sexta-feira, 14 de julho de 2023

NÃO PARECE UM BOM CAMINHO

 O que se conhece das alterações em discussão no quadro de habilitações exigidas para ser professor continua a suscitar dúvidas.

Por outro lado, face ao cenário crítico de falta de docentes e numa perspectiva mais global, urge repensar a carreira docente, considerando dimensões como o recrutamento, o ajustamento na formação, o modelo de carreira, o modelo de avaliação e progressão, a valorização do estatuto salarial dos docentes, a promoção da sua valorização profissional e social ou a desburocratização do trabalho dos professores, entre outros aspectos. Só mudanças integradas e não exclusivamente na formação podem sustentar a atractividade, a estabilidade e, naturalmente, a qualidade da profissão docente.

Focar a minimização do sério problema da falta de professores no abaixamento do nível de formação exigida  parece um mau caminho.

Também não sossega a perspectiva de que quem concorrer com o que vier a ser considerado “habilitação própria” não acede à carreira pois não resolve a falta de docentes coma habilitação profissional pouco efeito terá na motivação para ser professor pela ausência de estabilidade e na motivação para a escolha da profissão docentes.

Acresce o risco da “desprofissionalização” ou, de recorrendo a uma ideia que já tenho referido a de “deskilling” promovendo uma concepção “empobrecida”, diria “embaratecida” do professor e das exigências de formação para a função.

Neste quadro pode vir a desenhar-se uma visão de que os docentes cumprem ordens e programas, não têm que fazer grandes escolhas, possuir conhecimento aprofundado em diferentes áreas científicas, solidez nas metodologias, valores éticos e morais, etc. Seria suficiente uns burocratas, agora mais burocratas digitais a papaguear, fabricar, aulas para grupos de alunos "normalizados".

Como já escrevi, os professores poderão ser então basicamente considerados como “entregadores de conteúdos”, (content delivers na formulação original), burocratiza-se ainda mais a “medição de saberes” apoiados em fórmulas de gestão “plataformizadas” em modelos “digito-burocratas" construídas num qualquer serviço centralizado ou num cenário de “descentralização” que, de facto, não promove uma autonomia robusta das escolas cujo modelo de governação é parte desta equação.

Este trajecto, a confirmar-se pode vir a tornar os professores mais “baratos” e a base de recrutamento pode ser alargada, mas o nosso futuro será mais caro por pior qualidade, um professor de … é muito mais que um técnico de …

A ver vamos, como se diz por aqui.

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