A GNR divulgou dados da operação Censos Sénior 2025, realizada entre os dias 1 de Outubro e 16 de Novembro. Foram sinalizados mais de 43 mil idosos que vivem sozinhos ou em situação de vulnerabilidade e são os distritos do interior que revelam maior número de situações.
Tenho setenta e um anos, o
privilégio de viver com a minha companheira de sempre, família próxima que
inclui a magia da avozice, saúde que permite alguma actividade diversa
sobretudo no monte no Alentejo, algum contacto com amigos e colegas, enfim,
aquilo me faz sentir tão bem quanto possível.
Portugal é, dados do Eurostat, o
segundo país com maior percentagem de população idosa da EU depois da Itália e,
muito provavelmente, os dados do Censos Sénior 2025 pecarão por defeito.
Felizmente, nem todos os idosos
vivem sós, muitos vivem em instituições, a solidão da velhice atinge muitos de
nós.
Num tempo em que toda a gente
parece integrar uma ou várias redes sociais parece estranha a referência à
solidão que, como sabemos, se pode tornar numa condição de alto risco. Muitos
trabalhos identificam consequências sérias da solidão, quer na saúde física,
quer na saúde mental.
De facto, a solidão, o
sozinhismo, é uma condição que afecta imensa gente de várias idades, mesmo nos
mais novos, mas que atinge com particular incidência os mais velhos e tem vindo
a acentuar-se na sequência da alteração dos estilos de vida e dos valores que
tecem a vida das comunidades nas quais se vai perdendo as relações de
vizinhança.
No entanto a questão agrava-se
com os muitos que, para além de viverem sós, vivem isolados. São sobretudo
estes que o sozinhismo ataca.
De facto, algumas pessoas, por
condições económicas, dignidade e preservação da autonomia vivem sós, mas não
estão isolados. Outros acumulam, vivem sós e isolados, por impotência, falta de
recursos ou de família.
Apesar do que consta nas
certidões de óbito, especialmente nos tempos do frio, estou convencido que a
verdadeira causa da morte de muitos velhos é o sozinhismo, a doença que ataca
os que vivem sós, isolados, que perderam o amparo. Sendo certo que aflige especialmente
os velhos, mas não apenas os velhos.
Trata-se de uma doença moderna,
cujas causas são conhecidas, cujo terapia também está encontrada, mas que
parece difícil combater. Estão em queda as relações de vizinhança e a vivência
comunitária, fontes privilegiadas de protecção dos mais velhos.
Quem não vive só, isolado, mais
facilmente resiste às mazelas de diferente natureza que a idade traz quase
sempre. As pessoas são, espera-se, fonte de saúde e calor. E o frio que está
neste tempo aumenta a necessidade desse calor.
Reafirmo que, embora tenha
referido mais em particular a situação dos velhos, o sozinhismo também ataca
crianças e jovens com consequências por vezes devastadoras.
Na verdade, o sozinhismo poderá
ser verdadeiramente a causa ou o gatilho de problemas para muita gente.
No entanto e como sempre, para
além das necessárias políticas sociais emergentes do estado e das instituições
privadas de solidariedade impõe-se a percepção pelas comunidades,
designadamente pelas famílias, do drama da solidão e do isolamento.
É sempre questão de redes
sociais, mas não das virtuais que ainda assim poderiam dar uma ajuda.
Lamentavelmente, boa parte dos
velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Este país não estando a ser para
jovens vai ter de ser para velhos.
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