sábado, 1 de julho de 2023

O CLIMA E O MEL

 Ontem ao fim da tarde passou por aqui no Monte o meu amigo Manel. Veio dar uma vista de olhos a uma máquina da sua especialidade e, claro, para umas lérias.

O calor bravo e a secura que ameaça o Alentejo, apesar das paisagens verdes das culturas superintensivas que a prazo nos trarão o deserto, foram tema para conversa.

O amigo Manel de há muito que nos arranja o mel que não dispensamos e veio à baila a preocupação.

Este ano não houve Primavera, não tivemos flores e as abelhas não têm o alimento de que precisam para fabricar o mel. A situação é inquietante, lembro-me de há pouco tempo procurar umas flores para compor os ramos do Dia da Espiga que sempre fazemos e não as encontrar, tudo já está seco.

O tempo vai malino. O Manel diz que, provavelmente, nem vai crestar as colmeias, ficaria sem abelhas. Assim ficamos sem mel.

Imagino que a Terra comece a ficar cansada da irresponsabilidade delinquente desta gente que a povoa, sobretudo dos que lideram. Depois de tanta asneira insistem nos maus-tratos e não se entendem sobre a forma de mudar de rumo.

Dão-lhe cabo das entranhas, alteram-lhe o clima, mudam paisagens, esgotam-na, deixam-na estéril e sem sustento ou, pelo contrário, a água é muita, devasta o que apanha pela frente.

A Terra não está a aguentar e zanga-se. E nós também não aguentaremos.

A minha avó Leonor, mulher de sabedoria, ainda eu era miúdo costumava dizer que não era bom a gente meter-se com a Terra, com a natureza, e maltratá-la. A natureza vai ser sempre maior que a gente e não aceita que mandem nela.

Quando acorda zanga-se e quando se zanga os efeitos são devastadores e apesar dos avisos não parece que a levem a sério.

Esta gente não aprende mesmo, já não espero que o fizessem em nome deles, os seus interesses imediatos não deixam. Mas podiam fazê-lo em nome dos filhos, dos filhos dos filhos, dos filhos dos filhos dos filhos, 

E são assim, por enquanto, os dias quentes do Alentejo.

Sem comentários: