quarta-feira, 5 de novembro de 2025

"M'ESPANTO ÀS VEZES, OUTRAS M'AVERGONHO"

Lembrei-me de Sá de Miranda, "M'espanto às vezes, outras m'avergonho".

Há pouco tempo fomos surpreendidos com a decisão de algumas direcções escolares no sentido de proibir a professores e funcionários a utilização de telemóveis em áreas comuns da escola, como recreios e corredores. Para ficarem completos os efeitos esta desastrada decisão só faltava a notícia de que “há professores que vão telefonar para a casa de banho”. Bateu no fundo!

Como aqui escrevi e retomo algumas notas, continuo com alguma dificuldade em entender o racional da decisão. Os meus netos, miúdos como todos os outros percebem sem grande dificuldade que os pais ou eu, por exemplo, posso recorrer ao telemóvel em circunstâncias que, em regra, eles não utilizam.

E este entendimento que continuo a assumir, não se trata de uma variação de “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”, idades e papéis não se fundem, gerem-se com regulação e compreensão da razão para que assim seja.

Continuo ainda a entender que esta decisão é um insulto a professores e funcionários, assumindo a sua incapacidade de regulação do seu comportamento pelo que só a proibição os fará “bem-comportados”. Aliás, a ideia de que “têm de dar o exemplo“ e que para o darem só proibindo é “dar um exemplo” de incompetência e desrespeito.

Acresce que parece discutível a legalidade desta decisão levando a que um grupo de professores esteja a considerar que poderá recorrer aos tribunais, à Inspecção de Educação, Provedoria de Justiça, ministro e parlamento.

Importa sublinhar que quem conhece o universo da educação, também reconhece excelentes direcções escolares que, é bom lembrar, são professores, mas a verdade é que existem práticas de direcções escolares que estão longe de se considerarem positivas e competentes considerando a forma como lidam e destratam os seus colegas professores.

Não dá para entender. Que objectivos terão? Será “só” incompetência?

Como se sabe a escola portuguesa é um mundo sereno e tranquilo pelo que episódios desta natureza sempre animam o clima das escolas.

Mais a sério, pensando na natureza das problemáticas actuais nas comunidades educativas, lembrei-me de Almada Negreiros em a Cena do Ódio “e qu'inda foste inventar submarinos, p'ra te chateares também por debaixo d'água”.


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