AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

AO DEUS DARÁ

Nos meus tempos de miúdo escutava com alguma frequência uma frase que actualmente, de quando em vez, me vem à memória. Estou a referir-me à expressão “ao Deus dará”. Embora não constituíssemos uma família de fortes convicções religiosas, esta expressão era empregue lá em casa quando alguém, por qualquer razão, ficava em situação vulnerável ou fragilizada, entregue a si mesmo, sem ninguém por perto que pudesse ajudar ou apoiar.
Hoje em dia e com origem em múltiplas razões, por exemplo, económicas, sociais e culturais, mudanças nos sistemas de valores, circunstâncias pessoais, etc., parece que cada vez mais gente anda por aí “ao Deus dará”.
A questão que mais me preocupa é que, sem querer ferir eventuais sensibilidades, não acredito que “Deus dê”. Por isso, ou assumimos de vez a importância de conjugar desenvolvimento económico com políticas sociais, a importância de conjugar prosperidade e realização individual com a retoma de valores de solidariedade e entreajuda comunitária, a importância de conjugar globalização com pessoas, ou corremos o sério risco de cada vez mais gente andar “ao Deus dará” sem esperança, sem sonho, sem vida.

3 comentários:

  1. ... pois...
    parece que em portugal o BPN andava 'ao Deus dará'!
    e nos EUA, parece que uma série de empresas também estava 'ao Deus dará'!
    e...
    Deus deu! - Ai não... foi o Estado!

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  2. Nãh...
    Agora com o Magalhães uma placa GPS toda a gente, a começar pelos putos da primária vão saber, de antemão qual o caminho... e melhor, com pronuncia Ucraniana: "Ná próchima rotundo é fávor virar ná direitá".

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  3. "Era uma vez um miudo chamado "ao Deus dará", que parecia sempre com um olhar vidrado. Tinha 14 anos. Todos na escola diziam que o "ao Deus dará" não era muito ligado a escola, nem parecia que queria aprender. As coisas que diziam dele era que andava por ai, quando não ia para a escola, ia para outro lugar qualquer na rua. Sem horários de chegada a casa. Uns técnicos entraram na escola e começaram a falar com os putos, também falavam com o professor Velho, aquele que fala com os livos e com os miudos.
    Quando o DT falou do caso do "ao Deus dará", o miudo foi categorizado por dificil acesso, fugia sempre desses jovens técnicos. Contudo uma das técnicas, estágiaria por sinal, começou a ver que o "ao Deus dará" começava a aproximar-se e deixar-se envolver pela brincadeira, o olhar ganhou cor e vida, e apareceram os primeiros sorrisos... dias depois andavam pela escola com a máquina fotográfica da estágiaria a tirar fotografias como verdadeiros modelos fotográgicos.
    Chegou ao final do segundo periodo, e consciencia de que o ano estava perdido, levou a que o "ao Deus dará" começa-se a faltar, tal como noutros anos. A estágiaria contactou a mãe, que por trabalho nunca apareceu, contactou o pai que apareceu algumas vezes, mas nada mudou. O "ao Deus dará" teve um acidente, partiu um braço. Quando regressou a escola, a estágiaria falou com ele, e ele muito baixinho disse que gostaria que os pais estivessem mais presentes na vida dele. Desde desse dia nunca mais viu o "ao Deus dará", contactou o pai, que deixou de atender as chamadas. O estágio acabou, e as férias começaram.
    No novo ano, soube que "ao Deus dará" estava no mesmo ano, mas não ia as aulas. Numa noite de boémia antecipada para a sua idade, o "ao Deus dará" teve um acidente de automóvel com um amigo da mesma idade. Entrou em coma e ainda não acordou."

    A estágiaria era eu.


    Quantas vezes mais é preciso estas situações ocorreram para vermos que este caminho não o melhor para os nossos putos, nem para nós pseudo adultos?

    O que fazer? Esperar que ele acorde e que as sequelas sejam minimas a nível biologico, contudo a nível psicologico essas irão-se manter por toda a vida.

    até um destes dias professor...

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