome, a que poderemos chamar
"pós-ministerial" ou, dito de outra maneira, “sei muito bem o que
deveria ser feito, mas quando fui ministro(a) não soube ou não foi possível”, é
patente em muitíssimos ex-governantes oriundos dos partidos que já assumiram
responsabilidades de governo em diferentes áreas.
O que me parece curioso nestas
circunstâncias é que diferentes protagonistas com responsabilidade pelas
políticas educativas apresentam sempre uma visão clara sobre os males e
constrangimentos da área sectorial em que exerceram funções políticas, no caso
a educação, bem como, propostas de desenvolvimento e correcção visando a
desejável qualidade e o progresso, depois de terem passado por funções
ministeriais nesse mesmo sector.
A pergunta, certamente estúpida e
demasiado óbvia, que me ocorre face a este tipo de discursos é “então porque
não fez, porque não defendeu assertivamente as ideias agora expressas, muitas a
merecer concordância, quando teve poder para tal?” Podemos, com alguma
habilidade, tentar encontrar respostas e acabaremos, creio, por colocar duas
hipóteses básicas, não puderam ou não souberam, qual delas a mais animadora.
Na primeira, não puderam, implica
questionar qual o poder que efectivamente o ministro detém relativamente às
políticas do sector que tutela, ou seja, qual o verdadeiro nível de
responsabilidade de quem assume o poder e as dificuldades para ultrapassar e
gerir as corporações de interesses ameaçadas por eventuais mudanças. Na
segunda, não souberam, sugere que a competência não abundará o que não me
parece menos inquietante.
Em todo o caso, algum pudor e a
humildade de nos explicarem porque não executaram as políticas que
posteriormente aparecem a defender seriam esclarecedoras e um bom serviço prestado à
causa pública.
A questão é que muitos destes
discursos que se apresentam como parte da solução, na verdade, são, foram,
parte do problema.
Num tempo de desatino a história do Puto dos Desatinos.
Era uma vez um rapaz, pequenino,
daqueles que agora "inventaram" que parece só fazer o que quer,
quando quer e onde quer. Como é natural, os pais, volta e meia, ficavam
embaraçados com os desatinos do menino. Em casa ainda vá que não vá, estavam
sós e ninguém reparava, mas fora de casa o rapaz parecia que fazia de propósito
arranjando confusão e fazendo disparates nas situações mais inconvenientes.
Um dia, estava a mãe a passear
com o rapaz no jardim e ele, como de costume, corria atrás dos pombos,
interrompia brincadeiras doutros miúdos, atirava pedras aos patos do lago e o
mais que a sua imaginação sugeria. A mãe, envergonhada, assistia discretamente
e, apesar da inutilidade, de vez em quando chamava-o.
Um velho que passava, reparou na
cena e dirigiu-se à mãe, “menino traquinas o seu, não é?”. “Nem me fale, não
faço nada dele”. O velho ficou mais uns minutos a pensar e a ler o rapaz e
disse à mãe que, querendo ela, no dia a seguir lhe daria algo que talvez
ajudasse. A mãe, apesar de desconfiada, disse que viria.
Quando chegou, o velho deu-lhe
uma caixa e disse-lhe para que, sempre que o rapaz fosse começar uma das suas
travessuras, ela lhe desse a mão com muita força, lhe oferecesse uma daquelas
coisas que estava na caixa e lhe contasse uma história. Quando a mãe abriu a
caixa apenas encontrou folhas de papel que tinham escrito com uma letra muito
bonita “Gosto muito de ti, mas NÃO PERMITO que faças isso, agora vou contar-te
uma história”.
Às vezes, demasiadas vezes, esquecemo-nos que o “não”, tal como o “sim”, é um bem de primeira necessidade na vida dos miúdos.
Foi divulgado o estudo “Ecossistemas de Aprendizagem Saudáveis nas Instituições de Ensino Superior em Portugal” desenvolvido pelo Observatório dos Ambientes de Aprendizagem Saudáveis e Participação Juvenil. O trabalho envolveu O trabalho envolveu 2339 estudantes entre os 17 e os 35 anos. Alguns indicadores. Registaram-se níveis elevados de risco psicossocial para a saúde mental, 61,6% dos estudantes afirmaram que no último mês se sentiram fisicamente exaustos, 46,2% a registar irritação e 41,6% a sensação de tristeza.
65,5%, afirmam sentir-se incapazes
de controlar dimensões que são importantes na sua vida, 61,5% referem falta de
confiança na sua capacidade para lidar com os seus problemas e 59,4% sente-se
impotente face a dificuldades sentidas. Parece ainda relevante que 40% dos
estudantes académicos refere o recurso a psicotrópicos –
Também 13% dos inquiridos refere
ter sido alvo de ameaças ou outra forma de abuso físico ou psicológico,
insultos ou assédio sexual.
O trabalho revelou ainda o
desconforto de muitos alunos que se sentem desmotivados referindo metodologias
de ensino pouco estimulantes.
Os dados não são surpreendentes,
estão em linha com outros estudos, nacionais ou internacionais como o que hoje
refiro, mas são preocupantes, muito preocupantes, trata-se de uma população
nova a viver uma etapa muito relevante no seu percurso de vida.
Partindo do princípio de que a
maioria frequentará cursos escolhidos que sustentarão a construção dos seus
projectos de vida, seria de esperar, numa perspectiva optimista, que podendo
ser uma etapa dura e com obstáculos pudesse criar uma imagem de futuro que
motivasse e alimentasse um quotidiano de trabalho exigente, certamente, mas
vivido com alguma motivação.
No entanto, também a minha
relação até há pouco com alunos do superior foi mostrando há já algum tempo
sinais deste mal-estar.
O que me parece verdadeiramente
inquietante é não conseguir vislumbrar como poderemos em tempo útil reverter
esta situação e promover ajustamentos, e que ajustamentos, nos cenários de vida
destes jovens que são o nosso futuro.
Os recursos disponíveis para
apoio são claramente insuficientes e os custos de um apoio com recursos
familiares é demasiado oneroso num contexto em que a própria frequência do ensino
superior é por si própria um encargo económico muito significativo.
O mal-estar, em todas as faixas
etárias, parece ser um novo normal. Que raio de mundo é este?
Realiza-se hoje em dois turnos o exame final de Matemática do 9.º ano, seguir-se-á o de Português dia 25.
A avaliação externa é uma
ferramenta imprescindível de regulação dos sistemas educativos em diversos
patamares.
No entanto e como tenho escrito,
parece-me crítica a decisão de realização do exame em formato digital, fruto do “deslumbramento
digital”, perdão, da transição digital.
Nas provas ensaio realizadas
foram detectados problemas e dificuldades que a tutela afirma estarem
solucionadas. Esperemos que se realize o “mantra” que herdámos dos tempos da
pandemia, “vai correr bem”.
Na verdade, tinha alguma
esperança de que o bom senso e a reflexão sobre o que se passa noutros sistemas
educativos que desencadearam uma reflexão e tomadas de decisão relativamente à
introdução em termos excessivos dos recursos digitais, pudesse contribuir para
um maior equilíbrio e prudência na utilização destes recursos, designadamente
nos primeiros anos de escolaridade. Sabemos também que se prepara uma restrição
mais exigente relativa aos telemóveis nas escolas e, global e felizmente, se
está a reconsiderar a forma de utilização dos recursos digitais.
Por outro lado, continuam a ser
conhecidas com demasiada frequência queixas relativas ao acesso a equipamentos
por parte dos alunos, à qualidade dos equipamentos, que, de acordo com os
directores de escolas e agrupamentos, a insuficiência dos recursos necessários
à adequada utilização dos equipamentos, nas escolas, mas em particular nas
salas de aulas, infra-estruturas eléctricas e rede de net eficientes, por
exemplo. Acontece ainda que existe uma enorme diversidade na literacia digital
dos alunos.
Deste cenário, apesar do esforço
que vai ser realizado recorrendo ao apoio dos docentes de informática, podem
decorrer situações sérias de desigualdade entre escolas e entre alunos e todos
conhecemos múltiplas situações que evidenciam a enorme disparidade de recursos
e da sua utilização. A proficiência da escrita e realização em formato digital
será na esmagadora maioria dos alunos de natureza e nível diferente o que pode
contaminar os resultados.
Voltando ao início, sei que nem
sempre é fácil “fazer as coisas certas e fazer certas as coisas”, mas neste
caso não me parecia muito difícil.
Foi mesmo uma opção, uma má
opção.
Não é muito habitual colocar duas publicações no mesmo dia, mas hoje assim será.
Há pouco escrevi sobre a tarefa que estava a realizar aqui no monte num dia de abafura. Na continuação dei com uma surpresa que partilho. Com muita frequência aqui "tropeçamos" com cobras, os meus netos adoram ver e pegar quando conseguimos agarrar alguma.
Mas encontrar duas cobras grandes em plena dança ainda não me tinha acontecido nestas décadas de lida nesta terra encantada.
Acho que as cobras gostaram de mostrar a sua capacidade, não fugiram nem se perturbaram. Fica o registo.
São assim os dias do Alentejo.
Dia estranho o de hoje aqui neste canto do Alentejo. Um dia quente, muito quente, de abafura como por aqui se fala, céu carregado de nuvens, a trovada a ouvir-se ao longe. Ainda caíram por pouco tempo umas pingas grossas que libertaram o perfume inconfundível que a terra nos oferece quando depois um tempo de secura recebe água vinda lá do céu.
Regressei à tarefa de hoje, juntar
num moitão a palha que ficou no pasto depois da passagem da enfardadeira. No
fim do Inverno teremos um composto que enriquecerá a terra da horta.
Também está bonito o Alentejo com as cores que o Verão traz. Não adianta pintá-lo de verde com as culturas superintensivas de olival ou amendoal que irresponsavelmente e criminosamente vão aumentando, a terra por baixo vai morrendo e a seguir irá morrer por cima.
Se não atalharmos caminho, ainda
estamos a tempo assim queiram os homens, vamos ficar com o deserto, com uma
terra nua por cada vez mais tempo. E nessa altura que terão os nossos netos?
Desculpem lá o desabafo pouco
optimista, se calhar foi por causa do calor, mas … o Alentejo é sempre lindo,
também com o amarelo e castanho do tempo do calor.
Por estes dias e em matéria de educação é difícil fugir ao tema exames, estamos em plena época alta.
Como sempre, uma das grandes questões em apreço será a maior ou menor dificuldade ou adequação dos exames.
Como é reconhecido, o presidente
do Conselho Científico do Instituto de Avaliação Educativa admitiu em tempos
numa entrevista que os exames têm sido uma arma privilegiada na gestão política
do sistema educativo. Daí a necessidade de que a avaliação externa fosse da
responsabilidade de uma estrutura verdadeiramente independente do poder
político.
Neste contexto, através da
"modulação", por assim dizer, da sua dificuldade, poder-se-á
influenciar os resultados no sentido esperado e mais favorável a interesses de
circunstância. Este entendimento minimiza o impacto das análises comparativas.
Veja-se, por exemplo, a discussão recorrente e raramente consensual sobre o
grau de dificuldade e adequação dos exames. Esta discrepância acontece, sem
estranheza, até na apreciação do mesmo exame como repetidamente tem acontecido
com os exames de Matemática ou de Português, já está a acontecer no deste ano,
registando-se diferentes opiniões entre Associações de Professores, ou nas
redes sociais em que o universo de especialistas alarga e diversifica a discussão.
Parece claro que resultados
escolares mais positivos sustentam o entendimento de venham mostrar que “alunos
e professores corresponderam com o seu trabalho” o que contribui para ratificar
a “bondade das políticas educativas”, mas os resultados menos positivos
alimentam apreciações mais diferenciadas, políticas publicas, aspectos curriculares,
tipologia do exame, etc.
Estes discursos aparecerão,
evidentemente, sempre embrulhados em referências a rigor e a exigência.
Como dizia o meu estimado Mestre
Marrafa aqui no Alentejo, “Deixe lá ver”. Vamos ver como se segue a época de
exames.
Em princípio, nada de novo, tudo
de velho.
Caros alunos e alunas,
O trabalho realizado durante os
últimos anos vai ser testado. Alguns de vós sentir-se-ão relativamente
tranquilos enquanto outros, a maioria, vão começar a sentir a ansiedade a
subir. É normal, afinal trata-se de realizar um exame e alguma ansiedade ajuda-nos
a estar mais atentos.
Os resultados serão importantes
pois permitirão aceder ao ensino superior e na escola e curso que vos
interessam, e, desculpem o atrevimento, mas tomaram a decisão correcta,
continuar a estudar. A qualificação superior é uma boa ferramenta para a
construção de um projecto de vida mais sustentado e com maior potencial de
realização. Os tempos não estão fáceis, mas estudar ainda compensa, acreditem.
Alguns de vós vão sentir-se
pressionados para a obtenção de muito bons resultados, porque as médias de
acesso nos cursos que desejam frequentar são habitualmente elevadas ou porque
vos dizem que para se ser gente tem que se ser excelente. Irão perceber que,
felizmente, tal não é verdade, é fundamental tentar fazer o melhor possível,
mas não é essencial ser o melhor. Acresce ainda que, muitas vezes, essa pressão
não ajuda, antes pelo contrário, atrapalha, … há que ter calma.
Muita gente, pais, professores,
psicólogos, psiquiatras, nutricionistas, especialistas em “coaching” em
múltiplas áreas, colegas, vos dá conselhos nesta altura, “estuda mais”,
“descansa um pouco”, “devias fazer assim”, “era melhor desta maneira”, “não te
esqueças de nada”, “toma atenção”, “começa pelas mais fáceis”, “revê no fim”,
“cautela com a alimentação”, “é bom espairecer um pouco”, etc., etc. É normal e
importa alguma tranquilidade. A presença nas redes sociais e a partilha da
experiência com colegas vai certamente ajudar a dissipar o stresse, dividido
por muitos pode dar menos para cada um.
A verdade é que não existem
receitas infalíveis para o sucesso que não passem por trabalho sério,
organização do tempo e das tarefas, percepção das dificuldades e da forma de as
minimizar, partilhar dúvidas e pedir ajuda a professores ou colegas, entre outros
aspectos que saberão identificar. Cada um de vós encontrará um caminho para
lidar com os exames, é normal, somos diferentes.
Como é de prever, alguns acharão
os exames mais fáceis e outros mais difíceis, depende sempre do que cada um
sabe e dos conteúdos do exame, aquela história clássica de “ainda bem que saiu
isto, sabia bem” ou, pior, “logo havia de sair isto que não estava bem preparado”,
nada a fazer, são as circunstâncias e em toda a nossa vida iremos deparar com
situações mais favoráveis ou menos favoráveis. Todos sabemos que a vossa tarefa
não é fácil, mas estou convencido que para muitos de vós as coisas vão correr
bem. O vosso trabalho e dos professores e o apoio dos pais merecem.
Como já disse, os próximos exames
serão a última etapa antes do ensino superior, mas isso é uma outra narrativa.
Um dia destes falaremos disso, cada coisa de sua vez.
Boa sorte e divirtam-se, se
possível.
Ontem o calendário das consciências assinalou o Dia Internacional de Sensibilização para a Prevenção da Violência Contra as Pessoas Idosas.
Foi divulgado o estudo realizado
pela APAV, “Estatísticas APAV | Pessoas idosas vítimas de crime e violência
2021-2024”, e os indicadores, lamentavelmente, são preocupantes.
A Associação Portuguesa de Apoio
à Vítima disponibilizou apoio a 136 idosos por mês, 5 por dia, totalizando 6523
em quatro anos. As situações de apoio envolvem violência de diferente
tipologia, psicológica, física, sexual, financeira, negligência ou abandono.
Diferenciando, 9462 sofreram
violência doméstica, 78.2%, 468 foram alvo de ameaça ou coacção, 3.9%, 388 de
difamação ou injúria 3.2%, 386 de ofensas à integridade física, 3.2%, 227 de
burla, 1.9% e 1175 foram vítimas de outros crimes e formas de violência, 9,6%.
É um cenário inquietante.
Quer no seio das famílias, quer
em instituições para onde alguns velhos são enviados compulsivamente como tem
sido denunciado pela APAV, algumas encerradas por determinação legal, tal é a
gravidade das situações, multiplicam-se as referências à forma inaceitável como
os velhos estão a ser tratados.
Começam por ser desconsiderados
pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os
velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência.
Continua com um sistema de saúde
que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio sem médico
de família.
Em muitas circunstâncias, as
famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades ou
alterações nos estilos de vida, não se constituem como um porto de abrigo,
sendo parte significativa do problema e não da solução. As situações muito complicadas
em que milhares de famílias estão envolvidas com o retornar de várias gerações
à mesma casa e a tentação de aproveitar os baixos rendimentos dos velhos
potenciam o risco de maus tratos.
Finalmente, as instituições,
muitas delas, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente
fiscalização além de que, com frequência, os equipamentos de qualidade são
inacessíveis aos rendimentos de boa parte dos nossos velhos.
Lamentavelmente, boa parte dos
velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma narrativa, entende o velho que escreve estas letras.
No âmbito do Programa do Governo está contemplada a possibilidade de alargamento do contingente especial previsto no acesso ao ensino superior para alunos de famílias com carências económicas.
Actualmente, o contingente, definido no ano de
23/24, é de 2% das vagas e destina-se a alunos beneficiários do escalão A dos
Apoios Sociais.
Um trabalho, “Avaliação de
Impacto do Contingente Prioritário para Beneficiários de Acção Social Escolar
(ASE-A)", do Edulog, Fundação Belmiro de Azevedo, refere que em 2023 41% dos
alunos do escalão A não teriam conseguido o acesso pois a sua nota de
candidatura era inferior à nota mínima de entrada através do regime geral de
acesso.
No entanto, considerando os 3367
candidatos elegíveis, apenas 43% optaram por se candidatar através do
contingente especial.
Como já aqui tenho escrito, é
habitual considerar-se recorrer a quotas ou contingentes especiais para
minimizar exclusão ou desigualdade, não sendo o ideal, pode ajudar a minimizar
os problemas. A título de exemplo e atentando num outro grupo com contingente
definido e considerando dados de 2017/2018, frequentaram o ensino superior 1644
alunos com necessidades especiais, 0,5% do total dos matriculados no ensino
superior, sendo que apenas 14% das vagas do contingente especial para estes
estudantes foram ocupadas.
Neste contexto, levanta-se uma questão crítica, o
caminho só por aqui é demasiado estreito.
Importa sublinhar que o combate à
desigualdade e a promoção de igualdade de oportunidades se exige desde a
educação pré-escolar e em todo o trajecto escolar com a existência de
dispositivos de apoio suficientes e competentes.
A decisão de continuar para o
ensino superior é construída durante todo o trajecto do básico e secundário.
Percursos com mais sucesso promovem expectativas mais elevadas de alunos e
famílias, valorizam o conhecimento e a qualificação e, portanto, são mais
potenciadores da intenção de continuar a estudar. Donde, é imprescindível um
forte investimento em recursos e dispositivos de apoio que sustentem mais
sucesso para todos os alunos de todas as escolas.
Com maior frequência que noutros
grupos demográficos, as famílias mais vulneráveis expressam também expectativas
mais baixas ou nulas sobre o sucesso escolar dos seus filhos e sobre a
importância de estudar.
Neste contexto seria desejável
trabalho de mediação com recursos competentes e adequados no trabalho com as
famílias no sentido de reajustar expectativas e reconstruir a atribuição
importância ao estudo e à qualificação. As pessoas com baixas expectativas
acomodam mais facilmente o insucesso, é o “destino”, aprendem a viver com essa
“fatalidade” o que lhes tranquiliza a forma como olham para si e para os seus
filhos.
As famílias portuguesas enfrentam
um dos mais caros sistemas de ensino superior da UE e da OCDE apesar do
abaixamento das propinas. Donde, é crítica a questão dos apoios à frequência,
tipologia, número de bolsas e critérios de acesso a essas bolsas, para lá da
existência ou não de contingentes ou quotas.
Embora já seja feito em muitas
escolas, sobretudo no final e durante o pós-básico, seria desejável que os
dispositivos de orientação vocacional tivessem os recursos necessários para de
forma alargada providenciarem informação clara sobre a natureza da oferta
formativa, das suas características e solicitações, a que áreas de desempenho
permitem aceder no mundo profissional, etc. Por outro lado, esse apoio também
envolve o trabalho com os alunos no sentido de ajudar a um processo de tomada
de decisão que seja base para procurar qualificação, de natureza diversa, no
ensino superior.
Já no ensino superior e para
todos os alunos é importante que existam dispositivos de apoio institucionais e
também formas de mentoria desenvolvidas já por alunos a frequentar os
estabelecimentos que contribuam para melhores e mais rápidos processos de adaptação
a novas rotinas, métodos de trabalho, dificuldades de adaptação, etc. O nível
de desistência da frequência é alto e mais alto nas populações mais
vulneráveis.
Uma nota final para o óbvio, as
mudanças mais estruturais requerem investimentos e os recursos são finitos,
nenhuma dúvida. No entanto, as políticas públicas exigem opções e, também por
isso, são avaliadas.
Lê-se na imprensa que no Programa do Governo entregue hoje na Assembleia da República se contempla a proibição de telemóveis no 1.º e 2.º ciclo e no 3.º ciclo define um uso limitado.
Face à sua utilização desregulada
pelos mais novos (mas não só) desde muito cedo e que importa contrariar em nome da saúde e
bem-estar, a proibição é tentadora, mas pode não ser a decisão mais adequada.
Muitas vezes aqui tenho tratado esta
questão e recupero a referência a um trabalho publicado pela The Lancet
relativo a uma investigação realizada pela Universidade de Birmingham envolvendo
mais de mil alunos de 30 escolas secundárias. O estudo teve como objectivo
avaliar o impacto da proibição de utilização de telemóveis nas escolas no
comportamento dos estudantes, na saúde mental e no desempenho escolar.
Os resultados “sugerem que as
políticas escolares restritivas actuais não influenciam significativamente a
utilização do telemóvel e das redes sociais nem se traduzem em melhores
resultados ao nível dos domínios mentais, físicos e cognitivos”,
Verifica-se ainda que não diminui
o tempo de exposição a ecrãs, boa parte dos alunos “compensam” a restrição da
escola com mais tempo em casa.
Também abordei esta questão em
muitas sessões de trabalho com pais com filhos de diferentes idades e tenho
sustentado que, ainda que se possam compreender as razões que sustentam as
proibições, o uso excessivo e desregulado, as decisões de proibição não me
parecem consensuais. Aliás, também não tenho a convicção de que uma estratégia
de proibição, só por si, devolva crianças e adolescentes à interacção pessoal e
a outros hábitos comportamentais mais interessantes embora, obviamente, seja
imprescindível a regulação do seu uso o que não significará, necessariamente,
uma “lei seca” para telemóveis.
Por outro lado, também não é rara
a utilização de telemóveis associada a actividades de aprendizagem.
Do meu ponto de vista seria
importante também colocar a questão a montante, a utilização que todos damos a
estes dispositivos. Seria muito interessante e desejável que se discutisse a
sério (incluindo crianças e jovens) nas comunidades educativas a regulação dos
comportamentos e definição de regras e limites, sem “superpais”, sem
“superfilhos” ou “superprofessores”. No entanto, esta discussão tem de ser
acompanhada pela nossa, adultos, pais e/ou profissionais, regulação da sua
utilização. Se olharmos para muitas famílias em “convívio” ou para muitos
contextos profissionais em “reunião” verificaremos os ecrãs que muitos terão à
sua frente e perceberemos o que está por fazer, comportamento gera
comportamento. A sobreutilização por parte dos adultos parece-me ser uma
variável crítica desta equação.
Como também tenho referido, creio
que este movimento deve ser enquadrado na mudança que felizmente também parece
estar a emergir refreando o deslumbramento pela “transição digital” que,
enquadrando de forma ajustada a inevitabilidade de incorporar estas ferramentas
nos processos educativos, também volta a defender a importância de abordagens
metodológicas ou didácticas “antigas”, “conservadoras”, tais como escrever à
mão, desenhar, brincar na rua, ler em suporte papel, interagir presencialmente
ou promover relações afectivas literalmente mais próximas, tudo ferramentas
importantes de desenvolvimento e aprendizagem.
A ver vamos com a coisa evoluirá
por cá, mas não me parece que a proibição de telemóveis nas escolas venha a ter
o efeito regulador que todos desejamos. A regulação do uso por parte dos
adultos, pais em particular, poderia ter um efeito mais positivo minimizando a
tentação dos mais novos de “compensar” em casa a “companhia” do telemóvel que
não têm na escola.
Era uma vez um rapaz chamado Gozador. Andava na escola e tinha uns doze anos. O Gozador era um miúdo um bocado estranho, parecia que estava sempre a gozar.
Tinha um sorriso permanentemente
pendurado na cara e as pessoas ficavam um bocado incomodadas porque ele embora
não falasse muito, antes pelo contrário, passava muito tempo calado, mas com
aquele ar de gozador.
Os professores então sentiam-se
mesmo sem saber muito bem o que fazer, ele não perturbava as aulas, estava
tranquilo, mas aquele sorriso de quem estava a troçar incomodava.
Os colegas não se davam muito com
ele e o Gozador também não se aproximava muito, mantinha-se no seu canto e
compunha o sorriso habitual. Um dia, um dos professores falava do Gozador com o
Professor Velho aquele que já não dá aulas, está na biblioteca e fala com os
livros. Depois de ouvir a descrição do Gozador o Velho disse para o professor.
Ainda bem que me falas no
Gozador, também estou um bocado preocupado com ele, acho que ele ri de tristeza,
mas ainda não consegui perceber porque está sempre tão triste. Quando descobrir
digo-te.
Velho, rir de tristeza?!
O Movimento por uma Inclusão Efectiva, envolvendo pais de crianças e jovens com necessidades educativas especiais, desculpem a insistência nesta terminologia promoveu no início do ano um inquérito a pais nesta situação para conhecer a sua percepção de como decorre o processo educativo dos filhos ao abrigo do quadro legal definido pelo decreto-lei 54/2018. Alguns indicadores.
Considerando as 1036 respostas
válidas, 73% entendem a situação nas escolas não melhorou desde a entrada em
vigor do DL 54/2028. A maioria dos pais, 58%, refere que as terapias
necessárias não estão a ser realizadas e as que se realizam são consideradas
insuficientes por 96%.
Uma outra questão considerada
crítica prende-se com a sobrelotação das turmas levando sobrelotação com
reflexos negativos no tempo de permanência das salas de aula e no tempo para
apoio directo.
Foi também realizado um inquérito
a profissionais que acompanham as crianças, 453 respostas, sendo que 58%
consideram também que a situação não melhorou com a mudança de legislação.
Apesar de entender que a leitura
e interpretação destes dados deve ser prudente, também entendo que merecem
atenção e reflexão. Com uma carreira profissional de quase 50 anos ligada a
este universo é inevitável a reflexão sobre estas matérias.
Lamentavelmente são recorrentes
as vozes de pais, professores, técnicos ou directores escolares e algumas
referências na imprensa relativamente a essas dificuldades e, como se dizia há
uns anos, … a luta continua.
Algumas notas retomadas, não vale
a pena inventar.
Segundo dados da DGEEC, no ano
lectivo passado, estavam cerca de 90000 alunos ao abrigo de medidas selectivas
e/ou adicionais de acordo com o DL 54/2018.
Recordo que em 2018, a entrada em
vigor do novo enquadramento normativo, o ME decidiu que já não podíamos referir
alunos com “necessidades educativas especiais” porque a designação não era
conforme a “educação inclusiva”, categorizava alguns alunos o que não é uma boa
prática. Assim, determinou que os alunos que revelavam algum tipo de
dificuldade eram objecto de medidas educativas arrumadas em três categorias, as
medidas “universais”, as medidas “selectivas” e as medidas “adicionais”. Isto
parece que é uma outra forma de categorizar, mas não é. Na educação inclusiva é
assim que se faz.
Também acontece que temos alguma
dificuldade em interpretar os dados que vão sendo divulgados, aumenta o número
de alunos com dificuldades de alguma natureza ou aumenta o número de alunos com
medidas aplicadas. E quais as dificuldades dos alunos que se inscrevem nas
medidas “universais” uma vez que são … “universais”.
São habituais as preocupações com
a insuficiência preocupante dos recursos humanos, professores e técnicos,
designadamente psicólogos e terapeutas, auxiliares educativos bem como o
crescimento significativo do número de alunos sinalizados com algum tipo de
dificuldade. Aliás, também se conhecem situações em que professores com funções
de apoio assumem outro trabalho minimizando a falta de professores.
Deste quadro resulta a impossibilidade de
assegurar a muitos alunos aquilo que é “apenas” um direito e não um privilégio,
uma resposta educativa de acordo com as suas necessidades. Sim, eu sei que não
é fácil, mas também sei que existem responsáveis pelas políticas públicas de
diversos sectores envolvidas nestas questões.
A verdade é que torturar a
realidade não a obriga a confessar. Muitos alunos não, não estão incluídos nem
sequer integrados, estão “entregados” com as consequências que professores e
pais bem conhecem. E não estou a considerar apenas os “Selectivos”, os “Adicionais”
ou os “Universais” do 54/2018.
Este cenário de insuficiência de
recursos tem sido referenciado em trabalhos diversos incluindo da
Inspecção-Geral de Educação e Ciência.
Como tenho afirmados e escrito
inúmeras vezes, acompanhei com esperança e expectativa a mais do que
necessária, reafirmo, mudança legislativa desencadeada no âmbito da Educação
Inclusiva que se traduziu no DL 54/2018 ele próprio associado a todo um quadro
de mudança envolvendo, designadamente a definição do Perfil dos Alunos à Saída
da Escolaridade Obrigatória, das Aprendizagens Essenciais ou o Decreto-Lei n.º
55/2018 relativamente ao currículo. Todo este edifício potenciaria a inovação,
a mudança de paradigma, de vários paradigmas aliás, e alguns falavam mesmo da
revolução que estava em marcha e anunciavam os amanhãs que cantam.
Com confiança em algumas virtudes
do novo quadro aguardei expectante pela revelação da anunciada escola inclusiva
de 2ª geração. No entanto, para meu desconforto e cansaço, o que fui conhecendo
e vai sendo divulgado não me ajudou a perceber o que seria.
Continuo a verificar que, tal
como aconteceu com o velho 319/91, (nesta altura eu já trabalhava neste
universo há 15 anos), quer com o 3/2008 e depois com o actual 54/2018 existiam
e existem professores, técnicos e escolas a realizar trabalhos notáveis que
devem ser conhecidos e reconhecidos.
A avaliação dos alunos, a
definição dos apoios nas diferentes tipologias (já usadas como categorização
uma vez que a outra categorização já não existe), o funcionamento das Equipas,
os recursos disponíveis, a organização da intervenção, os papéis ou a articulação
dos intervenientes continuam com inúmeros sobressaltos. Recebo muitos
testemunhos e, como referi, os dados conhecidos também não são particularmente
animadores.
Apesar de agora estar já
desligado em termos profissionais, o interesse e a paixão por este universo não
se reforma, mantêm-se e apesar do cansaço, sempre me animo quando conheço
situações muito positivas que, felizmente, acontecem todos os dias em tantas
escolas.
No entanto, nem tudo vai bem,
muito longe disso. Insisto, não torturem a realidade que ela não vai confessar,
alterem-na, é o que espera de políticas públicas e de promoção de direitos
inalienáveis.
Há muito que fazer, muito para
caminhar.
Está em curso a realização da anunciada prova Diagnóstico da Fluência Leitora da responsabilidade do IAVE e destinada a medir a velocidade de leitura dos alunos do 2.º ano.
Estão a realizar-se em todas
escolas do 1.º ciclo públicas e privadas em colaboração com a Rede Bibliotecas Escolares
e Filinto Lima assegura, naturalmente, que as escolas estão preparadas. Como
sabemos, as escolas estão preparadas para tudo.
Os alunos lerão um de dois textos
em utilização durante um minuto e teremos um resultado que será devolvido às escolas
no início do ano lectivo e, lá está, as escolas estarão preparadas para desenvolver
a intervenção e as estratégias adequadas aos alunos que conduzam as letras do
papel para a linguagem a uma velocidade mais lenta.
Costumo dizer que no fim de quase
cinco décadas a trabalhar no mundo da educação, mais os anos de estudante,
poucas coisas me surpreendem, mas senhores, uma prova de velocidade da
leitura?!!!
É óbvia a importância e o impacto
da leitura no conjunto das aprendizagens, como também são preocupantee os indicadores
relativos às competências de leitura em diferentes dispositivos de avaliação
externa.
No entanto, avaliar a competência
de leitura apenas com uma prova de rapidez de leitura de palavras é pouco e
esquece dimensões essenciais como compreensão e prosódia.
Quantas vezes, apesar de sermos
leitores competentes e experientes precisamos de diminuir o ritmo de leitura
para tornar mais sólida a compreensão do que estamos a ler. Por outro lado, a
experiência diz-nos que ler mais devagar pode prejudicar num teste de
velocidade e não significar menor competência de leitura.
Quem acompanha o escrevo e
afirmo, sabe que os dispositivos de avaliação na sua diferente tipologia,
formativa, sumativa, diagnóstica, interna ou externa, são ferramentas
imprescindíveis a processos educativos de qualidade.
Dito isto, também entendo que
medir muitas vezes a febre não faz com que ela baixe ainda que necessitemos de
saber se existe febre e tratá-la, esta sim a grande questão, como melhorar os
resultados e com que recursos.
Insisto, a qualidade promove-se,
é certo, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente,
mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de
currículos e metodologias adequadas, com a estruturação de dispositivos de
apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de
políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e
modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição
de objectivos de curto e médio prazo, etc.,
Como escrevi na altura do anúncio
da realização desta prova, gostava que não lessem este texto de forma demasiado
rápida para que possa ficar mais claro o que pretendi reflectir.
Cumpre-se hoje o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, um dia em que se pensa Portugal.
Talvez possamos pensar Portugal e o seu futuro a partir de duas áreas
críticas, a Educação e a Cultura.
Comecemos pela Educação e pensar os tempos que a Educação, a
Escola, vivem e na forma como estamos a gerir o presente e futuro da nossa
maior ferramenta de desenvolvimento, a escola pública, não esquecendo e também,
naturalmente, o ensino privado.
Recordando a Constituição que alguns parecem querer rever
vale a pena sublinhar:
(…)
Artigo 73.º
Educação, cultura e ciência
1. Todos têm direito à educação e à cultura.
2. O Estado promove a democratização da educação e as
demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros
meios formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das
desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da
personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de
solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a
participação democrática na vida colectiva.
(…)
Artigo 74.º
Ensino
1. Todos têm direito ao ensino com garantia do direito à
igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar.
2. Na realização da política de ensino incumbe ao Estado:
a) Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e
gratuito;
b) Criar um sistema público e desenvolver o sistema geral
de educação pré-escolar;
(…)
É “apenas” isto que está em causa nos dias de hoje, defender
a existência de uma escola pública de qualidade que cubra as necessidades de
toda a população.
Só a educação e a rede pública de qualidade podem promover
equidade e igualdade de oportunidades.
Só a educação e a rede pública de qualidade podem ser
verdadeiramente inclusivas e receber todos os alunos.
Só a educação e rede pública pode chegar a todos os
territórios educativos e a todas as comunidades.
Só a educação e rede pública de qualidade promovem
mobilidade social em circunstâncias de equidade no acesso.
Para que possam cumprir a Constituição a educação e a rede
pública precisam de recursos materiais e recursos humanos valorizados e
competentes.
Os custos da educação e rede pública de qualidade não são
despesa, são investimento.
A políticas públicas de educação têm em cada momento
histórico a suprema responsabilidade de garantir que assim seja.
É isso que hoje se exige. Em defesa da Educação e da Escola
Pública. Em nome dos nossos filhos, dos filhos dos nossos filhos ...
No que respeita à Cultura creio que vale a pena atentar no
texto de António Carlos Cortez no DN, “Um Governo sem cultura ou a ascensão da mediocridade”, que começa assim:
“É triste que em Portugal a cultura seja sempre
desprezada, minimizada, olhada de soslaio, posta no canto das grandes decisões
políticas. Não admira. Para quantos - do cinema ao teatro, das artes
performativas à literatura, dos museus às associações culturais, da música (a
de qualidade e não a música de contrafacção cultural) à dança - vivem numa
autêntica sobrevivência existencial, a inexistência de um Ministério da Cultura
apenas vem confirmar a lógica de mediocridade que este Governo irá implementar
nas mais diversas áreas e sectores. (…)
A Educação e a Cultura são, na verdade, a base e o sustento
para o desenvolvimento e a forma de cumprir Portugal.
Tinha pensado voltar às provas de velocidade de leitura que hoje se iniciam, mas as memórias do Facebook mostraram-me um texto de 9 de Junho de 2018, “A guerra é a guerra” que me pareceu de retomar. Dizia assim:
A questão da carreira dos
professores é uma situação complexa sobretudo pelo impacto da reposição dos
efeitos de congelamento verificado. Não estranho, pois, a discussão que tem
gerado e a dificuldade de encontrar compromissos.
O que me parece mais curioso é
que esta discussão seja alimentada também por uma agenda que dela se serve para
diabolização dos professores, as pessoas a quem entregamos os nossos filhos
todos os dias.
A discussão serve também para
que se possa atacar a escola pública e o esforço e a competência da esmagadora
maioria dos que nela trabalham.
Continuam a aparecer na
comunicação social nos seus vários formatos intervenções que produzidas pelos
“falcões” habituais ou caceteiros de ocasião são intelectualmente desonestas,
escondendo realidades sobre os professores e o seu trabalho e o trabalho de
alunos e escolas e recorrendo às tão em moda “fake news”, factos alternativos.
Como escrevi vejo muita gente
ligada à educação considerar como ignorantes as afirmações de muitos desses
opinadores. Não sejamos ingénuos, não é ignorância, é guerra política pura e
dura.
Como cantava o Fausto, “a
guerra é a guerra”.
A educação e a sua qualidade
são ferramentas essenciais de desenvolvimento. Apesar do que falta fazer e de
situações que não deveriam acontecer, de políticas de sinal errado, alunos e
professores têm evoluído positivamente no seu trabalho e constroem saber, ou
seja, constroem o futuro.
Como diz Ordine no estimulante
”A utilidade do inútil”, “Só o saber pode desafiar uma vez mais as leis do
mercado. Eu posso comungar com os outros os meus conhecimentos sem empobrecer….
Ensinar é um processo virtuoso que enriquece. Ao mesmo tempo, quem dá e quem
recebe”.
Não, não é um discurso ingénuo
ou romântico, estes anos todos de estrada dão-me alguma lucidez, creio. Os
Professores e Educadores e de uma forma geral quem passou pela escola e não tem
preconceitos ou agendas implícitas reconhece que é verdade.
No entanto, sei também que
acontecem verdadeiros atropelos no quotidiano escolar. Entendo de há muito que
um dos pecados estruturais do sistema é justamente a falta de dispositivos de
regulação o que permite que coexistam na mesma escola a excelência e a
mediocridade sem sobressaltos aparentes.
É assim triste que tantos e
tão manhosamente ataquem quem, na sua esmagadora maioria, lhes leva os filhos
ao futuro e os trouxe ao presente que têm.
Uma comunidade que não
valoriza os seus professores e o seu trabalho é uma comunidade certamente mais
pobre e menos desenvolvida. A Educação, o Conhecimento, a Formação são
ferramentas de construção e distribuição de riqueza. Os professores e os
alunos, futuros adultos, são os obreiros desta empresa. Respeitem-nos!”