Iniciam-se hoje a realização das Provas de Monitorização da Aprendizagem com as provas de Português do 4.º e do 6.º ano.
Algumas notas a propósito e em
linha com o que tenho escrito e defendido.
A avaliação externa é uma
ferramenta crítica na regulação do desempenho e qualidade dos sistemas educativos e o modelo
anterior, as provas de aferição, não cumpriam esse objectivo.
De uma forma geral, olhando para o modelo julgo
podermos falar de “fazer as coisas certas e fazer certas as coisas” relativamente
às alterações realizadas.
A Lei de Bases do Sistema
Educativo define que o ensino básico se organiza numa lógica de ciclo e não de
disciplina como o secundário. Assim, parece claro que uma avaliação externa com
funções de regulação deve ser realizada no ano final de cada ciclo e não nos
anos intermédios, 2º, 5º e 8º ano, quando os alunos estão a meio do seu caminho
de um ciclo. A argumentação era assente na ideia de que de que a identificação
de dificuldades e a devolução de resultados permitiriam a correcção de
trajectórias futuras dos alunos até final do ciclo. Assim sendo e neste caso, a
avaliação não seria de aferição, mas de diagnóstico. No entanto, espera-se que
diariamente nas salas de aula os professores realizem, mais formal ou mais
informalmente, avaliações desta natureza, mais formativa, pois é a mais sólida
ferramenta que possuem de regulação do trabalho dos alunos e do seu próprio
trabalho.
Está, pois, certa, a realização
de provas nos anos finais de cada ciclo. A designação é irrelevante, mas como é
preciso alterar, pode ser a prova ModA (monitorização da aprendizagem) no 1.º e
2.º ciclo e o exame final no 9.º ano. Como já escrevi, tendo de ter uma outra
designação pode ser esta.
Para que os dispositivos de
avaliação externa cumpram a sua função têm de ser comparáveis o que não se
verifica no modelo actual contaminado palas variações de dificuldades colocadas
nas provas e no tipo de enunciados. No modelo que se inicia as questões mantêm-se
permitindo comparações nos trajectos escolares. Também me parece uma coisa
certa.
Consideremos agora o “fazer as
coisas certas” em que me parece questionável o que agora foi apresentado.
Os resultados das agora provas de
ModA continuam a não ter qualquer impacto na avaliação dos alunos, mantém-se o
“não servem para nada”. É verdade que são registadas no processo de cada aluno,
que as escolas recebem os resultados, mas também está estudado de há muito, que
as representações e expectativas sobre uma determinada tarefa contaminam de
forma significativa o desempenho nessa tarefa. Para pais e alunos, mas também
para professores e escolas, é relevante o facto de as provas não “contarem para
nada”, não é fazer "certa a coisa". Um dos meus netos realiza as provas do 6.º ano e creio que está menos preocupado que para a realização de
um teste durante o tempo de aulas. Podemos correr o risco de que a desvalorização inquine resultados.
Finalmente, também não parece que
a manutenção do formato digital no 1.º e 2.º ciclo e um exame misto a
Matemática no 9.º ano seja “fazer certa a coisa”.
Na verdade, tinha alguma
esperança de que o bom senso e a reflexão sobre o que se passa noutros sistemas
educativos que desencadearam uma reflexão e tomadas de decisão relativamente à
introdução em termos excessivos dos recursos digitais, pudesse contribuir para
um maior equilíbrio e prudência na utilização destes recursos, designadamente
nos primeiros anos de escolaridade, sobretudo no 4.º ano.
Acresce que, para além da
disparidade de recursos e competências e pensando sobretudo nos alunos do 1.º
ciclo, mas não esquecendo todos os outros, a aprendizagem da escrita é
realizada, e bem, com o recurso predominante à escrita manual. Existem razões
advindas da evidência, como agora se diz, que sustentam este caminho. Assim
sendo, a proficiência da escrita em formato digital será na esmagadora maioria
dos alunos de natureza e nível diferente o que pode contaminar os resultados.
O MECI já anunciou algumas
medidas que procuram contrariar este cenário, por exemplo, um significativo
recurso a resposta múltiplas, mas já não consigo ser muito optimista, para além
de me parecer que a digitalização, nomeadamente no 1º ciclo, é uma má opção
como já disse acima.
Por outro lado, são conhecidas
com demasiada frequência queixas relativas ao acesso a equipamentos por parte
dos alunos, à qualidade dos equipamentos, que, de acordo com os directores de
escolas e agrupamentos, a insuficiência dos recursos necessários à adequada
utilização dos equipamentos, nas escolas, mas em particular nas salas de aulas,
infra-estruturas eléctricas e rede de net eficientes, por exemplo.
Acontece ainda que existe uma
enorme diversidade na literacia digital dos alunos. Deste cenário, apesar do
esforço que terá sido realizado e recorrendo ao apoio dos docentes de
informática ou mesmo a técnicos exteriores à escola, podem decorrer situações
sérias de desigualdade entre escolas e entre alunos e todos conhecemos
múltiplas situações que evidenciam a enorme disparidade de recursos e da sua
utilização.
Ao que se lê, o sistema está
preparado, mas …
Voltando ao início, sei que nem
sempre é fácil “fazer as coisas certas e fazer certas as coisas”, mas neste
caso não me parecia muito difícil.
É mesmo uma opção.
Boa sorte para todos, alunos e
professores.
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