AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

2020, O ANO DA ESCOLA EM CASA

 O ano que agora vai terminar terá sido para muitos de nós um dos mais estranhos, senão o mais estranho, que vivemos.

Sentimo-nos completamente atropelados por algo que começou lá longe e certamente não chegaria à nossa beira e que, de repente, nos fechou em casa experimentando circunstâncias e modos de vida absolutamente inesperados e para os quais, dificilmente alguém se sentiria preparado.

Como sempre em situação complexas o impacto foi assimétrico, quer na saúde, quer na vida profissional, quer na idade, quer nas áreas de funcionamento das comunidades.

Muita gente passou, está a passar e irá continuar a passar por enormes dificuldades. Os mais vulneráveis serão sempre mais atingidos.

No universo em que me movo, a educação, a situação a partir de Março foi extraordinária. Algumas notas breves.

Com os alunos em casa, professores e escolas realizaram um esforço gigantesco, sempre de sublinhar e reconhecer, para tentar a tarefa impossível, trazer a sala de aula para um cantinho dentro da casa dos alunos. Muitos alunos nem sequer têm um cantinho, não têm ferramentas e equipamentos adequados para o acesso ao E@D que foi estruturado, tal como muitos professores e escolas não estavam preparados para tal, não seria sequer razoável esperar que estivessem. Apesar do esforço e empenho muitas crianças ficaram mais distantes da escola e, sobretudo os mais novos, registaram compromissos nos seus trajectos de aprendizagem. Poderão ser ultrapassados, mas importa que os apoios e recursos sejam adequados, mas o que vou conhecendo mostra dificuldades.

Percebemos ainda, para surpresa de alguns opinadores, como os professores são imprescindíveis próximos dos alunos, sobretudo nos primeiros anos e dos mais vulneráveis, com necessidades especiais, por exemplo, que passaram e passam ainda por sérias dificuldades apesar, mais uma vez, dos discursos mágicos sobre a educação inclusiva.

Em circunstâncias de maior complexidade e quando, como é o caso das escolas, as instituições têm níveis de autonomia ainda insuficientes, torna-se mais evidente o peso das lideranças em matéria de políticas públicas. Sem qualquer desrespeito pessoal, o Ministro da Educação, não mais se desconfinou e as intervenções mostraram sobretudo algo que não transmite segurança e confiança, oscilando entre um discurso mágico sobre a realidade ou uma orientação assente no “faça-se o possível”. É preciso mais, em particular quando as situações são mais pesadas.

O início do ano lectivo, já em modelo presencial, percebeu-se a opção, veio de novo mostrar a disparidade situações e procedimentos que se verificaram nas escolas, quer em respostas educativas, quer em resposta a questões no âmbito da saúde pública num contexto de receio de docentes, pais, técnicos, funcionários e direcções. No entanto o balanço parece ter justificado a opção pelo ensino presencial.

Continuaram a sentir-se dificuldades significativas em matéria de docentes, de equipamentos, de aumento oportuno de técnicos e funcionários, etc. Eu sei que não é fácil gerir sem falhas situações desta natureza, mas também sei que a forma como são geridas, as decisões tomadas, quer pela competência, quer pela forma como são comunicadas, a demonstração de uma percepção clara da realidade, podem fazer a diferença.

Entretanto, foi anunciada a realização pelo IAVE e a pedido do ME de um estudo com o objectivo de “perceber impactos da suspensão das aulas sobre os conhecimentos de Matemática, Ciências e Leitura, envolvendo estudantes do 3.º, 6.º e 9.º anos”, com o objectivo de “dar informação às escolas para que possam ajudar os alunos a recuperar as matérias atrasadas.” Agora? Assim? Voltarei a umas notas sobre este estudo

Em matéria de educação, mas não só, o ano de 2020 foi e será, pois ainda se que se estende para 2021, um ano duríssimo. Esperemos, ainda que com optimismo moderado, que do que vivemos, possamos aprender a fazer melhor e para todos.

O meu optimismo é sustentado por natureza e pelo facto de ter dois netos, um já na escolaridade obrigatória no sistema público e outro à beira de começar.

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