segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

AS MÃOS QUE ENSINAM

 O Público divulga um estudo publicado na Frontiers in Psychology, “Handwriting but not typewriting leadsto widespread brain connectivity: a high-density EEG study with implications for the classroom” que merece leitura e reflexão. Num tempo em parece ter-se instalado no sistema educativo um deslumbramento com o digital termos mais um trabalho que evidencia a importância de aprendizagem da escrita à mão e não de forma digital é importante e útil. No entanto, não está em causa o recurso a ferramentas digitais desde que devidamente enquadrado.

Curiosamente, ao ler o trabalho lembrei-me de uma história que coloquei no Atenta Inquietude em 2010, o tempo voa, com o título, “As mãos que ensinam”. Aqui fica, está actual.

(…)

Um dia destes a Sara, professora de gente pequena, encontrou-se no refeitório da escola com o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros. A conversa, para não variar, foi sobre o trabalho de ensinar e aprender.

Estava a lembrar-me da reunião que ontem tivemos. Velho, que me dizes à polémica que vai por aí sobre a utilização dos computadores com os gaiatos pequenos? Estás contra ou a favor?

Na minha idade já nem sempre consigo estar de forma definitiva, contra ou favor de muitas coisas. A questão dos computadores na sala de aula com os miúdos pequenos é um exemplo, acho que não se pode discutir assim.

Então?

Como é evidente os computadores fazem cada vez mais parte da nossa vida em múltiplas dimensões. Assim sendo, considerando que a escola deve lidar e colocar os miúdos a lidar com as coisas da vida, o computador poderá aparecer e integrar-se, no trabalho "sério" ou nas brincadeiras, é uma questão de bom senso. Por outro lado, quando se começa a mexer nas letras, a juntá-las e a escrever, parece-me muito importante que as mãos escrevam, desenhem as letras, construam as histórias. Às vezes dizem que os miúdos se motivam mais porque os computadores são inovadores. É um equívoco, os miúdos motivam-se por aquilo que gostam e aprendem a gostar. E para aprender a gostar também é preciso saber fazer. Repito, parece-me essencial que as mãos conheçam as letras, como elas se desenham, como elas se juntam e o que elas são capazes de dizer. Utilizar o computador será útil para algumas outras tarefas ou actividades que não substituem escrever e construir textos com as mãos.

Sabes que tanto como a cabeça ensina as mãos, as mãos ensinam a cabeça. Quando as mãos e a cabeça aprendem e sabem, então o computador também já pode ser uma caneta. Dá para entender Sara? É por isso que estou contra e a favor do uso dos computadores pelo gaiatos pequenos ou, se preferires, a favor e contra.

Parece simples Velho, porque se discute tanto?

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