"Chumbos no ensino obrigatório custam 250 milhões de euros por ano ao Estado"
(No Público)
O número ainda significativo de chumbos
no nosso sistema escolar, verificado, aliás de há muito, parece assentar na
errada convicção de que a repetição só por si conduz ao sucesso e alimenta
o que a OCDE já classificou de "cultura da retenção". Importa ainda considerar o impacto económico desta cultura como estudo realizado pela associação Empresários pela
Inclusão Social e pelo Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de
Lisboa.
Na verdade, muitos estudos,
nacionais e internacionais, mostram que os alunos que começam a chumbar,
tendem a continuar a chumbar, ou seja, a simples repetição do ano, não é para
muitos alunos, suficiente para os devolver ao sucesso. Os franceses utilizam a
fórmula “qui redouble, redoublera” quando referem esta questão.
Nesta conformidade e do meu ponto
de vista, a questão central não é o chumba, não chumba e quais os critérios ou
o número de exames, mas sim que tipo de apoio, que medidas e recursos
devem estar disponíveis para alunos, professores e famílias, desde o início da
percepção de dificuldades, de forma a evitar a última e genericamente ineficaz
medida do chumbo. É necessário diversificar percursos de formação com
diferentes cargas académicas e finalizando sempre com formação profissional. Importa
ainda que as políticas educativas sejam promotoras de condições de sucesso para
alunos e professores. O aumento do número de alunos por turma no Ensino Básico
e no Secundário é, apenas, um exemplo do que não deve ser feito se,
efectivamente, se quiser promover qualidade e sucesso.
Como é evidente este tipo de
discurso não tem rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito
menos, com melhoria "administrativa" das estatísticas da educação uma
tentação a que nem sempre se resiste.
Neste cenário a insistência na
introdução de mais exames como panaceia da qualidade corre, do meu ponto de
vista, o risco do trabalho escolar se organizar centrado na preparação dos
alunos para a multiplicidade de exames que realizam, ou seja, como me dizia há
tempos um professor do ensino secundário, "o trabalho com os alunos é
muito interessante mas a partir de certa altura sou eu e eles contra os
exames".
Esta perspectiva, mais exames
como fonte de qualidade, parece decorrer da estranha convicção de que se medir
muitas vezes a febre, esta irá baixar o que é, no mínimo, ingénuo.
1 comentário:
Belíssimo texto. Concordo em absoluto!
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