Acho que é inevitável. Sempre que mais um ano passa por nós,
pensamos no tempo e nas alterações que se vão verificando na relação com ele. Sendo
tempo de férias, repouso activo como lhe chamo, até o tempo é mais para pensar
no tempo.
Quando era miúdo, jovem, há já muitos anos, tinha a sensação
de que o tempo demorava muito tempo, demasiado tempo, a passar. Era um tempo de
pressa, de cres-ser. Lembro-me, por
exemplo, do desejo de chegar rapidamente aos dois dígitos na idade, já não
seria um “puto”, pensava eu.
Quando comecei a minha vida profissional e vida familiar
própria, emergiu a dificuldade de transformar, organizar o tempo, tanto sobrava
como faltava.
A partir de certa altura, não sei dizer qual, a gente sente,
a relação com o tempo muda significativamente e fica algo entre o ambíguo e o
paradoxo. Por um lado, sentimos que a velocidade do tempo é bem superior à do
relógio, o amanhã é ontem, com tanto ainda por fazer. Quem trabalha e continua com uma enorme paixão pela educação ainda sente mais o quanto está sempre por fazer. Por outro lado, creio que
começamos a ser capazes de assumir uma atitude de serenidade face às coisas da
vida, ao tempo, que retira pressa e, apesar da Atenta Inquietude, nos dá
brandura como se diz no meu Alentejo.
Este tempo velho também nos faz olhar para dentro ao olhar
para trás e perceber o gozo de começarmos a atingir, do ponto de vista social,
alguma inimputabilidade. Não se assustem, é que quando dizia ou fazia certas
coisas aos vinte e poucos recolhia, frequentemente e no mínimo, um olhar
reprovador. Actualmente, as mesmas afirmações ou comportamentos garantem-me um
sorriso de condescendência e empatia, “já velho e como ele se porta ou fala”.
Outra enorme conquista do tempo velho é a possibilidade de
contar histórias, histórias nossas, vividas, convividas ou … inventadas. No
fundo acho que é isso que se espera e, talvez por essa razão, cada vez gosto
mais de histórias.
Finalmente, chegando a este tempo velho, sabe bem uma viagem
assim grande à beira de quem gostamos.
Pois então … que venham mais uns quantos.
Como eu me revejo no dito... credo!
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