AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 30 de novembro de 2008

DESENVOLVIMENTO

Existe um pequeno país na Europa que, de acordo com a OCDE e considerando os indicadores utilizados, kms de auto-estrada por 100 000 habitantes, percentagem de kms de auto-estradas na rede geral e kms de auto-estradas por 1000 km 2 apresenta umas das maiores redes de auto-estrada, sendo mesmo o que, nos últimos anos, mais construiu.
Existe um pequeno país na Europa, integrado na União Europeia, que recebeu na passada semana um seriíssimo aviso vindo de Bruxelas pois, passados oito anos sobre o estabelecimento de normativas sobre a qualidade da água para consumo humano, ainda existem nesse país muitos locais em que a água é imprópria para consumo o que constitui um problema significativo de saúde pública. Foi comunicado a esse país o prazo de dois meses para se justificar e evitar um processo no Tribunal de Justiça e a aplicação de pesadas multas.
Imagino que estão a pensar que se trata de Portugal e … é mesmo. Existe sempre uma A xx que nos leva a um lado qualquer, mesmo sem trânsito que, aparentemente, a justifique e pode acontecer que, quando chegar a esse lado qualquer não se possa beber um copo de água por que não existe com qualidade para consumo. Estranho? Não, trata-se apenas do modelo de desenvolvimento que tem sido imposto por sucessivos governos.

PS – Nota positiva – Segundo o INE, três em cada dez portugueses em 2007 envolveu-se em actividades de formação. Embora este dado envolva maioritariamente a população mais jovem, é um bom indicador.

O CAJÓ FOI AO FORUM

Com o tempo que está, frio e chuva, o Cajó achou por bem, para passar um bocado de tempo, ir até ao Forum. Quando acabaram o franguinho que o Cajó foi buscar à churrasqueira Kátespero, mesmo ao lado de casa, disse para a mulher, “Odete, produz-te, arruma os putos que vamos dar uma volta até ao Forum, mas aviso já que não há compras p’ra ninguém”. Um bocado de gel no cabelo, os ténis de sola fininha, a calcinha boca-de-sino, os óculos escuros na testa e tá pronto. Enfiaram-se no Punto e lá foram. Não começou muito bem, pois ainda longe do Forum, já havia bicha para entrar para o parque. O Cajó que é um rapaz que não pode com bichas põe-se logo a protestar, “ainda dizem que há crise, que a gasolina tá cara, tá cara mas é para mim, já viste Odete a quantidade de pessoal que tá para aqui”. Lá chegaram. A volta começa sempre pelo café. Como de costume, o Cajó acompanha-o com meio uísque Cutty Sark, a Odete toma um carioca e instala-se a primeira discussão. O Tolicas, o mais velho, meteu na cabeça que queria uma cola e a Micas uma Sprite. O Cajó manda-se ao ar, “vocês pensam que eu sou rico? Inda agora ao almoço viraram uma garrafa grande de cola e já querem mais outra vez, não há cola nem sumo p’ra ninguém, eu avisei”, os putos amuaram e o caldo ficou entornado porque a Odete pôs-se do lado deles a chatear o Cajó. Andaram mais umas voltas, o Cajó foi à FNAC ver os GPS novos e diz à Odete que vai pedir à sogra para lhe oferecer um. Nova discussão, a Odete acha que faz mais falta um micro-ondas novo, que o GPS não serve para nada porque o Cajó conhece bem os caminhos por onde anda com o Punto, o Cajó, já passado, defende-se e diz que até parece mal ser o único gajo lá na oficina que não tem uma porra de um GPS. Vamos a ver como acaba.
Às tantas, entraram na loja dos perfumes e entretiveram-se a experimentar tudo o que lá havia e era muito. De repente, a Odete arranja uma bronca com uma empregada porque ela não largava o Cajó para mostrar perfumes novos. O Cajó viu-se um bocado aflito com a cena, mas lá conseguiu arrastar a Odete para fora da loja, não sem antes ter conseguido dizer à empregada, boa comó milho, que passaria lá ao almoço durante a semana. Foram buscar o Tolicas e a Micas que tinham ficado na FNAC a ver jogos e foram lanchar. É a parte que o Cajó gosta mais, a seguir à empregada da loja de perfumes, afiambra-se com uma bifana e mama duas médias, a Odete orienta-se com um cachorro e os putos tomam banho num balde de pipocas acompanhado de cola. O Cajó avisa, “com o que custou este lanche, o jantar está feito”. Deram mais umas voltas, mas a confusão era tanta que o Cajó deu ordem de retirada.
Foram à procura do Punto e ao chegar a casa, o Cajó ainda dizia para a Odete, “crise, qual crise, viste o monte de pessoal que andava ali? Há crise mas é p´ra mim, queria meter umas jantes novas no carro e não tenho guito”.

FALAR COM OS LIVROS

(Foto de Mico)

Acho que muitas pessoas não percebem que a gente quando está a ler, fala com as pessoas, os animais e os bonecos que moram nos livros. Por isso é que o Professor Velho está sempre a falar com os livros. Assim, nunca está sozinho.

sábado, 29 de novembro de 2008

O ESPÍRITO

Depois de ontem a Senhora Ministra da Educação nos ter oferecido uma pungente pérola sentimental ao achar “tocante” uma carta de um menino que, tendo recebido um computador, lhe escreveu uma carta em que afirmava “quando crescer vou votar no PS”, hoje temos novo episódio que nos lembra a chegada do espírito natalício, seja lá isso o que for, desde que traga boa vontade.
O Dr. Dias Loureiro numa entrevista a Fernanda Câncio no DN, fecha o trabalho com um emocionado “eu acreditaria em mim”. Lembrei-me logo de uma expressão que ouvia frequentemente a um homem notável que já partiu, o Sr. Mário Sénico, motorista da Rodoviária Nacional, “ai de mim se não for eu”. Pois é, o Dr. Dias Loureiro tem acumulado ao longo deste processo do BPN e da SLN contradições e embaraçosos desmentidos das suas declarações, mas afirma, “eu acredito em mim”. É bonita esta declaração de confiança, isenta, imparcial e que, certamente devido ao espírito natalício que nos começa a invadir, nos vai tranquilizar a todos.
Então se o Sr. DR. Dias Loureiro, que conhece os factos envolvidos, acredita em si, é impossível e até insultuoso, que eu, tal como qualquer cidadão mais desconhecedor do que verdadeiramente se passou, possamos duvidar da bondade e lisura de todo o comportamento do Sr. Dr.
Eu acredito. Agora, como me porto bem, vou escrever a carta ao Pai Natal, em que também acredito, para pedir uma prendazinha.

O MODELO

Olá, sou o Manel, lembram-se? Aquele que escreveu a queixar-se de ter uns dias de escola muito compridos. Continua na mesma, mas agora há outro problema que falam lá na escola, parece que é grande e eu não percebo muito bem.
As professoras andam todas preocupadas e falam sempre da mesma coisa que é o Modelo. Dizem que o Modelo não presta e que é preciso parar de usar o Modelo e que não dá jeito nenhum usar o Modelo porque é complicado. No outro dia, ia a entrar para a sala e a Directora da escola estava a dizer à minha professora que aquela pessoa a quem chamam ministra tinha dito que ia ser obrigatório usar o Modelo, e quem não o usasse ia ser prejudicado no trabalho. Aí é que eu fiquei preocupado e quando cheguei a casa disse à minha mãe que, se calhar, era melhor ela usar o Modelo para também não ser prejudicada, tinha dito a Directora da escola.
A minha mãe olhou para mim com um ar assim espantado e disse-me que ela é que sabia o que é que deve usar. Prefere o Pingo Doce porque é mais barato que o Modelo. Fiquei contente da minha mãe saber escolher e não ser prejudicada.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

TOCANTE

Ainda estou emocionado. Por sorte não tenho que falar, a voz sairia embargada e estou a escrever sem espectadores pelo que ninguém reparará na lamechice de um lágrima que teima em aparecer.
Estive a ler atentamente a entrevista, extensa, com a Senhora Ministra da Educação que hoje o Público nos proporciona. Para além da repetição ad nauseam da ideia de que algo ou alguém de transcendente, a designou para a Missão de reformar de salvar a educação de todos os males e maus-tratos que a afligem, nada de novo, os equívocos entre persistência e teimosia, convicção e arrogância ou a insistência na (quase) perfeição e na infalibilidade.
Mas o que verdadeiramente mexeu comigo, ainda nem estou em mim, foi o fecho da entrevista. Inquirida sobre a existência de momentos bons, a Senhora Ministra exemplifica referindo-se a uma carta em que um menino que recebeu um computador lhe escreveu, afirma, passo a citar, ”quando for grande vou inscrever-me no PS”. “É tocante” acha a Senhora Ministra. Extraordinário, ditosa pátria que tem uma Ministra da Educação que se deixa emocionar por tal afirmação. Foi a mesma reacção que o Major Valentim Loureiro, outro missionário, teve quando o Sr. Zé, depois de receber um frigorífico, lhe disse que ia votar PSD. A diferença é a precocidade do menino, a prova de que a reforma educativa está no bom caminho. Um menino, pobrezinho certamente, recebe um computador, escreve à Ministra e promete-lhe o voto no PS quando crescer. Tocante, sem dúvida. Que dirá o Engenheiro Sócrates?
Assustador, digo eu.

UM HOMEM CHAMADO PORMENOR

Era uma vez um homem que se chamava Pormenor. Era pequenino e muito discreto. Durante toda a sua vida nunca foi objecto de grande atenção.
Foi o último de seis irmãos, a família limitou-se a assegurar os serviços mínimos educativos. Enquanto andou na escola, o Pormenor passava o tempo geralmente a um canto das salas ou do recreio, sem dar nas vistas, passando praticamente despercebido.
Viveu só e anónimo num apartamento minúsculo de uma daquelas torres enormes dos subúrbios onde nem os vizinhos conhecia, embora se cruzasse, de quando em vez, com alguns nos elevadores.
O Pormenor, com alguma sorte e a “ajuda” de um tio bem colocado, arranjou um emprego tranquilo onde, numa secretária colocada a um canto de uma sala mal iluminada, passava os dias viajando entre o computador e os papéis.
Quando morreu, um dos irmãos mandou tratar do funeral a que ninguém compareceu.
E assim foi a sua pequenina e discreta vida. No fundo, não passava de um Pormenor e, como se sabe, o mundo não liga a pormenores. Mesmo que sejam pessoas.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

TUDO ISTO EXISTE, TUDO ISTO É TRISTE, TUDO ISTO É FADO

Um estudo realizado por investigadores do ISCTE, hoje divulgado no Público, evidencia alguns dados interessantes sobre nós, os portugueses. Atentemos em alguns.
Os portugueses revelam níveis de confiança nos outros abaixo da média dos países considerados. Os portugueses sentam-se mais tristes que a generalidade dos cidadãos dos outros países. Os portugueses também revelam mais baixos índices de confiança no futuro. Os portugueses mostram menor nível de satisfação com a vida que têm.
Como vêem é um quadro animador, mas não surpreendente. Um país em que, de cima abaixo, tem como traço cultural o esquema, veja-se o caso dos administradores do BPN ou o da baixa por falsa doença do Zé Tuga para andar no biscate, não pode, obviamente, ter confiança nos outros que, ou copiam ou falam de forma invejosa do esquema. Um país que tem uma classe política que, consoante o ciclo eleitoral e a gestão do poder, ora faz um discurso de catástrofe ou mostra um oásis, dificilmente desenvolve níveis de confiança no futuro. Um país em que as conversas entre os cidadãos anónimos tendem a acabar com um resignado “isto é uma tristeza” ou “isto não vai a lado nenhum”, alegra-se com quê? Talvez o ano eleitoral que se aproxima possa ajudar um pouco, mas, e a crise?

UMA IDEIA INTERESSANTE

As entidades de regulação assumem, por condição e natureza, uma função fiscalizadora do funcionamento do mercado, dos mercados. Se a exercem eficazmente, ou não, é uma outra questão, atentemos nas dúvidas sobre as suspeitas de cartelização de preços no mercado dos combustíveis, dívidas que o regulador nunca dissipou de forma clara e conclusiva.
Por outro lado, o Parlamento, órgão de soberania tem como competências essenciais o poder legislativo e a acção fiscalizadora sobre a acção do poder executivo da competência do Governo.
Neste quadro, faz sentido a proposta de António José Seguro de sediar no Parlamento a eleição, por voto secreto, dos responsáveis pelas entidades de regulação para que, o que poderemos chamar de “actividade fiscalizadora” essencial, se integre no “espaço de fiscalização” que a arquitectura do nosso modelo de organização política estabelece, o Parlamento. Do meu ponto de vista, a proposta teria ainda a vantagem, pelo menos do ponto de vista formal, de minimizar os riscos de governamentalização das entidades reguladoras, embora em situações de maioria absoluta e com a tradição dos partidos serem os donos das consciências individuais dos deputados, este risco seja de difícil controlo. De qualquer forma parece-me uma ideia interessante e contributiva para a melhoria da saúde e qualidade da nossa democracia.
Resta ainda saber, só por curiosidade, como vai o PS reagir a estas propostas de António José Seguro que parecem também inscrever-se no posicionamento interno face à gestão do poder no interior do partido. Vamos ouvir o que diz o Engenheiro, embora me incline mais para que quem apareça a comentar seja o incontornável Ministro Santos Silva, o guardião ideológico do Governo.

O PASSEIO

Hoje fui passear com ela. Foi bonito, foi mesmo muito bonito. Demos um passeio muito grande. Encontrámos imensa gente que conhecemos e que gostaram de nos ver, assim a passear. O dia estava bom, embora um bocadinho frio, mas estamos quase no Natal, é natural o frio. Achei engraçado o Sr. José, andava a passear com o neto e meteu-se comigo, chama-me assim uns nomes que eu não entendo, mas ri-se e eu acho que é a brincar.
Estivemos também um bom bocado no parque onde estavam uns miúdos a jogar e deixaram que eu me metesse no meio do jogo deles. Como não sou muito habilidoso tive que me afastar senão ainda se zangavam. Também gostei de uma miúda que estava a lanchar sentada num banco e quando passei ao pé dela me perguntou se queria um pedaço de bolo. Claro que quis, sou guloso. Ela disse que se chama Maria e ficámos de voltar a encontrar-nos por ali, oxalá ela não se esqueça do bolo, era bom. Como vêem foi um passeio mesmo interessante.
Só não gosto de uma coisa. Na maior parte do tempo, ela, a minha dona, obriga-me a andar de trela. Já não sou nenhum cachorro, sou muito bem capaz de tomar conta de mim.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O FUTEBOL NO PORTUGAL DOS PEQUENINOS

Registo de interesses, gosto de futebol, embora seja matéria que, como se diz no meu Alentejo, está, habitualmente, arredia deste espaço. Mas hoje é dia de futebol. Um rapaz, ao que consta, Secretário de Estado da Juventude e Desporto, o Dr. Laurentino Dias, ao referir-se à possibilidade dos jogadores de futebol do clube Estrela da Amadora fazerem greve, porque há já algum tempo que não recebem salários, faz esta notável afirmação, “a greve dos jogadores não será saudável para o futebol português”. O futebol português em que se instalou com a complacência do poder político uma grave e escandalosa teia de relações entre a gestão dos clubes, o próprio poder político, poder autárquico, interesses empresariais e especulativos, tráfico de influências e caciquismo, etc. vai agora perder a sua saúde porque um grupo de profissionais não recebendo aquilo que por direito lhes cabe, o salário, pressionam com a sua arma mais pesada, a greve. Os clubes, à semelhança do resto do país, vivem acima das suas posses, são geridos com a maior das incompetências e protegidos pela teia de relações de que acima falei e os verdadeiros actores deste universo, os jogadores, é que serão responsáveis pela “falta de saúde” do futebol. Este tipo de declarações seria uma afronta se ainda nos surpreendessem. Lamentavelmente, já não.

TENHAM OS CARTÕEZINHOS À MÃO

É óbvio que em qualquer sistema organizado, a avaliação nos seus diversos patamares, é uma condição imprescindível à qualidade do seu funcionamento. Nesta pesrpectiva, será lógico pensar na avaliação dos órgãos de gestão dos agrupamentos e das escolas, designadamente dos presidentes dos conselhos executivos. È reconhecido que a qualidade da liderança é um factor fortemente contributivo para a qualidade das instituições. O que me assusta fortemente é esta ideia dos directores regionais de educação avaliarem os presidentes dos conselhos executivos. O desempenho da função de director regional tem pouco a ver com mérito, sendo bem mais importante o posicionamento partidário a capacidade e competência em matéria de alpinismo político-social e a capacidade de se transformar numa eficaz his master’s voice. Basta estar atento às intervenções públicas dos directores regionais em exercício, nomeadamente as da comissária Margarida Moreira da Direcção Regional de Educação do Norte. Lembremo-nos, a título de exemplo, do caso Charrua. Pois é esta senhora que vai avaliar os presidentes dos conselhos executivos dos agrupamentos e escolas da região norte. Palavra de honra, se me acontecesse tal coisa ficaria tão embaraçado e com a auto-estima tão em baixo que dificilmente recuperaria do insulto. E o que me parece mais grave, é que estou convencido que a arrogante ignorância da senhora a fará pensar que está em condições de ser avaliadora de presidentes de conselhos executivos. Pobres professores que em tais mãos vão cair, vão tratando de arranjar o cartãozinho, à cautela, pelo menos dois, um de cada cor.

PARA COMPLICAR

Aqui fica um modesto contributo para complicar o incontornável problema do mítico Modelo, o tal, o da avaliação dos professores.
A avaliação, mais do que um dispositivo (um modelo) ou conjunto de dispositivos, é uma atitude, ou seja, os bons profissionais, professores por exemplo, assumem uma atitude avaliação/reflexão permanente que lhes permite a regulação do seu desempenho.
Por outro lado, a experiência, filha da idade, tem vindo a convencer-me, como já tenho afirmado, de que, para além e mais do que aquilo que Sabem, os professores ensinam aquilo que São.
Se, como creio, estas duas considerações estão ajustadas, então como criar O modelo que regule a Atitude de avaliação/reflexão e o Ser do professor?
Provavelmente, O modelo, qualquer modelo, será sempre pouco mais que a forma de organizar administrativamente o trajecto profissional de um professor e não O instrumento essencial de regulação do seu desempenho que, a meu ver, será a arquitectura e consistência dos seus valores e princípios éticos que, naturalmente, são dificilmente compatíveis com O modelo, qualquer modelo.
Sobra assim, um conjunto de saberes, técnicas e procedimentos, que podem e Devem ser objecto de avaliação, mas que ficarão nas margens do essencial.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

ONDE É QUE ISTO VAI PARAR?

Uma comprida terça-feira que só agora acabou, não me deixa disponibilidade e lucidez para pensar em algo de importante. Ao passar, creio que no final da manhã, um olhar apressado sobre a imprensa on-line, fixei-me numa notícia do JN que me impressionou. Imaginem que uma freira e um professor estão a ser julgados no Porto por terem, sem autorização, vendido para proveito próprio, dois imóveis pertença de uma senhora com 85 anos residente na Ordem da Trindade e da qual se fizeram amigos para, em crime de abuso de confiança, venderem os seus bens por cerca 550 000 €. Confesso que fiquei impressionado, um professor e uma freira??!! Onde é que o mundo vai parar?
A este professor não haverá certamente Modelo que o salve, acho mesmo que o senhor, enquanto professor é também um mau modelo, como o outro, o da avaliação. E que dizer da senhora freira, é certo que a carne é fraca, mas a da senhora freira não podia ser tão fraca, afinal, a senhora tem responsabilidades. Ainda estou espantado, um professor e uma freira em associação criminosa. Já estou como o entertainer político conhecido por Professor, o Marcelo, Cristo um dia destes, vai ter voltar à terra.

A PERGUNTA

A Maria entrou na biblioteca da escola com o seu ar mais habitual, triste. Sentou-se a olhar para um livro que, desarrumado como ela, a esperava em cima de uma mesa. Não parecia estar a ler, antes a ler-se.
O Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros, de mansinho, sentou-se ao pé da Maria, sem dizer nada, a olhar para ela.
Olá Velho, estás a olhar para mim porquê?
Maria, estou a olhar para ti porque tens uns olhos bonitos e porque acho que me queres dizer alguma coisa, os teus olhos estão tristes.
É Velho, os olhos estão tristes porque eu estou triste e quando a gente fica triste, o corpo também fica.
E estás triste porquê?
Porque a Professora Joana não gosta de mim, como outras pessoas.
Eu gosto de ti Joana,
Eu sei Velho, mas a Professora Joana não e eu não sei porquê. Tu que já foste professor, podias saber porque ela não gosta de mim.
Vou pensar Maria, depois digo-te alguma coisa.
A Maria saiu. No dia seguinte, ao fim da manhã, voltou à biblioteca e, contrariamente ao costume, trazia os olhos a rirem-se.
Professor Velho, não precisas de pensar nada, a Professora Joana já gosta de mim. Hoje na aula, fez-me uma pergunta, eu até nem soube responder, mas ela já gosta de mim, faz-me perguntas. Quando a gente gosta das pessoas quer saber se elas aprendem e sabem, não é Velho?
Claro, Maria.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

ALEGAÇÕES

Iniciam-se hoje as alegações finais do processo Casa Pia. Considerando o habitual modelo de funcionamento do sistema de justiça em Portugal, alego que não vai parar por aqui.
O Presidente da República vem a público alegar que não tem, nem teve relações de qualquer espécie com o BPN do qual foi e é apenas um depositante de poupanças. Para que conste, eu alego que nem isso.
O Dr. Dias Loureiro alega que, trabalhando na SLN do grupo do BPN e sendo membro da administração do grupo, sempre que se passava alguma coisa ele estavas de costas ou distraído. Eu alego a maior das ingenuidades para tentar acreditar.
O entertainer político Marcelo Rebelo de Sousa, mais conhecido pelo Professor, alega que não está interessado na liderança do PSD mas, lá mais para a frente quando Cristo voltar à terra, logo se vê. Eu alego que logo que cheirar a poder os candidatos a líder aparecerão, o problema é a travessia do deserto imposta pelo PS.
A Plataforma Sindical dos professores alega que já tem um modelo para substituir o modelo. Os miúdos alegam que estão fartos de um sistema que não parece pensado para os servir.
O Bloco alega que Sá Fernandes se “vendeu” à política de António Costa. Sá Fernandes alega que a concelhia do Bloco nunca gostou do acordo. Eu alego que é preciso reformar a política e os políticos do Portugal dos Pequeninos.
A Dr. Manuela Ferreira Leite ainda não alegou nada hoje.
Eu alego que estou farto.

É O VENTO

(Foto de Rui Moura)

É o vento que faz rodar os miúdos à volta dos moinhos de papel.
É o vento que faz voar os miúdos agarrados aos papagaios.
É o vento que leva para longe os medos que assustam os miúdos.
É o vento que leva os miúdos para dentro dos sonhos.
É o vento que leva os miúdos atrás das borboletas.
É o vento que adormece os miúdos quando assobia baixinho.

domingo, 23 de novembro de 2008

COMUNICAÇÃO E ÉTICA

O Público de hoje dedica algumas páginas ao papel que o Primeiro-ministro atribui à comunicação e imagem, bem como aos seus processos de produção e gestão. Basicamente desde o famoso debate entre Kennedy e Nixon em 1960 que a comunicação social, sobretudo a televisão, passou a ter um papel fundamental na acção política de qualquer governo e regime. Nada de novo, portanto, relativamente ao peso que o Eng. Sócrates e equipa atribuem a esta matéria. Limitam-se aliás, a serem tão eficazes quanto possível no seu uso.
Qualquer de nós concordará que uma boa ideia mal “vendida” pode ser entendida como uma má ideia e, inversamente, uma má ideia bem “vendida” pode ser considerada como uma boa ideia. Sabemos também como todas as pessoas que profissionalmente contactam com outros, precisam de estratégias de comunicação eficazes de modo a potenciar o seu efeito. Como exemplo acabado e bem actual, temos os professores que, no seu trabalho diário, para além da competência científica, precisam de padrões elevados de competências de comunicação para aumentar a qualidade do seu trabalho junto dos interlocutores, alunos e pais por exemplo.
Dando por adquirido que as práticas estão dentro do quadro legal, do meu ponto de vista, a grande e difícil questão que se coloca neste universo, não é a utilização de um conjunto de ferramentas de comunicação, a que, simplificando, podemos chamar marketing, mas a regulação ética e moral dessa utilização. Existe uma ténue fronteira entre “boa estratégia de comunicação” e “manipulação”, existe uma linha estreita entre o que se deve dizer e o que se deve saber, considerando os conflitos de interesse em jogo, existe uma distância muito curta entre retratar a realidade e retratar a mesma realidade de diferentes ângulos e com diferentes indicadores, existe a possibilidade de passar todas as mensagens ou de privilegiar algumas mensagens, existe a possibilidade da dupla mensagem, ou seja, um discurso ao encontro do que se julga querer ouvir e uma prática que se avalia como necessária, etc. A questão é, assim, saber se a estratégia do governo em matéria de comunicação e imagem estando, desejo, nos limites da lei, respeita os limites da ética e os direitos individuais, como o direito à informação. Pessoalmente, devo dizer que, por vezes, me incomoda particularmente, o que oiço e vejo, quando sei, por que conheço, que a realidade não é o que me estão a vender.
De resto, lembremo-nos da mítica comparação de Rangel sobre a possibilidade da TV, tanto vender sabonetes como presidentes.

sábado, 22 de novembro de 2008

VOZES

No meio do grupo grande de pessoas que por ali se encontrava, começa a sobressair uma voz forte e clara que, pouco a pouco, obriga as pessoas a calarem-se prestando atenção, tal como eu, ao discurso que se ouvia.
… torna-se assim imprescindível que sejam acautelados os direitos individuais e básicos de todas as pessoas. A crise económica que se instalou, ainda que crie muitas dificuldades, não pode servir de justificação para que cada vez mais gente veja comprometida de forma alarmante a satisfação de necessidades fundamentais. Em tempos complicados, ainda mais necessário fica o reforço de políticas sociais e de solidariedade com aqueles que, por maior fragilidade ou vulnerabilidade pessoal, ficam mais expostos às consequências negativas. Importa pois, aprofundar o esforço para que diminua a obscena assimetria entre os mais ricos e os mais pobres. Para isso é preciso que …
De repente, ouve-se uma voz autoritária de um indivíduo vestido de branco que, dirigindo-se ao orador, lhe interrompe o discurso.
Sr. Francisco, está na hora da sua medicação, então o delírio hoje deu-lhe para a política?

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

INFELIZES OU INGRATOS

Um estudo do Fundo Europeu para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, hoje divulgado pelo DN, revela que, entre os 27 países da UE mais a Noruega e os três candidatos, Croácia, Macedónia e Turquia, os portugueses são o terceiro povo mais infeliz, só letões e búlgaros são mais infelizes que nós. Um olhar atento sobre nós, apenas permite explicar este resultado pela nossa enorme exigência e permanente insatisfação que nos faz estar sempre à procura do melhor. Não fosse assim e como é que se explicava que um povo que tem algumas das melhores dádivas se sinta infeliz. Vejam só.
Temos o Engenheiro, um animal feroz que é uma espécie de Super Fix da política.
Temos o Cristiano Ronaldo, um miúdo sem cabeça, mas com uns pés fantásticos.
Temos o Ministro Mário Lino, um showman do humor político.
Temos o menino guerreiro, o Dr. Santana Lopes, o mais competente ex-qualquer coisa e futuro não-importa-o-quê, que se possa imaginar.
Temos um TGV que faz inveja a meia Europa e um aeroporto novo que vai arrasar.
Temos um Magalhães que espantou o mundo e deixou o Bill Gates roidinho enquanto não se associou à JP.
Temos um Alberto João, um expoente do surrealismo, escola delirante.
Temos um modelo, o famoso modelo que ninguém mais tem na Europa, o da avaliação de professores.
Temos o Dr. Portas, o Paulo, o santo protector da lavoura e dos velhos além de ser um forte apreciador da comunidade cigana.
E isto é só uma pequena amostra da dimensão e diversidade da oferta à nossa disposição para nos tornar felizes. Somos é ingratos, isso é que é.

DIREITOS E JUSTIÇA

Ontem, no meio do ruído causado pelo modelo, o da avaliação de professores, e pelo convite ao Dr. Oliveira e Costa para explicar como lixou o BPN e a mim que o vou subsidiar, passou discretamente a data da aprovação pela Assembleia Geral das Nações Unidas da Convenção dos Direitos da Criança, 20 de Novembro de 1989.
Hoje, não sei se por coincidência, o Correio da Manhã entrevista Catalina Pestana a ex-provedora da Casa Pia. A Dra. Catalina expressa a sua mágoa pelos atrasos da justiça, já lá vão seis anos que se iniciou o processo, e está finalmente convencida que a justiça em Portugal é fraca com os fortes e forte com os fracos. Acrescenta a indignação pela estratégias dos advogados que, como é habitual com os fortes, não pretendem provar a inocência, por vezes não têm como, mas impedir a sua condenação através de sucessivos expedientes manhosos, mas, certamente, legais, claro.
A Dra. Catalina não disse, mas não me admiraria se alguns dos miúdos envolvidos viessem a ser condenados por assédio e se toda aquela gente que está como arguido sejam absolvida, à excepção do Bibi que é fraco, e ainda com direito a indemnizações por danos morais.
Aliás, prevejo também que o Dr. Oliveira e Costa, depois deste pequeno incómodo de exposição mediática e de declarações à justiça, depois de ter arrumado a vidinha de modo a proteger os seus bens, goze na tranquilidade do lar a merecida reforma

SIM, NÓS PODEMOS

Um rapaz, chamado Aristides Teixeira, que em tempos apareceu na comunicação social como presidente!! de uma Associação de Utentes da Ponte 25 de Abril, revelou à imprensa a sua intenção de concorrer à Presidência da República em 2011. Tudo bem, é um direito e uma boa notícia, uma candidatura fora da quase exclusiva e hegemónica lógica partidária. Por curiosidade continuei a ler e pasmei. O homem quer concorrer pela simples e única razão de que é “de cor” como ele diz, bronzeado como diria o “capo” da direita Berlusconi ou pretinho, como diria a minha mãe. O senhor continua e diz que se Obama conseguiu, ele também vai conseguir. No fundo e com razão, o Sr. Aristides achará, tal como eu, que uma pessoa de cor portuguesa é tão capaz como uma pessoa de cor americana. Lindo. Diz ainda o Sr. Aristides, que uma das razões da esperança é o passado histórico português com colónias em África. Também está bem visto.
Estou absolutamente de acordo com esta tomada de posição e a iluminada aparição inspirou-me. Não tivemos, nos anos da democracia, um Presidente da República verdadeiramente careca, apenas umas envergonhadas entradas ou “clareiras” enfeitaram as cabeças que nos presidiram. Pois bem, é a hora, os portugueses também são merecedores de um presidente careca, para não falar, obviamente, da própria comunidade dos “arejados de cabeça”. Assim, declaro e assumo a forte intenção de me candidatar à Presidência, para depois do mandato do Sr. Aristides, claro. Desde já, conto convosco. Yes, we can.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O MONÓLOGO DA MINISTRA

Depois do que já disse, não vou comentar o conteúdo das “simplificações” que a operação de tunning político das últimas horas introduziu na problemática da avaliação. Quero referir-me à entrevista da Senhora Ministra. Em primeiro lugar, tratou-se mais de um monólogo que de uma entrevista, a Ministra tinha uma “agenda”, obviamente independente das perguntas da entrevistadora, pouco preparada, aliás, para discutir a questão. No entanto, o mais importante é a forma patética como se tenta defender o indefensável. O modelo não serve e não funciona, diz-se há um ano, o ME não o reconheceu nunca e agora, milagre da humildade, ouve as pessoas e chega à conclusão de que afinal, até têm razão, mas mantém-se o modelo ou o que resta dele. Estranho? Não, rumo, diz a Ministra. Só como exemplo, a Ministra disse e repetiu na TV há duas semanas, que não era possível falar de burocracia e excesso de trabalho quando apenas era pedido a cada professor DUAS folhas e agora, milagre, reconhece que uma “área de problemas” é precisamente … a burocracia. O que parece verdadeiramente espantoso, é a Senhora Ministra falar deste processo na primeira pessoa mas, de facto, discursar como se o ME não tivesse TODA a responsabilidade no modelo que montou, como se tivesse sido uma espectadora e não a decisora e responsável por tudo o que está consignado no modelo. Mau demais.
Com meia dúzia de perguntas simples, poderia perceber-se como é incompetente o famoso modelo e contraditório, arrogante e pouco sério do ponto de vista intelectual, o discurso do ME.
Que siga o baile.

O TUNNING NA POLÍTICA - a incompetência não se simplifica

Como era previsível, a Ministra veio à janela e atirou uns rebuçados ao povo do ensino. Calma, organizem-se e simplifiquem. Combinem lá um esquema para tornar possível realizar qualquer coisinha, a que a Equipa Ministerial ainda possa chamar uma avaliação de acordo com o seu, deles, modelo. Patético.
Oiçam o povo, o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. Um modelo de avaliação incompetente e inadequado, inquinado por questões estruturais como a divisão entre professores titulares e professores outros, não tem simplificação que o salve. A imprescindível e desejada avaliação dos professores só pode realizar-se com um dispositivo e procedimentos repensados, ajustados e operacionalizáveis no actual contexto de funcionamento das escolas.
O resto é tunning político de mau gosto e de piores efeitos.

MUNDO ESTRANHO OU DOENTE?

Finalmente, uma mudança significativa. Por decisão do Conselho de Ministros de hoje, será apresentada a proposta para que deixe de ser necessária a situação de flagrante delito para deter o agressor em casos de violência doméstica. Como imaginam, a situação anterior era bastante ajustada, uma vez que, a esmagadora maioria dos agressores procurava organizar um evento social para bater na mulher. Convidava vizinhos e familiares, deitava as crianças, tratava do catering para que houvesse conforto quanto baste e alguns mais perfeccionistas até convidavam agentes da autoridade para a audiência. Agora, terão que mudar a produção. Talvez seja oportuno registar que em 2007 morreram assassinadas pelos companheiros 21 mulheres e que este ano o número já vai em 43.
No mesmo contexto, maus-tratos a pessoas, é importante não esquecer que, segundo o Instituto de Apoio à Criança, foram recebidas este ano 293 queixas de maus-tratos a crianças no seio da família, sete por semana, uma por dia.
Será que esta doença não tem cura?

A MINHA AMIGA

(Foto de Mico)
Gosto tanto dela, da minha amiga,
está sempre ao pé de mim.
Brinca comigo e com os meus amigos,
que também gostam muito dela.
Salta que só visto,
às vezes, nem a agarramos.
A gente diverte-se muito.
Se eu pudesse, não a largava.
É tão bonita.
A minha bola.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

CADA CAVADELA, CADA MINHOCA

Vai por aí um alarido, que não se entende, com a “ironia” discursiva da Dra. Ferreira Leite sobre a hipótese de “haver seis meses sem democracia”. À primeira vista, afirmei-o antes, a senhora talvez pretendesse referir-se à necessidade de suspender a avaliação de professores e não a democracia, mas, por lapso, saiu uma “ironia”. Pensando de forma mais fria, creio que não se trata nem de ironia nem de lapso, é mesmo falta de competência para discursos políticos e um conservadorismo indisfarçável. Felizmente para o PSD a senhora fala pouco, mas atentem em mais estas três recentes pérolas do mais fino recorte social, político e democrático, “a família tem por objectivo a procriação”, as “grandes obras públicas ajudam a combater o desemprego em Cabo Verde e na Ucrânia", e “não pode ser a comunicação social a seleccionar aquilo que transmite”. Sem comentários.
Como diz o povo “cada cavadela, cada minhoca”. O Eng. e o PS devem estar a rir-se e a desejar que nada se altere no PSD até final de 2009.

O LAPSUS LINGUAE DE FERREIRA LEITE

A nossa comunidade está a atingir níveis preocupantes de exigência e intolerância. A Dra. Ferreira Leite, num normal discurso e certamente preocupada como o ponto principal da agenda actual, procurou referir-se, como toda a gente, menos a Ministra e os Secretários de Estado, à necessidade de suspensão da avaliação dos professores. A questão é que num “lapsus linguae”, que freudianas interpretações podem ajudar a entender, falou da possibilidade de suspender a democracia. Aqui d’el-rei que a senhora espalhou-se e logo aparecem os críticos cínicos a explicarem que, de facto, a Dra. Ferreira Leite está melhor em silêncio e que, portanto, será melhor suspender os seus discursos. Calma, foi apenas um lapso, nem toda a gente tem jeito para tudo, sejamos tolerantes.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

PEÇO A SUSPENSÃO

Considerando que a expressão “pedir a suspensão", entrou na ordem do dia, resolvi apanhar boleia no espírito e, apesar de o fazer sem grande esperança, atrevo-me a pedir também a suspensão de alguns aspectos que considero lesivos de padrões básicos de qualidade de vida. Assim solicito a suspensão:
Da degradação do território nacional por gestão incompetente, corrupta e ao abrigo de projectos de duvidoso “interesse nacional”.
De comportamentos e procedimentos utilizados de forma habilidosa na nossa justiça que visam protelar e atrapalhar a sua administração, lesando irreparavelmente a confiança que o cidadão deve sentir no sistema de justiça.
De comportamentos negligentes, pessoais e institucionais, lesivos dos direitos de miúdos, adultos e velhos.
Da produção de discursos políticos demagógicos, incompetentes e ignorantes sobre os problemas de muitos portugueses.
Da utilização, pela generalidade da classe política, da forte convicção de que “a realidade está enganada, eu é que estou certo” ou a variante “a realidade é a projecção dos meus desejos”.
Da chuva de opinadores, os tudólogos, que, com base na arrogância da ignorância, encharcam a comunicação social a que têm, sempre, acesso, de “achismos” inconsequentes, demagógicos e desconhecedores sobre todo e qualquer assunto que lhes passe pela cabeça.
Podem continuar a lista.

RETRATO

Era uma vez um homem chamado Manhoso. Desde pequeno evidenciou a maior das habilidades para cuidar de si. Na escola, conseguia sempre que qualquer colega fosse responsabilizado pelas tropelias que realizava sem que alguém desse por isso. Arranjava sempre maneira de copiar em testes ou trabalhos, aparecendo invariavelmente com um ar tranquilo, cumpridor e de consciência em paz.
Sempre muito centrado nos seus interesses e pouco atento aos outros, o Manhoso, sendo popular entre os colegas, não tinha amigos. Provavelmente, tal situação levava-o a refugiar-se ainda mais nele próprio.
Cresceu sempre com este estilo, procurando usar as pessoas para os seus esquemas e proveitos.
Completou um curso universitário sem brilho, levado ao colo pelos trabalhos dos grupos em que se insinuava, cabulando tanto quanto podia nos exames e valendo-se da sua capacidade de persuasão.
Na altura em que se questionava sobre o que fazer com a sua vida, contactos da universidade inspiraram-lhe um rumo a que com a sua inultrapassável habilidade se dedicou e que começa a dar os desejados frutos.
O Manhoso, perdão, o Dr. Manhoso, integra a lista de deputados do partido para as próximas eleições legislativas, em lugar elegível claro, e, entretanto, dá aulas de Empreendorismo e Inovação na universidade onde se formou.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

UMA NOTÍCIA CRIADORA DE FUTURO

Temo que passe despercebido, mas o DN de hoje faz referência a um estudo realizado em Inglaterra no âmbito do Observatório Europeu de Esperança na Saúde, envolvendo 25 países da UE, que me deixou preocupado. Em Portugal, a reforma média dos homens acontece aos 62,4 anos e a das mulheres aos 63,8. Acontece que, de acordo com o estudo, os homens portugueses terão condições de saúde para trabalhar até aos 64,9 e as mulheres até aos 62, 7. Assim, sem alterações e dentro da média, gozarei 2,5 anos de boa saúde após a reforma e a minha mulher ainda terá que trabalhar adoentada. É o que eu chamo uma notícia criadora de futuro. E já não quero referir a forte probabilidade de que, considerando a esperança de vida, mesmo de má qualidade, e a sustentabilidade da Segurança Social, a idade da reforma suba. Então é que deprimo por completo com a perspectiva de passar directamente do local de trabalho para a sala de espera do centro de saúde. Mas porque razão leio jornais?

MAIS UM MEMORANDO DE ENTENDIMENTO

O cenário começa a compor-se. Duas importantes manifestações, o movimento de protesto dos professores a fugir ao controlo de sindicatos e do ME, o Poeta Alegre a lembrar que milhares de professores votaram PS e as eleições estão já aí, o António Costa a lembrar que a maioria está em risco, uma equipa ministerial enredada na incompetência e, consequente, autoritarismo, devem ter sido motivo suficiente para que o Eng. Sócrates entendesse, é a hora do entendimento. Assim, poderão estar na calha alguns “ajustamentos” que pretendem esvaziar o balão da contestação, tal como no “esclarecimento” divulgado sobre o Estatuto do Aluno. Estou em crer que as questões centrais, do meu ponto de vista, que enquadram a avaliação de professores não mudarão. Estas questões prendem-se com o modelo escolhido, centralizado e pouco competente na organização, o modelo de carreira docente que foi institucionalizado e o modelo de gestão das escolas em vigor que impedirá, por falta de autonomia responsabilizada e profissionalizada, que as escolas assumam, com base em princípios definidos centralmente, apenas princípios, a avaliação dos seus professores.
Assim, creio, com mais ou menos cosmética, o ambiente poderá eventualmente serenar-se, mas as questões de fundo permanecerão em aberto.

ELES JÁ ANDAM AÍ


Com crise, sem crise, com avaliação de professores, sem avaliação de professores, com a Dra. Ferreira Leite calada ou com a Dra. Ferreira Leite a falar, aí está o final de Novembro e o ataque publicitário a anunciar o Natal. Não falha e os mais pequenos são, naturalmente, o alvo prioritário deste ataque. Sabemos que existe o Programa Media Smart a ajudar os miúdos a consumir publicidade, mas dificilmente se combate tal avalanche. Não sei se já aparece há muito tempo, mas hoje vi um anúncio televisivo que me deixou arrepiado. Trata-se de um jogo para Playstation chamado “Call of duty – The world at war” e as imagens que passaram são de uma violência assustadora, uma das frases chave que ouvi é qualquer coisa como “somos inimigos, se eu morrer, vou levar-te comigo” dita, pareceu-me, por uma personagem deitada no chão com os olhos a revolverem-se em agonia. Inenarrável. Como calculam, não defendo censura, defendo, valores, ética e um mínimo de bom senso. O que os putos hoje menos precisam é de um estímulo como este “Call of duty – the world at war” ao pé do qual, o anúncio seguinte, certamente por coincidência um jogo para Playstation sobre Wrestling, parecia um simpático “Jogo da Glória”.

domingo, 16 de novembro de 2008

AGRADECIMENTO

Nos tempos que correm não é fácil manter o optimismo. Eu próprio, neste espaço, tenho um discurso que, por vezes, não parece animador. Hoje, no entanto, quero partilhar convosco uma daquelas coisas que nos faz ficar de bem com o mundo. Estava no meu Alentejo e passei os olhos pelo Diário do Sul. Vejam só este anúncio nele inserto.

Agradecimento
O senhor José Pedro Batalha Carriço, natural e residente em Redondo, é merecedor deste público agradecimento porque após ter encontrado uma carteira na estrada de Estremoz-Redondo, à entrada da Aldeia da Serra, a entregou no Posto da GNR de Redondo.
Essa carteira continha todos os meus documentos tais como: carta de condução, B. Identidade, cartão de crédito, da ADM, do SNS e outros, e ainda alguns valores.
Bem-haja senhor Carriço.

A. Menino

É das coisas mais bonitas que vi nos últimos tempos. Talvez o mundo, nas mãos de pessoas como o Sr. Carriço, ainda tenha conserto.
Bem-haja Sr. Carriço.

sábado, 15 de novembro de 2008

ESTÁ FRIO, ESTÁ QUENTE

Está frio no meu Alentejo, está quente aqui perto do lume de chão do meu Alentejo.
Estão frias as notícias que chegaram, está quente a “Elegia” de Paolo Conte.
Está fria a desesperança, está quente a vontade ficar quieto, a ouvir.
Está fria a vida de muita gente, está quente a vontade da gente ter outra vida.
Está frio o esquecimento, está quente a lembrança.
Está fria a ignorância, está quente o conhecer.
Está fria a indiferença, está quente o escutar.
Está frio o não, está quente o sim.
Está frio o depois, está quente o agora.
Está fria a solidão, está quente a companhia.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A SITUAÇÃO TENDE PARA A NORMALIDADE

Senhora Ministra da Educação e respectiva Equipa, Senhores Professores, Senhores Alunos, Senhores Pais e demais Senhores Interessados, o Presidente da República, depois de ter verificado que a situação na Assembleia Legislativa da Madeira tende para a normalidade, ou seja, continua a falta de cultura democrática, o abuso de poder e o atropelo a básicos princípios de convivência política, vem agora dirigir-vos um apelo à serenidade e a um esforço de desanuviamento.
Tomai atenção à prática da Madeira e tentem que a situação tenda para a normalidade. Tendes que ser serenos. A Senhora Ministra não pode insultar a inteligência e a integridade ética de milhares de professores acusando-os de serem manipulados e de não querem ser avaliados. A Senhora Ministra e os seus Secretários deveriam, serenamente estudar o que em matéria de avaliação se faz em muitíssimos países antes de optar por uma “coisa” completamente burocratizante, maquiavélica e incompetente. Senhores Professores, embora a criação da figura de professor titular, ainda por cima com os critérios adoptados, tenha sido a maior barbaridade política jamais cometida contra os professores e do modelo de avaliação em curso (estará?) atropelar a condição de professores, com base em injustiças, incompetências, burocracia e iniquidade, tendes de estar serenos, a Ministra tem boas intenções, a defesa da escola e dos alunos. Senhores Alunos, achais que a escola vos pesa, vos exclui, vos obriga a horas em excesso e com resultados duvidosos, tal como duvidosos são vários dos conteúdos do vosso estatuto, mas deveis manter a serenidade, a situação tenderá para a normalidade. Senhores Pais, estais preocupados com a estadia dos vossos filhos nas escolas públicas devido ao ambiente e condições de trabalho instaladas, mas tendes de estar serenos, as mudanças que nos conduzirão ao paraíso são difíceis, mas o resultado compensará. Senhores Interessados, não se inquietem com esta agitação que vos pode parecer excessiva, no fundo, espelha os agitados dias em que o mundo vive, importa que a serenidade não vos abandone, o Senhor Presidente da República está atento, e sereno.
Podemos continuar a ouvir música e a dançar que o Titanic, não afundará, nunca.

RECESSÃO? DEPENDE, TEMOS INDICADORES EM ALTA

Num dia marcado pela divulgação das previsões da OCDE admitindo a entrada em recessão dos países da zona euro, com base na revisão em baixa de vários indicadores, creio que se torna importante uma visão optimista embora, como é habito, o Governo irá apressar-se a contrariar estas previsões. Vejamos então alguns indicadores em alta.
Estará absolutamente em alta o nível de desconfiança dos professores face à PEC – Política Educativa em Curso.
A visão delirante da democracia e a atitude insultuosa informantes do discurso e prática política de Alberto João manter-se-ão em alta, tal como a sua inimputabilidade política.
Os níveis de impostos que o cidadão português paga, quando relativizados à generalidade dos salários, continuarão elevados.
Os riscos de exclusão e desprotecção social subirão previsivelmente.
Os níveis de produção da máquina de propaganda do governo continuarão em alta.
A cegueira política, mascarada de análise científica, do opinador Pacheco Pereira face a Manuela Ferreira Leite, bem como a responsabilização da imprensa pela falta de capacidade e jeito da chefe, continuarão a subir.
É também provável que aumente a admiração que o Menino Guerreiro, Santana Lopes, sente por si próprio.
A auto-percepção de genialidade por parte do Engenheiro Sócrates e do Governo, continuarão em bom nível.
É também previsível que aumente o nível e volume de disparates produzidos pelo Ministro Mário Lino.
Prevê-se que o nível de corrupção mantenha a tendência de subida.
A produção do Magalhães continuará em alta pois, ao que sabemos, países como o Nepal, as Honduras ou a China ainda não tiveram acesso ao milagre que está a transformar o mundo.
Chega. Creio que, de facto, existem razões para um tranquilo optimismo. Nem tudo está em baixa.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

DE TANTO TER, NÃO TÊM NADA

Um excelente trabalho do Público de hoje sobre as actividades de tempos livres dos miúdos em Portugal merece algumas notas.
Os dados referidos não são novos, já os comentámos aqui e sublinhamos apenas que as crianças portuguesas são as que mais usam a televisão nos tempos livres e das que menos recorrem a actividades de ar livre. Neste tipo de actividades, ar livre, é curioso referir que os maiores utilizadores são as crianças nórdicas, o que se deverá, provavelmente ao ameno e convidativo clima para actividades de ar livre.
A minha reflexão é um bocadinho mais radical, as crianças portuguesas, pura e simplesmente, não brincam. Não estou a falar das excepções, estou a falar da regra. Os miúdos levantam-se cedíssimo, acabam o último sono no banco de trás do carro do pai, ou na carrinha escolar, intoxicam-se de escola e de actividades de natureza escolar até ao fim da tarde, voltam aos bancos de trás do carro ou da carrinha, chegam tarde a casa e entre a novela, o banho, o jantar e, para muitos, algum trabalho de casa, gastam a última energia disponível antes da deita e de novo dia. Quando sozinhas, mesmo com os pais ao lado, aconchegam-se a um ecrã, este, pelo menos, não manda fazer nada. Pelo meio, muitos ainda são “convidados” a realizar actividades óptimas e que fazem um bem extraordinário ao seu desenvolvimento e os tornam montes de inteligentes e montes de criativos e montes de confiantes. Aos fins-de-semana fazem com os papás a ronda pelos centros comerciais. Os papás compram o consentimento e companhia dos miúdos com mais um jogo para a consola e, no fim, preparam-se para mais uma semana igual a todas as outras. As semanas dos putos que de tanto terem, não têm nada.

e-dream

Um dia, os miúdos terão pela frente uma banda larga onde caiba o seu projecto de vida.
Um dia, os miúdos estarão ligados a uma rede que os proteja.
Um dia, os miúdos poderão navegar sem problemas a caminho do futuro.
Um dia, os miúdos não estarão, quase que exclusivamente, acompanhados por um ecrã.
Um dia, os miúdos apenas receberão e enviarão sms com boas notícias.
Um dia, conseguiremos que a felicidade não seja, para muitos miúdos, apenas realidade virtual.
Um dia, os miúdos poderão realizar downloads e uploads de afecto.
Um dia, haverá um GPS capaz de evitar que algum miúdo se perca.
Um dia, o mundo terá um ambiente mais amigável para os miúdos.
Um dia, os miúdos terão um anti-vírus eficaz no combate ao conhecido vírus “maus-tratos”.
Um dia, não teremos conflitos de software, os programas de apoio aos miúdos serão compatíveis com as suas necessidades.
Um dia, o bem-estar será portátil e acessível, qualquer miúdo o pode usar.
Um dia, não precisaremos de bater sempre na mesma tecla, lembrem-se dos miúdos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A ANORMALIDADE DA NORMALIZAÇÃO

No meio de todos os enormes problemas que conhecemos, a referência a esta questão pode parecer inoportuna ou desproporcionada, ainda assim corro o risco. A Comissão Europeia deixou cair a exigência de calibragem para 26 produtos frutícolas e hortícolas. Admite ainda que os estados possam, por decisão própria, estender a outros 10 esta decisão. A minha apreciação tem a ver com o facto de achar quase de lesa natura a exigência de normalização fundamentalista que vigorava. Nunca percebi a razão porque umas belas e saborosas laranjas algarvias não podiam ser comercializadas por não corresponderem ao calibre, à norma, e era obrigado a consumir uma fruta sem sabor, deslavada, de estufa mas com o calibre certo. Claro que já se instalou a discussão sobre o impacto que esta medida pode ter nos preços. Uns dizem que baixarão, outros, como a Confederação dos Agricultores de Portugal, sustentam que não. A ver vamos.
Inclinando-me a antecipar o que se tem passado com os combustíveis, ou seja, o preço no consumidor não tem uma relação directa com a produção e distribuição. No entanto, para alguém, como eu, que não simpatiza com esforços de “normalização” disparatados, gosto da ideia de acabar com a calibragem. Como vêem, não é mesmo nada de importante.

CONVITE

(Foto de Cris)

Um banco de jardim é, creio, para além e mais do que o próprio jardim, um bem de primeira necessidade.
Um banco de jardim é um convite irrecusável ao parar. Um banco de jardim é um convite irrecusável ao observar. Um banco de jardim é um convite irrecusável ao pensar. Um banco de jardim é um convite irrecusável ao conversar. Um banco de jardim é um convite irrecusável ao enamorar. Um banco de jardim é um convite irrecusável.
Lamentavelmente, apenas os velhos, alguns, aceitam o convite.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

CONTORCIONISMO

Como já aqui afirmei, depois da manifestação de 8 de Março em que Sindicatos e Governo perderam o controle sobre o sentir dos professores, o que imediatamente motivou um acordo, o famoso “memorando de entendimento” que não sendo coisa alguma, serviu na altura, no fundo adiou o descontentamento, para aquietar a classe.
Naturalmente que não sendo o Memorando coisa alguma, era só uma questão de tempo comprovar a incompetência e inoperacionalidade do modelo de avaliação desenhado pelo ME. Tal constatação origina nova e mais “ruidosa” manifestação dos professores. Entalados, os Sindicatos vêem agora, renegar o Memorando. Tarde piaste, diz-se na minha terra. Pensam assim retomar a liderança da classe. O Governo, aflito, porque é muito voto, vem logo dizer que afinal, a avaliação de professores só vai ter impacto na sua carreira daqui a quatro anos, o que é, no mínimo, extraordinário e não se entende.
Lateralmente, o guardião das consciências da esquerda, o poeta e deputado Manuel Alegre, reage aos “tiques autoritários” e “falta de cultura democrática” da Ministra. Provavelmente esqueceu-se que a responsabilidade é do Engenheiro Sócrates, em política, como na vida, é assim. Vamos a ver se corrige a apreciação.

PS – O Presidente da República entende que a situação na Assembleia Legislativa na Madeira desencadeada pela cena do deputado do PND tende para a normalidade. Depois de tudo o que vimos e ouvimos, “tende para normalidade”? No fim, tudo na Madeira tende para a normalidade, cá também. É uma triste normalidade.

HISTÓRIA DO HOMEM QUE NINGUÉM ESPERAVA

Nasceu sem que a família o esperasse. Mesmo depois dele nascer, a família não aprendeu a esperá-lo. Ele desesperava a esperar. Apenas não esperava os tratos, maus, que lhe deram. Não percebia porquê.
Quando chegou à escola, ninguém estava à espera dele. Depois dele entrar, também não aprenderam a esperá-lo. Rapidamente aprendeu a esperar pela saída. Ficava sozinho, ninguém o esperava, ele não esperava ninguém, mas não tinha os destratos que lhe davam na escola.
Quando chegou a grande, os grandes não esperavam por ele e não aprenderam a esperá-lo. Como nunca ninguém alguma vez esperou por ele, ele, naturalmente, desesperou de esperar por alguém, por isso vivia só. A rua foi o abrigo.
Velho, na rua, foi-se apagando de mansinho. Quando pela última vez se fecharam os seus olhos, alguém disse, “morreu mais um mal amado”.
Pela primeira, única e última vez e quando já não esperava, deram-lhe um nome, Mal Amado.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

TENHO QUE TOMAR QUALQUER COISA

Um estudo desenvolvido pela Escola Superior de Saúde de Viseu vem dizer que a maioria dos estudantes universitários inquiridos, 52,4%, realiza auto-medicação, ou seja, toma medicamentos sem orientação médica. Em primeiro lugar, deve dizer-se que os resultados, apesar de não os conhecermos na totalidade, não surpreenderão uma vez que este comportamento é uma prática generalizada dos portugueses, tornando-nos num dos países mais consumidores de medicamentos. O que me parece mais relevante, é o facto de se tratar de uma população com nível de preparação bem acima da média e, ao que parece, a formação escolar e melhor nível de informação geral não serem suficientes para alterar comportamentos de risco. Isto é tanto mais curioso quando, de acordo com o estudo, são exactamente os estudantes de ciências da saúde que mais recorrem à auto-medicação.
Um outro aspecto que me parece curioso remete para eventuais causas deste consumo excessivo. Referem os autores que poderão ligar-se a estilos de vida, stress, esforço intelectual devido à actividade académica e a uma “activa” vida nocturna. Não entendi muito bem se estas causas foram referidas pelos inquiridos, se são sugeridas pelos autores do estudo, embora a referência no Público direccione para esta última. Em todo o caso, parece-me arriscado sugerir que o excesso de consumo de medicamentos por parte de estudantes universitários possa ser “explicado” pelo stress e esforço intelectual. Em termos gerais, haverá sempre excepções, o esforço intelectual e o trabalho actualmente exigido à esmagadora maioria dos estudantes universitários, sendo significativo, não é, de forma alguma, justificativo do recurso a medicamentos para ser enfrentado.
Continuo convencido que devemos procurar as causas na falta de informação e na cultura instalada de que, ao mínimo desconforto, tenho que tomar qualquer coisa que alivie. No fundo, trata-se do problema geral e de valores actuais sobre a forma como (não) lidamos e (não) queremos lidar com as dificuldades.

A SETORA MANDOU-ME PARA A RUA

O Manel entrou na biblioteca com cara de poucos amigos. Sentou-se a um computador, pôs os auscultadores e desapareceu a navegar. O Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros, estranhou. Não era habitual no Manel aquele comportamento, quando entrava na biblioteca dizia-lhe sempre qualquer coisa. O Velho, não querendo interrompê-lo, esperou uma oportunidade.
Então Manel tudo bem?
Não Velho, tudo mal, vim para a rua, tive uma falta disciplinar.
Porquê?
Disse uma asneira, a Maria, sabes quem é, picou-me por baixo da mesa, eu não estava à espera e saiu-me uma asneira, das grandes.
E então?
Então a Setora pôs-me na rua, mas não está certo, não é justo. Eu, às vezes, faço algumas coisas, mas é poucas vezes, e o Xico que está sempre a portar-se mal, quando me ouviu, também disse asneiras e a setora só me mandou a mim para a rua.
Olha lá Manel, tu querias vir para a rua?
Não, só desta vez é que me distraí, quase sempre me porto bem.
E o Xico queria vir para a rua contigo?
Queria Velho. O Xico nas outras aulas começa logo a portar-se mal para os Setores o porem na rua que é o que ele quer.
Está explicado. A professora sabe que tu, normalmente, te portas bem, hoje pisaste o risco, ela acha que deve castigar-te e como tu não queres vir para a rua, ela manda-te, esperando que não voltes a fazer o que fizeste. Mas ela também sabe que o Xico quer vir para a rua e então faz coisas de propósito para que os professores o mandem sair e ele ficar contente, porque, para ele, vir para a rua não é um castigo. Por isso, a professora te castiga a ti mandando-te para a rua e castiga o Xico obrigando-o a ficar na sala. Entendes Manel?
Assim entendo Velho, mas acho que para mim ou para o Xico, vir para a rua não adianta muito. Deviam falar com a gente, como tu fazes, Velho.

domingo, 9 de novembro de 2008

QUE CHATOS, OS PROFESSORES, OS SINDICATOS, OS PARTIDOS, BOLAS!

Ainda uma nota sobre a manifestação de ontem. É que faltava a opinião do Primeiro-ministro. Ao fim deste tempo de legislatura, o Eng. Sócrates, lamentavelmente, tornou-se completamente previsível. Assim tivemos a habitual postura assente em meia dúzia de princípios dos quais relevam:
. A forma como o Engenheiro e o governo analisam e decidem os problemas da sociedade portuguesa não é uma forma é A forma. Tudo o resto são “ausência de alternativas” e gente que não quer mudar.
. O que o Engenheiro e o Governo decidem, estando obviamente certo, princípio acima, é de tal maneira inteligente e sofisticado que muitos cidadãos não entendem o seu alcance. Esta ideia já ontem tinha informado a reacção da ministra ao afirmar que, sendo a avaliação tão simples, os professores e as escolas é que complicam e “não se sabem organizar”.
. É evidente que como democrata afirmado, o Engenheiro tem que defender a existência e tolerar partidos, sindicatos e outras formas de organização política e cívica, mas estes que temos são demais, à excepção do PS, nunca apoiam nada, estão sempre contra. Um dia destes, o Engenheiro perde a paciência, no fundo, ele acha que o Alberto João é que tem razão.
. O Engenheiro acredita que o mundo, por vezes e à revelia dos conselhos de Santos Silva, acorda só para o arreliar. Como é que 120 000 ingratos, apenas 85% de uma classe profissional pequena como é o caso dos professores, não entendem a missão em defesa da escola pública que a Senhora Ministra empreendeu.

GOVERNO E SINDICATOS OUTRA VEZ ULTRAPASSADOS PELOS PROFESSORES

Talvez esta nota não seja politicamente muito correcta. Na altura da manifestação de 8 de Março, achei que o Ministério e os sindicatos tinham perdido o controlo dos sentimentos e reacções dos professores. Por isso, assustados, rapidamente trataram de assinar o memorando que lhes salvou a face mas que, do meu ponto de vista, traiu o sentir de milhares de professores.
A assinatura do memorando forneceu ao Governo este importante argumento agora tão usado, “então a plataforma sindical assinou e agora não quer cumprir”. A opinião pública não vai entender facilmente.
A manifestação de ontem, resultante de entendimentos entre estruturas sindicais e movimentos menos organizados trouxe ainda mais gente para a rua. Mais uma vez, os sindicatos correm o risco de perder o controlo. Por isso, apanham boleia, agora sim, no descontentamento dos professores, desde sempre justo e portanto não susceptível de “memorandos de entendimento” estratégicos e oportunos, e tentam desesperadamente assumir a liderança de um movimento que lhes escapou.
A manifestação de ontem, contando, é certo, com o apoio logístico e organizativo dos aparelhos sindicais, pode representar o princípio do fim de um modelo de organização e papel do movimento sindical junto dos professores, tal como o conhecemos. A ver vamos.

sábado, 8 de novembro de 2008

NA RUA DE NOVO

Algumas notas, inevitáveis, em dia de manifestação de professores.
1 – Como sempre se diz, não se pode governar a partir da rua. No entanto, é também verdade que não se pode esquecer a rua. A realidade não é, como sempre digo, a projecção dos desejos dos políticos. Outra vez mais de 100 000 professores na rua, é demasiada rua.
2 – A Ministra, com um doutoramento em marketing político, fornecido pela máquina da propaganda no âmbito do Programa Novas Oportunidades, ganhou, por enquanto, a opinião pública e, sobretudo, a opinião publicada. A conferência de imprensa e a presença no jornal da RTP1 foi um excelente exemplo de manhosice política.
3 – A Ministra convence a opinião pública de que os professores não querem ser avaliados.
4 – Os professores não convencem a opinião pública, e a opinião publicada está contra si, de que querem ser avaliados.
5 – A luta dos professores, para além da rua, tem que ser nas escolas junto dos alunos e, sobretudo, dos pais.
6 – Insultos e mau gosto nas palavras de ordem não credibilizam e apoiam as posições dos professores. Afinal, são educadores.
7 – A Ministra não vai, obviamente, conseguir levar a água ao seu moinho. Como afirmou na RTP1 os professores “não entendem a mudança”, são gente que se intimida, é manipulável, são incapazes de se organizar adequadamente nas escolas, etc. A hipótese, consta, é mudar de professores. Virão, ao que se ouve, do Chile.
8 – Falar sem teleponto tem riscos. A Ministra, na conferência de imprensa da tarde, concluiu que as leis são para cumprir, “até por mim”, disse. É notável, de repente a Senhora Ministra descobriu que era gente, até tem que cumprir leis. Extraordinário, revelador mas não surpreendente.
9 – A PEC – Política Educativa em Curso, produziu o milagre assombroso de colocar o sistema (as escolas) à beira da implosão, sentida por TODOS os que conhecem as escolas e, simultaneamente, montar um discurso para convencer a opinião pública de que tudo, mas mesmo tudo, está bem. As notas sobem, os problemas são residuais e irrelevantes e, além disso, criados por uma imprensa hostil, qualificações para todos e em catadupa, acção social perfeita (quase), escola inclusiva (o que quer que isto seja) prometida para 2013, pessoal auxiliar suficiente, aliás, até em excesso nalguns agrupamentos, etc., etc., etc.
É mau, muito mau.

QUARTO DE HOTEL

Hoje, contrariamente ao que é hábito, não estou no meu Alentejo. A vida profissional trouxe-me até Barcelos. Pelo hábito e pelo gosto não podia deixar de vir aqui ao canto da atenta inquietude.
Estou num quarto de hotel normalíssimo e os quartos de hotel sempre me despertam uma sensação estranha. Por um lado, ficamos com o vago sentimento de que já ali estivemos, são todos parecidos na sua essência. Por outro lado, são todos estranhos, neles não cabe o nosso mundo. Esta sensação deixa a paradoxal ideia de que estamos fora do mundo sem verdadeiramente dele sairmos.
Em tempos tão feios e tão complicados como os que atravessamos, viver num quarto de hotel talvez fosse uma ajuda.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A BOA E AS MÁS NOTÍCIAS

Deixem-me começar pela boa notícia. O Banco Central Europeu decidiu baixar as taxas de juro de referência para os empréstimos o que tem tradução directa no custo do crédito. Porreiro, já podemos voltar a endividar-nos acima das nossas posses, pagamos menos.
As más notícias. Mais uma tragédia rodoviária em Espanha com portugueses envolvidos. Porque se estará que estamos perante este trágico destino de gente da nossa terra escolher o fora para trabalhar e o fora para morrer?
Continua o inaceitável e vergonhoso processo na Madeira envolvendo o deputado do PND e que atropela as mais elementares regras legais e éticas. Não serve de desculpa a habitual atitude, “é na Madeira, nem vale a pena ligar”. Estou com curiosidade de ouvir o Sr. Silva, o Presidente da República.
Continua a descobrir-se como a Câmara de Lisboa tem sido gerida. Depois das casas, sabe-se agora que muitos dos juristas ao seu serviço acumulam actividades de forma ilegal e com conhecimento de sucessivas administrações autárquicas. O Portugal dos pequeninos no seu melhor.
Em mais um fortíssimo e cada vez mais recorrente episódio de ligação da escola com a comunidade e da participação dos pais na vida escolar, um encarregado de educação entrou numa escola do Monte da Caparica e agrediu o professor do filho. Não era necessária tanta ligação e envolvimento.
Curiosidade. Sabe-se hoje a sentença da luso-carioca Fátima Felgueiras, aceitam-se apostas.

ESTAVA ESCRITO NAS ESTRELAS

Santana Lopes, o sempre em pé, o menino guerreiro aí está, candidata-se e quer dois mandatos na presidência da Câmara de Lisboa. Esta situação, a verificar-se, mostra, é só mais uma, como estamos no grau zero da política séria e sem padrões éticos já não digo elevados, pelo menos, existentes. Como é possível que a Dra. Manuela Ferreira Leite se decida por esta candidatura? Não posso acreditar que seja por medo e para manter o menino guerreiro sob controlo. Se for por aí ,vai ter que arranjar uma boa mão cheia de colocações para comprar silêncios e poupar críticas. Do ponto de vista do candidato, entendo, o homem não sabe fazer rigorosamente nada a não ser fingir que é um político, seja lá isso o que for. Desculpem-me, na sua brilhante carreira como jurista é capaz de fazer uns pareceres encomendados por amigos bem colocados em autarquias.
Diz ele que os adversários já estão nervosos com a hipótese de o defrontarem. Pudera, até eu que não sou eleitor em Lisboa fico nervoso de imaginar esta figura a presidir, de novo, aos destinos da Câmara.

A HISTÓRIA DO NÃOÉCAPAZ

Uma vez, numa terra igual a todas as terras, nasceu um rapaz ao qual, sem se perceber muito bem porquê e quem, começaram a chamar Nãoécapaz, um nome um bocado estranho.
De mansinho, sem quase se darem conta, as pessoas foram-se habituando a olhar para ele assim, Nãoécapaz. É verdade que o miúdo, na altura em que era miúdo, fazia imensas coisas e não fazia muitas outras. Claro, pensavam as pessoas sobre o que ele não fazia, Nãoécapaz.
O tempo da escola foi um tempo duro porque ao Nãoécapaz ninguém se preocupava a ensinar muita coisa pois, como é evidente, aprender é impossível para o Nãoécapaz. Acabou por sair da escola por uma porta pequenina, por onde saem os miúdos da mochila vazia.
Na vida adulta a entrada também foi discreta, própria de alguém a quem as pessoas chamam Nãoécapaz. A custo encontrou um trabalho desqualificado que ninguém aceitou e lhe permitiu ir sobrevivendo. Nenhuma pessoa se interessou por ele o suficiente para querer viver a vida ao seu lado. Entende-se, não é fácil encontrar alguém que se aproxime de um homem a quem chamam Nãoécapaz.
E assim foi toda a vida do Nãoécapaz, uma pessoa de quem nada se esperou e a quem nada se pediu. Quando morreu, foi preciso saber o seu verdadeiro nome. Afinal, chamava-se Pessoa, o homem a quem toda a gente, toda a vida, chamou Nãoécapaz.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

LIGAÇÃO ESCOLA-MEIO

Num esforço de cumprimento de orientações curriculares e pedagógicas de há muito enunciadas, esta semana educativa está a ser e vai ser marcada por iniciativas de aproximação entre a escola e a comunidade. De facto, para além de termos os alunos do Secundário fora das escolas, em protesto, também se verificará a saída de milhares de professores dos respectivos estabelecimentos de ensino para a participação num desfile pela comunidade. Finalmente, parece estarmos no bom caminho da tão desejada ligação escola-meio.

NÃO HÁ SACO

A Madeira é uma terra de peculiaridades. Tem um Alberto João, democraticamente eleito há dezenas de anos para a chefia do Governo Regional, que chama doente mental ao Primeiro-ministro, designa o presidente da República por Sr. Silva, diz em comícios que os eleitores devem pensar bem em quem votam porque ele, o Chefe, não pode dar dinheiro e recursos a quem não o apoia e insulta de diferentes formas qualquer pessoa que não pertença ao seu círculo político. A Madeira tem a laurissilva, um bio-sistema único, lindíssimo e em risco. A Madeira tem uma rapaziada como o Jaime Ramos que lidera um eficaz sistema de administração de interesses pessoais e comerciais à sombra do poder político e que é um paradigma de a “voz do dono”. A Madeira tem a praia do Porto Santo, uma das mais bonitas praias do mundo. A Madeira tem agora um criativo deputado do PND, José Coelho, que para sublinhar a sua apreciação do comportamento fascista de Jaime Ramos e de deputados do PSD mostrou uma bandeira nazi no Parlamento Regional. A sessão foi suspensa, o deputado está impedido de entrar e está tudo muito ofendido. Com razão, não vale tudo.
Só não percebo a razão pela qual não se sentem ofendidos com dezenas de episódios igualmente ofensivos já passados naquele Parlamento e protagonizados, por exemplo, por Jaime Ramos, o homem de quem no Chão da Ribeira, a copofónica festa do Alberto João, se espera que faça o discurso sujo do insulto e da ofensa.
Não há saco.

O MISTÉRIO DOS TROPEÇÕES

No mundo dos miúdos e dos graúdos e das relações que estabelecem entre si, acontecem situações que, por vezes, me parecem inexplicáveis. Na tentativa de encontrar junto de vós ajuda para entender tais situações, apresento-vos uma delas. Quando em nossas casas, nos contextos familiares, os miúdos pequenos mostram e fazem as suas tentativas de se desenvolverem, por exemplo quando estão a aprender a andar ou falar, observam-se alguns tropeções e embaraços com os sons e palavras. De uma forma geral, os adultos por perto brincam e riem-se com estes incidentes, os miúdos também, e, tranquilamente, continuam a tentar fazer melhor o que, obviamente, acabam por conseguir. Tudo bem. Uns tempinhos mais tarde, os miúdos vão para a escola e começam a aprender as coisas que a escola tem guardadas para lhes ensinar, por exemplo, a ler e a escrever. Como é de prever, as tentativas dos miúdos para ler e escrever não resultam logo, verificam-se alguns enganos e tropeções. É aqui que justamente surge o mistério. É que, contrariamente à situação anterior, muitos dos adultos da escola não brincam e não riem com os miúdos a propósito destes enganos e tropeções. Põem um ar muito sério e sublinham “está errado”. Existem miúdos que se assustam quando, repetidamente, lhes dizem de cara séria, “erraste”. Devagarinho, deixam de querer experimentar fazer, não querem correr o risco de “errar”. Não experimentando, não vão aprender, passam a preguiçosos e desmotivados. Alguns até acedem ao estatuto de alunos com dificuldades.
Têm alguma explicação que me ajude a entender esta diferença de atitudes?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

ÓRFÃOS

Para além das não totalmente antecipadas consequências da eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA, quer para a própria América, quer para o resto do mundo e Portugal em particular, não posso deixar de me referir e solidarizar com uma imediata consequência, a situação pessoal difícil que José Manuel Fernandes, director do Público, e Pacheco Pereira, o opinante global, atravessam. De facto, a devastadora tragédia política que para estes faróis da opinião publicada representa o desaparecimento de cena de George Bush é irreparável. Eles, capazes de defender a política de Bush melhor do que o próprio, vão experimentar o terrível peso da orfandade. Nos termos legais, pode tentar-se um processo de adopção, ainda estão em idade ajustada, ou uma família de acolhimento. Talvez o instinto maternal de Sarah Palin possa ser uma esperança. Esperemos que a coisa lhes corra bem.

AS MODESTAS REFORMAS DA BANCA

Depois do caso de Paulo Teixeira Pinto no BCP, agora Miguel Cadilhe no BPN. Ao que se sabe e vai sabendo, os problemas de gestão do BPN vêm de longe. É certo que a supervisão pelas estruturas do Banco de Portugal não terá funcionado. O Dr. Vítor Constâncio, naquele jeito manso de falar sem dizer nada, irá produzindo explicações não explicativas e o estado, com o nosso dinheiro, intervém para salvar o banco. Há uns meses atrás a estrutura de accionistas tentou que uma nova equipa de administradores, liderada pelo Dr. Miguel Cadilhe, procurasse recuperar o banco. O plano apresentado não terá merecido acolhimento, seguindo-se a recente “nacionalização” como forma de proteger os interesses de accionistas e depositantes/clientes. Onde o plano de recuperação do Dr. Miguel Cadilhe não falhou foi na protecção dos seus interesses pessoais. O Sr. Dr. fez bem. Entrando para a administração do BPN ficava em causa o recebimento da sua miserável reforma do BCP, outro modelo de virtudes na nossa banca, pelo que tratou de exigir a atribuição de uma modesta PPR no valor de uns irrelevantes 10 milhões de euros. O Sr. Dr. também já explicou que a “nacionalização” do BPN não põe em causa a pensão a que “tem direito”. Não tem problema, se for preciso mais qualquer coisinha podem utilizar o nosso dinheiro para proteger os interesses de quem, coitado, corre o risco de ser prejudicado. Como diz o povo “quem parte e reparte, se não fica com a melhor parte, ou é tolo, ou não tem arte”. Estes tipos são uns artistas.

ESCADAS PARA O MUNDO

(Foto de Adriane)

O mundo sempre esteve escondido no cimo de escadas. Subi tantas escadas, quantos mundos conheci. Já não sinto força para voltar a subir. Que mundo estará guardado no cimo destas? Será o mais bonito? Será o último?

terça-feira, 4 de novembro de 2008

TEMPOS MODERNOS

Não, não se trata de nenhuma referência ao mítico filme de Chaplin. Trata-se apenas de registar duas referências que mostram como Portugal começa, finalmente, a entrar nos caminhos da modernidade.
Primeira referência. Segundo dados do INE, perto de 50% dos lares portugueses têm computador e cerca de 46 % destes têm acesso à net. Se juntarmos a estes dados o resultado do plano Magalhães vejam como mais um milagre está realizado.
Segunda referência. De acordo com o JN, abre na cidade da Guarda o seu primeiro grande centro comercial. Finalmente, as pessoas da Guarda começam a notar os efeitos de modernização e combate à interioridade. Passam a ter esta catedral do consumo bem pertinho do seu centro histórico e acesso a tudo o que um bom e grande centro comercial pode oferecer em termos de qualidade vida. Pena aparecer em tempos de crise acentuada. Melhores tempos virão.

O MEU AMIGO ANTÓNIO É UM POETA

Neste sábado, na feira dos Santos que se realiza no Alvito, encontrei-me com um amigo lá do meu Alentejo, mais precisamente de Vila Nova da Baronia, com quem me tenho cruzado em diferentes esquinas. Já com as amêndoas, as nozes, o queijo e o presunto comprados ficámos um bocado nas lérias. O meu amigo António é um homem bem disposto, com uma atitude positiva face à vida, encarando-a tal como ela acontece e, sempre que possível, com um sorriso. Por isso, estranha a forma complicada como muitas pessoas se organizam. Diz ele que há pessoas que, quando está calor, ligam o ar condicionado do carro até terem frio e, em seguida, pagam para ir transpirar para um ginásio. Quando está calor é para se ter calor e quando está frio é para se ter frio, diz o meu amigo António. Aprendeu a ver assim a vida com o pai, trabalhador no campo alentejano que, criando oito filhos e trabalhando de sol a sol, à noite cantava umas modas e dizia uma lérias para os filhos se rirem, pois é muito importante que a gente se ria, tenha a barriga cheia ou a barriga vazia.
O meu amigo é um poeta que, seguramente, foi um puto feliz, umas vezes de barriga mais cheia, outras vezes de barriga mais vazia. Por isso é um homem bom.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

DE PORTUGAL, PARA A UCRÂNIA E CABO VERDE COM AFECTO

Não gostei, confesso que não gostei. Como é óbvio, o facto de eu não gostar de algo não é significativo para ninguém a não ser para mim, mas ainda assim devo dizer que não gostei. A Dra. Ferreira Leite em entrevista ao DN/TSF questiona a oportunidade do avanço das grandes obras públicas previstas. Parece-me razoável que se discutam. É também sabido, do patronato de Bruxelas veio essa indicação através de Durão Barroso, que a defesa das obras públicas em tempos de maior dificuldade é muitas vezes associada à manutenção ou promoção do emprego, dito de outra forma, podem ser um modo de combater o desemprego. O argumento pode ser discutível, agora a Dra. Ferreira Leite afirmar que as obras públicas em Portugal podem combater o desemprego, mas na Ucrânia ou em Cabo Verde parece-me, no mínimo, estranho. De uma pessoa que quer ser entendida como uma imprescindível alternativa séria para a chefia de um governo, não pode aceitar-se um deslize deste tipo. Estarei, eventualmente, a exagerar, mas creio que não. Não pode valer tudo, não podemos utilizar o primeiro argumento que nos passe pela cabeça, mesmo que estejamos certos na apreciação. A uma potencial chefe de governo exige-se ainda mais ponderação e nível de análise das grandes questões. Por isso, afirmar que obras em Portugal são boas é para a Ucrânia e Cabo Verde é inaceitável.

AO DEUS DARÁ

Nos meus tempos de miúdo escutava com alguma frequência uma frase que actualmente, de quando em vez, me vem à memória. Estou a referir-me à expressão “ao Deus dará”. Embora não constituíssemos uma família de fortes convicções religiosas, esta expressão era empregue lá em casa quando alguém, por qualquer razão, ficava em situação vulnerável ou fragilizada, entregue a si mesmo, sem ninguém por perto que pudesse ajudar ou apoiar.
Hoje em dia e com origem em múltiplas razões, por exemplo, económicas, sociais e culturais, mudanças nos sistemas de valores, circunstâncias pessoais, etc., parece que cada vez mais gente anda por aí “ao Deus dará”.
A questão que mais me preocupa é que, sem querer ferir eventuais sensibilidades, não acredito que “Deus dê”. Por isso, ou assumimos de vez a importância de conjugar desenvolvimento económico com políticas sociais, a importância de conjugar prosperidade e realização individual com a retoma de valores de solidariedade e entreajuda comunitária, a importância de conjugar globalização com pessoas, ou corremos o sério risco de cada vez mais gente andar “ao Deus dará” sem esperança, sem sonho, sem vida.

domingo, 2 de novembro de 2008

VEJAM LÁ, VEJAM LÁ

A rapaziada das forças armadas anda alvoroçada. Ao que parece, a rapaziada do governo não os tem tratado muito bem. Estranho, deve ser o único grupo que se sente destratado. É claro que os diferentes grupos têm formas de manifestar o seu descontentamento que estão vedadas aos militares, por exemplo, a greve. É certo que os militares, entre outras regalias, têm acesso a serviços de saúde em condições que a generalidade dos cidadãos não têm. Será verdade, estou certo, que terão objectivamente razões para descontentamento. Mas o que me parece extraordinário é o discurso, a este propósito produzido pelo mediático General Loureiro dos Santos, conhecido especialista em tudo quanto envolva armas, geo-estratégia, política internacional, conflitos de toda a espécie, locais, regionais ou pan-regionais, etc. Ao mesmo nível só mesmo Nuno Rogeiro.
Pois foi o General o escolhido pela corporação para avisos do tipo, ou vocês, Governo, entram na linha, ou a gente, militares, não respondemos por nós. Tudo pode acontecer, desde um acto isolado que sai da cabeça desvairada de um militar desorientado, passando por um acto de um grupo que, por exemplo numa missão internacional, se porte mal e envergonhe o país ou, limite dos limites, não se esqueçam que quem já fez uma revolução faz duas. Assim é que é, como sempre ouvi dizer, “não se brinca com a tropa”.
Do mesmo nível, só as declarações “criminosas” de um energúmeno chamado Augusto Morais, presidente da Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas que ameaçou pedir aos seus associados para que não renovem os contratos a prazo dos respectivos trabalhadores, se o salário mínimo for aumentado 24 €, compromisso que ele próprio tinha assumido em sede de Concertação Social.
A propósito, também não estou nada satisfeito com algumas políticas sectoriais. Senhores do governo, não se esqueçam que tenho uma fisga e uma senhora, antes chamada empregada e agora colaboradora, que ajuda na lida cá em casa. Vejam lá, vejam lá.

sábado, 1 de novembro de 2008

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO

Em sondagem realizada para o Expresso, SIC e Rádio Renascença os lisboetas manifestam a opinião de que o menino guerreiro, a incontornável e mítica enguia, Santana Lopes, não é o melhor candidato do PSD à Câmara de Lisboa. Aqui andará mão das elites que não entendem o coração e a mente das bases, essas que são o verdadeiro PSD-PPD, dirá o malabarista no seu habitual e esgotado discurso de vítima. È certo que o nome mais votado, Pedro Passos Coelho, é um rapaz que desde o infantário cresceu dentro da JSD e, depois, nas estruturas do partido para adultos e que, por isso, não percebo como é aparece associado à mudança. Enfim, impera o bom senso de Santana Lopes não.
Bom, a ameaça Santana parece em vias de ficar arrumada, só falta agora que os contentores não fiquem em Alcântara. Mas isso fia mais fino, Jorge Coelho e a Mota-Engil pesam muito.
PS - Vejam a estranheza desta notícia, "depois de duras negociações, movimentos de professores e Plataforma Sindical entendem-se sobre manifestação única". O ME estará a rir-se das duras negociações "entre professores". No fundo, como com a criação da aberrante figura do professor titular, é preciso dividir os professores e as guerras entre eles são "positivas".

OS NÓS E OS LAÇOS

(Foto de JCST)

Um dia, em vez de uma vida de nós, vamos ter uma vida de laços. Os laços de nós.