AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 31 de agosto de 2019

HORIZONTES


Um dia destes ao caminhar pelo passadiço de madeira que dá acesso à praia, à minha frente ia uma gaiata de uns quatros anos ou cinco anos que levava o pai pela mão. Como estava já perto deu para ouvir o pai a chamar a atenção da miúda, "estás a ver, a praia está mesmo boa, sem ondas". A mocinha olhou lá para cima donde vinha a voz do pai disse qualquer coisa como, "mas eu não vejo a praia".
Achei engraçado, de facto, dada a altura dela, a praia ainda não estava no seu horizonte, só os mais altos a viam. Enquanto crescemos vamos esquecendo como a “altura” molda a perspectiva do mundo.
Sendo certo que se espera dos pais, dos mais altos, que possam ir antecipando e ajudando os mais miúdos a descobrir os horizontes que só vão enxergando à medida que crescem, muitas vezes não o conseguimos fazer. Algumas vezes, nem os mais altos enxergam horizontes.
Daí, provavelmente, a falta de horizontes que muitos miúdos experimentam na vida que carregam.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

AINDA OS MANUAIS ESCOLARES


Como parece ser uma característica inalterável do nosso sistema educativo vivemos permanentemente como um ou vários problemas em agenda, tranquilidade e estabilidade serão algo de inacessível.
Por estas dias depois do “tal despacho” que desencadeou muitas, algumas bem deploráveis, intervenções nos diferentes suportes de comunicação, agora retoma-se a questão dos manuais escolares, reutilizar ou não, manuais entregues em más condições, atraso no acesso aos vouchers, sustentabilidade económica da gratuitidade, etc.
Permitam-me retomar algumas notas organizadas em quatro pontos essenciais e sem hierarquizar.
Em primeiro lugar sublinho a ideia da gratuitidade dos manuais durante a escolaridade obrigatória que é constitucionalmente gratuita.
Em segundo lugar defendo o princípio genérico da reutilização por razões de sustentabilidade e custos.
Em terceiro lugar tenho considerado que o nosso modelo de trabalho, apesar das excepções e das mudanças, ainda se pode considera excessivamente “manualizado” ou seja, assenta talvez demais em práticas pedagógicas pouco diferenciadas muito decorrentes de conteúdos curriculares eles próprios e apesar de algumas mudanças positivas geridos de forma mais prescritiva e normalizada. Seria desejável atenuar a fórmula predominante, o professor ensina com base no manual o que o aluno aprende através do manual que também os pais tendem a considerar muito importante porque tem tudo o que professor ensina. Não esqueço no entanto que variáveis como a natureza e conteúdos curriculares, o número de alunos por turma ou ainda a cultura pedagógica de décadas influenciam este cenário.
Estou convicto de que sem aligeirar o peso do manual no trabalho em sala de aula, os níveis de diferenciação necessários como forma mais robusta de resposta à diversidade dos alunos ficam comprometidos.
No entanto e apesar de continuar a assumir estes princípios julgo que a particularidade do 1º ciclo merece uma reflexão designadamente no caso da reutilização.
Há algum tempo tivemos referências na imprensa a expedientes usados pelos pais para “apagar” o rasto que os seus filhos deixaram nos manuais, a decisão da direcção do agrupamento de S. Julião da Barra de não pedir a devolução dos manuais aos alunos do 1º ciclo e o ME a “obrigar” à sua recolha, o Tribunal de Contas a entender que a não reutilização compromete as contas, sempre as contas da educação que insistem em não dar certo, etc.
A entrada na escola, no 1º ciclo, será dos poucos processos que quando correm mal já não é possível voltar atrás e recomeçar com a esperança de que a coisa vá correr melhor.
Torna-se, pois, essencial que este processo de entrada na escola seja pensado e orientado, que crie as rotinas, a adaptação e a confiança em miúdos e em pais, indispensáveis à aprendizagem bem-sucedida.
É fundamental não esquecer que os miúdos à entrada na escola não estão todos nas mesmas condições pelas mais variadas razões, ambiente e experiências familiares, percurso anterior, características individuais, etc. o que exige desde o início uma atenção diferenciada que combata a cultura de que devem ser todos tratados da mesma maneira que alguma opinião publicada e ignorante defende.
Antes de, com voluntarismo e empenho, se tentar ensinar aos miúdos as coisas da escola é preciso, como sempre afirmo, dar tempo, oportunidade e espaço para que aprendam a escola. Depois de aprenderem a escola estarão mais disponíveis para então aprender as coisas da escola.
É neste contexto que julgo que os manuais deveriam ficar com os alunos, não seriam devolvidos, podendo continuando a sua produção a permitir que sejam usados como suporte do seu trabalho sem que este entendimento, comprometa o que disse acima sobre o excesso de peso pedagógico atribuído ao manual. Acresce ainda que apesar de alguma “disciplinarização” dos conteúdos curriculares, incluindo o recurso a manuais para cada conteúdo, e a lógica de ciclo contida na LBSE, a continuidade da relação dos alunos em diferentes patamares de aprendizagem e desempenho ao longo do ciclo com o trabalho desenvolvido também aconselharão a que se mantenham os manuais que vão utilizando.
Esta manutenção terá ainda um valor de natureza menos tangível, diria afectivo, pois seriam um registo, um diário de bordo da sua aprendizagem e um instrumento de relação com o trabalho escolar.
Como é óbvio este entendimento não belisca a necessidade dor recursos a actividades e materiais diversificados num já referido modelo de diferenciação pedagógica.
Definitivamente, aos 6, 7 ou 8 anos a relação com os manuais é de natureza diferente da que estabelece em fases posteriores da escolaridade obrigatória em que a reutilização é bem mais “tranquila”, por assim dizer.
Finalmente, julgo que precisamos de caminhar, certamente é preciso algum tempo, para a construção de manais que sejam de facto “amigáveis” da reutilização considerando aspectos como material usado, dimensão ou, sobretudo, recorrendo menos à escrita ou outra forma de trabalho realizada no próprio manual.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

GOSTEI DE LER, "O OUTRO LADO DO TAL DESPACHO"


Gostei de ler no Público, “O outro lado do tal despacho” de Manuel Soares, Presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses.
(…)
Os nossos filhos e netos passarão a olhar para os colegas transgénero com mais conforto, mais naturalidade, mais tolerância; deixarão de os achincalhar e diminuir. Isso é mau? Qual é a alternativa? Abandonar essas crianças e jovens à sua sorte, como se não fossem sujeitos de direito como os outros? Segregá-los em escolas separadas? Deixar que se suicidem em grande número? Não ver o sofrimento deles e das famílias? Aqui não se trata de ser conservador ou progressista, de ser de direita ou de esquerda, trata-se de saber como podemos fomentar, a partir da infância, nas escolas, o respeito pelos valores da autodeterminação, diversidade e privacidade e eliminar factores de diferenciação que potenciam discriminações e bullying, com resultados muitas vezes trágicos.
(…)
É apenas isto.
De facto, como escrevi em texto anterior no Atenta Inquietude, “Na verdade, uma preocupação com o minimizar de riscos de sofrimento de crianças e adolescentes nestas circunstâncias é uma questão de direitos e de natureza civilizacional no contexto das políticas e processos educativos.
O problema não está na agora tão afirmada “ideologia de género”, seja lá isso o que for, está num género de ideologias que não quer entender a realidade e as pessoas, sobretudo as pessoas que sofrem. (…)

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

DO DESPORTO ESCOLAR


O ME decidiu reforçar o número de créditos horários para que possa ser promovida pelas escolas no incremento da actividade desportiva relativa a diversas modalidades. A decisão traduz-se 200 horas de aulas por semana a usar na prática e desenvolvimento do desporto escolar.
Espero que esta iniciativa seja regulada e avaliada de modo a potenciar o seu potencial impacto pois a necessidade é óbvia. O conhecimento de muitas iniciativas neste universo, o Programa de Promoção do Sucesso Educativo por exemplo, sugere que com demasiada frequência o investimento nestes programas dificilmente terá impacto significativo e consistente no sucesso educativo e algumas das iniciativas acabam a compôr as revistas dos municípios.
Assim, sendo optimista e acreditando na existência de dispositivos de avaliação e regulação do que é e será desenvolvido, julgo que o apoio ao desenvolvimento da prática desportiva no âmbito da actividade escolar é essencial como essencial é também que a actividade desportiva seja um instrumento de educação inclusiva.
Retomo notas já expressas a propósito da divulgação no início de Fevereiro da posição do Conselho Nacional das Associações de Professores e de Profissionais de Educação Física alertando para que boa parte dos alunos do 1 º ciclo, por razões de natureza diversa e apesar de algumas boas práticas e iniciativas, não realiza regularmente actividades de educação física ou desporto.
De entre as múltiplas referências ao comportamento de crianças e adolescentes, uma das mais frequentes talvez seja “Estas crianças não páram” ou algo no mesmo sentido. Na verdade, apesar da frequência da sua utilização, parece-me claramente desajustada pois, de facto, as crianças não se mexem e, também por isso provavelmente ... "não páram".
Segundo o Relatório “Health at a Glance: Europe 2016” em Portugal mais de uma em cada quatro crianças tem excesso de peso. Nas raparigas ultrapassa os 30% e nos rapazes temos 25%.
Acresce que no que respeita à actividade física e considerando a recomendação da OMS de uma hora diária de actividade física aos 11 anos só 16% das raparigas e 26% dos rapazes cumprem e aos 15 anos temos 5% das raparigas e 18% dos rapazes.
Creio ainda de sublinhar que estudos realizados em Portugal mostram que a obesidade infantil, um dos valores mais altos da UE, é já um problema de saúde pública, implicando por exemplo o disparar de casos de diabete tipo II em crianças.
Apesar de parecer uma birra ou teimosia acho sempre importante sublinhar a importância que deve merecer a questão dos hábitos alimentares e o combate ao sedentarismo, sobretudo nos mais novos.
Ainda no que respeita à actividade física, um trabalho da Universidade de Coimbra divulgado em 2013 sublinhava, mais uma vez, o impacto que o sedentarismo tem na saúde das crianças. Este estudo envolveu 17424 crianças entre os 3 e os 11 anos e mostrou a forte relação entre hábitos fortemente sedentários, ver televisão por exemplo, e obesidade infantil e óbvias consequências na saúde e bem-estar dos miúdos.
Um outro trabalho de 2012 da Faculdade de Motricidade Humana envolvendo cerca de 3000 alunos que evidenciava o efeito positivo da actividade física no rendimento escolar para além dos benefícios óbvios na saúde.
De registar ainda que apesar da simpatia do clima somos um dos países com menor prática de actividades de ar livre.
De facto, o quotidiano de crianças e adolescentes está excessivamente preenchido com actividades que solicitam pouca actividade física, numa escola a tempo inteiro em que, apesar de boas práticas que existem, passam horas sem fim em salas com actividades “fantásticas” sempre sentados ou, quase, parados.
Em casa, o cenário é do mesmo tipo só que em frente de um ecrã. Os estudos comprovam que o nível de actividade física de crianças e adolescentes está francamente abaixo do desejável para a sua faixa etária sendo, aliás, mais satisfatório em adultos e também baixo para os idosos. Por outro lado, este é o equívoco a que me referia, instalou-se a “ideia” de que as crianças e adolescentes não páram, são muito activas, até mesmo “hiperactivas” pelo que os desejos de muitos pais e professores é que estejam mais “calmas”, mais “sossegadas” e não tão “activas”, às vezes até se medicam para que se aquietem.
Por isso e de uma vez por todas, que crianças e adolescentes não parem, que as não envolvam e incentivem a actividade sedentária tantas horas por dia e que ajudemos todos pais e comunidades a construir alternativas que sejam atractivas para os tempos dos mais novos.
É uma questão de saúde, física e mental, para crianças e adolescentes e, também, para os adultos que lidam com eles.

terça-feira, 27 de agosto de 2019

JOSÉ PACHECO, UM CONSTRUTOR DE PONTES


O Professor José Pacheco tem uma entrevista no Observador que merece ser lida, reflectida, divulgada e também discordada em alguns aspectos.
Foi há mais de 40 anos a alma da escola da Ponte, uma fonte de inspiração de muita gente por cá e por fora e que se desenvolveu em contraciclo com as orientações do ME. Como se depreende da entrevista o José Pacheco continua, felizmente, em contraciclo com muitos dos discursos e ideias em educação, como continua com excessivas certezas apesar da retórica da dúvida. Poderão ser utopias de visionário, podem ser fruto da paixão, podemos não concordar sempre, mas são desafiantes as suas reflexões.
Na verdade, sob a orientação de José Pacheco e apesar das vicissitudes e constrangimentos, da pressão da tutela sobre a escola da Ponte e sobre o Director, das inspecções e avaliações que procuravam concluir que seria uma experiência falhada, a comunidade mostrou que era, é, possível ter um outro tipo de escola. Não, não é uma escola perfeita, é apenas uma escola de pessoas. Curiosamente José Pacheco já fala da Ponte como ultrapassada.
No entanto, a escola da Ponte tem sido de há anos um objecto de estudo e visita recorrentes por parte de investigadores e professores nacionais e estrangeiros que reconhecem o que de qualidade por ali acontece. Deve ainda sublinhar-se que a visão da escola da Ponte é de uma escola onde verdadeiramente cabem todos, alunos, professores, funcionários e pais.
Há quem lhe chame escola inclusiva. Para que conste.
Leiam a entrevista, por favor. Não temos que concordar com tudo, é bom que assim seja, mas talvez encontremos que pensar.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

O RAPAZ QUE INVENTAVA MUNDOS


Era uma vez um Rapaz que inventava mundos. Parece estranho, mas é verdade, o Rapaz, sempre que tinha oportunidade e podia fugir à realização de qualquer tarefa da forma que lhe diziam, inventava uma outra maneira de não fazer o solicitado. A ver se explico melhor.
Na escola, quando se começava uma conversa sobre qualquer tema, o Rapaz conseguia sempre acrescentar ideias e pontos de vista que ninguém esperava, nem mesmo os professores. Tal situação acabava sempre por causar alguma perturbação pelo que o Rapaz acaba por ter de se calar, lá num mundo qualquer, é claro.
Se a tarefa fosse escrever ou desenhar, por exemplo, era a mesma coisa. As histórias ou desenhos do Rapaz que inventava mundos não eram parecidos com os de ninguém e lá vinham as habituais discussões que acabavam com o Rapaz a calar-se e a escolher outro mundo, um dos que ele inventava.
Mesmo na resolução dos problemas matemática o Rapaz nem sempre ia pelo mesmo caminho, mas chegava à solução
O Rapaz que inventava mundos não tinha assim uma vida muito fácil, as pessoas, quase todas, não gostam de pessoas que inventam mundos, acho que ficam um bocado assustadas com a ideia de que afinal o seu mundo pode não ser o único.
Digo quase todas porque havia uma pessoa que gostava de ouvir o Rapaz a inventar mundos. Era o avô dele. Como era velho sabia que os mundos não têm fim, é preciso continuar a inventá-los.

domingo, 25 de agosto de 2019

DISCUSSÕES


Quando eu era miúdo, há algumas dezenas de anos, as discussões com os meus amigos, qualquer que fosse o tema em discussão, obedeciam a padrões relativamente estáveis. Negava-se o que o outro dizia, não importa o que fosse, “não é nada assim”, questionava-se mais o interlocutor do que a ideia que apresenta, “não sabes dada disso”, “tás a mentir”, envolvia-se terceiros para dar força ao que se defendia, “o meu pai disse que era assim”, etc. 
Em muitas circunstâncias já não sabíamos muito bem o que estava a discutir, estávamos todos aos gritos a “chamar nomes uns aos outros” e as discussões raramente tinham uma conclusão convincente para as poucas ou muitas partes envolvidas.
Hoje em dia, os miúdos já não discutem assim.
Hoje em dia, os políticos discutem assim.

sábado, 24 de agosto de 2019

DAS ESCOLAS ENCERRADAS


No DN de hoje encontra-se um trabalho sobre a evolução do número de escolas em nos últimos anos. Considerando, educação pré-escolar, 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico e o secundário, com base em dados do Relatório “Educação em Números 2019”, da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, desde 2000/2001 até 2017/2018 foram encerrados 8697 estabelecimentos, de 14 533 passaram para 5836.
A justificação é sempre atribuída à quebra da natalidade mas parece-me caro que importa considerar as opções em matéria de políticas educativas. Aliás, o número de estabelecimentos de ensino particular tem subido ainda que ligeiramente, o que é interessante considerar. Algumas notas.
Muitas das questões que se colocam em educação, como noutras áreas, independentemente da reflexão actual, solicitam algum enquadramento histórico que nos ajudem a melhor entender o quadro temos no momento. Durante décadas de Estado Novo, tivemos um país ruralizado e subdesenvolvido. Em termos educativos e com a escolaridade obrigatória a ideia foi “levar uma escola onde houvesse uma criança”. Tal entendimento minimizava a mobilidade e a abertura sempre evitadas. No entanto, como é sabido, os movimentos migratórios e emigratórios explodiram e o interior entrou em processo de desertificação o que, em conjunto com a decisão de política educativa referida acima, criou um universo de milhares de escolas, sobretudo no 1º ciclo, com pouquíssimos alunos. Como se torna evidente e nem discutindo os custos de funcionamento e manutenção de um sistema que admite escolas com 2, 3 ou 5 alunos, deve colocar-se a questão se tal sistema favorece a função e papel social e formativo da escola. Creio que não e a experiência e os estudos revelam isso mesmo. Parece pois ajustada a decisão de em muitas comunidades proceder a uma reorganização da rede.
É também verdade que muitas vezes se afirma que a “morte da escola é a morte da aldeia”. No entanto, creio que será, pelo menos de considerar, que os modelos de desenvolvimento económico e social promovem a litoralização e desertificação do interior. Apostas políticas erradas não contrariam este processo, antes pelo contrário, promovem-no fechando os equipamentos sociais, incluindo as escolas, uma das formas evidentes de fixação das pessoas. Cria-se assim um ciclo sem fim, as pessoas partem, fecham-se equipamentos, as pessoas não voltam ou continuam a partir.
A este movimento de reorganização da rede escolar e fechamento de escolas associou-se uam outra opção política de risco, a construção dos centros educativos e da constituição de mega-agrupamentos, que criou situações em que as dimensões e características são fortemente comprometedoras da qualidade, com potenciais riscos e consequências conhecidos e estudados, os mega-agrupamentos tendem a produzir mega-problemas.
É também verdade que menos escolas e agrupamentos e direcções unipessoais tornam também mais fácil o controlo político de um sistema ainda altamente centralizado apesar da retórica de autonomia. Este controlo é, naturalmente, uma tentação de sempre de qualquer poder.
De há muito que se sabe que um dos factores mais contributivos para o insucesso, absentismo e problemas de disciplina escolar é o efectivo de escola. Não é certamente por acaso, ou por desperdício de recursos, que os melhores sistemas educativos, lá vem a Finlândia outra vez, mas também os Estados Unidos ou o Reino Unido procurando a requalificação da sua educação, optam por estabelecimentos educativos que não ultrapassam a dimensão média de 500 alunos. Sabe-se, insisto, de há muito, que o efectivo de escola está mais associado aos problemas que o efectivo de turma, ou seja, simplificando, é pior ter escolas muito grandes que turmas muito grandes, dentro, obviamente dos limites razoáveis. É certo que o ME, sobretudo a partir de Maria de Lurdes Rodrigues e com Nuno Crato, fez o pleno, aumenta o número de alunos por escola e o número de alunos por turma o que leva à “dispensa” de professores. O processo de redução do número de alunos por turma foi iniciado e está em curso ainda que com alguma timidez.
É reconhecido que escolas muito grandes, com a presença de alunos com idades muito díspares, são potenciadoras do risco de insucesso escolar e exclusão, absentismo, problemas de indisciplina e outros problemas de natureza comportamental como bullying apesar do esforço de professores, técnicos, funcionários, alunos e pais. A este cenário ainda se junta com regularidade a insuficiência de recursos de diferentes tipologias.
Acresce que são conhecidos casos de distâncias grandes entre a residência dos miúdos e os centros escolares, levando que devido à difícil gestão dos transportes escolares, os miúdos passem tempos sem fim nos centros escolares, experiência que não é fácil, sobretudo para os miúdos mais pequenos.
Em síntese, parece-me razoável que algumas escolas, sobretudo do 1º ciclo, tenham sido encerradas mas o recurso a critérios burocratizados e administrativos, como a análise simples do número de alunos, levou a situações de sério compromisso da qualidade da educação e mesmo da qualidade de vida de muitos alunos.
Seria fundamental a coragem e a visão para outros caminhos até porque parece verificar-se alguma recuperação demográfica devida à subida na taxa de natalidade que desejamos confirmada e continuada, bem como a um aumento de crianças de famílias emigrantes.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

NÃO, NÃO SE TRATA DE IDEOLOGIA DE GÉNERO, TRATA-SE DE UM GÉNERO DE IDEOLOGIAS


Embora não seja surpreendente é ainda assim impressionante a forma como tem sido abordado o quadro legal da transposição das normas que enquadram a educação para a identidade e expressão de género no ensino público e privado.
Recordo que um grupo de 85 deputados do PSD, do CDS e um do PS requereu ao Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva daquelas normas.
Nestas normas estabelece-se que deve ser garantida “a adoção de medidas no sistema educativo, em todos os níveis de ensino e ciclos de estudo, que promovam o exercício do direito à autodeterminação da identidade de género e expressão de género e do direito à proteção das características sexuais das pessoas”.
Definir que tanto quanto possível as escolas possam assegurar e este direito, por exemplo na utilização de instalações sanitárias é, justamente. o que deve ser feito e o que o normativo estabelece.
Parece claro que a generalidade das vozes que se ouvem anunciando o inferno o fazem ao abrigo do preconceito e da intolerância e também da ignorância arrogante.
Acompanhando os tempos recorrem ao habitual arsenal de desonestidade intelectual, manipulação da informação com afirmações sobre o que não está na lei, bombardeamento tóxico com ruído, com afirmações de uma despudorada falta de verdade, etc.
Também parece evidente que esta gente não conhece o mundo real que existe para lá do ecrã que interpõem entre os seus valores, preconceitos e crenças e a realidade e o sofrimento de muita gente desde muito nova.  
Mas o sofrimento das pessoas que não suas “iguais” é questão que não lhes assiste, deveriam ser “normais”.
Existem múltiplos estudos, por cá e lá por fora, que mostram com muita consistência que a problemática da identidade e orientação sexual está associada de forma significativa à vitimização em matéria, por exemplo, de bullying ou falta de apoio por parte de colegas. Aliás, e a propósito de conhecimento da realidade, não será por acaso que escolas e pais apoiam o conjunto de orientações.
Na verdade, uma preocupação com o minimizar riscos de crianças e adolescentes nestes contextos é uma questão de direitos e de natureza civilizacional no contexto das políticas e processos educativos.
O problema não está na agora tão afirmada “ideologia de género”, seja lá isso o que for, está num género de ideologias que não quer entender a realidade e as pessoas, sobretudo as pessoas que sofrem.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

DOS AUXILIARES DE EDUCAÇÃO. DE NOVO


Quando aqui há dias registei com agrado o facto de as listas de colocação de professores terem sido divulgadas mais cedo que o habitual, expressei a expectativa de que, finalmente, o início do ano lectivo se realizasse sem sobressaltos, mas com alguma reserva devido ao processo relativo à contratação e colocação de auxiliares de educação, recuso a designação de assistentes operacionais, e e de técnicos, designadamente, dos psicólogos.
Sabemos agora que muito provavelmente já só no decorrer do primeiro período estará concluída a contratação dos 1067 novos funcionários anunciados em … Fevereiro.
A situação preocupa os directores de escolas/agrupamento pois acresce que se estima em 3400 a necessidade de auxiliares de educação nas escolas e parte dos que agora serão contratados já desempenhavam funções nas escolas em regime precário para aém do habitualmente elevado número de baixas médicas neste grupo profissional. Neste quadro o impacto não será tão significativo quanto seria desejável.
Vou repetir-me mas nunca é demais enfatizar o papel essencial que estes profissionais desempenham nas escolas e a necessidade de rácios adequados, qualificação, segurança e carreira que minimizem problemas que têm vindo a ser regularmente colocados por pais, professores e directores.
Seria desejável que a gestão desta matéria considerasse as especificidades das comunidades educativas e não se seguissem critérios cegos de natureza administrativa que são parte do problema e não parte da solução.
Para além da variável óbvia, número de alunos, é necessário que se contemplem critérios como tipologia das escolas, ou seja, o número de pavilhões, a existência de cantinas, bares e bibliotecas e a extensão dos recreios ou a frequência de alunos com necessidades especiais.
Mais uma vez, os auxiliares de educação, insisto na designação, desempenham e devem desempenhar um importante papel educativo para além das funções de outra natureza que também assumem e que exige a adequação do seu efectivo, formação e reconhecimento. No caso mais particular de alunos com necessidades educativas especiais e em algumas situações serão mesmo uma figura central no seu bem-estar educativo, ou seja, são efectivamente auxiliares de acção educativa.
A excessiva concentração de alunos em centros educativos ou escolas de maiores dimensões não tem sido acompanhada pelo ajustamento adequado do número de auxiliares de educação. Aliás, é justamente, também por isto, poupança nos recursos humanos, que a reorganização da rede, ainda que necessária, tem sido feita com sobressaltos e com a criação de problemas.
Os auxiliares educativos cumprem por várias razões um papel fundamental nas comunidades educativas que nem sempre é valorizado incluindo na estabilidade da sua contratação e formação.
Com frequência são elementos da comunidade próxima das escolas o que lhes permite o desempenho informal de mediação entre famílias e escola, têm uma informação útil nos processos educativos e uma proximidade com os alunos que pode ser capitalizada importando que a sua acção seja orientada, recebam formação e orientação e que se sintam úteis, valorizados e respeitados.
Os estudos mostram também que é nos recreios e noutros espaços fora da sala de aula que se regista um número muito significativo de episódios de bullying e de outros comportamentos socialmente desadequados. Neste contexto, a existência de recursos suficientes para que a supervisão e vigilância destes espaços seja presente e eficaz. Recordo que com muita frequência temos a coexistir nos mesmos espaços educativos alunos com idades bem diferentes o que pode constituir um factor de risco que a proximidade de auxiliares de educação minimizará.
Considerando tudo isto parece essencial e um contributo para a qualidade dos processos educativos a presença em número suficiente de auxiliares de educação que se mantenham nas escolas com estabilidade e que sejam orientados e valorizados na sua importante acção educativa.

JÁ NÃO PODEMOS FALHAR DE NOVO COM ESTAS MENINAS


Uma pequena colaboração numa peça da Sábado sobre a situação das duas meninas gémeas a viver em situação grave de privação.
Já não podemos falhar de novo com estas meninas.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

SINALIZADAS, REFERENCIADAS, MAS ... A TRAGÉDIA ACONTECE


É impossível não sentir um enorme sobressalto com a situação agora conhecida das duas meninas gémeas de 10 anos que segundo os relatos conhecidos vivem com os pais numa garagem em condições de vida indignas, sem frequentar a escola e assistindo a episódios de violência física e psicológica.
Mais inquietante ainda mas, lamentavelmente sem surpresa, a situação desta família, em particular a das crianças, estavam sinalizada desde 2013 pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens e era conhecida do Ministério Público desde 2016. Não pode, não deve, acontecer.
De há muito e a propósito de várias questões afirmo que em Portugal, apesar de existirem vários dispositivos de apoio e protecção às crianças e jovens e de existir legislação no mesmo sentido sempre assente no incontornável “superior interesse da criança", não possuímos ainda o que me parece mais importante, uma cultura sólida de protecção das crianças e jovens como alguns exemplos regularmente evidenciam.
Por outro lado, as condições de funcionamento as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens que procuram fazer um trabalho eficaz estão ainda longe de ser as mais eficazes e operam em circunstâncias difíceis. Na sua grande maioria as Comissões têm responsabilidades sobre um número de situações de risco ou comprovadas que transcendem a sua capacidade de resposta. A parte mais operacional das Comissões, a designada Comissão restrita, é composta por muitos técnicos em tempo parcial. Tal dificuldade repercute-se, como é óbvio, na eficácia e qualidade do trabalho desenvolvido, independentemente do esforço e empenho dos profissionais que as integram.
Os serviços que prestam apoio às comunidades não podem estar cativados, devem ser regulados e escrutinados evidentemente, mas ... deverão ser suficientes e adequados.
Este cenário permite que ocorram situações como a agora conhecida, frequentemente com contornos dramáticos, envolvendo crianças e jovens que sendo conhecida a sua condição de vulnerabilidade não tinham, ou não tiveram, o apoio e os procedimentos necessários. E tal como nesta situação é frequente ouvir depois de alguns episódios mais graves uma expressão que me deixa particularmente incomodado, a criança estava “sinalizada” ou “referenciada” mas dessa "sinalização" não decorreu a adequada intervenção.
Sinalizamos e referenciamos com relativa facilidade, a grande dificuldade é minimizar ou resolver os problemas das crianças referenciadas ou sinalizadas. Importa ainda não esquecer as que passam mal em diferentes aspectos sem que estejam sinalizadas ou referenciadas.
Por isso, sendo importante registar uma aparente menor tolerância da comunidade aos maus tratos aos miúdos, também será fundamental que desenvolva a sua intolerância face à ausência de respostas.
O que me dói ainda mais é que não é a primeira vez que escrevo sobre acontecimentos desta natureza e, provavelmente, não será a última.
Como afirma, Benedict Wells no recente “O fim da solidão”, "Uma infância difícil é como um inimigo invisível. Nunca se sabe quando nos vai atingir". Como vai ser vida destas meninas? E destes pais?
As crianças são resilientes mas família, afecto, contextos educativos de qualidade, são bens de primeira necessidade. Será a urgente necessidades destas crianças ... como de tantas outras.


terça-feira, 20 de agosto de 2019

TEMPOS DA VIDA


Acho que é inevitável. Sempre que mais um ano passa por nós, pensamos no tempo e nas alterações que se vão verificando na relação com ele. Sendo tempo de férias, repouso activo como lhe chamo, até o tempo é mais para pensar no tempo.
Quando era miúdo, jovem, há já muitos anos, tinha a sensação de que o tempo demorava muito tempo, demasiado tempo, a passar. Era um tempo de pressa, de cres-ser.  Lembro-me, por exemplo, do desejo de chegar rapidamente aos dois dígitos na idade, já não seria um “puto”, pensava eu.
Quando comecei a minha vida profissional e vida familiar própria, emergiu a dificuldade de transformar, organizar o tempo, tanto sobrava como faltava.
A partir de certa altura, não sei dizer qual, a gente sente, a relação com o tempo muda significativamente e fica algo entre o ambíguo e o paradoxo. Por um lado, sentimos que a velocidade do tempo é bem superior à do relógio, o amanhã é ontem, com tanto ainda por fazer. Quem trabalha e continua com uma enorme paixão pela educação ainda sente mais o quanto está sempre por fazer. Por outro lado, creio que começamos a ser capazes de assumir uma atitude de serenidade face às coisas da vida, ao tempo, que retira pressa e, apesar da Atenta Inquietude, nos dá brandura como se diz no meu Alentejo.
Este tempo velho também nos faz olhar para dentro ao olhar para trás e perceber o gozo de começarmos a atingir, do ponto de vista social, alguma inimputabilidade. Não se assustem, é que quando dizia ou fazia certas coisas aos vinte e poucos recolhia, frequentemente e no mínimo, um olhar reprovador. Actualmente, as mesmas afirmações ou comportamentos garantem-me um sorriso de condescendência e empatia, “já velho e como ele se porta ou fala”.
Outra enorme conquista do tempo velho é a possibilidade de contar histórias, histórias nossas, vividas, convividas ou … inventadas. No fundo acho que é isso que se espera e, talvez por essa razão, cada vez gosto mais de histórias.
Finalmente, chegando a este tempo velho, sabe bem uma viagem assim grande à beira de quem gostamos.
Pois então … que venham mais uns quantos.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

AS CONSTRUÇÕES NA AREIA


Por estes dias, as praias mais bonitas do mundo, as da Costa da Caparica, voltam a ser alvo de mais uma intervenção, a reposição de areia.
Não tenho conhecimento objectivo sobre a causa ou causas que levaram à situação actual destas praias. Suspeito que os "bons" tratos dados à Terra, não serão alheios. Por outro lado, lembro-me que, em miúdo, tinha de caminhar umas centenas de metros no areal do Dragão Vermelho para chegar à água.
O areal era imenso ao longo de toda a costa e só nas assustadoras marés vivas e em invernos mais rigorosos que traziam tempestades o mar se aproximava. Actualmente, na praia-mar a frente de praia mais urbana ... não tem praia.
Lembro-me também, desde sempre, de ouvir aos velhos “o mar um dia virá buscar o que lhe tiraram”. Tudo isto a propósito do início do “enchimento” das praias da Costa com areia. A criatividade era enorme embora existissem uns clássicos sempre presentes.
Não ouvi ninguém garantir que este “lifting” garanta praia, ou sequer, Costa da Caparica daqui a alguns, poucos, anos.
Será que isto não se trata de uma forma cara de retomar o concurso “Construções na areia” promovido pelo DN nas praias da Costa, que nós aguardávamos com ansiedade, mas cujos resultados desapareciam na primeira maré alta?
O “tunning” à natureza não costuma dar bom resultado. Veja-se, de novo, a Costa da Caparica.

domingo, 18 de agosto de 2019

OS TRAPEZISTAS

Durante esta semana li no DN uma entrevista muito rica de Rui Mariani, um homem com uma vida ligada à arte do circo e que se apresenta como o primeiro domador de tigres em Portugal. O seu Circo Mundial Mariani e o Circo Victor Hugo Cardinali, membro da família Mariani são os grandes nomes dos espectáculos de circo em Portugal.
A sua história de vida é aliciante e acordou em mim a relação ambígua que sempre mantive com o circo. Devo confessar que sempre tive, desde miúdo, uma relação ambígua com o circo. Na verdade, muito do que me atraía nos diferentes números do circo era, simultaneamente, o que me inquietava. Admirava os números com animais mas achava que o que eles faziam não era “natural”, ria-me com os palhaços mas, sem perceber porquê, achava-os tristes. Mas o momento alto da minha inquietação vinha dos trapezistas. Aliás, trapezista foi também uma das funções desempenhadas por Rui Mariani ilustrando a frequente polivalência nas artes circenses.
Naquele tempo assistia à exibição espectacular dos trapezistas com os olhos muito abertos, fascinado pela coragem e perícia daquela gente que voava e, ao mesmo tempo, assustado com medo de que as mãos do companheiro ou a barra do trapézio lá não estivessem, naquele preciso segundo em que nada pode falhar e o trapezista voador precisa de se segurar. Não me lembro de ter presenciado uma falha ou acidente
Agora … comecei a pensar que a vida de muitos adolescentes e jovens me faz lembrar o número do trapézio. Voam, de um poiso para o outro, atraídos e alimentados pela adrenalina do risco e do desafio que dá sentido a uma existência, neste caso e frequentemente, sem sentido.
Em cada dia, aumentam o risco, em voos mais complicados e testando os limites, os seus e os de quem os rodeia.
À sua volta, muitos ficam indiferentes, outros muitos condenam, alguns outros inquietam-se e ainda outros muitos, também trapezistas, aplaudem.
No circo os trapezistas voam com rede e os acidentes são raros, felizmente.
Os jovens com vidas de trapezista quase nunca voam com rede. Os acidentes sérios são frequentes, falham os apoios de vários lados que não surgem ou estão as mãos de alguém que se atrasou, não percebeu a necessidade ou se atrasou.
Já conheci alguns.

sábado, 17 de agosto de 2019

DOS PROFESSORES


Mais cedo do que tem sido mais habitual já foram divulgadas as listas de colocação dos professores o que se saúda.
As más-línguas atribuirão esta situação à proximidade de eleições. Não acredito, primeiro porque tal seria inédito, não faz parte da praxis política em Portugal e, segundo, porque o ME já afirmou que tal se deveu “ao inexcedível empenho e trabalho das escolas e do Ministério da Educação, por ser ano em que não houve nem concursos extraordinários, nem concurso interno, e por não ter havido outras vicissitudes perturbadoras do procedimento”. Na verdade, a questão é que é possível ajustar procedimentos, o atraso não seria uma fatalidade.
Talvez seja desta que o ano lectivo se inicia sem grandes sobressaltos mas vamos ver o que passa quanto aos auxiliares de educação e aos técnicos especializados, muitos dos quais estão com a continuidade ameaçada com todas as implicações óbvias.
Os docentes colocados têm 72 horas para se apresentarem nas escolas e os não colocados farão parte das chamadas reservas de recrutamento podendo ser chamados a funções ao longo do ano. É também claro que os as necessidades das escolas estão para além dos lugares de quadro nesta matéria torna-se necessário melhorar até em nome da autonomia..
Os colocados em escolas diferentes terão mais tempo para a logística da mudança e os não colocados certamente baterão à porta dos centros de emprego.
Muitos destes são docentes com muitos anos de serviço e que têm provisoriamente desempenhado funções que correspondem a necessidades definitivas. Muitos destes professores vão vivendo projectos de vida adiados.
Raramente a profissão professor tem estado tanto em foco como nos últimos anos bem como a necessidade de defender a qualidade da escola pública sob ameaça significativa. Desencadearam-se múltiplas acções políticas que contribuíram para degradar a sua função, a sua imagem social e o clima e a qualidade do trabalho desenvolvido nas escolas.
Opções políticas assumidas e em curso têm contribuído para uma atenção continuadamente dirigida para a educação e para os professores. Essa atenção advém de boas e más razões. Não cabe aqui um balanço alargado o, e entendo que, tal como os miúdos, os professores não têm sempre razão, ninguém tem. No entanto, gostava de deixar algumas notas.
Em primeiro lugar importa sublinhar que ser professor no ensino básico e secundário por razões conhecidas e por vezes esquecidas, é hoje uma tarefa de extrema dificuldade e exigência que social e politicamente justifica o maior reconhecimento que nem sempre é evidente. Acresce que que como é sabido os docentes constituem uma classe profissional com uma média de idade extremamente elevada e com níveis preocupantes de exaustão e cansaço..
Não é fácil ser professor em algumas escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e consequente guetização social produziram.
Milhares de professores cumprem a sua carreira, muitos deles sem a possibilidade de desenharem projectos de vida para si quando são os principais responsáveis por lançar projectos de vida para os miúdos com quem trabalham. Nos últimos anos milhares de professores, de bons professores e professores necessários, foram constrangidos à reforma e muitos ao desemprego por uma política de contabilidade inimiga da educação pública e da qualidade.
Tantas vezes os professores são injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a seguir a dizer uma ignorante barbaridade qualquer, vai numa espécie de exercício sadomasoquista entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata, depreendendo-se assim que, ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores e os seus problemas.
Era desejável mas trata-se de pedir muito que a educação e os problemas dos professores não sejam objecto de luta política baixa e desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se assumem como seus representantes.
Pensemos em como a forma como os miúdos, pequenos e maiores, vêem e se relacionam com os professores está directamente ligada à forma como os adultos os vêem e os discursos que fazem.
Pensemos finalmente nos professores que nos ajudaram a chegar ao que hoje cada um de nós é, aqueles que carregamos bem guardadinhos na memória, pelas coisas boas, mas também pelas más, tudo contribuiu para sermos o que somos.
A valorização social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. Aliás, como sempre escrevo, uma das características dos sistemas educativos melhor considerados é, justamente, a valorização dos professores.

PARTIU PETER FONDA


Partiu Peter Fonda mais um dos que fizeram parte da minha estrada. Há 50 anos, assinou e interpretou um filme que “mexeu” com a minha geração, “Easy Rider”. Curiosamente partiu quando passam também cinquenta anos de Woodstock. Fica um “emblema” dessa época e desse filme



sexta-feira, 16 de agosto de 2019

ESCOLA A TEMPO INTEIRO OU EDUCAÇÃO A TEMPO INTEIRO


Curiosamente, estamos em plenas férias escolares e no JN encontra-se uma peça sobre algo que muitas vezes aqui tenho abordado, o tempo que as crianças passam na escola.
De uma forma geral, os participantes no trabalho entendem que o tempo passado na escola é excessivo e, também consensualmente, as opiniões inclinam-se para a necessidade de diversificar as actividades desenvolvidas durante o tempo passado na escola.
Sabemos como os estilos de vida actuais colocam graves dificuldades às famílias para assegurarem a guarda das crianças em horários não escolares. A resposta tem sido prolongar a estadia dos miúdos nas instituições escolares alimentando o que considero um equívoco, o estabelecimento de uma visão de “Escola a tempo inteiro” em vez de “Educação a tempo inteiro”.
Para além da reflexão sobre o que acontece nesse tempo e tal como se verifica noutros países, seria imperioso que se alterassem aspectos como a organização do trabalho, verificada em muitos países, que minimizassem as reais dificuldades das famílias recorrendo, por exemplo e quando possível, a tele-trabalho ou à diferenciação nos horários de trabalho que em alguns sectores e profissões é possível.
Acontece que de acordo com o que está definido legalmente a estadia na escola dos alunos no ensino básico pode atingir bem mais de 40 horas semanais se os pais necessitarem, considerando horário curricular, AEC e componente de apoio à família.
É preciso o um esforço enorme, equipamentos e recursos humanos qualificados para que não se corra o risco de transformar a escola numa “overdose” asfixiante para muitos miúdos.
É verdade que existem boas práticas neste universo mas também todos conhecemos situações em que existe a dificuldade óbvia e esperada de encontrar recursos humanos com experiência e formação em trabalho não curricular. Acresce que boa parte das escolas, como é natural, têm os seus espaços estruturados (e por vezes saturados) sobretudo para salas de aula. Espaços para prática de actividades desportivas ou de ar livre, expressivas, biblioteca, auditórios, etc., etc., a existirem dificilmente poderão ser suficientes para uma ocupação da população escolar alternativa à sala de aula. Esta questão é também relevante no que respeita à qualidade e adequação da resposta a alunos com necessidades especiais.
Este obstáculo acaba por resultar na réplica de actividades de natureza escolar com baixo ou nulo benefício e um risco a prazo de desmotivação, no mínimo.
Por outro lado, tanto quanto o tempo excessivo de estadia na escola merece reflexão o risco e as implicações da natureza muitas vezes “disciplinarizada” desse trabalho, ou seja, organizado por tempos, de forma rígida próxima do currículo escolar.
A enorme latitude de práticas que se encontra actualmente, desde o muito bom ao muito mau, sustenta que também neste aspecto os dispositivos de regulação devam ser robustos e eficientes. Recordo que em muitas circunstâncias as AEC são desenvolvidas por entidades externas à escola pelo que importa assegurar a responsabilidade da escola e a sua autonomia.
Na verdade, embora compreendendo a necessidade da resposta seria desejável que, tanto quanto possível se minimizasse o risco de em vez de tentarmos estruturar um espaço que seja educativo a tempo inteiro com qualidade, preenchido na escola ou em espaços e equipamentos da comunidade, assistirmos à definição de uma pesada agenda de actividades que motiva situações de relação turbulenta e reactiva com a escola.
Ao escrever estas notas lembrei-me que em 2007 participei num debate sobre as AEC na Vidigueira em que uma professora presente referiu um episódio elucidativo. Nesse ano e na sua escola tinha sido preparado um espaço para as crianças jogarem futebol. Um dos seus alunos fez a seguinte observação. “Quando eu tinha tempo para brincar não tinha um campo. Agora tenho um campo e não tenho tempo para jogar”.
Os miúdos andavam mal habituados é o que é. Então a escola é sítio para jogar à bola mesmo havendo campo? Não, a escola é para trabalhar. No mínimo, 7 horas por dia. No mínimo.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

SER PEQUENO


Dado o inexorável movimento dos dias cumpro hoje mais um marco de uma estrada que já vai longa. A partir de hoje integro a tribo dos “séniores” ou dos “idosos”. Vou ter que me habituar.
No entanto, prefiro recordar que na minha terra era costume, creio que ainda é muito frequente em Portugal, referir que quando se celebra um aniversário, se é "pequeno". Assim sendo, hoje sou "pequeno", coisa que não é nada fácil imaginar e muito menos conseguir, mas é mais amigável que “idoso”.
Embalado por essa ideia lembrei-me de quando era mesmo pequeno, tentação que parece inevitável cada vez que ficamos mais velhos.
Lembrei-me de como brincava, ao que brincava e com quem brincava, quase sempre na rua.
Depois lembrei-me de como brincava com o meu filho, quando ele era pequeno, grandes viagens em grandes brincadeiras.
Agora brinco com os meus netos, são eles os pequenos. Muito a gente se diverte. E havemos de nos divertir ainda mais a brincar. Palavra de avô.
A este propósito e com já vos tenho dito e, certamente, alguns estranharão, acho que por estes dias os miúdos brincam pouco.
Eu sei que os tempos são diferentes e os estilos de vida mudaram significativamente. No entanto, não me parece que sejam razões suficientes. A questão é, creio, de outra natureza.
As brincadeiras já não brincadeiras, passaram a chamar-se actividades. E os miúdos têm muito pouco tempo para brincar, é quase todo destinado a actividades, muitas actividades, que, dizem, são fantásticas, fazem bem a tudo e mais alguma coisa, promovem competências extraordinárias e é preciso ser excelente.
Deixem os miúdos brincar, faz-lhes bem, é mesmo a coisa mais séria que fazem e, como sabem, é importante lidar desde pequeno com coisas sérias.
Hoje não vai dar, é tempo de férias que também nos separam, mas se fosse brincar com os meus netos ainda nos divertiríamos mais. É que hoje … hoje sou pequeno, ainda melhor nos entenderíamos.
Fica para depois.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

OS TEMPOS DA ABSURDIDADE


Os tempos vão estranhos. Os discursos que circulam nos inúmeros suportes são excessivamente contaminados por agendas, muitas vezes ocultas. A produção e circulação de informação e conhecimento são excessivamente determinadas pela “pós-verdade”, pelos “factos alternativos” ou, em inglês é mais sofisticado, em “fake news”.
Os padrões éticos da nossa vida política, económica e social baixaram e a mentira, as mentiras, são regra, deixaram de ser excepção seja qual for a designação. Os últimos dias têm sido particularmente elucidativos.
Lembrei-me, nesta inquietação, de uma obra, lamentavelmente pouco divulgada, do Professor António Bracinha Vieira, um homem enorme, um mestre que me marcou e recordo de vez em quando pela sua lucidez e densidade cultural e científica.
O livro, "Ensaio sobre o termo da história - trezentos e sessenta e cinco aforismos contra o Incaracterístico" é um notável ensaio sobre o que Bracinha Vieira chama de tempo da Absurdidade em que predomina o Incaracterístico e organiza-se em 365 parágrafos antológicos, os "aforismos", que combatem esse personagem dominante, o Incaracterístico. A primeira edição do livro é de 1994, foi objecto de alguma discussão num círculo diminuto e é evidente em muitos dos aforismos uma espécie de premonição do que agora vivemos
Partilho convosco os aforismos 15 e 18.
"Instalou-se no jargon cripto-anglófono do Incaracterístico uma inversão radical do sentido das palavras liberal, liberalismo (ainda presas a um étimo comum com liberdade) insinuando sob o totalitarismo da Absurdidade uma negaça de democracia. Decidido a desnaturar conceitos prestigiosos dos quais nem sequer consegue discernir o alcance, o Incaracterístico investe esses termos de um significado oposto ao que lhes cabia."
"A democracia da Absurdidade exerce-se num cenário oposto ao da cidade-estado: o Incaracterístico elege o Incaracterístico, e todas as alternativas em jogo a ele conduzem. Os sujeitos cujos nomes são designados logo surgem nos ecrãs-circo da Grande Absurdidade, preenchendo hiatos entre a publicidade mercantil, sem se aperceberem que são mercadoria de outras espécies. Dali debitam os seus sirénicos e sorumbáticos cantos. e a escolha entre eles é o fiel da liberdade do Incaracterístico".
A pensar.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

CRIANÇAS DE RUA


Merece leitura e reflexão a entrevista do Público a Matilde Sirgado da direcção do Instituto de Apoio à Criança e coordenadora do Projecto Rua. Trata-se de um programa de apoio a crianças e jovens até aos 18 anos que “usam a rua como estratégia de sobrevivência” e, naturalmente, o objectivo é construir um projecto de vida que as tire da
A situação actual, 80 crianças acompanhadas no ano passado face às 1800 apoiadas em 2000.
De facto o decréscimo é significativo, felizmente, mas continuamos a ter crianças e jovens em situação de grande vulnerabilidade mas já não se encontram como há alguns anos “crianças de rua”. As situações actuais estão mais ligadas a fugas do contexto familiar ou de instituições, criam situações de risco severo em matéria de exclusão ou delinquência, mas os contornos são diferentes.
Esta questão que ainda merece preocupação recordou-me uma experiência pessoal de há alguns anos, passou-se em Moçambique e creio que já aqui contei.
Dessa vez estive duas semanas em Maputo com o Mestre Malangatana, o Velho como lhe chamava, um Homem enorme que já partiu, deixou a obra e as memórias. Estávamos a fazer um trabalho de formação de professores no Centro Popular criado por ele na terra onde nasceu, Matalana, a uns quilómetros de Maputo.
Já tenho partilhado algumas histórias desta graça que a vida me concedeu. Durante toda a estadia jantávamos invariavelmente no Piri-piri, um muito conhecido restaurante na Av. 24 de Julho.
Logo na primeira noite à saída do restaurante, sou completamente submerso por um grupo de moluenes, nome porque são conhecidos os miúdos e adolescentes que vivem na rua em Maputo tal como os "capitães da areia" das ruas de Salvador de que falava outra grande figura, Jorge Amado. Os moluenes tentavam vender-me toda a espécie de “arte popular” a preços “mesmo, mesmo bons”.
Quando viram que vinha acompanhado do Velho, contiveram-se e o Velho Malangatana falou no seu jeito impossível de descrever, “crianças, este branco, o Zé Morgado, é meu amigo, é boa pessoa, é inteligente, vocês não enganem este branco”.
Os miúdos protestaram que não queriam enganar-me e com alguma surpresa, um deles mais velhito aproximou-se para me oferecer um dos batiques que vendia. Perante o meu embaraço na aceitação, disse-me com um sorriso maior que a cara, “sou eu que faço, também me chamo Morgado”. É verdade, o batique estava assinado com um visível e inesperado “Morgado”. Hoje, já passados alguns anos, o batique do Morgado de Maputo ocupa um lugar de relevo na minha casa, na minha cabeça e no meu coração.
Mas de maior relevo ainda, é o lugar de Malangatana, um Mestre.
Nunca me senti tão positivamente discriminado. Em várias das noites seguintes recebi uma oferta bonita dos moluenes, as crianças da rua. Daquelas prendas bonitas que só se dão aos amigos do Velho, do Mestre como eles lhes chamavam.
Privilégio meu.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

DOS "ESQUEMAS" NAS MATRÍCULAS ESCOLARES


A nossa criatividade na definição de “esquemas” é inesgotável. Após a ineficácia do “esquema” da indicação de encarregados de educação que não correspondem à realidade para conseguir o acesso das crianças às escolas desejadas, parece agora surgir o recurso às moradas fiscais “marteladas” com o mesmo objectivo.
O resultado é que em algumas situações, exemplos identificados no Expresso, crianças residentes na área geográfica de cobertura do agrupamento/escola não têm lugar enquanto alunos com residência fora da zona conseguem acesso através do “esquema” usado pelos pais.
Apesar da regulação em vigor e com a actualização contínua das "APP" dedicadas a "esquemas" existirá sempre a tentativa de contornar a situação da cobertura geográfica definida para cada estabelecimento escolar e assim conseguir a matrícula na escola desejada..
Talvez possamos olhar para esta situação de um outro ponto de vista.
Parece claro que, para além da questão específica da insuficiência da oferta na educação pré-escolar, em muitas situações o recurso ao esquema das “moradas fiscais falsas” prende-se com o desejo dos pais de que os seus filhos frequentem escolas que eles entendem ser de “melhor qualidade” independentemente dos critérios que sustentam esse entendimento.
Creio que parece aceitável este sinal de preocupação com a educação esta tentativa de colocar os filhos nas escolas que considerem mais capazes de os bem receber. Por outro lado, a generalidade dos critérios definidos no quadro de critérios incluindo a condição socioeconómica das famílias parece razoável.
No entanto e considerando este cenário, para além de soluções pontuais inconsequentes creio mesmo que o caminho só pode ser incentivar e criar condições para que todas as escolas possam ser escolas públicas de qualidade acomodando todos os alunos. Para isso precisam de recursos, autonomia e dispositivos de regulação para ajustarem a sua resposta às necessidades das populações que servem, uma variável fortemente associada à qualidade dos processos educativos.
Andaremos menos bem se sabendo que existem escolas “boas” e escolas “más” a preocupação se esgotar na forma de evitar que os pais coloquem os filhos nas escolas “boas” em vez de tentar tudo para que as escolas “más” se tornem menos “más” e, portanto, atractivas e também suficientes para todos os que habitam na sua zona de intervenção.
Estamos a falar do sistema público de educação a mais potente ferramenta de desenvolvimento das comunidades, de promoção de mobilidade social e de projectos de vida com qualificação e potencial de sucesso.

domingo, 11 de agosto de 2019

"DO BULLYING", NO PÚBLICO


No âmbito da colaboração entre o Público e a minha escola, ISPA-Instituto Universitário, umas notas sobre o sempre inquietante fenómeno do bullying.
“ (…)
Parece pertinente recordar que uma dimensão importante do fenómeno do bullying nas suas diferentes faces é o medo e a ameaça de represálias às vítimas e a quem assiste, o que, naturalmente, pode inibir a queixa. Assim sendo, torna-se ainda mais necessária uma atenção pró-activa e preventiva de adultos, pais, professores ou funcionários.
(…)”

sábado, 10 de agosto de 2019

DA PRESSÃO PARA A EXCELÊNCIA


Muitas vezes aqui tenho referido uma matéria que julgo merecer atenção pelo impacto que em muitas situações pode ter na vida de algumas crianças, adolescentes e jovens, a pressão para a excelência sendo que esta pressão se estende a actividades de diferente natureza começando, naturalmente pelo desempenho escolar.
No Expresso encontra-se uma peça que revela a existência nos Estados Unidos de um decisão tomada por muitos pais de contratar “explicadores” de Fortnite para incrementar o nível de desempenho dos seus filho procurando que eles atinjam não menos que a excelência, “O foco é treinar e ser um dos melhores no jogo Fortnite. Perante as vozes que censuram este jeito de viver, o pai diz que se fosse outra área, como piano ou representação, as reações seriam diferentes”, com justificações de natureza social e económica, lê-se na peça.
É inquietante assistir como fruto dos estilos de vida, de alterações nos valores e cultura se tem vindo a instalar de mansinho em muitos pais, e também dentro das instituições educativas, uma atitude e um discurso de exigência e de pressão para a excelência no desempenho dos miúdos, centrados sobretudo nos resultados escolares mas extensível a todas as actividades em que se envolvem, é preciso ser bom e ser bom a tudo. E também, vemos agora, no Fortnite.
A questão não tem, evidentemente, a ver com a natural atitude de exigência mas um sim com a pressão muito forte para a produção e alto nível de rendimento e cada vez mais cedo pois, supõe-se, ganharão vantagens na construção de um futuro onde só “os melhores" terão um bom lugar garantido.
Este clima de pressão para resultados e a forma como o sistema educativo tem sobrevalorizado a medida contribui para alimentar um ambiente educativo, escolar e familiar, competitivo e selectivo que cria em muitas crianças e adolescentes uma pressão fortíssima para a excelência dos resultados em todas as actividades. Uma outra consequência mais indirecta é a maior dificuldade de estruturar climas inclusivos pois apesar de inclusão significar todos, os alunos com maior dificuldade, qualquer que seja a sua natureza, ficarão ainda mais vulneráveis e em maior risco de exclusão.
Acontece que algumas crianças, por questões de maturidade ou funcionamento pessoal, suportam de forma menos positiva esta pressão o que poderá gerar o risco de disfuncionamento, rejeição escolar e, finalmente, insucesso, desistência e rejeição de novas experiências. Este cenário de consequências negativas para alguns alunos pode ainda ser mais grave como os estudos mostram em sistemas educativos bem mais competitivos que o nosso.
A melhor forma de preparar os miúdos para o futuro é cuidar bem deles no presente, desejavelmente sem faltas, mas também sem excessos.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

YA


Olá Zé, tudo bem?
Ya.
Estás de férias?
Ya.
Os exames correram bem?
Ya.
Vais continuar a estudar?
Ya
Continuas a pensar ir estudar Comunicação Social?
Ya.
Para trabalhares como jornalista?
Ya.
Então gostas de comunicar com os outros?
Ya.
Parece que não está muito fácil o emprego nessa área?
Ya.
Mas quando se gosta mesmo, vale a sempre a pena tentar.
Ya.
Vai correr bem.
Ya.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

HISTÓRIAS DE FÉRIAS


Como muitas vezes digo produzindo alguns sorrisos, a idade traz algumas vantagens interessantes. A primeira é uma espécie de inimputabilidade, se a impaciência ou cansaço me fizerem soltar alguma expressão menos “própria” o que há umas décadas seria “má educação” agora é visto com alguma generosidade considerando “engraçado, com aquela idade e fala assim". É óptimo, um dia vão saber isso.
A segunda vantagem da velhice é ter história(s) para contar, os mais novos que lidam comigo ouvem-na(s) com frequência e de diferente natureza. Talvez seja por isto que dei comigo a pensar como eram as minhas férias lá bem para trás no tempo.
Quando eu era gaiato, antes do desenvolvimento ter tapado as quintas da zona onde morava com prédios deixando como espaço livre o alcatrão, a oferta de férias para os miúdos era basicamente constituída pelo mais acessível e barato dos equipamentos, a rua. Como os estilos de vida e o quadro de valores ainda tão tinham alimentado a insegurança, quando não havia escola, claro, estávamos na rua, sempre na rua.
As actividades não eram muito sofisticadas nem fantásticas, não ficávamos assim muito excelentes, mas divertíamo-nos a sério nas férias, com calor, com frio, com chuva, mesmo à noite. É verdade que alguns dos meus companheiros ainda foram “homens que nunca foram meninos” como lhes chamou Soeiro Pereira Gomes, desde muito cedo fizeram-se ao trabalho.
Mas ainda arranjávamos tempo para brincar, naquela época o tempo era mais barato e havia mais.
Nessa altura os miúdos ainda podiam apanhar chuva e mexer na terra, não conhecíamos as ameaçadoras bactérias, os nossos pais também ainda não eram excelentes e fantásticos sempre na busca de orientações e “coaching” para promover a excelência dos filhos.
Muitas das actividades eram, por assim dizer, sazonais, mais próprias de umas alturas do ano que de outras. Algumas, já delas aqui contei, dariam vontade de rir aos miúdos de hoje mas eram o máximo, a sério.
Andar horas de bicicleta, os poucos que tinham, ou de arco e gancheta em exibição ou competição, realizar intermináveis jogos de futebol, muda aos cinco acaba aos dez, com bolas de cautchu adquiridas através dos rebuçados, jogar hóquei em patins, sem patins, com uma bola de matraquilhos “desviada” no café e com talos de couve com a curva adequada a servir de stick, são alguns exemplos.
Fazer tiro ao arco com arcos feitos a partir das varetas de guarda-chuvas velhos, passar horas nas diversas variantes dos jogos com berlindes, exercitar a corrida com o jogo da rolha, do lenço à barra, ou do toca e foge, experimentar a estratégia no jogar às escondidas ou a perícia nas corridas de caricas, eram outras das muitas coisas que fazíamos nos nossos tempos livres.
Nesse tempo havia tempo livre, os miúdos hoje quase não têm. Mas são fantásticos e excelentes.
Às vezes ... não.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

COMPUTADORES E ESCOLA

Um outro conjunto de dados constantes no relatório "Educação em Números 2019", da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência pelo impacto nos processos educativos actuais prende-se com o parque informático das escolas.
Para além das queixas recorrentes sobre as dificuldades no acesso à net e a idade “sénior” de boa parte dos equipamentos o número tem sido revisto em baixa.
Quando foi distribuído o famoso (por boas e más razões), ano 2008/2009 conseguiu-se um rácio de um computador por alunos. A partir de 2011 começou a subir e em 17/18 é de 6.6.
Este quadro que é recorrentemente referido por docentes e direcções não surpreende.
Um trabalho da OCDE, “Measuring Innovation in Education”, divulgado já em 2019 mostrava que contrariamente ao que se passa com a generalidade dos países, em Portugal verificou-se um decréscimo do acesso dos alunos a computadores na escola.
Considerando o intervalo entre 2009 e 2015 o indicador de acesso dos alunos a portáteis subiu na generalidade dos países. Apenas o Japão e Portugal baixaram a percentagem, 5% no Japão e de 55% para 43% em Portugal.
No entanto, mais significativo e preocupante pois trata-se do período inicial da escolaridade, no 4º ano a percentagem de alunos com acesso a computadores ou portáteis nas aulas de leitura desceu de 47% em 2011 para 14% em 2016. A queda parece associada a ter terminado em 2011 o programa de distribuição dos “famosos” Magalhães.
O relatório da OCDE também sublinhava a importância deste recurso por parte das escolas públicas e o risco da falta de acesso poder associar-se ao agravamento das desigualdades em função da origem socioeconómica dos alunos que podem não compensar nos contextos familiares o acesso ao mundo digital. Os programas do ME de distribuição de computadores constituiram para muitas crianças a única forma de acederem a estes dispositivos, conheço várias situações.
Parece claro que as novas tecnologias, que já são velhas apesar da insistência na designação, não são a poção mágica para o ensino e aprendizagem. Os computadores ou tablets na sala de aula não promovem sucesso só pela sua existência. A forma como são utilizados por professores e alunos é que potencia a qualidade e os resultados desse trabalho. Aliás, o mesmo se pode dizer de qualquer outro recurso ou actividade no âmbito dos processos de aprendizagem.
No entanto, não podemos esquecer que múltiplos estudos e experiências valorizam este recurso nos processos de ensino e aprendizagem pelo que é importante garantir o acesso pela generalidade dos alunos.
Neste contexto e como já tenho afirmado, considerando o que se sabe em matéria de desenvolvimento das crianças e adolescentes, dos processos de ensino e aprendizagem e da sua complexa teia de variáveis, das experiências e dos estudos neste universo, mesmo quando aparentemente contraditórios, creio que:
1 – O contacto precoce com as novas tecnologias é, por princípio, uma experiência positiva para os alunos, para todos os alunos, se considerarmos o mundo em que vivemos e no qual eles se estão a preparar para viver. Nós adultos estamos a pagar um preço elevado pela iliteracia, os nossos miúdos não devem correr o risco da iliteracia informática.
2 – O computador/tablet na sala de aula é mais uma ferramenta, não é A ferramenta, não substitui a escrita manual, não substitui a aprendizagem do cálculo, não substitui coisa nenhuma, é “apenas” mais um meio, muito potente sem dúvida, ao dispor de alunos e professores para ensinar e aprender e agilizar o acesso a informação e conhecimento.
3 - O que dá qualidade e eficácia aos materiais e instrumentos que se utilizam na sala de aula não é a tanto a sua natureza mas, sobretudo, a sua utilização, ou seja, incontornavelmente, o trabalho dos professores é uma variável determinante. Posso ter um computador para fazer todos os dias a mesma tarefa, da mesma maneira, sobre o mesmo tema, etc. Rapidamente se atinge a desmotivação e ineficácia, é a utilização adequada que potencia o efeito as capacidades dos materiais e dispositivos.
4 - Para alguns alunos com necessidades especiais o computador pode ser mesmo a sua mais eficiente ferramenta e apoio para acesso ao currículo.
5 – Para além de garantir o acesso dos miúdos aos materiais é fundamental disponibilizar a formação e apoio ajustados aos professores sem os quais se compromete a qualidade do trabalho a desenvolver bem como, evidentemente, assegurar as condições exigidas para que o material possa ser rentabilizado.
6 – Finalmente, como em todo o trabalho educativo, são essenciais os dispositivos de regulação e avaliação do trabalho de alunos e professores.
7 – Tudo isto considerado a escola pública deve promover até ao limite a universalidade do acesso a estes dispositivos. Sim tem custos, mas a exclusão sai mais onerosa.
Como referi acima não eistem poções mágicas em educação por mais desejável que possa parecer a sua existência. No entanto, é importante garantir o acesso aos melhores recursos disponíveis a todos os alunos e a situação reportada pela DGEEC e pela OCDE pode ter implicações negativas.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

NÃO PODEMOS ESQUECER AQUELE 6 DE AGOSTO


Os tempos inquietantes que atravessamos tornam ainda mais importante que aquele 6 de Agosto de 1945 em Hiroshima não seja esquecido. A memória é-nos fundamental.
A merda de lideranças que governa a generalidade das grandes potências parecem sinistras personagens de um mau filme de guerra e terror. Mais inquietante ainda, algumas destas sinistras personagens foram eleitas.
É um tempo de “fake news”, de pós-verdade, de manipulação da história e da realidade, transformando o que é virtual no que é real. Os valores são de geometria variável, a Terra agoniza, as pessoas fogem e tudo lhes é negado.
E o futuro gente?

CERTIFICAR E QUALIFICAR


No âmbito do Programa Qualifica foi há dias anunciado um concurso para abertura de novos centros de formação de adultos. Como foi definido o a iniciativa Qualifica enquadra-se no Programa Integrado de Educação e Formação de Adultos destinado aos que “não tiveram oportunidade de estudar no tempo mais natural, mas também àqueles que, ainda sendo jovens, não conseguiram completar a escolaridade obrigatória”.
A meta estabelecida foi a qualificação de 600 000 adultos até 2020. Em meados de 2019, o terceiro ano de funcionamento do programa, 360 mil adultos inscreveram-se nos centros Qualifica o que de acordo com o Governo está acima dos objectivos definidos, 145 mil inscrições por ano.
Do total de inscritos, a maioria acedeu a ofertas de formação como os Cursos de Educação e Formação de Adultos mais exigentes que os processos de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, RVCC, nos quais se inscreveram cerca de 80 000 cidadãos.
A qualificação e formação de adultos é ainda uma das grandes prioridades de Portugal, 55% da população não tem o ensino secundário completo com consequências muito significativas em sociedades marcadas pelo conhecimento e avanço tecnológico.
A qualificação é um bem de primeira necessidade e a melhor forma de combater exclusão e pobreza.
Os dados conhecidos representam ainda uma recuperação pois nos últimos anos tinha-se verificado um forte abaixamento nos dispositivos e recursos alocados à educação permanente ou aprendizagem ao longo da vida. Na legislatura anterior o número de adultos envolvidos em processos de formação passou de 260 000 em 2011 para 57 862 em 2015.
Não tenho informação que me permita construir uma perspectiva global embora algumas experiências que conheço mostrem realidade assimétricas entre o muito bom e o muito mau, dimensão em que a educação em Portugal é verdadeiramente inclusiva.
No entanto, espero, desejo, que o processo em curso seja de facto de qualificação e de reconhecimento de reconhecimento, validação e certificação de competências de facto comprovadas e a justificar valorização formal e não uma “certificação” que compõe estatísticas.
Ainda recordo o Programa Novas Oportunidades que partindo de uma fortíssima necessidade e de um conjunto de princípios correctos, se transformou num enorme equívoco devido a uma enorme pressão “certificadora” que confundiu “certificação” com qualificação” apesar do esforço e dedicação de muitos profissionais envolvidos que eram pressionados para objectivos de “certificação”.
Como disse, espero que os números conhecidos se traduzam em reais processos de qualificação ou de reconhecimento, validação, certificação de competências efectivamente demonstradas e que se resista à tentação de trabalhar para a “estatística”, instalando um fingimento de formação e certificação de competências que promovendo certificação não promove qualificação.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

DE FÉRIAS


E pronto, férias. É verdade que o meu trabalho, por natureza, necessidade e gozo, solicita alguma actividade neste Agosto, o tempo dedicado às férias. Aliás, costumo dizer aos mais novos que têm a generosidade de me desejar boas férias que na minha idade já não temos férias, trata-se, felizmente, acrescento, de repouso activo. Riem-se, poupam-me à explicação mas acho que um dia vão entender.
Ainda sobre as férias e com uma ponta de provocação para ter pretexto para conversas de verão, vou mais longe, afirmo que, muitas vezes, estar de férias é uma questão de atitude. Passo a explicar. Todos nós conhecemos imensa gente que chegando as férias desata numa agitação sem fim procurando, dizem, o que não têm em tempo de trabalho. Ganham stress em deslocações, filas de espera para tudo, calor, fechadas em grupos e em locais cheios de gente igualmente stressada. Nesta altura estamos ainda na expectativa de uma anunciada greve de motoristas que, a confirmar-se, será seguramente uma enorme fonte de desassossego.
No fim deste tempo que voa estão tão cansados que só aguentam tal situação acreditando que tiverem umas férias “fantásticas”. Ainda bem. Provavelmente precisariam de umas férias para descansar das férias.
Por outro lado, também conhecemos pessoas que, sorte a sua, têm uma relação tranquila com a sua vida e com o seu trabalho, atitude que mantêm quando o trabalho se interrompe e quando algumas rotinas mudam.
Daí a ideia de que estar de férias é uma questão de atitude.
Boas férias.

domingo, 4 de agosto de 2019

O ALPINISTA


De vez em quando, esta é uma dessas alturas, o clima político e económico faz-me recordar uma personagem cuja história já aqui contei.
Era uma vez um homem chamado Alpinista. Nasceu numa terra pequena onde muita gente gostava de praticar a subida, na vida, é claro. Uns conseguiam subir alguma coisa, outros nem tanto, mas tinham pena.
O Alpinista, foi um rapaz discreto sem de início revelar algumas especiais capacidades ou dotes que o habilitassem ao sucesso, subir na vida. No entanto, tinha alguma capacidade discursiva, era perspicaz e assertivo, conseguia perceber sem grande dificuldade o caminho a seguir e fazia-o de forma convicta.
Durante a adolescência e olhando para o que se passava naquela terra, tudo o que era lugares importantes eram ocupados de acordo com o aparelho partidário do partido que ocupasse o poder naquela altura e verificando que outros lugares exigiriam um mérito a que ele não acederia, decidiu-se pela via partidária. Analisou a oferta e optou pelo partido que lhe pareceu com maior probabilidade de ocupar o poder durante mais tempo inscrevendo-se na juventude partidária. Diligentemente o Alpinista cumpria as tarefas que lhe eram cometidas e com a sua capacidade discursiva foi subindo na hierarquia, tendo chegado a um patamar que lhe garantiu um lugar nas listas de deputados em representação da juventude. Entretanto inscreveu-se numa daquelas universidades em que a exigência em certos cursos e para figuras de algum relevo público não é muito grande, mas que, para compensar, as notas são mais altas e passou a Dr. Alpinista. O bom desempenho no aparelho do partido e a fidelidade canina no Parlamento, levaram-no a uma irrelevante Secretaria de Estado durante alguns mandatos. A sua acção, socialmente insignificante, mas partidariamente relevante valeu-lhe, à saída do Governo, um lugar na administração de uma empresa de capitais públicos de uma área que ignorava por completo.
Alguns, poucos, anos depois o Alpinista reformou-se, retirando-se para uma das propriedades que faziam parte do património que entretanto tinha adquirido e dedicou-se à escrita.
O livro que produziu, autobiográfico, rapidamente se transformou num enorme sucesso, tem por título, “O Manual do Alpinista”.

sábado, 3 de agosto de 2019

"JÁ CHEIRA A FÉRIAS"


Gostei de ler o texto de João Ruivo, “Já cheira a férias”, que, anunciando as férias, estabelece um “caderno de encargos” para o futuro em matéria de educação que me parece constituir uma boa base de reflexão.
(…)
Mas, para que esse investimento pessoal e profissional resulte em eficiência organizacional, torna-se indispensável que se conjuguem cinco condições, ou objectivos básicos de intervenção: 1ª- Conceder aos educadores autonomia de decisão quanto à elaboração de projectos curriculares, a partir de um trabalho sistemático de indagação, partilhado com os seus colegas. 2ª- Prestar especial atenção à integração da diversidade dos alunos, num projecto de educação compreensiva, que atenda às características e necessidades individuais. 3ª- Manter um alto nível de preocupação quanto ao desenvolvimento de uma cultura de avaliação do trabalho individual e do funcionamento organizacional das escolas. 4ª- Associar a flexibilidade à evolução, face ao reconhecimento que os professores detêm diferentes ritmos para atingirem os objectivos que os aproximem dos indicadores sociais da mudança. 5ª- Manter, finalmente, uma grande abertura às propostas e às expectativas de participação de todos os elementos da comunidade educativa, enquanto condição para promover a ruptura que conduz à renovação.
Infelizmente, a última década não permitiu alimentar este tipo de optimismos. Razões alheias ao crescimento profissional dos docentes, como o são as ancoradas nas crises demográficas, ou em medidas de política educativa, anunciavam tempos de ruptura, pouco favoráveis à reflexão serena sobre o futuro da escola. (…)