Lembrei-me de Sá de Miranda, "M'espanto
às vezes, outras m'avergonho".
Há pouco tempo fomos
surpreendidos com a decisão de algumas direcções escolares no sentido de
proibir a professores e funcionários a utilização de telemóveis em áreas comuns
da escola, como recreios e corredores.
Como aqui escrevi e retomo
algumas notas, continuo com alguma dificuldade em entender o racional da
decisão. Os meus netos, miúdos como todos os outros percebem sem grande
dificuldade que os pais ou eu, por exemplo, posso recorrer ao telemóvel em
circunstâncias que, em regra, eles não utilizam.
E este entendimento que continuo
a assumir, não se trata de uma variação de “faz o que eu digo, não faças o que
eu faço”, idades e papéis não se fundem, gerem-se com regulação e compreensão
da razão para que assim seja.
Continuo ainda a entender que esta decisão é um insulto a professores e funcionários, assumindo a sua incapacidade de regulação do seu comportamento pelo que só a proibição os fará “bem-comportados”. Aliás, a ideia de que “têm de dar o exemplo“ e que para o darem só proibindo é “dar um exemplo” de incompetência e desrespeito.
Acresce que parece discutível a
legalidade desta decisão levando a que um grupo de professores esteja a
considerar que poderá recorrer aos tribunais, à Inspecção de Educação,
Provedoria de Justiça, ministro e parlamento.
Importa sublinhar que quem conhece o universo da educação, também reconhece excelentes direcções escolares que, é bom lembrar, são professores, mas a verdade é que existem práticas de direcções escolares que estão longe de se considerarem positivas e competentes considerando a forma como lidam e destratam os seus colegas professores.
Não dá para entender. Que
objectivos terão? Será “só” incompetência?
Como se sabe a escola portuguesa é
um mundo sereno e tranquilo pelo que episódios desta natureza sempre animam o clima
das escolas.
Mais a sério, pensando na natureza
das problemáticas actuais nas comunidades educativas, lembrei-me de Almada
Negreiros em a Cena do Ódio “e qu'inda foste inventar submarinos, p'ra te
chateares também por debaixo d'água”.
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