segunda-feira, 19 de maio de 2025

AS PROVAS DE ModA - Entre o "fazer as coisas certas e fazer certas as coisas"

Iniciam-se hoje a realização das Provas de Monitorização da Aprendizagem com as provas de Português do 4.º e do 6.º ano.

Algumas notas a propósito e em linha com o que tenho escrito e defendido.

A avaliação externa é uma ferramenta crítica na regulação do desempenho e qualidade dos sistemas educativos e o modelo anterior, as provas de aferição, não cumpriam esse objectivo.

 De uma forma geral, olhando para o modelo julgo podermos falar de “fazer as coisas certas e fazer certas as coisas” relativamente às alterações realizadas.

A Lei de Bases do Sistema Educativo define que o ensino básico se organiza numa lógica de ciclo e não de disciplina como o secundário. Assim, parece claro que uma avaliação externa com funções de regulação deve ser realizada no ano final de cada ciclo e não nos anos intermédios, 2º, 5º e 8º ano, quando os alunos estão a meio do seu caminho de um ciclo. A argumentação era assente na ideia de que de que a identificação de dificuldades e a devolução de resultados permitiriam a correcção de trajectórias futuras dos alunos até final do ciclo. Assim sendo e neste caso, a avaliação não seria de aferição, mas de diagnóstico. No entanto, espera-se que diariamente nas salas de aula os professores realizem, mais formal ou mais informalmente, avaliações desta natureza, mais formativa, pois é a mais sólida ferramenta que possuem de regulação do trabalho dos alunos e do seu próprio trabalho.

Está, pois, certa, a realização de provas nos anos finais de cada ciclo. A designação é irrelevante, mas como é preciso alterar, pode ser a prova ModA (monitorização da aprendizagem) no 1.º e 2.º ciclo e o exame final no 9.º ano. Como já escrevi, tendo de ter uma outra designação pode ser esta.

Para que os dispositivos de avaliação externa cumpram a sua função têm de ser comparáveis o que não se verifica no modelo actual contaminado palas variações de dificuldades colocadas nas provas e no tipo de enunciados. No modelo que se inicia as questões mantêm-se permitindo comparações nos trajectos escolares. Também me parece uma coisa certa.

Consideremos agora o “fazer as coisas certas” em que me parece questionável o que agora foi apresentado.

Os resultados das agora provas de ModA continuam a não ter qualquer impacto na avaliação dos alunos, mantém-se o “não servem para nada”. É verdade que são registadas no processo de cada aluno, que as escolas recebem os resultados, mas também está estudado de há muito, que as representações e expectativas sobre uma determinada tarefa contaminam de forma significativa o desempenho nessa tarefa. Para pais e alunos, mas também para professores e escolas, é relevante o facto de as provas não “contarem para nada”, não é fazer "certa a coisa". Um dos meus netos realiza as provas do 6.º ano e creio que está menos preocupado que para a realização de um teste durante o tempo de aulas. Podemos correr o risco de que a desvalorização inquine resultados.

Finalmente, também não parece que a manutenção do formato digital no 1.º e 2.º ciclo e um exame misto a Matemática no 9.º ano seja “fazer certa a coisa”.

Na verdade, tinha alguma esperança de que o bom senso e a reflexão sobre o que se passa noutros sistemas educativos que desencadearam uma reflexão e tomadas de decisão relativamente à introdução em termos excessivos dos recursos digitais, pudesse contribuir para um maior equilíbrio e prudência na utilização destes recursos, designadamente nos primeiros anos de escolaridade, sobretudo no 4.º ano.

Acresce que, para além da disparidade de recursos e competências e pensando sobretudo nos alunos do 1.º ciclo, mas não esquecendo todos os outros, a aprendizagem da escrita é realizada, e bem, com o recurso predominante à escrita manual. Existem razões advindas da evidência, como agora se diz, que sustentam este caminho. Assim sendo, a proficiência da escrita em formato digital será na esmagadora maioria dos alunos de natureza e nível diferente o que pode contaminar os resultados.

O MECI já anunciou algumas medidas que procuram contrariar este cenário, por exemplo, um significativo recurso a resposta múltiplas, mas já não consigo ser muito optimista, para além de me parecer que a digitalização, nomeadamente no 1º ciclo, é uma má opção como já disse acima.

Por outro lado, são conhecidas com demasiada frequência queixas relativas ao acesso a equipamentos por parte dos alunos, à qualidade dos equipamentos, que, de acordo com os directores de escolas e agrupamentos, a insuficiência dos recursos necessários à adequada utilização dos equipamentos, nas escolas, mas em particular nas salas de aulas, infra-estruturas eléctricas e rede de net eficientes, por exemplo.

Acontece ainda que existe uma enorme diversidade na literacia digital dos alunos. Deste cenário, apesar do esforço que terá sido realizado e recorrendo ao apoio dos docentes de informática ou mesmo a técnicos exteriores à escola, podem decorrer situações sérias de desigualdade entre escolas e entre alunos e todos conhecemos múltiplas situações que evidenciam a enorme disparidade de recursos e da sua utilização.

Ao que se lê, o sistema está preparado, mas …

Voltando ao início, sei que nem sempre é fácil “fazer as coisas certas e fazer certas as coisas”, mas neste caso não me parecia muito difícil.

É mesmo uma opção.

Boa sorte para todos, alunos e professores.

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