AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

BOM ANO NOVO

 É o dia em que todas as falas acabam num desejo de Bom Ano Novo.

Nunca como agora precisámos de um Ano Novo que seja mesmo … Novo e Bom. Mais regularmente os Anos Novos nascem envelhecidos em muitos aspectos o que no seu final nos leva a renovar as promessas e os desejos de mudança.

Nunca como agora precisámos de construir pontes sobre as águas turbulentas que são os nossos dias e que não podem ser o novo normal.

Nós, os nossos filhos, os filhos dos nossos filhos, os filhos dos … têm direito a um futuro que começa agora. Também depende de nós, das pontes que construirmos e dos muros que derrubarmos.

Assim, Bom Ano Novo. Tão Bom quanto possível no que de nós não depende, tão Novo quanto conseguirmos naquilo que podemos e queremos.




quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

2020, O ANO DA ESCOLA EM CASA

 O ano que agora vai terminar terá sido para muitos de nós um dos mais estranhos, senão o mais estranho, que vivemos.

Sentimo-nos completamente atropelados por algo que começou lá longe e certamente não chegaria à nossa beira e que, de repente, nos fechou em casa experimentando circunstâncias e modos de vida absolutamente inesperados e para os quais, dificilmente alguém se sentiria preparado.

Como sempre em situação complexas o impacto foi assimétrico, quer na saúde, quer na vida profissional, quer na idade, quer nas áreas de funcionamento das comunidades.

Muita gente passou, está a passar e irá continuar a passar por enormes dificuldades. Os mais vulneráveis serão sempre mais atingidos.

No universo em que me movo, a educação, a situação a partir de Março foi extraordinária. Algumas notas breves.

Com os alunos em casa, professores e escolas realizaram um esforço gigantesco, sempre de sublinhar e reconhecer, para tentar a tarefa impossível, trazer a sala de aula para um cantinho dentro da casa dos alunos. Muitos alunos nem sequer têm um cantinho, não têm ferramentas e equipamentos adequados para o acesso ao E@D que foi estruturado, tal como muitos professores e escolas não estavam preparados para tal, não seria sequer razoável esperar que estivessem. Apesar do esforço e empenho muitas crianças ficaram mais distantes da escola e, sobretudo os mais novos, registaram compromissos nos seus trajectos de aprendizagem. Poderão ser ultrapassados, mas importa que os apoios e recursos sejam adequados, mas o que vou conhecendo mostra dificuldades.

Percebemos ainda, para surpresa de alguns opinadores, como os professores são imprescindíveis próximos dos alunos, sobretudo nos primeiros anos e dos mais vulneráveis, com necessidades especiais, por exemplo, que passaram e passam ainda por sérias dificuldades apesar, mais uma vez, dos discursos mágicos sobre a educação inclusiva.

Em circunstâncias de maior complexidade e quando, como é o caso das escolas, as instituições têm níveis de autonomia ainda insuficientes, torna-se mais evidente o peso das lideranças em matéria de políticas públicas. Sem qualquer desrespeito pessoal, o Ministro da Educação, não mais se desconfinou e as intervenções mostraram sobretudo algo que não transmite segurança e confiança, oscilando entre um discurso mágico sobre a realidade ou uma orientação assente no “faça-se o possível”. É preciso mais, em particular quando as situações são mais pesadas.

O início do ano lectivo, já em modelo presencial, percebeu-se a opção, veio de novo mostrar a disparidade situações e procedimentos que se verificaram nas escolas, quer em respostas educativas, quer em resposta a questões no âmbito da saúde pública num contexto de receio de docentes, pais, técnicos, funcionários e direcções. No entanto o balanço parece ter justificado a opção pelo ensino presencial.

Continuaram a sentir-se dificuldades significativas em matéria de docentes, de equipamentos, de aumento oportuno de técnicos e funcionários, etc. Eu sei que não é fácil gerir sem falhas situações desta natureza, mas também sei que a forma como são geridas, as decisões tomadas, quer pela competência, quer pela forma como são comunicadas, a demonstração de uma percepção clara da realidade, podem fazer a diferença.

Entretanto, foi anunciada a realização pelo IAVE e a pedido do ME de um estudo com o objectivo de “perceber impactos da suspensão das aulas sobre os conhecimentos de Matemática, Ciências e Leitura, envolvendo estudantes do 3.º, 6.º e 9.º anos”, com o objectivo de “dar informação às escolas para que possam ajudar os alunos a recuperar as matérias atrasadas.” Agora? Assim? Voltarei a umas notas sobre este estudo

Em matéria de educação, mas não só, o ano de 2020 foi e será, pois ainda se que se estende para 2021, um ano duríssimo. Esperemos, ainda que com optimismo moderado, que do que vivemos, possamos aprender a fazer melhor e para todos.

O meu optimismo é sustentado por natureza e pelo facto de ter dois netos, um já na escolaridade obrigatória no sistema público e outro à beira de começar.

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

METEU-SE O NATAL, AGORA METE-SE O ANO NOVO

 Como tanto gostamos de dizer, meteu-se o Natal e agora mete-se o Ano Novo.

Apesar das circunstâncias excepcionais que vivemos, os dias que medeiam entre o Natal e o Ano Novo têm, do meu ponto de vista, um conjunto de características muito particulares. Fico sempre com a sensação de que os percebemos como não dias. Pode parecer uma ideia estranha, mas vou tentar explicar.

Logo depois do Natal, ainda a recuperar do espírito natalício, entramos numa espécie de ressaca advinda da azáfama das prendas, dadas, recebidas ou sonhadas e da culpa resultante dos excessos. Acresce para muita gente o problema das trocas, ou porque já tinham o que receberam ou porque, por várias razões, não serve o que receberam.

Para que se não saia dos espaços comerciais o ânimo irá recuperar-se, se a pandemia o permitir é claro, entrando de imediato na época de saldos, descontos, promoções ou outra qualquer designação apelativa a mais umas compras. Trata-se do efeito terapêutico do mercado e do consumo.

Deste estado, passamos para os dias de aproximação ao Ano Novo que, independentemente do que de menos bom possamos racionalmente esperar, vivemos com a esperança de que seja mesmo novo e, sobretudo, Bom. Este ano, mais do que nunca, queremos, precisamos, que o próximo seja melhor.

Iremos certamente trocar inúmeras mensagens e votos noutra azáfama que aparenta assentar numa ideia mágica dos tempos de miúdo que nos parece fazer acreditar em que se assim procedermos, o Ano Novo vai ser mesmo Novo e, repito, Bom. De tanto falarmos nisso pode ser que ele se convença de que terá de ser mesmo Bom.

É certo que de há uns tempos para cá, como devem ter dado por isso, foi desaparecendo o Próspero, basta que seja Bom, ou até mesmo que não seja pior do que o que passa. Já era bem bom, por assim dizer, mas este ano não chega, o ano que acaba foi mau, muito mau, para muita gente.

É também muito provável que nos últimos dias do próximo Dezembro, o de 2021, e mesmo que como precisamos e desejamos ele tenha sido melhor que 2020, estaremos com o mesmo sentimento a enunciar os mesmos discursos apesar das promessas optimistas de que ... a coisa está a mudar.

A passagem deste ano como também não podia deixar de ser vai ser muito diferente para muitos de nós, confinados, sem réveillons, sem aquela alegria a que nos sentimos obrigados ou que genuinamente sentimos a cada noite de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro.

O problema mais sério é que a 2 de Janeiro está aí o Ano Novo que, para muita gente, vai continuar velho e para muita outra gente não será Bom, longe disso.

Mas para um povo sereno e de brandos costumes como nós, esperemos que haja saúde que é o principal e tanto que nos temos preocupado com a saúde. As vacinas darão certamente um grande contributo para a nossa saúde.

De resto, bom de resto … algum jeito se há-de dar. 

Bom Ano. De forma mais prudente, o melhor possível.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

UMA HISTÓRIA COM SKATE

 Do encontro deste Natal entre os meus netos e o Pai Natal, resultou a entrada em cena de dois skates que têm feito o contentamento deles por estes últimos dias.

O meu neto Pequeno, o Tomás com quatro anos, numa expressão que lhe é peculiar chama-me entusiasmado, “Avô, vê só esta manobra!

E no telheiro do Monte, que tem algum declive, coloca-se de gatas no skate, um pouco de balanço e desliza realizando uma curva com o corpo inclinado, como acho que deve ser necessário na condução de tal veículo.

Viste, Avô? É uma manobra com curva!

É mesmo Tomás! Fizeste uma manobra mesmo boa, eu não sou capaz de fazer.”

Pois não Avô, só quando tiveres quatro anos”.

Fiquei rendido à elegância com que o Tomás certificou a minha inaptidão para o skate. Nunca irei chegar aos quatro anos.

Por outro lado, fiquei satisfeito com a sua aptidão para se segurar quando o mundo foge debaixo dos pés. Faz parte do crescimento e vai certamente ser-lhe muito útil.

Boas manobras, Tomás e Simão.

São assim os dias mágicos da avozice.

domingo, 27 de dezembro de 2020

UM DIA COM VISTA PARA O FUTURO. QUAL FUTURO?

 

É o grande dia, o dia de começar a espreitar o futuro através de uma janela de esperança. Inicia-se hoje o longo e complexo processo de vacinação da população portuguesa, da parte que venha a aderir e da parte para a qual seja indicada.

Os efeitos devastadores dos últimos meses em múltiplas dimensões da nossa vida individual, da vida em comunidade, entre comunidades no sentido mais alargado, o problema é mundial, fazem-nos ansiar pela recuperação, pelo retornar a antes, por um regresso à normalidade perdida, seja isso o que for para cada um de nós. Será isso que muitos de nós começaremos a vislumbrar através dessa janela de esperança.

Este movimento é necessário, diria imprescindível, é uma imagem de futuro que nos reboca, nos mobiliza. É importante percebermos como será esse retorno, quando será esse retorno e o que importa ponderar para que se recupere.

De um ponto de vista mais individual e como escrevi acima, numa perspectiva de protecção e confiança é fundamental que criemos imagens de futuro que nos apoiem para lá chegar neste caminho que não é fácil e tem inúmeros riscos.

A grande questão será, creio, a que normalidade queremos voltar ou melhor, a que normalidades queremos voltar, o que queremos recuperar. Na verdade, existem múltiplas normalidades e talvez as circunstâncias excepcionais em que vivemos nos possibilitem e inspirem a repensar se algumas das “normalidades” que conhecemos seria desejável que se mantivessem.

Nesta perspectiva e ao contarmos com a alavanca financeira a que chamam “bazuka europeia” queremos recuperar modelos e “normalidades” que alimentam exclusão, pobreza, intolerância, atropela direitos, compromete o nosso futuro como habitantes do planeta, etc.? Se nada se repensar ou refizer, após a pandemia e à boleia da lenta recuperação financiada esta normalidade voltará, é uma normalidade resistente e se continuar a ser muito bem alimentada como tem sido, assim se manterá. Aliás, a pandemia acentuou de forma brutal as assimetrias e a vulnerabilidade de muitos grupos e pessoas.

Por outro lado, também ansiamos recuperar, regressar, a uma normalidade que se traduz na proximidade com os de que gostamos e voltam a estar à distância de um gesto, à normalidade dos alunos nas escolas, da gente na rua, nas lojas e empresas e a circular sem medo do “bicho” como dizem os meus netos. Os miúdos de diferentes idades tiveram saudades da escola, sim, os miúdos gostam da escola e dos professores, São bens de primeira necessidade. Os miúdos, adolescentes e jovens, todos nós, queremos regressar, recuperar, o estar com a família, com os amigos, de realizar todas as actividades que fazíamos e deixámos de o poder fazer, enfim, de regressar ao tudo que poderemos e vamos querer fazer. Este Natal apesar de alguma abertura mostrou isso mesmo.

Esta normalidade queremo-la de volta, queremos recuperá-la tão depressa quanto possível.

No entanto, deveríamos reflectir se queremos todas as normalidades de volta, se queremos recuperar tudo, ou entendermo-nos sobre que novas normalidades precisamos de definir.

Não depende só de nós, mas também depende de nós.

sábado, 26 de dezembro de 2020

"O ESTADO DA EDUCAÇÃO 2019", EDUCAÇÃO INCLUSIVA

 Ainda uma refleão sobre o Relatório do Conselho Nacional de Educação, “O Estado da Educação 2019”, agora a propósito da parte relativa à designada educação inclusiva. O texto apresentado assenta, naturalmente, no quadro estabelecido com a entrada em vigor do DL 54/218 e no seu impacto.

Da leitura realizada, umas notas a partir deste pequeno excerto, “O referido diploma introduz mudanças a nível da terminologia, ao abandonar algumas conceções restritas, assumindo a escola como um todo, o que reflete a multiplicidade das suas dimensões e a interação entre as mesmas, e pressupondo que qualquer aluno pode, ao longo do seu percurso escolar, necessitar de medidas de apoio à aprendizagem (DGE, 2018).

A perspetiva de implementação de uma visão mais ampla dos apoios a garantir pela escola inclusiva, obstou à aplicação do questionário às «Necessidades Especiais de Educação», no ano 2018/2019, que, dessa forma, deixou de fazer parte da lista de operações estatísticas oficiais registadas no Sistema Estatístico Nacional.

Na sequência da entrada em vigor deste diploma, a DGEEC aplicou, pela primeira vez, no ano letivo de 2019/2020, o «Questionário à Educação Inclusiva», em escolas públicas da rede do Ministério da Educação, não existindo ainda resultados. Assim, os dados que se apresentam são os reportados até ao ano letivo de 2017/2018.”

Sublinho que promover alterações disposições legais quando necessário é, por princípio, uma atitude ajustada que nem sempre se verifica em políticas públicas. É também verdade que todos os processos de mudança estão sujeitos a dúvidas e sobressaltos pelo que a gestão das políticas públicas deve ter isso em consideração. Apesar da reafirmada inovação conceptual, da mudança de paradigma, da revolução desencadeada que instalava definitivamente a "inclusão", a forma como foi colocado em campo só podia criar dificuldades, constrangimentos e dúvidas.

Como já escrevi, uma das mais significativas maiores alterações apontadas ao 54/2018 e referida pelo CNE seria criar um novo paradigma, acabar com a “categorização”. Não teríamos mais referências a “CEIs”, a “NEEs” ou an“redutores”. No entanto, ouvir e ler regularmente que alguém trabalha com 5 “adicionais” e dois “selectivas” ou com 6 “universais” ou ainda “Olá, alguém tem adaptações curriculares não significativas da Disciplina A e Disciplina B do x° ano?” ilustra o novo paradigma que eliminou a categorização.

A burocratização “grelhadora” ou “matrizadora”e os múltiplos e extensos relatórios continuam e desgastam em que o benefício pareça compensar o custo. São excessivamente frequentes os pedidos de “alguém tem um relatório sobre ...”, “alguém tem um programa de …”, “alguém tem uma ficha para ...”

Os testemunhos conhecidos em vários espaços e de diferentes formas sobre o que vai acontecendo pelas escolas nesta matéria, antes dos efeitos pesados da pandemia e neste ano lectivo, ilustram com muita clareza a enorme sombra de dúvidas sobre o processo que mostram todos os intervenientes, professores do ensino regular, docentes de educação especial, técnicos e pais que estão genuinamente empenhados em que todo corra o melhor possível.

Às dúvidas, muitas, surgem respostas que com frequência começam por “eu acho …”, “nós decidimos …”, “na minha escola”, “no meu grupo …”, etc.

Sim, também sei, há gente e escolas a realizar trabalhos notáveis como sempre aconteceu.

Do meu ponto de vista, muitas vezes escrito e afirmado, a inclusão em educação assenta na ideia de responder adequadamente à diversidade dos alunos em contextos educativos que promovam a presença e participação dos alunos nos espaços e actividades comuns, que promovam aprendizagens e desenvolvam nos alunos sentimentos de pertença, fazer parte.

No entanto, responder adequadamente às necessidades educativas decorrentes de diversidade cultural, de diversidade étnica ou às necessidades educativas decorrentes de situações de deficiência de diferente natureza, problemas de desenvolvimento ou de comportamento é algo bem diferente que, parece claro, exige recursos, competências e abordagens diferenciadas.

Insistir numa retórica em torno da diversidade “nivelando” as situações, corre o sério risco de legitimar muitíssimas circunstâncias em que alunos com necessidades especiais, sim, com necessidades especiais, mas já lá vamos, estão nas salas de ensino regular sem respostas adequadas, sem os apoios educativos de que necessitam e não promovem tanto quanto seria desejável e possível as suas capacidades e competências, mas … estão incluídos. Não, não estão incluídos nem sequer integrados, estão “entregados” com as consequências que professores e pais bem conhecem.

Este equívoco, por assim dizer, está associado à intenção de “acabar” com a categorização. Já não trabalhamos com crianças e jovens com necessidades educativas especiais, trabalhamos, lá está, com a diversidade. No entanto, quando leio referências aos “universais”, aos “adicionais” ou aos “selectivos” já não se trata de um processo de categorização pela dificuldade identificada, mas realizado pela resposta desenhada. Isto sim, representa uma mudança de paradigma e não me parece o melhor caminho.

A ver se nos entendemos em algo que me parece claro, identificar de forma competente a natureza de eventuais dificuldades não é um processo de “rotulagem” ou de “categorização”, só o será se daí decorrer discriminação negativa ou “guetização” e não a adequação da resposta educativa aos problemas e dificuldades identificadas.

Não temos forma de proporcionar respostas e apoios adequados aos alunos, a todos os alunos, se não conseguirmos com base em processos de avaliação competentes identificar da forma mais segura possível, muitas vezes não é fácil, a natureza das suas dificuldades e, portanto, das suas necessidades.

De resto, (quase) tudo parece correr bem. Os testemunhos conhecidos em vários espaços e de diferentes formas sobre o que vai acontecendo pelas escolas nesta matéria ilustram com muita clareza a enorme sombra de dúvidas sobre o processo que mostram todos os intervenientes, professores do ensino regular, docentes de educação especial, técnicos e pais que estão genuinamente empenhados em que todo corra o melhor possível. Felizmente, em algumas circunstâncias corre bem, mas….

Uma nota final para o interesse em conhecer os resultados do «Questionário à Educação Inclusiva».

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

ACREDITAR NO PAI NATAL

 

Na época de Natal e com alguma regularidade surgem na imprensa alguns trabalhos sobre a relação das crianças com o Pai Natal. Já tenho colaborado em algumas circunstâncias e ontem o Público solicitou-me uma pequena participação.

Na peça são ouvidos alguns profissionais na área da infância que, genericamente, não entendem, e bem, haver qualquer problema nessa crença mágica das crianças.

Também faz parte da agenda desta época o surgimento de algumas peças na comunicação social envolvendo crianças e as suas crenças no Pai Natal. Nesses trabalhos é frequente ouvirmos as crianças afirmar convictamente que acreditam no Pai Natal, bem como pais que, conforme as suas convicções, alimentam ou desincentivam a crença no Pai Natal.

No entanto, deixem-me afirmar com toda a certeza. Os miúdos acreditam no Pai Natal e não numa mentira, como por vezes se ouve de gente menos atenta. Eu tenho a certeza, já fui Pai Natal e vi, senti, como eles acreditavam em mim, isto é, no Pai Natal. Recupero uma história pessoal que já aqui partilhei.

Nunca percebi muito bem porquê, mas ao longo da minha vida desempenhei várias vezes a função, sempre fora do contexto familiar. A escolha dever-se-ia, provavelmente, à proeminente mochila que carregava à frente, agora um pouco mais pequena, felizmente, e às barbas brancas que de há muito me acompanham.

Não pensem que é uma tarefa fácil, não é não senhor. Passar umas horas dentro de um fato quentíssimo com umas barbas ainda mais quentes que insistem em deixar a boca cheia de pêlos não é muito simpático. Mas os miúdos acreditam no Pai Natal e isso ajuda a aliviar o desconforto. Felizmente, naquela altura ainda não tinham inventado os Pais Natais que sobem às varandas, caso assim fosse desistiria mesmo, sou um rapaz demasiado pesado para o alpinismo, dado a vertigens sendo ainda que as noites são demasiado frias para que se possam passar pendurado na varanda de cada um.

Numa das vezes em que fui Pai Natal de serviço, há já muitos anos, cena de que ainda possuo uma memória perfeita, lembro-me do ar aflito e preocupado de um gaiato que insistiu o tempo todo junto de mim para que não me esquecesse do que queria como presente, Moto Ratos, creio que se tratava de umas personagens de banda desenhada em voga na altura.

E o miúdo, sempre que me lembrava os Moto Ratos e fazia-o sempre que comigo se cruzava, tal era o desejo, explicava-me com os olhos muito abertos e com muitos gestos como se ia para casa dele para eu não me enganar no caminho. E não me enganei, Pai Natal que é Pai Natal cumpre sempre. Confirmei depois que ele recebeu os desejados Moto Ratos, claro, o Pai Natal não falha.

Deve ser bom acreditar no Pai Natal. Aliás, deve ser bom acreditar. Por isso, nos vários trabalhos em que tenho colaborado vou afirmando, deixem as crianças acreditarem no Pai Natal até que queiram ou que precisem. Não lhes roubem o encanto em nome de um qualquer conjunto de pseudo-modernices educativas.

Vão ter o resto da sua vida para acreditar e desacreditar, para desacreditar e voltar a acreditar.

Provavelmente, numa busca incessante pelo encanto perdido quando descobrimos que o Pai Natal não existe.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

BOM NATAL. DOS SIMPLES

 Bom Natal.

Que seja, mais do que nunca, um Natal Simples e dos Simples. Com o tempo possível e com afecto.

O afecto também se associa e alimenta da proximidade, mas não depende sempre da proximidade. Bem sabemos que estar perto nem sempre significa estar próximo.

Que tenhamos um Natal de proximidade ainda que não estejamos tão perto quanto desejaríamos ... de quem desejaríamos.



terça-feira, 22 de dezembro de 2020

CONTRARIAR O DESTINO

 Do extenso volume de informação contido no Relatório “Estado da Educação 2019” do Conselho Nacional de Educação a que ainda não consegui aceder, recorrendo, por isso, a dados divulgados pela imprensa, a que ainda não consegui aceder, uma referência a um dado que me parece merecer particular atenção. 

Num quadro globalmente positivo verifica-se que o número de alunos apoiados no âmbito da Acção Social Escolar tem vindo a diminuir desde há dez anos.

No entanto, em 18/19, no 1º ciclo o número de alunos nesta situação subiu em relação ao ano anterior, mais 12.317 crianças e constitui 34,5 % do número total de alunos abrangidos alunos abrangidos). Considerando os restantes ciclos temos “menos 8025 alunos no 2.º CEB [abrangidos], menos 11.211 no 3.º CEB e menos 5038 no ensino secundário”.

Estes dados merecem atenção pois está bem estudada a relação entre condições variáveis de natureza sociodemográfica e desempenho escolar. Aliás, esta relação marcou o  final do ano lectivo passado quando as escolas encerraram e se acentuaram inúmeras dificuldades associadas a contextos familiares mais vulneráveis, apesar do esforço gigantesco de docentes e escolas.

Recordo dados da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e relativos ao desempenho escolar de 2018/2019, apesar dos progressos registados mostram um nível de retenção no 2º ano do 1º ciclo ainda elevado, 4,9% e mostra que a taxa de conclusão do secundário em três anos nos alunos sem apoios da Acção Social Escolar é 60% em 2017/2018 face a 45% nos alunos integrados no escalão A (o mais vulnerável) da Acção Social Escolar.

Em síntese, os alunos mais novos, 1º ciclo, estão em condições socioeconómicas mais vulneráveis, estão no início do seu trajecto escolar com toda a importância que esta etapa ganha na construção de percursos de sucesso como sugerem os dados relativos ao secundário.

Acresce que como também é reconhecido, as famílias de meios sociais mais vulneráveis apresentam mais frequentemente expectativas menos positivas face aos alunos alimentando a ideia de que o insucesso é uma fatalidade.

Não, apesar destas importantes condicionantes, o insucesso não é uma fatalidade para uma boa parte dos “mais pobres”.

Uma segunda nota relativa a um estudo que mostra que escolas servindo populações com características sociodemográficas que sustenta uma baixa expectativa face aos resultados escolares esperado são capazes de “contrariar o destino “ e promover sucesso.

Sim a escola, pode, deve fazer a diferença, ou seja, o trabalho na e da escola e dos professores é um factor significativamente contributivo para o sucesso dos alunos mais vulneráveis e capaz de contrariar o peso das outras variáveis que estão presentes nesses alunos, ou seja, “contrariar o destino”.

Quando abordo estas questões e porque me parece sempre actual, diria mesmo que nunca foi tão actual, cito com frequência uma afirmação de 2000 do Council for Exceptional Children, "O factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a existência de um professor qualificado e empenhado", acrescentaria valorizado.

No entanto a existência de professores qualificados e empenhados não depende só de variáveis individuais de cada docente, decorre também de um conjunto de políticas educativas que promovam a qualificação, a motivação e a valorização a diferentes níveis do trabalho dos professores.

Depende também e forma determinante, de políticas educativas que contemplem aspectos como conteúdos e organização e gestão curricular, diferenciação de percursos, de oferta educativa e de práticas, modelo de organização das escolas, recursos humanos adequados ao nível de docentes, técnicos e funcionários, tipologia e efectivo de escolas e turmas, autonomia real das escolas, apenas para citar alguns exemplos de como a diferença tem que ser construída também antes de chegar à sala de aula.

É bom não esquecer.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

OS PRESENTES DE NATAL. E OS FUTUROS?

 Desde manhã e já nos últimos dias que assim é, todos os caminhos que levam ao espírito natalício, perdão ao Almada Fórum, estão bem preenchidos como se diz na linguagem das rádios sobre o trânsito.

Esperava que, dadas as circunstâncias excepcionais deste Natal, a situação fosse um pouco diferente este ano, mas não, o Espírito Natalício, está a "bombar" em grande.

Como também é habitual o espírito natalício será inevitavelmente marcado pelos presentes oferecidos, sobretudo aos mais novos.

Os presentes assumem, em particular nesta época uma importância óbvia e de natureza diversa, sublinham afectos ou aquietam consciências, por exemplo.

No entanto e no que que respeita aos mais novos continuo convencido que a questão essencial não tem a ver com os presentes que temos, podemos ou lhes queremos dar, mas os futuros que preparamos para lhes oferecer, esses sim, verdadeiramente importantes.

Bom, daqui a pouco vou ver se preparo uns presentes para os meus Netos. Quanto aos futuros … também vou ajudando como posso, faz parte do mundo mágico da Avozice.

Bom Natal.

domingo, 20 de dezembro de 2020

TERMINARAM E ESTÃO A TERMINAR AS AULAS, AGORA AS NOTAS


À excepção de algumas inovadoras situações e nos concelhos com anos lectivos semestralizados com aulas ainda amanhã e depois, as aulas do primeiro período no ensino básico e secundário terminaram. Como não podia deixar de ser, trata-se de mais um ano com características excepcionais que tem funcionado de acordo com a orientação do ME, fazer o possível.

Antes de se entrar mais a fundo no espírito natalício também ele em modo “contido” nas festas, depois das reuniões de avaliação realizadas em condições que têm merecido alguma reflexão, sobretudo no que respeita à operacionalização e burocracia, a generalidade das famílias vai dar atenção às notas. Não só às notas necessárias para a compra dos presentes de Natal, estes são mais resilientese hão-de aparecer, as boas notas são muitas vezes compensadas com presentes, mas, sobretudo, contribuem para comprar futuros.

A avaliação deste primeiro período, um processo sempre complexo, teve e terá ainda de considerar a situação em que muitos alunos começaram as aulas em consequência do tempo de confinamento  e as implicações na aprendizagem e as condições de frequência e participação nas aulas decorrentes de situações de isolamento verifiadas no contexto da pandemia.

Ainda assim, felizmente, muitos miúdos e adolescentes esperarão com serenidade, apenas com a ponta de ansiedade criada pela expectativa de ver confirmado o bom andamento do primeiro período ou semestre. Destes, uns poucos, terão mesmo o seu nome e nota inscritos num quadro de honra ou mérito existente em algumas escolas. Receberão as felicitações da família pelo trabalho desenvolvido e, muito provavelmente, até terão essas felicitações e contentamento familiar sublinhadas com o reforço dos presentes, merecem, trabalharam bem, toda a gente dirá. Estamos num tempo de produtividade e incentivos.

Alguns outros miúdos esperam com a ansiedade da dúvida, será que o trabalho que realizaram e a generosidade dos “setôres” chegarão para a positiva, senão a tudo, pelo menos a quase tudo. É que os pais também tinham prometido “aquela” prenda se as notas fossem positivas, mesmo que não "boas", não esperam tanto.

Também existem alguns alunos que já nem a ansiedade pelas notas conseguem sentir, mesmo no primeiro período, sabem que vão ser más, o que não estranharão e as famílias, algumas, também não. É hábito. Destes, uns assumirão um discurso e pose de indiferença, precisam dessa pose e desse discurso para mascarar para fora o que o insucesso dói para dentro. Ninguém com saúde se satisfaz com o insucesso. As famílias não sabem que fazer e culpam a escola que as culpa a elas.

Alguns destes alunos receberão as más notas do primeiro período como uma espécie de “cheque pré-datado” passado pela escola, ou seja, estas serão também as notas do segundo e do terceiro período. Esta baixa expectativa é um forte contributo para que se cumpra o emitido no “cheque”, as más notas no futuro. Não tem que ser, não é o destino e não estão condenados ao insucesso. Era bom ter consciência do processo e recusar esse fatalismo.

Existe ainda um grupo mais pequeno de alunos que, por razões que eu não consigo compreender, não têm notas, são especiais, dizem, pelo que sendo alunos e trabalhando nas escolas não vêem, como todos os outros colegas, traduzida numa nota a sua participação na vida escolar. Será porque estando lá não participam, ou será que, apesar de participar e não tendo o mesmo "rendimento" ou sendo avaliados da mesma forma que os seus colegas, se entende, erradamente, que não se "justifica" uma nota, curiosamente, em contextos escolares que se afirmam "inclusivos". Talvez tenhamos ainda que caminhar no sentido de melhorar culturas, modelos e dispositivos de avaliação que acomodem todos os alunos.

Enfim, como em quase tudo na nossa vida, as notas são, muitas vezes, determinantes.

Boas férias e Bom Natal.

sábado, 19 de dezembro de 2020

VERDES SÃO OS CAMPOS

 Estão bonitos os campos do Meu Alentejo. Estão verdes os bonitos campos do Meu Alentejo.

Depois de muitas semanas de água bem chuvida, como aqui se fala, já começam a fazer falta uns dias de sol para enxugar um pouco a terra e permitir alguma lida.

Ainda não será hoje, o dia amanheceu cabaneiro, de novo com água, branda, mas persistente e frio. Bom para a companhia do lume.

Os barrancos já correm, as nascentes aqui estão mais vivas, aqui no Monte também. São bons sinais, prometem um Verão mais tranquilo.

Estão bonitos os verdes campos do Meu Alentejo.



sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

ESCOLA DIGITAL COM ACESSO A "CONTA-GOTAS"

 

Segundo a imprensa de hoje, a designada Escola Digital está a sentir problemas de velocidade e acesso, ou seja, os prometidos computadores para alunos e escolas estão a chegar “a conta-gotas”, devagarinho, e, portanto, muitos alunos e escolas continuam sem acesso em condições de eficiência e equidade ao grande desígnio da Transição Digital. Sim, já sei, é difícil fazer tudo de uma vez, é mais fácil prometer, mas o optimismo excessivo, além de irritante, não é amigável para quem espera, necessita e desespera.

Ao que se lê no JN e no Expresso, o ME garante que a entrega dos primeiros 100 mil equipamentos será concluída até ao final do primeiro período o que, obviamente, é uma boa notícia dado que as aulas acabam hoje.

Ainda segundo o ME e com aquisição já adjudicada, até final do segundo período chegarão "mais 260 mil computadores".

Os Directores escolares sublinham a lentidão e burocratização do processo para além da dificuldade sentida pelas escolas em preparar os computadores recebidos para os entregar os alunos.

Para enquadrar o que estes atrasos e dificuldades representam na promoção de uma “Escola Digital”, seja lá isso o que for, recupero o relatório "Recursos Tecnológicos nas Escolas" divulgado em Julho pela Direcção-Geral de Estatística de Educação e Ciência caracteriza os recursos informáticos de escolas e agrupamentos considerando o ano lectivo 18/19.

Em síntese e considerando o uso pedagógico dos equipamentos existe um computador para cada cinco alunos. Este rácio tem aumentado nos últimos anos e, sem surpresa, é mais elevado no ensino público.

Este indicador varia com os níveis e ciclos de ensino, no secundário é de 3.1 alunos por computador e no 1º ciclo é de 6 alunos para cada equipamento.

Acresce que só 16% dos computadores foram adquiridos nos últimos três anos o que num universo de evolução tão rápida como é a informática acentua a “velhice” e limitações do parque informático disponível para o trabalho de alunos e professores.

Se a este cenário juntarmos as dificuldades verificadas em muitos agregados familiares na existência deste tipo de recursos como se verificou no ano lectivo passado percebe-se a urgência e a seriedade deste problema.

Está em causa, como sempre, a equidade e igualdade de oportunidades a processos educativos de qualidade e com potencial de sucesso.

Não é coisa pouca.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

SÓ AS CRIANÇAS ADOPTADAS SÃO FELIZES

 

Estamos num tempo, Natal, e num contexto, a pandemia, em que as referências à família, ao encontro das famílias, à importância e ao desejo de encontro das famílias ocupam um largo espaço.

Deixem que a propósito de família volte a um tema que aqi recorrentemente abordo, a falta de família, sobretudo para crianças e adolescentes.

Foi divulgado o Relatório da Adopção Nacional, Internacional e Apadrinhamento Civil do Instituto de Segurança Social relativo a 2019.

No ano de 2019, o Instituto da Segurança Social registou 418 processos de crianças com vista à adopção sendo que destes decorreram apenas 231 adopções plenas. Em 2018, de 366 processos resultaram 272 adopções plenas. É, pois, preocupante o abaixamento do número de crianças e adolescentes que conseguiu uma família a que passa a chamar sua.

Os constrangimentos e dificuldades são de natureza variada para além de questões de natureza processual. A existência de fratria, deficiência, etnia ou a idade são variáveis determinantes ma maior ou menor dificuldade em entrar num processo de adopção.

Cerca de 70% das famílias que procuram adoptar preferem crianças até aos 3 anos, mas estas são a minoria dos casos, 18% dos acasos em 2019.  

Cerca de dois terços das crianças que aguardam por uma família adoptiva têm entre sete e 15 anos sendo que apenas menos de 5% das famílias candidatas as procuram.

Em termos internacionais, dados referidos em 2018 mostravam que em Portugal apenas cerca de 3% das crianças retiradas às famílias estavam em famílias de acolhimento e 97% institucionalizadas. Em países como a Irlanda e a Noruega o acolhimento institucional não ultrapassa 10% das suas crianças retiradas aos pais pelo Estado.  Mesmo em países em que é está mais presente a cultura de institucionalização, a Alemanha ou a Itália por exemplo, a percentagem é de 54% e 50% respectivamente, apesar de tudo bem mais baixa que o indicador português, 97%.

Precisamos de urgentemente repensar todo o processo relativo ao acolhimento, à adopção, ao funcionamento e calendário dos processos de decisão sobre as crianças que vivem em circunstâncias familiares adversas.

Deixem-me ainda recordar, mais uma vez, uma expressão que ouvi em tempos a Laborinho Lúcio num dos encontros que tenho tido o privilégio de manter com ele.

Dizia Laborinho Lúcio que "só as crianças adoptadas são felizes, felizmente a maioria das crianças são adoptadas pelos seus pais”.

Na verdade, muitas crianças não chegam a ser adoptadas pelos seus pais, crescem sós e abandonadas e, por vezes, mal-tratadas. É, por isso, absolutamente necessário que em tempo útil e com oportunidade se crie a oportunidade para que crianças "desabrigadas" possam ser adoptadas, possam ser felizes.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

NOTÍCIAS SOBRE PENSÕES DE REFORMA

 Com uma pontinha de demagogia.

Tropecei em duas notícias referentes a pensões de reforma algo que me chamou a atenção dada a minha condição de recém aposentado.

No Expresso li que “BCP e Jardim Gonçalves chegam a acordo: reforma do ex-banqueiro desce de 174 mil para 49 mil euros (mensais)”. Após um processo que se arrastava na justiça desde 2011, o BCP e Jardim Gonçalves acordaram dar-lhe fim e estabelecer uma nova reforma para Jardim Gonçalves e retirando também outras regalias que detinha, segurança, motorista e avião particular.

No DN li que “estará garantida apenas a actualização das pensões mais baixas, até aos 658 euros, às quais o Orçamento do Estado oferece dez euros de subida a partir de Janeiro.”

Há qualquer coisa de um despudor, uma obscenidade, inaceitávais nisto tudo que fazem sentir como que uma raiva a nascer nos dentes, recordando Sérgio Godinho.

Defendo sociedades com mercados abertos, mas com regulação. Para além disso creio ainda que de gente com responsabilidade de liderança nos diferentes sectores se exigem padrões éticos e e um quadro de valores que, no mínimo, respeitem a sociedade que os promoveu e sustentou como lideranças.

No entanto, sem surpresa, todos os membros desta família ou destes grupos, quando questionados sobre os seus negócios ou procedimentos, afirmam, invariavelmente que tudo é feito dentro da lei, nada de incorrecto e, portanto, estão sempre de consciência tranquila.

Alguém poderia explicar a esta gente que, primeiro, não somos parvos e, segundo, o que quer dizer consciência.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

UM MUNDO ÀS AVESSAS

 

As coisas nem sempre são o que parecem, o que pensamos que são ou mesmo o que gostávamos que fossem.

Na verdade, há pais que fazem mal aos filhos.

Na verdade, há filhos que fazem mal aos pais.

Na verdade, há professores que fazem mal aos alunos.

Na verdade, há alunos que fazem mal aos professores.

Na verdade, há velhos que fazem mal aos novos.

Na verdade, há novos que fazem mal aos velhos.

Na verdade, ...

Na verdade, há pessoas que fazem mal a pessoas.

Na verdade, ... o mundo é um lugar estranho e ... às vezes ... muito feio.

Parece que anda às avessas.

Apesar de tudo e sempre, talvez seja de recordar a ideia atribuída Mandela, a educação e o ensino são as mais poderosas armas para mudar o mundo.

 Vem esta introdução a propósito de uma notícia com a qual tropecei no Público. Uma docente foi condenada por maus-tratos físicos e verbais a alunos do 1º ciclo do Distrito de santarém. Desta vez não era uma notícia relativa a maus-tratos de alunos ou pais a professores, podia ser.

É o mundo às avessas.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

A EDUCAÇÃO É A ARTE DO POSSÍVEL

 

Com alguma frequência é citada a afirmação atribuída a Bismarck, “A política é a arte do possível”. Creio que o autor, quem quer que seja, não conhecia o mundo da educação, em particular da educação escolar, se o conhecesse teria certamente reconfigurado a frase para “A educação é a arte do possível”.

Nunca como nos últimos tempos tal afirmação seria tão adequada.

Após o confinamento em Março e o encerramento das escolas e até ao fim do ano lectivo, os professores, directores, técnicos e funcionários em colaboração com outras estruturas ou entidades fizeram um gigantesco esforço no sentido de atingir o impossível, colocar uma sala de aula na sala de estar de cada aluno.

A verdade é que apesar desse brutal esforço muitos alunos ficaram mais longe da escola, comprometeram-se aprendizagens, comprometeram-se apoios a alunos com necessidades especiais.

Fez-se o possível com os recursos disponíveis e insuficientes, equipamentos informáticos e acessibilidade à rede, por exemplo.

Quando se inicia o ano lectivo e se decide pela reabertura das aulas, o próprio ME adopta como princípio orientador do trabalho das escolas o “se possível” quando eram previsíveis várias “impossibilidades”, os prometidos recursos informáticos tardaram e tardam em não chegar às escolas e aos alunos, os recursos humanos, técnicos e auxiliares continuam insuficientes para as exigências, os docentes, grupo com muita gente de risco, estão em falta em várias escolas, etc.  

Mais uma vez os professores e as escolas desenvolveram e desenvolvem um esforço enorme no sentido de tornar possível o impossível, que tudo corra bem.

As condições de saúde pública agravaram-se e os possíveis tornaram-se mais impossíveis, alunos em casa, alguns sem apoio (conheço casos), professores com receio e em falta, são alguns exemplos.

No final da semana passada li numa peça do Público uma avaliação  destes primeiros meses de aulas por parte de directores escolares cuja apreciação, globalmente, era no sentido de que afinal correu melhor do que diziam alguns. Mais uma vez, lá está, … fez-se o possível.

Nessa peça falava-se em particular da sempre complexa questão da avaliação dos alunos, em particular dos que estiveram ou estão sem aulas por razões de saúde. Sem surpresa e de novo a ideia é se possível não prejudicar os alunos e tentar procedimentos nesse sentido.

A grande questão é que os possíveis, em educação, tendem quase sempre a ser insuficientes, em particular para os alunos mais vulneráveis por várias razões.

Nestas circunstâncias o possível é ainda mais curto, precisamos de ir mais longe.

É neste contexto que se devem decidir as políticas públicas em educação, mas não só, tentar tornar mais possíveis os impossíveis.

domingo, 13 de dezembro de 2020

O GUARDA-NOCTURNO, LEMBRAM-SE?

 

Neste domingo confinado, concelho risco muito elevado assim o obriga, uma nota sobre algo que certamente não é relevante, mas que me deixou a passear na memória.

 No JN está uma peça sobre uma figura, os guardas-nocturnos, que estará praticamente arredada das ruas das nossas cidades.

Nos tempos actuais e considerando as questões de segurança não sei avaliar sobre a justificação da sua existência, mas acredito que pela proximidade pode ter um efeito positivo e óbvio na segurança e, muito importante, no sentimento de segurança sentido pelo cidadão. Por outro lado, também pode acontecer que seja de considerar a própria segurança dos guardas-nocturnos. Os tempos vão ásperos.

É nesta perspectiva que me lembrei de nos meus tempos de adolescente e jovem, mais de cinquenta anos lá para trás no tempo, e, por assim dizer, com uma vida nocturna alargada, quase todas as noites eu e a minha tribo nos cruzarmos com o guarda-nocturno da zona.

Mantínhamos uma cavaqueira que nos punha mais próximos e aliviava o tempo e que nos dava a sensação de que na rua andava alguém que conhecia as pessoas que lá moravam e que zelava por nós. Algumas pessoas contribuíam com algo mais para o guarda-nocturno e essas tinham "vigilância privilegiada". O bairro sentia-se mais tranquilo, o Sr. Silva andava por lá, uma espécie de anjo da guarda fardado.

Como disse, mais do que saber o impacto objectivo da presença do guarda-nocturno no abaixamento da delinquência ou vandalismo, tenho a certeza que as pessoas vão sentir-se mais seguras se souberem que o Sr. Silva, enquanto dormimos, anda a olhar pela nossa rua, pelo nosso mundo.

sábado, 12 de dezembro de 2020

OS BRINQUEDOS PODEM SER PERIGOSOS, MAS A NEGLIGÊNCIA TAMBÉM

 

Talvez este seja o Natal mais estranho da vida das pessoas que habitualmente têm Natal, há quem não tenha.

Ainda assim, não faltará certamente de uma forma mais ou menos próxima a troca de presentes, os mais novos não entenderão certamente que que a pandemia seja um motivo suficientemente forte para que tal aconteça.

A propósito de prendas, mais precisamente de brinquedos, no Expresso estão duas peças que merecem alguma atenção.

Em 2020 o Sistema Europeu de Alerta Rápido para os Produtos Não Alimentares identificou 916 brinquedos diferentes que são vendidos nos países da UE e com a indicação de conformidade que podem ser perigosos, seja pela toxicidade dos materiais seja pelo tipo de construção ou dimensão das peças.

Em Portugal, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica apreendeu cerca de 1120 brinquedos por questões de rotulagem e segurança.

É verdade que existem riscos em alguns brinquedos tal como a Associação para a Promoção da Segurança Infantil e a DECO já têm referido alertando para o facto de que tal estar no brinquedo o símbolo CE não é suficiente como garantia de segurança. A DECO tem também alertado para o risco da compra de brinquedos através da net.

Neste cenário, tanto como o trabalho das instituições, importa sublinhar o papel dos pais como os "verdadeiros inspectores" da segurança dos brinquedos. No entanto, parece-me, como sempre, necessário usar de algum bom senso e evitar excessos de zelo que também não são positivos, ainda que em matéria de segurança infantil o excesso seja melhor que o defeito.

Esta referência à segurança nos brinquedos é importante e oportuna, estamos em pleno espírito natalício, o também o tempo dos brinquedos, mas gostava de reforçar o facto de continuarmos a ser um dos países da Europa com taxa elevada de acidentes domésticos envolvendo crianças, de que as quedas de janelas ou varandas, os afogamentos ou o contacto com materiais perigosos não devidamente acondicionados, são apenas exemplos tragicamente frequentes.

O que me parece importante registar é que num tempo em que os discursos e as práticas sobre a protecção da criança estão sempre presentes e muitas vezes e em múltiplos aspectos com comportamentos de excessiva protecção, em que é recorrente a referência aos perigos dos brinquedos, também se verifica um número altíssimo de acidentes o que parece paradoxal.

Por um lado, protegemos as crianças de forma que, do meu ponto de vista, me parece excessiva face às suas necessidades de autonomia e desenvolvimento e, por outro lado e em muitas circunstâncias, adoptamos atitudes e comportamentos altamente negligentes e facilitadoras de acidentes que, frequentemente, têm consequências trágicas.

E não vale a pena pensar que só acontece aos outros.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

DA GREVE DOS EDUCADORES E PROFESSORES

 Muitos  educadores e docentes do ensino básico e secundário cumprirão hoje uma greve desencadeada pela Fenprof.

Embora tenha opinião, não me pronuncio sobre a bondade ou justificação e oportunidade dos protestos no plano estritamente profissional dos professores, mas também afirmo muitas vezes que alguns dos problemas que sentem são também problemas nossos na medida em algumas das medidas das políticas públicas que os envolvem também têm consequências na qualidade do seu trabalho, na qualidade da escola pública e, portanto, no bem-estar e futuro dos alunos. Aliás, creio que os professores prefeririam certamente não sentir motivos para realizar a greve.

Como sempre acontece em qualquer greve de docentes e me parece preocupante é a proliferação de discursos de diabolização dos professores que, por vezes, também recebe o contributo por parte de algumas afirmações de alguns docentes e dos que os representam e que degradam, enfraquecem, a imagem social dos docentes com reflexos sérios e negativos na relação que a comunidade estabelece com eles.

Entregamos todos os dias os nossos filhos e netos nas mãos de uma classe que para cumprir o seu enorme e insubstituível papel na construção do futuro, precisa, para além da competência, de ter a confiança da comunidade, ser valorizada e reconhecida nos múltiplos aspectos do seu desempenho, bem como regulado o seu desempenho de forma justa e competente.

A valorização social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. Uma das características dos sistemas educativos melhor considerados é, justamente, a valorização dos professores.

Aliás, ainda há poucos e a propósito da divulgação dos resultados do TIMSS, Dirk Hastedt, director-executivo da International Association for the Evaluation of Educational Achievement, em entrevista no Público sublinhava justamente a necessidade da valorização dos professores com forma de também valorizar a educação e melhorar a sua qualidade.

UMA NOTA A PROPÓSITO DE ESPINHA

 O meu pai sempre me ensinou que na nossa vida devemos ser gente com espinha, se erramos, assumimos, se pensamos, defendemos, se temos razão, agimos. É assim que deve ser, gente com espinha. Era a sua designação para seriedade, sentido ético e de responsabilidade perante o outro.

Esta atitude é ainda mais exigente para quem tem funções em que as suas decisões ou procedimentos se repercutem no bem-estar dos outros.

No que respeita ao universo das políticas públicas quem ocupa cargos desta natureza é, obviamente, responsável pelo que de melhor ou menos bom acontece na sua área de intervenção e exige-se que assuma as suas responsabilidades em cada momento.

A tragédia inaceitável que se passou no SEF no aeroporto de Lisboa exigiria que gente com espinha assumisse de imediato a responsabilidade que lhe cabe e não se entretivesse numa retórica patética e ziguezagueante de irresponsabilidade, ao que parece, com a cobertura do Primeiro-ministro.

Por uma vez Ministro Eduardo Cabrita, faça o que tem a fazer. Assuma.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

A HISTÓRIA DO HOMEM QUE TINHA UM SEGREDO

 Nestes tempos turbulentos e nunca por nós antes navegados, lembrei-me da história do Homem que tinha um segredo.

Começa assim, como todas as histórias. Era uma vez um Homem que tinha um segredo, dizia ele. Todas as pessoas naquela terra, como em quase todas as terras, falavam muito frequentemente de ideias e projectos que gostavam de ter, ver, fazer, etc., mas que não conseguiam. Algumas coisas porque não tinham possibilidades, outras porque não dependia delas, outras ainda por diversas razões que impossibilitavam chegar a elas.

Curiosamente, o Homem sempre que ouvia alguém a falar de algo desejado e não conseguido, dizia tranquilamente que para ele não existia problema, tinha aquilo sem grandes dificuldades. Se desconfiadamente lhe perguntavam como, respondia que tinha um segredo que, naturalmente, não revelava, segredo é segredo. Às vezes as pessoas falavam em coisas até estranhas para ver o que o Homem diria mas, com a serenidade de sempre e um sorriso satisfeito, ele continuava a afirmar que para si aquilo não era um problema, também conseguia.

Acontece que o Homem vivia só e parecia ter uma vida tão cinzenta como o seu emprego o que levava as pessoas a ficarem cada vez mais convencidas de que o segredo do Homem seria a falta de juízo pois é impossível que alguém com boa cabeça diga que tem tudo e mais alguma coisa.

Como as pessoas que não têm juízo não podem ser levadas a sério, as pessoas começaram a rir-se do Homem e a meter-se com ele gozando com o seu segredo, a falta de juízo.

Ninguém sabia, os segredos não são para se saberem, que todas noites, quando se deitava o Homem escolhia o sonho que queria ter, sonhava-o tranquilamente, era esse o seu segredo. Nos sonhos conseguimos sempre ter o que queremos. Por isso se chamam sonhos.

Temos de recuperar os sonhos, comandam a vida

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

DA CRIAÇÃO DE UMA AGÊNCIA DE EMPREGO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

 Talvez pela quantidade de referências que a cada 3 de Dezembro surgem na imprensa relativamente ao Dia Internacional das Pessoas com Deficiência passou-me despercebida e não devia a entrevista da Secretária de Estado para a Inclusão, Ana Sofia Antunes, ao Público.

Depois da leitura e entre outras questões registei a ideia de criar algo como uma agência de emprego para pessoas com deficiência que me deixou assim para o admirado ou, pensando melhor, talvez não.

É dramaticamente verdade que as pessoas com deficiência constituem um grupo particularmente vulnerável em matéria de emprego e risco de pobreza e exclusão pelo que é uma questão crítica em matéria de direitos e qualidade de vida autónoma.

Mas … vejamos:

É minha convicção com base na evidência e na experiência de cá e de lá por fora que as políticas públicas devem por natureza, ser dirigidas a toda a população, ou seja, inclusivas.

É minha convicção com base na evidência e na experiência que as políticas públicas destinadas a toda a população, ou seja, inclusivas, devem ser integradas e coerentes.

É minha convicção com base na evidência e na experiência que as políticas públicas destinadas a toda a população, ou seja, inclusivas, devem ser integradas e coerentes e desenvolvidas por estruturas integradas, competentes, com recursos adequados, funcionais, descentralizadas, desburocratizadas e amigáveis para toda a população destinatária das suas competências.

Tem de ser esta a aposta das políticas públicas.

Neste contexto, tenho alguma dificuldade em entender que tendo entidades e estruturas centrais, regionais ou locais a intervir na educação, na formação profissional, na segurança social ou na saúde se crie ao lado mais uma estrutura, a agência para o emprego das pessoas com deficiência. O que importa é dotar as estruturas existentes das competências e recursos adequados e orientações ajustadas.

Eu sei que este universo do que se vai chamando inclusão é ele próprio um bom nicho de mercado pelo que criar mais uma estrutura alarga as oportunidades desse mercado, mas não me parece que seja um bom caminho.

Uma vez que, para além das pessoas com deficiência, outros grupos de cidadãos terão certamente dificuldades no acesso com qualidade e protecção ao mercado de trabalho será de aguardar a criação de mais agência de emprego especializadas em minorias.

Não é um processo novo, foi este o trajecto no domínio da resposta educativa às crianças e jovens com necessidades especiais. Por cada área de dificuldade foram criadas estruturas ou respostas especializadas não integradas nas respostas para todos os alunos.

Mas já não é o tempo para que se repita este percurso.

Ou, se calhar … é.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

O DESEMPENHO EM MATEMÁTICA E CIÊNCIAS, RESULTADOS DO TIMSS

 Foram divulgados os resultados do TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study) de 2019 coordenado pela  International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA) que avalia Matemática e Ciências no 4.º e 8.º ano do ensino básico.

Do extenso conjunto de dados relava o abaixamento significativo em matemática no 4.º ano de 541 pontos em 2015 para 525 em 2019 e um abaixamento, mas pouco significativo em ciências, de 508 para 504, sendo 500 o valor médio da escala. Este abaixamento inverteu a trajectória de subida nas últimas edições.

Quanto ao 8.º que agora foi considerado em comparação com 1995 ano em que Portugal participou neste estudo e só retomando a participação em 2019, os resultados mostram uma subida em matemática, 451 para 500 pontos, e em ciências, de 463 para 519.

No relatório é referido sem surpresa, o peso que assumem neste desempenho variáveis como o estatuto  socioeconómico familiar dos alunos e o contexto sócio demográfico das escolas ou a frequência de educação pré-escolar.

A este propósito recordo um relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência com dados de 2019 divulgado em Março segundo o qual em 2018/2019 apenas 21% dos alunos abrangidos pela Acção Social Escolar cumpriram o 9º ano sem retenções, entre os alunos com meios familiares mais favorecidos a percentagem de trajectos sem retenção foi 56%.

Os números ilustram uma situação que, lamentavelmente, não tem nada de novo, os resultados em Matemática continuam mais baixos e também associados a variáveis sociodemográficas, condições económicas e nível de escolarização familiar.

Para além destas questões que são críticas a explicação para os resultados a Matemática é complexa e nem sempre consensual e surge habitualmente a questão dos currículos. Aliás, o Secretário de Estado em reacção a estes dados anunciou um novo programa de matemática produzido pelo Grupo de Trabalho criado para o efeito e entrar em discussão brevemente. Não sou especialista em questões curriculares, mas curiosamente duas Associações, Sociedade Portuguesa de Matemática e a Associação dos Professores de Matemática representativas deste universo quase sempre têm entendimentos diferentes. No entanto, julgo que estruturas curriculares demasiado extensas, normativas e prescritivas são pouco amigáveis para o bom desempenho da generalidade dos alunos sendo ainda que os conteúdos curriculares carecem de ajustamento como todas as áreas.

Por outro lado, e como aqui tenho escrito o desempenho a matemática pode ainda ser influenciado, não numa relação de causa-efeito, por múltiplas variáveis como número de alunos por turma, tipologia das turmas e das escolas, dispositivos de apoio às dificuldades de alunos e professores ou questões de natureza didáctica e pedagógica.

Acresce a esta complexidade um conjunto de outras variáveis menos consideradas por vezes mas que a experiência e a evidência mostram ter também algum impacto.

São variáveis de natureza mais psicológica como a percepção que os alunos têm de si próprios como capazes de ter sucesso associada a contextos familiares de natureza diversa, por exemplo.

É também conhecido que os pais com mais qualificação e de mais elevado estatuto económico têm expectativas mais elevadas sobre o desempenho escolar dos filhos o que se repercute na acção educativa e nos resultados escolares e, naturalmente, mais facilmente mobilizam formas de ajuda para eventuais dificuldades, seja nos TPC, seja através de ajuda externa.

Finalmente uma outra variável neste âmbito, a representação sobre a própria Matemática. Creio que ainda hoje existe uma percepção passada nos discursos de muita gente com diferentes níveis de qualificação de que a Matemática é uma “coisa difícil” e ainda de que só os mais “inteligentes” têm “jeito” para a Matemática. Esta ideia é tão presente que não é raro ouvir figuras públicas afirmar sem qualquer sobressalto e até com bonomia que “nunca tiveram jeito para a Matemática, para os números”. É claro que ninguém se atreve a confessar uma eventual “falta de jeito” para a Língua Portuguesa e às vezes bem que “parece”. A mudança deste cenário é uma tarefa para todos nós e não apenas para os professores e seria importante que acontecesse.

De facto, este tipo de discursos não pode deixar de contaminar os alunos logo desde o 1º ciclo convencendo-se alguns que a Matemática vai ser difícil, não vão conseguir ser “bons” e a desmotivar-se.

Não fica fácil a tarefa dos professores, mas no limite e como sempre será a escola o braço operacional da comunidade que quer fazer a diferença a fazer a diferença. Aliás, Dirk Hastedt, director-executivo da International Association for the Evaluation of Educational Achievement, em entrevista no Público sublinha justamente a necessidade da valorização dos professores com forma de também valorizar a educação e melhorar a sua qualidade.

Parece ainda claro e é uma questão central claro que para promover mais sucesso e não empurrar os alunos para os anos seguintes sem nenhuma melhoria nas suas competências ou saberes é essencial criar e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo.

Sabemos também que a escola pode e deve fazer a diferença, em muitas escolas isso acontece. Mas para que isto seja consistente e não localizado também sabemos que o sucesso se constrói identificando e prevenindo dificuldades de forma precoce, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio eficazes, competentes e suficientes a alunos e professores, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, com a valorização do trabalho dos professores, com práticas de diferenciação que não sejam "grelhodependentes", com expectativas positivas face ao trabalho e face aos alunos, com melhores níveis de trabalho cooperativo e tutorial, quer para professores quer para alunos, etc.

Uma nota final para a importância da avaliação externa como forma imprescindível de regulação. No entanto, não entendo que só por existirem e serem muitos, os exames finais, só por si, insisto, só por si, melhorem a qualidade. É como se só por medir muitas vezes a febre se espere que ela baixe. A qualidade é promovida considerando o que escrevi em cima e regulada em termos globais pela avaliação externa que permite análises necessárias, nacionais ou internacionais como, por exemplo, o próprio TIMSS.

Não tenho nenhuma convicção que a multiplicação de projectos que emergem fora das escolas, por vezes com formas robustas de financiamento fora do sistema educativo, que alimentam agendas e corporações de interesses possam ser o caminho apesar de surgirem sempre alguns resultados ou avaliações que os pretendem legitimar. É com a escola, por dentro da escola e integrado em sólidos projectos de autonomia e responsabilidade e com recursos adequados que o caminho se constrói.

Sabemos tudo isto. Nada é novo.

Só falta um pequeno passo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

DO ENGRAÇADISMO

 É sempre difícil ser juiz em causa própria. No entanto, atrevo-me a dizer que me considero um tipo com algum sentido de humor e gosto de me rir, com e de.

Mas se existe algo que me abespinha mesmo é a onda de “engraçadismo” que invade a comunicação social para não falar das redes sociais em que é uma praga irritante, por vezes de fontes imprevisíveis. O humor é uma coisa o “engraçadismo” é outra coisa bem diferente e profundamente irritante. O humor é uma ferramenta de protecção da saúde mental, o engraçadismo é um produto tóxico.

Para quem conhece o ambiente de muitas salas de aula é um clássico, o miúdo esperto que adora lançar piadas sem piada, fazer cenas bué d’engraçadas apenas para chatear o "setôr", para se rir muito de si mesmo e, sobretudo, para que o seu grupo de apoiantes se ria e o ache "mesmo fixe", mesmo esperto.

Também em casa conhecemos o mesmo estilo, “armar” em engraçado sem graça.

Mas o que me tira mesmo do sério são os adultos que cultivam o “engraçadismo” convencidos do seu enorme humor. Esta síndroma afecta até gente com todos os graus de qualificação e em múltiplas áreas e dirigido até ao que de engraçado tem … nada

Talvez esteja mesmo a ficar velho e com a paciência guardada para o imprescindível, mas nos putos entendo e tolero, faz parte do crescimento, nos adultos irrita, é muito umbiguismo para o meu gosto.

domingo, 6 de dezembro de 2020

CONVERSAS INACABADAS

 Nos últimos dias e por razões que aqui não pertencem tenho recordado o meu Pai, um Homem bom. Nesta viagem pelas memórias acresce que no dia de ontem se contaram quarenta e cinco anos desde que partiu. Não foi há muito tempo, a unidade de medida do afecto e da saudade não tem um padrão, é a de cada um.

Partiu demasiado cedo, mas não partiu sem me mostrar o que nunca viu, sem me ajudar a chegar aonde nunca foi.

Tanto que ficou por dizer e por viver.

Partiu numa altura em que acreditávamos que, finalmente, tudo seria melhor, tudo seria possível, e tudo seria melhor e possível para todos. Ainda recordo as suas palavras sempre que eu saía de casa naqueles tempos de adolescência e de entrada na juventude em que nos sentíamos donos do mundo, “Pensa por ti”. Não sei se pensei sempre bem, mas acho que tenho pensado sempre por mim.

Havia de ter gostado de nos ver a fazer pela vida, eu e o meu irmão. Havia de ter gostado de conhecer os netos e os bisnetos que tanto certamente gostariam de o ter conhecido.

Havia de ser o porto de abrigo dos sobressaltos que também fazem parte da vida da gente.

É verdade, tanto que ficou por dizer e viver.

Um dia destes vamos conversar todas as conversas que não iniciámos e todas as conversas que não acabámos.

sábado, 5 de dezembro de 2020

PORTUGUESES, UMA ESPÉCIE AMEAÇADA

 Na imprensa de ontem divulgava-se que o ano de 2020 deverá ter o maior saldo natural negativo deste século. Verifica-se uma quase tempestade perfeita, a mortalidade subirá significativamente, entre Janeiro e Outubro, morreram perto de 100 mil pessoas, e a natalidade está em baixa, de acordo com dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, nos dez primeiros meses do ano realizaram-se menos dois mil testes do pezinho que no mesmo período do ano passado.

Acentua-se o inverno demográfico.

Nós, portugueses, somos uma espécie ameaçada e fico deveras inquieto com a aparente despreocupação que as autoridades na matéria e do universo da ecologia revelam e a ausência de medidas de protecção. Curiosamente, outras espécies ameaçadas são objecto de iniciativas  que promovem a sua recuperação.

Na verdade, de há alguns anos para cá os portugueses têm sofrido com alterações a vários níveis que se traduzem na diminuição no nascimento de novos indivíduos.

As alterações climáticas e das condições de vida no território têm sido de alguma severidade criando um clima tenso, inseguro, que gera desconfiança e desesperança e aumentado as dificuldades da sobrevivência.

Neste contexto a actual pandemia vem constituir-se como mais uma séria ameaça à espécie.

Por outro lado, exceptuando alguns exemplares mais preparados, os portugueses têm sido vítimas de predadores, também conhecidos por mercados, que têm criado uma enorme pressão no nosso habitat instalando situações de carência e pobreza que dificultam a construção de projectos de vida que incluam filhos o que acentua o declínio da espécie.

É também sabido que nas espécies mais evoluídas assume especial relevância na sua sobrevivência e evolução o papel e a qualidade das lideranças. Também nesta dimensão se verifica uma enorme fragilidade criando uma deriva inconsequente e dispersão de esforços e ideias. Esta situação é ainda um contributo para as alterações climáticas que referi acima.

Os membros mais novos da espécie têm sido particularmente afectados pelas alterações no seu ecossistema pelo que população adulta tende a abster-se de aumentar o número de indivíduos, condição imprescindível à manutenção da espécie.

Acontece ainda que muitos milhares de portugueses, válidos e qualificados, sem que se sintam capazes da sobrevivência no seu habitat se sentem empurrados e têm partido para outros territórios onde muito provavelmente se adaptarão e a prazo abandonam, na prática, a sua espécie embora possamos beneficiar da presença de indivíduos de outras espécies que vêm para o nosso território e se adaptam a este habitat.

Neste quadro, parece urgente que se exijam medidas de protecção aos portugueses. Urge diminuir a actividade predatória sobre boa parte da população.

É necessário aumentar os níveis de protecção e incentivo à natalidade mas de forma séria e não medidas inconsequentes e mais retórica. Os custos dos serviços de educação para os membros mais novos da espécie são dos mais altos da Europa.

Importa aumentar o bem-estar da população no seu todo e não de uma pequena minoria que é insuficiente para a manutenção da espécie.

Urge construir um caminho que possibilite a recuperação e proliferação da espécie.

Não somos uma espécie em extinção.

Somos, é verdade, uma espécie ameaçada.

Mas vamos sobreviver.

E para isso é preciso mudar.

Já.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

UMA GERAÇÃO DE RISCO

 A Fenprof realizou em Novembro um inquérito online a que responderam mais de cinco mil educadores de infância e professores do ensino básico e secundário de todo o país.

Apesar da prudência necessária alguns indicadores merecem atenção e, sobretudo, acção.

Vejamos, 92.6% entendem que as circunstâncias em que estão a funcionar têm impacto nos processos de ensino e aprendizagem.

Apenas um exemplo, de natureza pessoal, hoje fui contactado por uma mãe de um aluno de uma escola de 2.º e 3.º ciclo da minha zona a pedir alguma orientação face à situação de vários alunos que estão em casa por razões de isolamento sem qualquer tipo de apoio e a escola afirma que não consegue fazer diferente.

Considerando esta situação, 77,4% consideram que sem mais recursos se torna muito difícil assegurar o acompanhamento de alunos que estão afastados das aulas temporariamente.

Uma outra referência, 54.1%, referem a dificuldade de disponibilizar recursos para o apoio adequado para responder às necessidades dos alunos e às dificuldades ainda instaladas decorrentes da forma como decorreu o ano lectivo passado.

Sei que na situação que atravessamos a questão dos recursos é uma questão complexa e que não existem soluções milagrosas. No entanto, as políticas públicas traduzem opções e devem considerar impactos e prioridades.

Corremos o risco de ter muitos alunos, sobretudo, entre os mais novos, com o seu trajecto educativo ameaçado e com o risco de que a cada dia que passa a recuperação ficar mais difícil.

Já aqui tenho referido na possibilidade aproveitar, como se refere na peça do Expresso, o apoio dado à distância por docentes que integram grupos de risco, de tornar os horários incompletos em horários completos para disponibilizar mais apoio a alunos.

Importa ainda não esquecer a composição etária da classe docente e o nível de cansaço e exaustão que diferentes estudos referem.

Não podemos mesmo correr o risco de termos uma geração comprometida.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

DO DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

 Passou mais um ano e a agenda das consciências determina que hoje se cumpra o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Como sempre, umas notas que de forma substantiva não se desactualizam, lamentavelmente.

Como é hábito nestes dias surgirão peças na comunicação social, ouvir-se-á alguma da retórica política aplicável à matéria em apreço com referência a iniciativas ou intenções, provavelmente teremos até alguns testemunhos, positivos e negativos, de pessoas com deficiência ou de entidades que "operam" nesta área. Aliás, a inclusão ou a promoção de um qualquer entendimento de inclusão constitui-se como um nicho de mercado promissor em diversas vertentes.

Assistiremos a alguns eventos das instituições e movimentos que operam nesta área, referir-se-ão alguns avanços de natureza tecnológica, como se sabe as tecnologias mudam mais depressa que as pessoas e amanhã o mundo volta-se para outra questão que a agenda das consciências determine. Nos dias que correm será ainda mais rápido.

Em primeiro lugar deve dizer-se que, como acontece em outras áreas, a legislação portuguesa é globalmente positiva, embora a sua operacionalização mereça quase sempre um estudo de caso. Veja-se o que passa no mundo da chamada “educação inclusiva” e o arranque dos Centros de Apoio à Vida Independente. Na sua definição é promotora dos direitos das pessoas, mas a sua falta de eficácia e operacionalização é bem evidenciada na tremenda dificuldade que milhares de pessoas experimentam no dia-a-dia.

No entanto e como exemplo, é notória a falha na fiscalização e cumprimento das disposições legais relativas às questões das acessibilidades e barreiras nos edifícios, mobiliário urbano e acessibilidade em geral. As normas de construção não são respeitadas, mantendo-se em edifícios novos a ausência de rampas ou a sua existência com desníveis superiores ao estabelecido, constituindo, assim, um risco sério de queda.

O resultado é a existência de muitos serviços públicos e outro tipo de equipamentos de prestação de serviços com barreiras arquitectónicas intransponíveis, a que os cidadãos com deficiência só podem aceder com ajuda de terceiros e, mesmo assim, com dificuldade.

Os transportes públicos de diferente natureza também colocam enormes problemas na acessibilidade por parte de pessoas com mobilidade reduzida.

Para além deste quadro, suficientemente complicado, ainda há que contar com a prestimosa colaboração de muitos de nós que estacionamos o belo carrinho em cima dos passeios, complicando ou proibindo, naturalmente, a circulação de cadeiras de rodas. Os passeios, nem sempre com as medidas determinadas por lei, são, por vezes e quase na totalidade, ocupados com esplanadas que, claro, são só mais uma dificuldade para muita gente.

A vida de muitas pessoas com deficiência é uma constante e infindável prova de obstáculos, muitas vezes intransponíveis, que ampliam de forma inaceitável a limitação na mobilidade que a sua condição, só por si, pode implicar. No entanto, muitos dos obstáculos não têm a ver com barreiras físicas, remetem para a falta de senso, incompetência ou negligência com que gente responsável(?) lida com estas questões.

Na verdade, boa parte dessas dificuldades decorre do que as comunidades e as suas lideranças, políticas por exemplo, entendem ser os direitos, o bem comum e o bem-estar das pessoas, de todas as pessoas.

Também para as crianças com necessidades especiais e respectivas famílias a vida é muito complicada face à qualidade e acessibilidade aos apoios educativos e especializados necessários apesar do empenho e profissionalismo da maioria dos profissionais que trabalham nestas áreas. Os sobressaltos decorrentes de alterações legislativas são consideráveis apesar da necessidade de alteração.

Como é evidente, existem muitas outras áreas de dificuldades colocadas às pessoas com deficiência, designadamente apoios sociais, qualificação profissional e emprego, em que a vulnerabilidade e o risco de exclusão são elevados traduzido em taxas de desemprego entre pessoas com deficiência muitíssimo superiores à verificada com a população sem deficiência.

Uma referência ainda ao que deve ser um princípio não negociável, a inclusão em todos os domínios da vida das comunidades.

É verdade que a questão da inclusão, em particular da inclusão em educação, é presença regular nos discursos actuais. É objecto de todas as apreciações, ilumina todas as perspectivas e acomoda todas as práticas, incluindo a “entregação” que manifestamente não promove inclusão, antes pelo contrário. Apesar do bom trabalho que existe e deve ser suublinhado, por vezes, demasiadas vezes, confunde-se colocação educativa, crianças com necessidades especiais na sala de aula regular, com inclusão. Aliás, até a exclusão de muitos alunos da sala de aula e das actividades comuns é frequentemente realizada … em nome da inclusão. E não acontece nada. A situação dura e já longa que atravessamos veio agudizar a  situação.

O termo está tão desgastado que já nem sabemos bem o que significa. Não esqueço o que positivo se faz, mas conheço tantas práticas e tantos discursos que alimentam exclusão e que são desenvolvidas e enunciados ... em nome da inclusão. Tantas vezes me lembro do Mestre Almada Negreiros que na "Cena do Ódio" falava da "Pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões".

A inclusão assenta em cinco dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na comunidade a que se pertence da mesma forma que estão todas as outras pessoas), Participar (envolver-se activamente da forma possível nas actividades comuns), Aprender (tendo sempre por referência os currículos gerais) e Pertencer (sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade). A estas cinco dimensões acrescem dois princípios inalienáveis, autodeterminação e autonomia e independência.

As pessoas com deficiência não precisam de tolerância, não precisam de privilégios, não precisam de caridade, precisam só de ver os seus direitos considerados. Os direitos não são de geometria variável cumprindo-se apenas quando é possível.

Este é o caderno de encargos que nos convoca a todos, todos os anos, todos os dias.