AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A GRANDE CONTRATAÇÃO DO MERCADO DE JANEIRO

Em tempo de balanços, Francisco Assis arrisca uma previsão sobre a queda do Governo de Costa e não poupa nos elogios a Passos Coelho e à bancada parlamentar do CDS.

Está desvendado o grande segredo do mercado de Janeiro e trata-se sem dúvida de uma inesperada contratação, pelo menos nesta altura do campeonato. Nem a ida de Jorge Jesus para o Sporting se compara com esta movimentação.
Parece bem encaminhada a transferência sensacional de Francisco Assis para o PSD. Não são conhecidos pormenores do negócio mas algumas fontes informam que se trata de um acordo satisfatório para ambas as partes e que terá sido, claro, intermediado por Jorge Mendes..
Em algumas tertúlias já corriam rumores e elementos próximos do artista asseguram que se trata de um namoro antigo que só agora o mercado permitiu concretizar. 
Com a saída do Tio Paulo da liderança do CDS-PP o PSD com a contratação de Francisco Assis reforça a sua equipa com um elemento experiente em todas as dimensões do jogo, ataca e defende bem, excelente técnica no "um contra um", bom no jogo de cabeça, bem preparado para jogar em todos os terrenos, mesmo nos mais enlameados, habituado aos jogos europeus, pode vir a ter um papel importante na sua nova equipa.
O PS talvez não sinta tanto a falta de Francisco Assis pois, consta, estava a perder peso no balneário havendo mesmo elementos da equipa que o contestavam pela sua expressa falta de confiança no treinador e nas suas opções tácticas e estratégicas.
Aguarda-se a confirmação da sensacional transferência.

ARRANJA-ME UM EMPREGO

Sérgio Monteiro ganha 304,8 mil euros com Novo Banco

Como é reconhecido, a questão do desemprego é de uma enorme gravidade e complexidade. São fundamentais medidas eficazes e diversas de promoção de emprego. Porque não começar pelos amigos?
Fazem parte de uma lista VIP, têm o cartão certo, portanto ...
Há que começar por algum lado e os amigos são para as ocasiões.
Aliás, o povo costuma dizer, "quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte".
Cambada de artistas, nem as moscas, às vezes, variam.
São assim as contas da partidocracia. Em alternância pois claro.


E SE POR UMA VEZ, SÓ POR UMA VEZ, O ANO NOVO FOSSE MESMO NOVO?

Vamos então mudar de ano. 
Estamos no tempo em que todas as falas e todos os escritos acabam num incontornável Bom Ano Novo. Muito de nós fazem mesmo questão de se preparar a sério para receberem o Ano Novo, de acordo com as posses de cada um, evidentemente. Aliás, o Ano que virá também virá de acordo com as posses de cada um. É sempre assim. E se não fosse?
E se por uma vez, só por uma vez, o Ano Novo fosse mesmo Novo. Por exemplo.
Ser Novo no respeito efectivo pela dignidade, pelos direitos básicos das pessoas e no combate às desigualdades e à exclusão e pobreza.
Ser Novo na gestão da coisa pública com transparência, justiça e ao serviço das pessoas.
Ser Novo na definição de políticas dirigidas às pessoas e não ao sabor dos endeusados mercados e da agenda da partidocracia.
Ser Novo no recentrar das grandes questões da educação na qualidade dos processos educativos, na tranquilidade e no sucesso do trabalho de alunos e professores.
Ser Novo na construção de uma escola onde coubessem todos os alunos sem que o cumprimento de direitos e a qualidade da resposta pública a todos os que estão na idade de a frequentar pudesse, sequer, ser motivo de discussão.
Ser Novo no combate ao desperdício e à iniquidade de mordomias insustentáveis.
Ser Novo nos discursos e padrões éticos das lideranças políticas, económicas e sociais.
Ser mesmo Novo, estão a ver?
De repente, ao escrever estas notas, lembrei-me do Zé, um jovem com uma deficiência motora significativa com quem me cruzei há anos, que quando falava de alguns dos seus desejos de futuro terminava sempre da mesma maneira, “sonhar? sonhar não custa nada, viver é que custa”.
Que o Ano Novo vos (nos) seja leve.
Tão leve quanto possível.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

AS METAS CURRICULARES VOLTARAM À AGENDA

Esta questão deve ser vista com prudência e sem “facilitismos” de natureza simbólica tal como afirmei a propósito da extinção do exame do 4º ano.
De facto se a sua existência, só por si, nunca me pareceu um contributo sólido para a qualidade da educação o que é suportado por estudos, comparações e relatórios internacionais, a sua extinção, só por si, também não traz qualidade. Importa ainda considerar a importância da existência de dispositivos de avaliação externa.
Na mesma linha deverá ser cauteloso o processo relativo às metas curriculares embora tenhamos sempre de considerar a tentação do “ímpeto reformista” que as sucessivas equipas do ME sentem levando o sistema a uma deriva inconsequente e com efeitos negativos.
Estou perfeitamente à vontade porque desde o início afirmei que as metas curriculares, tal como estão definidas, são parte do problema e não parte da solução. Trabalhos como o da Professora Dulce Gonçalves da Universidade de Lisboa sobre o 1º ciclo, a posição da esmagadora maioria das associações profissionais de professores e o contacto com muitos professores e escolas mostram a tremenda dificuldade criada a professores e alunos pela forma como estão definidas as metas curriculares.
No entanto, insisto, a mudança deve ser muito cautelosamente e solidamente preparada.
As metas curriculares, com esta ou outra designação podem e devem funcionar como uma ferramenta orientadora e útil para o trabalho de alunos e professores. Para que isso aconteça deverão ser de simples utilização e operacionalização e decorrentes de modelos curriculares diferentes dos actuais, demasiado extensos, prescritivos e espartilhados.
Como exemplo vejamos apenas o 1º ciclo em Matemática e Português. Em Matemática são definidos 3 domínios que se desdobram como segue. No 1º ano, em 8 sub-domínios, 13 objectivos e 62 descritores, no 2º ano em 11 sub-domínios, 22 objectivos e 82 descritores, no 3º ano em 11 sub-domínios, 22 objectivos e 98 descritores e no 4º ano em 6 sub-domínios, 15 objectivos e 81 descritores o que em síntese corresponde a 72 objectivos e 323 descritores para Matemática do 1º ciclo.
Se juntarmos Português teremos um total de 177 objectivos e 703 descritores. Por anos, temos: no 1º ano, 33 objectivos e 143 descritores; no 2º, 47 objectivos e 168 descritores; no 3º, 51 objectivos e 202 descritores e no 4º, 46 objectivos e 190 descritores. É obra, uff.
O Programa de Português para o ensino Básico estabelece perto de 1 000 metas curriculares,
Este entendimento pode levar a que o ensino se transforme na gestão de uma espécie de "check list" das metas estabelecidas implicando a impossibilidade de acomodar as diferenças, óbvias, entre os alunos, os seus ritmos de aprendizagem.
Aliás, neste contexto recordo a afirmação dos autores das metas curriculares, de que estas estabelecem o que os alunos deverão imprescindivelmente revelar, “exigindo da parte do professor o ensino formal de cada um dos desempenhos referidos nos descritores”.
Este cenário, aplicado em todas as áreas ou disciplinas, em turmas de 26 alunos no 1º ciclo e de 30 a partir do 5º ano, constituídas por alunos com ritmos diferentes e assimetrias nos seus percursos e competências, deixa-me uma imensidade de dúvidas sobre a aplicação das metas curriculares, tal como estão definidas actualmente.
Em síntese, sim esta situação necessita ajustamentos mas “depressa e bem não há quem” e as “reformas” devem ser preparadas com competência, com participação, com recursos e com tempo.

PREVISÕES PARA 2016

Como é habitual, à entrada de um novo ano são mais do que muitas as tentativas de prever os dias que nos aguardam.
Acotovelam-se "opinadores", comentadores, estudiosos, analistas, especialistas, politólogos, "pessoas conhecedoras" (uma espécie em levar em conta), enfim, uma infinidade de tudólogos que em tudo quanto é comunicação social se "engarrafam" na produção de infalíveis previsões. Este ano regista-se a importante baixa do oráculo dos oráculos, o Professor, que anda a dar uso à imagem no “diz que é uma espécie de campanha eleitoral” envolvido em algo que adivinha ser a sua definitiva performance, ganhar as eleições presidenciais.
Não tenho dotes nem a intenção de substituir quem quer que seja pelo que deixo um pequeno contributo no que respeita a previsões e que é sempre de grande e comprovada utilidade.
Bom Ano


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

A CAMPANHA "LOW COST" DO CATA-VENTO

Esta afirmação de Marcelo Rebelo de Sousa sugere umas notas breves.
Creio que muitas das pessoas que a lerem ou ouvirem tenderão a concordar quase de imediato. 
No entanto, o sentido desta frase não é, parece-me claro, o seu valor facial. Trata-se de um monumento de cinismo hipócrita e demagógico. Aliás, é coerente com a campanha altamente tóxica e atípica a que vamos assistindo
É demagógica porque vai ao encontro dos discursos de muita gente que entende que a democracia não tem custos. Tem custos e é por isso que as campanhas podem fazer parte da  ... democracia. Se assim não for apenas os muito ricos ou os despudorados que andam décadas a receber muito dinheiro num tempo de antena sem fim poderiam fazer chegar a sua mensagem aos cidadãos eleitores. Isto não quer dizer que não defenda contenção e menos circo nas campanhas eleitorais. 
É cínica e hipócrita porque esquece as vantagens que esse continuado tempo de antena diletantemente usado a "fazer opinião", "a adivinhar o futuro" e a "educar as massas" lhe dão face a outros candidatos que precisam de meios para fazer chegar ideias aos eleitores.
É cínica porque joga com os sentimentos anti-politica dos cidadãos para diabolizar os candidatos que sem campanha ... não chegam às pessoas e as eleições democráticas seriam um passeio para Marcelo. Estranho entendimento de democracia. Aliás não é original, Cavaco Silva é um mestre nesta manhosa "arte".
É ainda cínica e hipócrita porque usa como arma de arremesso as dificuldades e tragédias da vida das pessoas sem que se oiça uma palavra ou uma ideia para o seu projecto enquanto Presidente da República para minorar as dificuldades de que despudoradamente se serve para se fazer eleger sem concorrência.
É ainda cínica e hipócrita porque na linha do que tem sido as suas últimas aparições saltita por todas as áreas de vulnerabilidade para capitalizar a sua cara conhecida. Veja-se o seu público esvoaçar entre instituições de solidariedade social e as aproximações à tutela religiosa de boa parte dessas instituições pois muitos votos poderão daí poderão vir de forma baratucha.
Sou suspeito porque defendo a candidatura de Sampaio da Nóvoa mas é justamente por isso, pelo que escrevi antes e porque conheço a sua seriedade, dignidade e visão que a defendo.
Como disse Passos Coelho, antes de ser obrigado a converter-se ao Professor, não precisamos de um cata-vento na Presidência, precisamos de um Homem, Sampaio da Nóvoa.

DIAS DO ALENTEJO

Ia começar a dar a habitual volta pela imprensa e espreitar o mundo ou, melhor, o mundo que nos mostram.
Provavelmente encontraria algo que justificasse umas notas.
No entanto e por agora desisti.
Depois de um dia de ontem com bastante água, bem chovida como se diz por cá no Alentejo, o de hoje amanheceu lindíssimo como quase sempre ficam os dias a seguir à chuva.
Ainda cedo estava uma névoa que o Sol foi dissipando instalando uma luz e uma quentura que chama para rua.
A Terra ri-se com a água que recebeu e tem os verdes ainda mais verdes.
As árvores parecem lavadas e nem se pode passar por baixo delas pois pingam acho que de contentes.
Agora vou lá para fora espreitar este Mundo, deixo o outro, os outros, para mais logo.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

IRREVOGÁVEL! A SÉRIO?

Paulo Portas não se vai recandidatar à liderança do CDS-PP no próximo congresso que se realiza na Primavera. O anúncio foi feito esta segunda-feira à noite numa reunião da comissão política nacional do partido, convocada para preparar a reunião magna dos centristas. É uma decisão definitiva, garantiu o actual presidente do CDS que, segundo fontes do partido, mostrou calma e uma atitude reflectida.

O Tio Paulo, o Portas, informou que não se recandidata à liderança do CDS-PP. A rapaziada está ainda em choque. Pode ainda acontecer que se pedirem muito, mas mesmo muito, o Tio Paulo reconsidere mais esta sua irrevogável decisão. Não será fácil pois o poder parece mais longe e a atracção pelo poder é o grande revogador de decisões irrevogáveis.
Entretanto com a criatividade que o caracteriza, o Tio  Paulo lançou uma espécie de Got Talent no CDS-PP em que os putativos candidatos à sua sucessão, no caso de se manter irrevogável, exibirão à vez os seus dotes nos próximos debates parlamentares sendo então atribuído o ansiado prémio, suceder ao Tio Portas.
Aquele rapaz, o Nuno Melo, parece bem colocado, já fala como o Tio Paulo, copia o visual, apenas terá de treinar aquele frémito no olhar com um leve pestanejar com que o Tio Paulo termina cada sound bite e num gesto teatral voltar-se e caminhar decidido não importa para onde.
Cá para mim aposto naquele rapaz o João Almeida, há ali um "je ne sais quoi" que o faz parecer talhado para grandes voos. No entanto, a Dra. Assunção Cristas também mostrará os seus talentos que não devem ser desconsiderados. 
Aguarda-se com alguma ansiedade o início do concurso.

ENTRE O NATAL E O ANO NOVO

Os dias que medeiam entre o Natal e o Ano Novo têm, do meu ponto de vista, um conjunto de características muito particulares. Fico sempre com a sensação de que os vivemos como não dias. Pode parecer uma ideia estranha mas vou tentar explicar.
Logo depois do Natal, ainda a recuperar do espírito natalício, entramos numa espécie de ressaca advinda da azáfama das prendas, dadas, recebidas ou sonhadas e da culpa resultante dos excessos. É verdade que logo o ânimo se recupera na corrida aos saldos o que mostra o efeito terapêutico do mercado.
Deste estado, passamos para os dias de aproximação ao Ano Novo que, independentemente do que de menos bom possamos racionalmente esperar, vivemos com a esperança de que seja mesmo novo e, sobretudo, Bom.
Trocamos milhares de mensagens e votos noutra azáfama que parece assentar numa ideia mágica dos tempos de miúdo que nos parece fazer acreditar que se assim procedermos, o Ano Novo vai ser mesmo Novo e, repito, Bom. De tanto falarmos nele, ele vai convencer-se de que terá mesmo que ser assim.
É certo que de há uns tempos para cá, como devem ter dado por isso, foi desaparecendo o Próspero, basta que seja Bom, ou até mesmo que não seja pior do que este. Já era bem bom, por assim dizer.
É também muito provável que nos últimos dias do próximo Dezembro, o de 2016, estaremos com o mesmo sentimento a enunciar os mesmos discursos apesar das promessas optimistas de que ... a coisa está a mudar..
Alguns de nós tentarão de forma mais ou menos dispendiosa ou criativa encontrar uma maneira feliz e divertida, assim a entendemos, de entrar em Janeiro, no Ano Novo, portanto. Pode até nem ser muito divertida mas vai parecer com toda a certeza. Este ano, talvez a coisa ainda seja um pouco comedida, efeitos da crise, é claro.
No entanto, como se sabe a crise quando nasce não é para todos e haverá réveillons para todas as bolsas. Acresce que muitas autarquias no seu espírito de missão e de serviço ao cidadão proporcionarão fantásticos espectáculos de fogo-de-artifício e música para que toda agente possa receber o Ano Novo sem grande custo.
O problema mais sério é que a 2 de Janeiro está aí o Ano Novo que, para muita gente, vai continuar velho e para muita outra gente não vai ser Bom, longe disso.
Mas para um povo sereno e de brandos costumes como nós, haja saúde que é o principal, no resto, no resto, algum jeito se há-de dar.
Bom Ano.

O JUÍZO DE ALGUNS JUÍZES

O rapaz foi condenado pois o Tribunal deu como provado o seu comportamento lesivo da empresa que, aliás, era recorrente.
Entretanto, a REFER numa estranha quanto injusta decisão face a tão competente e leal funcionário instaurou-lhe um processo que acabou com o despedimento por justa causa.
O rapaz sentiu-se injustiçado foi para Tribunal e ... ganhou, não havia justa causa para despedimento.
A REFER recorreu e o Tribunal da Relação do Porto voltou a considerar a não existência de justa causa condenando a REFER numa indemnização de 80 000 € ao seu ex-diligente e honesto funcionário.
Vale a pena recordar que foi também este Tribunal que em 2011 absolveu um psiquiatra que, comprovadamente, sublinho comprovadamente, violou uma paciente que acompanhava num quadro de depressão. A justificação para a absolvição foi que o psiquiatra criminoso violou a paciente mas não usou de violência. Notável e criminosa esta decisão: Tal como a que agora se conhece parece incompreensível 
Por onde anda o juízo de alguns juízes?
Muitas vezes tenho referido no Atenta Inquietude que uma das dimensões fundamentais para uma cidadania de qualidade é a confiança no sistema de justiça. É imprescindível que cada um de nós sinta confiança na administração equitativa, justa e célere da justiça. Assim sendo, a forma como é percebida a justiça em Portugal, forte com os fracos, fraca com os fortes, lenta, mergulhada em conflitualidade com origem nos interesses corporativos e nos equilíbrios da partidocracia vigente constitui uma das maiores fragilidades da nossa vida colectiva.

OS PROBLEMAS ESPECIAIS DOS ALUNOS ESPECIAIS

Posso compreender a dificuldade de resposta próxima problemas de maior gravidade e menor prevalência mas não posso aceitar que o direito à educação seja assegurado com este custo para a criança apesar da escola suportar a despesa de deslocação com o recuso a um táxi.
Não vale a pena referir o impacto desta jornada na vida do Diogo que tem sete anos.
Este tipo de situações ilustra uma das consequências da criação de respostas que levam ao acantonamento de crianças com problemas semelhantes no mesmo espaço educativo. Claro que a medida, como sempre, é realizada em nome da inclusão.
Sim, eu sei que fazer chegar à criança um professor especializado e os recursos necessários terão custos elevados mas também sei que os direitos têm custos. Desculpem a pontinha de demagogia mas parece-me mais aceitável que os meus impostos se apliquem no direito à educação em condições de qualidade e não discriminação do Diogo do que em salvar o dinheiro dos grandes depositantes e accionistas do Banif, ou do BPN, ou do …
Nada de novo, na verdade, as crianças com necessidades educativas especiais, as suas famílias e os professores e técnicos, especializados ou do ensino regular conhecem, sobretudo sentem, um conjunto enorme de dificuldades para, no fundo, garantir não mais do que algo básico e garantido constitucionalmente, o direito à educação e, tanto quanto possível, junto das crianças da mesma faixa etária. É assim que as comunidades estão organizadas, não representa nada de extraordinário e muito menos um privilégio.
Como é evidente, em situações de dificuldade económica, as minorias, são sempre mais vulneráveis, falta-lhes voz.
Como sempre afirmo, os níveis de desenvolvimento das comunidades também se aferem pela forma como cuidam das minorias.

domingo, 27 de dezembro de 2015

HOJE A IMPRENSA É NOTÍCIA. AGUENTA-TE PÚBLICO

Hoje a imprensa é notícia. A leitura de algumas crónicas do Público de hoje, Daniel Sampaio ou Alexandra Lucas Coelho, deixam perceber a existência de um plano de reestruturação decorrente dos milhões de prejuízo que o jornal vem acumulando.
O texto de Alexandra Lucas Coelho merece leitura e reflexão atentas incluindo pelos detentores e responsáveis do Público.
A ameaça sobre o Público, um dos que compro desde o primeiro número inquieta-me, os jornais são um dos alicerces da democracia e o Público é um dos bons exemplos mesmo quando me faz irritar mas as relações são assim.
É recorrente, não só em Portugal, a discussão da questão da sobrevivência da imprensa e, naturalmente, da sua independência face aos poderes, político e económico, designadamente. Sabemos das tentativas recorrentes de controlo político da imprensa, como também sabemos da eventual agenda implícita dos investimentos dos grupos e poderes económicos na imprensa, veja-se os investimentos angolanos na comunicação social em Portugal e os desenvolvimentos recentes que envolvem o Sol e o I.
Por outro lado, a evolução do próprio mundo dos jornais, a evolução exponencial do universo do on-line, a conjuntura económica inibidora de gastos das famílias em bens “não essenciais” e, caso particular de Portugal, o baixo nível de hábitos de leitura e consumo da imprensa escrita, produzem dificuldades de sobrevivência de títulos de qualidade, chamados de referência, abrindo caminho à chamada imprensa tablóide que, apesar das oscilações, se mantém relativamente saudável, o que se entende. São também tablóides os tempos.
Como leitor de jornais desde muito novo, é sempre com inquietação que penso nestas questões e vou assistindo ao abaixamento das tiragens em papel, também do Público. Há alguns anos quando estava aqui no meu Alentejo se não o reservasse não conseguia obtê-lo, agora tem sistematicamente sobras.
Numa entrevista ao Público há já algum tempo, um especialista, Tom Rosenstiel afirmava que se o jornalismo, (os jornais), deixar de ser rentável e, como tal, correr o risco de desaparecimento, as democracias poderão sofrer um "cataclismo cívico". Creio que a cidadania de qualidade exige uma imprensa não só voltada para o imediatismo da espuma dos dias e acredito que apesar das mudanças em tecnologia e das incidências do mercado a que os jornalistas e os jornais deverão adaptar-se, os jornais em papel são como os dias, nunca acabam. Se forem jornais, bons jornais, independentemente do suporte.
Quando escrevo sobre estas matérias recordo-me sempre de jornais e jornalistas que me têm acompanhado ao longo da vida e que me fazem manter leitor diário de jornais em papel. É que, apesar de também consumir informação noutros suportes, não é a mesma coisa.
Sem a preocupação de ser exaustivo ou seguir qualquer ordem que não seja a memória, algumas referências que estão dentro da minha mochila. Quando era miúdo aguardava com a maior das ansiedades que o meu pai chegasse do trabalho no Arsenal do Alfeite para trazer a Bola já lida por muitas mãos e onde se "aprendia" a ler com o Vítor Santos ou o Aurélio Márcio.
Lembro-me como a adolescência e juventude ficaram ligadas a títulos como o Comércio do Funchal com Vicente Jorge Silva que veio a estar ligado ao aparecimento do Público de que foi, aliás, o primeiro director, o Jornal do Fundão com o António Paulouro ou o Notícias da Amadora, janelas, frestas, por onde se espreitava a realidade que um regime espesso e fechado teimava em esconder e censurar.
Recordo com saudade o Diário de Lisboa com o suplemento A Mosca com Luís Sttau Monteiro ou as ilustrações do Abel Manta ou o Diário Popular com o Baptista Bastos que ainda anda por aí. A circunspecção formal e competente do Diário de Notícias com Mário Mesquita e o outro Mário, o Bettencourt Resendes, ou a inovação e agitação trazida pelo Independente de Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas. Não esqueço a abertura possível verificada com a "ala liberal" de Pinto Balsemão ou Sá Carneiro ligada ao Expresso que mexeu seriamente com o jornalismo em Portugal. Relembro o espaço que o Jornal de Letras veio ocupar com José Carlos Vasconcelos.
Finalmente, o registo do aparecimento do Público, um companheiro com quem me zango tantas vezes mas que continua a entrar diariamente cá em casa na versão papel.
A imprescindível sobrevivência dos jornais, dos bons jornais, para além da qualidade e competência do seu próprio trabalho, garante-se na escola, nos hábitos de leitura, na educação. Na cidadania.
Aguenta-te Público, fazes falta. 

PELA NOSSA SAÚDE

A tragédia da morte de uma pessoa no Hospital de S. José nas circunstâncias conhecidas é apenas a ponta dramática e mediatizada do iceberg constituído pelos problemas que a generalidade dos utentes e funcionários do SNS sentem e reconhecem existir.
Sempre recordo Michael Marmot, reconhecido especialista em saúde pública, que há algum tempo esteve em Portugal e afirmou que todas as políticas podem, ou devem, ser avaliadas pelos seus impactos na área da saúde. Eu diria que também podem, ou devem, ser considerados os impactos em áreas como educação, apoios sociais ou justiça, áreas que, tal como a saúde são cruciais para a vida das pessoas, sobretudo das mais vulneráveis.
Talvez a ideia da austeridade “cega”, do "custe o que custar" fosse de repensar e assumir que se foi longe de mais. 
A ideia mil vezes repetida para que se tornasse uma verdade, TINA – There Is No Alternative, é falsa. Tratou-se, evidentemente, de uma opção política por obediência a um diktat que a ânsia de obediência da pequenez dos “bons alunos” ampliou até ao intolerável e com consequências devastadoras.

sábado, 26 de dezembro de 2015

O HOMEM QUE PEDIU A DESISTÊNCIA DE SAMPAIO DA NÓVOA

A argumentação é arrasadora, "inexperiência política", "impressionante desconhecimento do país”, “não merece o lugar”, “ter aberto o caminho a uma vitória fácil da direita” “derrota certa nos debates quando confrontado com as suas tremendas fragilidades e contradições”, “pôr os seus interesses pessoais à frente de tudo”, “extremismo das posições políticas” são alguns exemplos.
Quando li confesso que de início senti uma certa dificuldade em perceber como é que este conjunto de afirmações se aplicava a Sampaio da Nóvoa.
Creio que, passe a imodéstia, consegui entender. Dado que anda estamos na época de Natal, portanto de solidariedade, e que pode acontecer que alguém sinta a mesma dificuldade que eu, deixo uma pequena ajuda para descodificar as afirmações extraordinárias de Cândido Ferreira, uma figura de altíssimo relevo na vida portuguesa.
Quando refere que Sampaio da Nóvoa apresenta “inexperiência política” quer dizer que não tem um percurso construído dentro de um aparelho partidário e o desempenho de cargos de extrema relevância como Presidente de uma Federação Distrital partidária.
Quando refere que Sampaio da Nóvoa revela um “impressionante desconhecimento do país” deve entender-se, na linha do que escrevi acima que não conhece por dentro os meandros da “partidocracia” e do aparelhismo. Como é sabido só é possível conhecer o chamado “país real” através da vivência de um aparelho partidário.
Quando afirma que Sampaio da Nóvoa “não merece o lugar” parece claro o sentido. Não sendo Sampaio da Nóvoa um de “nós”, os alpinistas que sobem através de obras notáveis nos aparelhos partidários e pelas quais são devidamente recompensados, como pode então aspirar à Presidência, não tem currículo, nunca foi, por exemplo, Presidente de uma Federação Distrital partidária, Presidente de um partido como Maria de Belém ou  Marcelo Rebelo de Sousa, esses sim currículos que fazem merecer a Presidência.  
Quando acusa Sampaio da Nóvoa de “ter aberto a vitória a uma candidatura fácil da direita”, a mensagem subliminar é que Sampaio da Nóvoa será o candidato em melhores condições de contrariar o peso mediático do famoso “entertainer” político também conhecido por Professor Marcelo, ou seja, não serve objectivamente os interesses de um grupo que também fabricou a candidatura de Maria de Belém.
Cândido Ferreira solicita ainda a desistência de Sampaio da Nóvoa por “pôr os interesses pessoais à frente de tudo”. Não foi fácil mas creio que percebi. Sampaio da Nóvoa tem feito uma pré-campanha em que as iniciativas e os discursos são dirigidos para Portugal e para os Portugueses, para as diferentes dimensões da nossa vida comum e visando a construção de um projecto em que todos caibamos. Torna-se assim evidente que os interesses de Sampaio da Nóvoa colidem com os interesses de ocasião arrumados em torno da luta pelo poder e pela sua distribuição protagonizada pelos aparelhistas de serviço com a devida compensação pelos bons serviços. De facto, existe uma séria divergência de interesses.
Finalmente, Sampaio da Nóvoa deveria desistir porque, acha o enorme Cândido Ferreira, apresenta um “extremismo das ideias políticas”. Aqui parece-me mais claro, Sampaio da Nóvoa entende que a política é a gestão do bem estar das pessoas, de todas as pessoas, e não dos mercados, que a política dever ser realizada com valores, com ética e solidariedade e coesão social. Torna-se claro que posições radicais desta natureza deveriam ser banidas e não podem ser toleradas como bem tem afirmado do Cavaco Silva.
Depois deste pequeno exercício de interpretação da carta aberta de Cândido Ferreira a solicitar a desistência de Sampaio da Nóvoa fiquei ainda mais ciente de como a candidatura de Sampaio da Nóvoa é um imperativo e de como seria importante a sua eleição que será difícil mas terá de ser possível.
Fiquei, no entanto, com uma pequena dúvida. De quem será a mão que Cândido Ferreira irá lamber e lhe fará umas festas na cabeça por ter realizado esta tarefa?

DO AZEITE NOVO

À chegada à Vila soube que no Lagar já se entregava o azeite novo.
Dado que o do ano passado tinha acabado há dias tinha de ir buscar o que me correspondia pela azeitona entregue há umas semanas.
O cheiro a azeite novo no lagar dá saúde. A quentura garantida pelas enormes salamandras que não deixam o azeite coalhar ainda faz que nos sintamos melhor, só faltava mesmo uma fatia de pão e um copo de um tinto aqui da região.
Felizmente a colheita deste ano dará para os gastos da casa apesar do valor em azeite relativo à quantidade de azeitona entregue nunca ser o que desejávamos. Aliás, tem sido cada vez menor.
A questão é que para além de doer ver a azeitona ficar nas árvores também não encontramos azeite que nos saiba como este.
Não é “gourmet”, embalado em modo "fino" e caríssimo, apenas sabe muito bem a azeite e tem uma cor lindíssima.
Daqui a pouco já temperará umas couves também daqui do Monte. 

PROLETARIZAÇÃO DA ECONOMIA

Salário mínimo pago aos mais qualificados

O JN de hoje refere com chamada a primeira página o aumento do número de jovens licenciados que estão a ser remunerados pelo salário mínimo ou nem isso.
A forma como é titulada a notícia constitui um exemplo, mais um, da mensagem que pode ter efeitos perversos, ou seja, não adianta estudar, não terão emprego, ou terão ofertas precárias e mal remuneradas.
Acontece que, como tantas vezes tenho afirmado, esta situação trágica não acontece pelo facto dos jovens serem qualificados. Todos os estudos e indicadores mostram que Portugal ainda é um dos países em que a qualificação de nível superior é mais recompensada. Não, não temos qualificações a mais, temos desenvolvimento a menos e opções políticas erradas.
Uma política de empobrecimento e proletarização da economia e do trabalho não produz desenvolvimento e promove salários baixos e precariedade.
Na verdade, boa parte dos vencimentos em empregos mais recentes, mesmo com gente qualificada, não são um vencimento, são um subsídio de sobrevivência. É justamente a luta pela sobrevivência que deixa muita gente, sobretudo jovens sem subsídio de desemprego e à entrada no mundo do trabalho sem margem negocial, altamente fragilizada e vulnerável, que entre o nada e a migalha "escolhe amigavelmente" a "migalha", ou mesmo uma remota hipótese de um emprego no fim de um período de indigno trabalho gratuito.
Como é evidente, esta dramática situação vai-se alargando de mansinho e numa espécie de tsunami vai esmagando novos grupos sociais e famílias.
É um desastre. Grave e dramático é que as pessoas são "obrigadas" a aceitar. Os mercados sabem disso, as pessoas são activos descartáveis.
Ter como preocupação quase exclusiva o abaixamento dos custos do trabalho através do aumento da carga horária, da precariedade e do abaixamento de salários não será a forma mais eficaz de combater o desemprego, promover desenvolvimento e criação de riqueza.
Parece razoavelmente claro que a proletarização da economia e o empobrecimento das famílias não poderão ser a base para o desenvolvimento e promoção de coesão social.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

SONHOS DE NATAL

O Natal traz quase sempre algo de muito saboroso, os sonhos.
Amanhã já não é Natal. Não, o Natal não é quando um Homem quiser.
E Sonhos, haverá?
É necessário que sim.
É um Sonho.
Bons Sonhos.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E ENSINO SECUNDÁRIO

De facto, com o alargamento da escolaridade obrigatória para doze anos, as escolas secundárias passam a receber uma população que até à altura "não conheciam", o que se constituiu uma preocupação natural. Na altura do alargamento, questionada sobre as dificuldades das escolas, a responsável do MEC por esta matéria, admitindo com lucidez que as escolas possam não estar preparadas, afirmou "quando um pai e uma mãe têm um filho deficiente, também não estão e reagem".
Curiosamente, a mesma responsável citada pelo Público retoma agora o mesmo argumento.
Sobre isto escrevi, "Notável e perto do desrespeito, certamente não intencional, pelos pais de milhares de miúdos e adolescentes com problemas severos. Os pais que recebem a notícia da deficiência de um filho reagem, mas o MEC responde por um serviço público de educação, direito constitucionalmente assegurado. O MEC não tem que "reagir", tem que assegurar a qualidade dos recursos e das respostas educativas. Para isso deve "pro-agir", as medidas de política educativa devem ser estudadas, antecipado o seu impacto, para atempadamente se garantir, tanto quanto possível, o bom andamento dos processos educativos".
Na verdade, as escolas "reagiram" e em algumas que conheço, a preocupação inicial deu lugar a ideias e projectos verdadeiramente interessantes.
No entanto, o MEC também reagiu e fez publicar uma Portaria (275-A/2012 de 1/9) absolutamente extraordinária. Dada a falta de espaço, algumas notas telegráficas.
Sendo o trabalho escolar nas escolas públicas da responsabilidade das respectivas equipas, o MEC distribui "responsabilidades" com estruturas privadas, os Centros de Recursos para a Inclusão, ainda uma resultante dos equívocos com serviços em "outsourcing" prestados por instituições e técnicos que não fazem parte da escola mas sobrevivem, mal, numa zona híbrida e estranha do sistema educativo. Como é evidente isto não questiona a competência e empenhos dos técnicos, mas o modelo escolhido.
Para alunos com Currículo Específico Individual (CEI), uma população altamente diversificada, determinou-se uma matriz lectiva com cargas horárias fechadas esquecendo tudo o que é autonomia e diferenciação. Esta Portaria abriu a porta para a que os alunos com necessidades especiais estivessem "entregados" nas escolas a tempo parcial e em regime precário, em vez de incluídos e envolvidos da forma possível na vida escolar da escola que, por direito, frequentam. Algumas famílias têm sido mesmo "convidadas" a não ter os seus filhos tanto tempo na escola.
Deve dizer-se que algumas escolas, direcções e professores se têm esforçado para que tal não aconteça, apesar da Portaria e do ME.
Uma pequena nota mais lateral sobre esta ideia de acantonar um grupo de alunos numa entidade designada por Currículo Específico Individual - CEI, uma bizarrice conceptualmente redundante, se uma estrutura curricular é desenhada para um indivíduo será, evidentemente, específica, donde fica estranha a designação. Acresce que toda esta matéria é altamente burocratizada com PEIs, CEIs, PITs, etc., que, do meu ponto de vista, complicam o trabalho de toda a gente
Em muitas circunstâncias, apesar de excelentes práticas que aqui registo e saúdo, o trabalho desenvolvido ao abrigo dos CEIs é, do meu ponto de vista, parte do problema e não parte da solução, situação potenciada com a Portaria do MEC relativa ao trabalho nas escolas secundárias.
Entretanto, a famigerada Portaria foi revogada fundamentalmente pelo empenho a persistência dos movimentos de pais e a pressão si criada. Surgiu a Portaria 201-C/2015 de 10 de Julho. Introduziu, de facto algumas mudanças, a clara responsabilidade das escolas por todo o processo, a referência da carga horária dos alunos à carga horária regular, a referência à autodeterminação dos alunos, à individualização das abordagens, (eu preferiria a ideia de diferenciação), a referência à funcionalidade, por exemplo.
No entanto, não creio que a situação se tenha alterado substantivamente.
As boas práticas que existem e merecem divulgação mantiveram-se apesar das dificuldades, da falta de recursos, do desajustamento dos modelos e da oferta formativa, etc.
Por outro lado, as práticas de guetização em espaços curriculares, dentro ou fora das escolas, ou mesmo físico também continuam a verificar-se fruto de uma característica comum de todo o nosso sistema educativo, a falta de regulação, coexiste o melhor e o menos bom sem que nada aconteça.
Em muitas circunstâncias desenvolve-se um trabalho inconsequente, assente em avaliações pouco consistentes, descontextualizado, mobilizando pouca participação e envolvimento nos contextos em que os alunos se inserem. Dito de outra maneira, o trabalho desenvolvido com estes alunos pode ser ele próprio um factor de debilização, ou seja, alimenta a sua incapacidade, numa reformulação do princípio de Shirky.
Tal facto, não decorre da incompetência genérica dos técnicos, julgo que na sua maioria serão empenhados e competentes, mas da sua própria representação sobre este grupo de alunos, isto é, não acreditam que eles realizem ou aprendam. Desta representação resultam situações e contextos de aprendizagem, tarefas e materiais de aprendizagem, expectativas baixas traduzidas na definição de objectivos pouco relevantes, na participação reduzida em actividades comuns que, obviamente, não conseguem potenciar mudanças significativas o que acaba por fechar o círculo, eles não são, de facto, capazes. É um fenómeno de há muito estudado.
O que acontece, sem ser por magia ou mistério, é que quando nós acreditamos que os alunos são capazes, eles não se "normalizam" evidentemente, mas são, na verdade, mais capazes, vão mais longe do que admitimos. Não esqueço a gravidade de algumas situações mas, ainda assim, do meu ponto de vista, o princípio é o mesmo, se acreditarmos que eles progridem e são capazes de ... , o que fazemos, provoca progresso, o progresso possível.
E isto envolve professores do ensino regular, de educação especial, técnicos, pais, lideranças políticas e toda a restante comunidade.
Toda esta matéria, a educação de crianças ou jovens com necessidades especiais, assenta, do meu ponto de vista em três ideias estruturantes de todo o trabalho, estar, participar e pertencer, operacionalizadas numa perspectiva de diferenciação.
É neste sentido que devem ser canalizados os esforços e os recursos que devem, obrigatoriamente, existir.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

UM CONTO DE NATAL, PEQUENINO E ASSIM UM BOCADO SEM JEITO

Há poucas semanas uma campanha publicitária que recorreu a um Velho que anunciou a sua morte à família como forma de a reunir no jantar de Natal encheu as redes sociais. Recordou-me um Conto de Natal pequenino e um bocado sem jeito que já aqui divulguei e que recupero com o desejo de Bom Natal.

De acordo com a tradição naquela família, ao fim da noite de Natal chegava o momento mais aguardado, sobretudo pelos miúdos, a abertura dos presentes que estavam empilhados em grande número ao pé da árvore de Natal, ao lado do presépio.
Como também era habitual e devido à impaciência da espera, os mais novos eram sempre os primeiros a receber a generosidade do Pai Natal.
Assim, o Francisco, com a autoridade dos seus oito anos, começou ansiosamente a desembrulhar os muitos presentes que lhe estavam destinados. A cada um rapidamente desembrulhado a euforia aumentava. Ficou delirante com o telemóvel que desejava e lhe estava prometido em caso de boas notas escolares. Vibrou com a consola nova que os pais lhe ofereceram pois a que possuía estava desactualizada. Não fosse a vontade de conhecer o resto das prendas, já não largaria os novos companheiros o resto da noite.
Recebeu ainda um portátil mais pequeno e mais recente do que já tinha, uma série de videojogos já adaptados à nova consola e muitas outras prendas, várias peças de roupa, por exemplo, que, embora gostasse, era o que lhe interessava menos, a mãe comprava sempre o que ele escolhia.
O Francisco estava verdadeiramente nas nuvens ou, por assim dizer, completamente submerso pelo espírito natalício.
Por fim, apenas restava por abrir o presente do Avô Velho, um embrulho pequeno e discreto. O Francisco, com a agitação ao alto, abriu-o e mostrou um caderninho de capa dura e bege que tinha escrito na capa com a letra certinha e redonda do Avô Velho, "As minhas histórias". O Francisco deitou-lhe um olhar rápido e pousou-o num canto onde ficou o resto da noite.
Depois de toda a gente ter partido para descansar do espírito natalício, o Avô Velho ainda ficou mais um pouco na sala, releu duas ou três das suas histórias e percebeu que já não era deste mundo.
Devagarinho, para não acordar ninguém, enfiou-se pela chaminé e partiu.

PALAVRAS (MAL)DITAS

Esta afirmação foi proferida por Cavaco Silva referindo-se à tradição da troca oficial de cumprimentos de Natal entre Governo e Presidente da República.
Por uma vez Cavaco Silva assumiu com clareza a sua posição tribal e a pequenez do seu mandato e da sua figura política. É um Governo de gente que ele não gosta e apoiado por gente de que ele gosta ainda menos e que, aliás, nem deveria existir, só atrapalha.
Mas a magnanimidade de Cavaco Silva faz com que apesar de engolir um contentor de sapos mantenha a tradição e cumprimente essa esquerda que veio assombra o seu final de mandato.
Cavaco Silva é bem o Presidente digno de um Portugal dos Pequeninos que teima em manter-se.
É verdade que os líderes políticos, os que verdadeiramente são líderes, não possuem, o dom da infalibilidade e da perfeição, mas não podem, não devem, afirmar tudo o que passa pela cabeça.
São palavras (mal)ditas vindas de gente sem estatura compatível com as funções que desempenham.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

UMA IDEIA PARA PRESENTE DE NATAL

Para muitas famílias a época de Natal traz uma questão, que oferecer aos miúdos. Eles já têm tudo, dizem. Ele acham que não, pedem tudo, aprenderam com a gente.
Tentando ajudar deixo uma ideia.
Trata-se de um presente que apesar de nem sempre parecer fácil é sempre possível encontrar.
Trata-se um presente que pode ser usado de multiplas formas e por isso é estimulante e fomenta a criatividade.
Trata-se de um presente que pode ser usado por várias pessoas.
Trata-se de um bem de primeira necessidade e que muitos miúdos não têm tanto quanto precisariam.
Trata-se, finalmente, de um presente objectivo, quantificável, como agora se pretende que tudo seja.
Porque não oferecer tempo aos mais novos?
E já agora. Porque não oferecer a tempo também aos adultos que andam à nossa beira?
Bom Natal. Com tempo.

A PRESSÃO PARA A EXCELÊNCIA

O DN de hoje aborda uma matéria que considero importante e que aqui também já tenho abordado, a pressão crescente para que as crianças realizem aprendizagens escolares mais cedo, logo no jardim-de-infância. A esta pressão para a antecipação das aprendizagens escolares soma-se a pressão para que atinjam desempenhos de excelência em múltiplas áreas. A peça parte da referência a um estudo realizado nos EUA, sugestivamente intitulado "O jardim-de-infância é o novo primeiro ano?", do qual releva que o que se esperava das crianças de 6 anos é hoje esperado, eu diria exigido, mais cedo.
Este movimento que causa algumas preocupações também subscritas pelos especialistas ouvidos pelo DN está também bem presente nas nossas comunidades educativas.
De forma que considero inquietante, fruto dos estilos de vida, valores e das dificuldades genéricas que enfrentamos, tem vindo a instalar-se de mansinho em muitos pais, frequentemente acompanhados pelas instituições educativas, uma atitude e um discurso de exigência e de pressão para a excelência no desempenho dos miúdos, a começar pelos resultados escolares. Dito de outra maneira, os miúdos são cada vez mais pressionados para a produção e alto nível de rendimento e cada vez mais cedo pois, supõe-se, ganharão vantagens.
Esta visão compromete desde logo o cumprimento dos objectivos e função da educação de infância que não deve ser vista como a “preparação para a escola” e, muito menos, como “o primeiro tempo de escola” o que desvaloriza a sua verdadeira função e contém riscos para o desenvolvimento das crianças e, sim, também para o seu sucesso educativo e escolar.
Por outro lado, o clima instalado relativamente à pressão para resultados e para excelência e à forma como o sistema tem vindo a caminhar assumindo uma relação obsessiva com a medida, no alimentar de um clima competitivo e selectivo, famílias mais escolarizadas e que criam em muitas crianças uma pressão fortíssima para a excelência dos resultados também contribuem para que a seguir à escola muitas crianças e jovens caminhem para os centros de explicações que acabam for funcionar como AAEs, Ateliers de Actividades Escolares respondendo como 2 em 1, tomam contas das crianças e melhoram, espera-se, o seu rendimento escolar.
Acresce que esta excelência que é exigida é extensiva a todas as áreas em que os miúdos se envolvem, devem ser excelentes a tudo.
Deste entendimento, para além da tempo infindo que os miúdos passam na escola, surge uma oferta com uma diversidade espantosa que tornará as crianças fantásticas, excelentes, em montanhas de coisas que lhes fazem uma falta tremenda para se prepararem para o futuro, basta atentar na oferta disponível.
A vida de muitas crianças transforma-se assim num espécie de agenda, passando o dia, incluindo fins-de-semana, a saltar de actividade fantástica em actividade fantástica, numa agitação sem fim.
Acontece que algumas crianças, por questões de maturidade ou funcionamento pessoal, suportam de forma menos positiva esta pressão o que poderá gerar o risco de disfuncionamento, rejeição escolar e, finalmente, insucesso.
Também sei que em muitas destas actividades estará presente uma genuína preocupação dos seus responsáveis pela qualidade e adequação do trabalho que realizam com os miúdos. A questão é que esse trabalho é apenas um dos mil trabalhos com que se vai enchendo a vida dos miúdos.
A melhor forma de preparar os miúdos para o futuro é cuidar bem deles no presente, desejavelmente sem faltas, mas também sem excessos.

O FECHAMENTO DAS ESCOLAS

A política de encerramento de escolas assentou num princípio necessário de reorganização de uma rede já desadequada por ineficiente e onerosa.
No entanto, considerando os impactos que o encerramento dos equipamentos sociais têm na desertificação do país e nas assimetrias de desenvolvimento, a decisão de encerrar escolas não deveria ter sido ser vista exclusivamente do ponto de vista administrativo e económico, não podendo assentar em critérios cegos e generalizados, esquecendo particularidades contextuais e, sobretudo, não servir como tudo parece servir em educação, para o jogo político, local ou nacional.
Por outro lado, este movimento de reorganização da rede escolar e fechamento de escolas, de construção dos centros escolares e da constituição de mega-agrupamentos, criou situações em que as dimensões e características são fortemente comprometedoras da qualidade com riscos e consequências já conhecidas, os mega-agrupamentos produzem mega-problemas.
De há muito que se sabe que um dos factores mais contributivos para o insucesso, absentismo e problemas de disciplina escolar é o efectivo de escola. Não é certamente por acaso, ou por desperdício de recursos, que os melhores sistemas educativos, lá vem a Finlândia outra vez, e agora os Estados Unidos ou o Reino Unido procurando a requalificação da sua educação, optam por estabelecimentos educativos que não ultrapassam a dimensão média de 500 alunos. Sabe-se, insisto, de há muito, que o efectivo de escola está mais associado aos problemas que o efectivo de turma, ou seja, simplificando, é pior ter escolas muito grandes que turmas muito grandes, dentro, obviamente dos limites razoáveis. É certo que o ME faz o pleno, aumenta o número de alunos por escola e o número de alunos por turma. Como habitual o Ministério foi citando ou ignorando estudos, experiências e especialistas, nacionais ou internacionais, conforme a agenda que lhe fosse favorável. A contabilidade, cortes em professores e funcionários, tem falado mais alto que a qualidade.
As escolas muito grandes, com a presença de alunos com idades muito díspares, são autênticos barris de pólvora e contextos educativos que dificilmente promoverão sucesso e qualidade apesar do esforço de professores, alunos, pais e funcionários. Recorrentes episódios e relatos de professores sustentam esta afirmação.
Por outro lado, a experiência já conhecida mostra casos de distâncias grandes entre a residência dos miúdos e os centros escolares, levando que devido à difícil gestão dos transportes escolares, os miúdos passem tempos sem fim nos centros escolares, experiência que não é fácil, sobretudo para os miúdos mais pequenos.
Em síntese, parece-me razoável que algumas escolas, sobretudo do 1º ciclo, tenham sido encerradas mas o recurso critérios burocratizados e administrativos, como a análise simples do número de alunos, levou a situações de sério compromisso da qualidade da educação e mesmo da qualidade vida de muitos alunos.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

PRAGMATISMO E IDEOLOGIA

Cavaco Silva afirmou "realidade acaba sempre por derrotar a governação ideológica" e ainda que "A governação ideológica pode durar algum tempo, faz os seus estragos na economia, deixa facturas por pagar, mas acaba sempre por ser derrotada pela realidade".
Como é evidente entende, tal como os seguidores desta visão, quando o que outros defendem não está de acordo com suas ideias, isso acontece por ideologia, quando os outros concordam, são pragmáticos que também concordam com o seu “pragmatismo”. Dito de outra maneira, esta gente entende que as suas posições são neutras do ponto de vista ideológico.
Consideremos de forma breve alguns aspectos.
Quem desmantela o Estado Social é pragmático quem o defende com equilíbrio sem desperdício é por ideologia.
Quem desinveste na educação e na escola públicas, investe no ensino privado é por pragmatismo. Quem defende a educação e escola pública e a necessária existência de ensino privado regulado mas não financiado indevidamente pelo Estado é por ideologia.
Quem defende uma escola selectiva, competitiva e não inclusiva é por pragmatismo. Quem defende equidade e inclusão como objectivos civilizacionais é por ideologia.
Quem defende o empobrecimento “custe o que custar” é por pragmatismo. Quem entende que pobreza e exclusão não fomentam desenvolvimento é por ideologia.
Quem defende os apoios sem fim ao sistema bancário fragilizado por administrações incompetentes ou delinquentes é por pragmatismo. Quem entende que não pode ser sempre o cidadão a pagar uma factura de que não é responsável é por ideologia.
Quem alimenta e se alimenta de um sistema de justiça fraco com os fortes e forte com os fracos é por pragmatismo. Quem entende que assim não deve ser é por ideologia.
Quem entende que tudo ou quase deve ser privatizado é por pragmatismo. Quem defende a presença do Estado em sectores essenciais para o bem estar das populações é por ideologia.
Quem …
Na área que melhor conheço, a educação, tantas vezes me confronto com este modelo. Tantos interlocutores me dizem com a maior tranquilidade que quando os estudos ou a experiências não vão encontro das suas ideias, certas e pragmáticas, os estudos são mal feios e contaminados pela ideologia ou as experiências. Quando discordo o meu discurso é ideológico e o seu é correcto, asséptico do ponto de vista ideológico, obviamente, suportado com a evidência científica que ao meu é negado porque os estudos … são ideológicos. Sim, o que penso tem uma carga ideológica, é assim que entendo o mundo.
Na verdade não acredito em visões de sociedade sem arquitectura ideológica. Isso não existe, só por desonestidade intelectual se pode afirmar tal.
Há décadas que não tenho qualquer espécie de filiação partidária, não me orgulho nem me queixo, é assim que penso. Mas tenho posições que são de natureza ideológica sobre o que me rodeia e o que respeita à vida da gente. Não as entendo como únicas, imutáveis ou exclusivas, aliás gosto mais de discutir e aprender com alguém que também assim se posiciona, sem manha, sem a falsidade do “não tenho ideologia” como se isso fosse uma fonte de autoridade.
Voltando às palavras de Cavaco Silva e recuperando as presidenciais, é justamente por estas razões, também, que parece necessário eleger um Presidente como Sampaio da Nóvoa.
A candidatura de Sampaio da Nóvoa não veio do interior da partidocracia e o seu posicionamento e discursos sobre tudo o que nos respeita não são “pragmáticos” ou “omissos”, o que defende é afirmado com transparência, com robustez e com uma visão para Portugal e para o nosso destino. Tem uma clara e imprescindível densidade ideológica.
É assim que deve ser.  

A NUVEM TÓXICA

Os tempos continuam marcados pela nuvem tóxica criada por mais um golpe no sistema bancário nacional.
O pântano em que se transformou o sistema com a conivência, por cumplicidade ou omissão, da regulação e do sistema político vai tendo custos brutais para os cidadãos que vão pagando o desvario e ganância dos mercados e a incompetência ou delinquência dos responsáveis das instituições envolvidas, políticas, financeiras e de regulação quer ao nível nacional, quer internacional.
Segundo o Tribunal de Contas, entre 2008 e 2014, o Estado suportou 12 000 milhões de euros em apoios para salvar a banca enquanto milhões de famílias e pequenas empresas faliram.
Para as pessoas e pequenas empresas não se considera o risco de "contágio" podem falir sem problemas, podem entrar na miséria sem problemas, podem ficar no desemprego, muitas delas sem perpectivas de retorno, sem problemas mas a banca tem de ser salva, não importa cm que problemas.
Também nesta situação nos vão vendendo o TINA, There Is No Alternative. Sim existe, justiça, responsabilização e punição, regulação eficiente, legislação que defenda o bem comum, combate ao tráfico de interesses e negócios entre as famílias do costume, etc., etc., seriam certamente um contributo.
Qual será o próximo? O Montepio?

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

ESTAMOS ENTALADOS. COMO SEMPRE

Está em andamento mais um episódio da saga  "Estamos entalados". 
Desta vez temos o BANIF. O script é conforme toda a narrativa desta saga. Uma rapaziada mete-se em negócios da banca, saca o mais que pode, enquanto pode sempre aproveitando todos os buracos legais cuidadosamente plantados pelos amigos que também comem e quando a coisa fica feia e o negócio já não dá lá lucro passa-se a bola para o cidadão. É fácil, é barato e dá milhões. Bem, dá milhões a uns e custa milhões a outros, nós, é claro.
Com uma regulação tradicionalmente sonolenta e míope a trama vai-se desenvolvendo sem sobressaltos até à solução final, pague-se o prejuízo. Quem? Os do costume quem haveria de ser. 
Governos amigos que se movem bem na teia de interesses que estas famílias alimentam dão o suporte político que tudo vai branqueando desde o crime até à consequência, ou seja, aos responsáveis não acontece nada e a nós acontece tudo, pagamos.
Esta é a pantanosa pátria nossa amada.

DO ENSINO VOCACIONAL

Os discursos sobre o chamado ensino vocacional ou ensino profissional têm, do meu ponto de vista, sido contaminados por alguns equívocos.
Estes equívocos estão presentes quando se colocam questões como “sim ou não ao ensino vocacional?”. Esta formulação emergiu de novo com a decisão do actual Governo de finalizar o modelo de ensino vocacional instituído por Nuno Crato no ensino básico defendendo que só no ensino secundário se deve disponibilizar este tipo de oferta educativa.
Como muitas vezes tenho afirmado é fundamental diversificar a oferta formativa, a diferenciação de percursos, de forma a conseguir um objectivo absolutamente central e imprescindível, todos os alunos devem atingir alguma forma de qualificação, única forma de combater a exclusão e responder mais eficazmente à principal característica de qualquer sala de aula actual, a heterogeneidade dos alunos. Aliás, a oferta formativa de natureza profissional a alunos mais velhos, no âmbito do ensino secundário que também está a acontecer, pode ser um passo nesse sentido desde que não canalizado para os "que não servem" para a escola. Esta oferta tem contribuído para baixar os níveis de abandono.
Assim sendo é claro que temos de estruturar percursos de ensino com formação de natureza profissional.
A questão que se coloca é quando deve ser disponibilizada esta oferta e para quem.
Relativamente ao modelo que estava em vigor sempre considerei fortemente discutível até num plano ético mas também no plano técnico a introdução desta diferenciação tão cedo, aos 13 anos, e “obrigatória” para os que chumbam. Por outro lado, aos 13 anos, apesar de se remeter a “decisão” para um processo de orientação vocacional que a insuficiência gritante de recursos não permite assegurar, que alunos decidem? Alguém vai decidir por eles.
Poucos sistemas educativos assumem este entendimento e o facto de o ensino alemão, a inspiração de Nuno Crato, colaboradores e admiradores, o admitir não é nenhuma chancela de correcção do modelo como atestam as apreciações internacionais.
Na verdade, Relatórios da OCDE e da UNESCO têm sustentado que a colocação dos alunos com piores resultados escolares em ensino de carácter técnico e vocacional, muito cedo, em vez da aposta nas aquisições escolares fundamentais, aumenta a desigualdade social.
É verdade e devastador que em Portugal temos cerca de 150 000 alunos que chumbam em cada ano. Temos de responder às causas deste enorme problema mas não podemos mascarar as estatísticas empurrando os “maus” para percursos que “recebem” um rótulo de “segunda” pois são percebidos por parte da comunidade como destinados aos menos dotados.
Por outro lado este tipo de oferta tem de ser adequado às comunidades educativas, voltamos à quase inexistente autonomia das escolas, e dotado dos recursos e meios necessários o que tem estado longe de acontecer.
Julgo que se deve sublinhar que todos os alunos deverão cumprir uma escolaridade de 12 anos, a idade de entrada no mercado de trabalho é aos 16 e isso deve ser considerado no desenho de ofertas formativas que envolvam trabalho em empresas. Aliás, esta questão deve, é uma forte convicção ser considerada quando se trata de alunos com necessidades especiais que ao abrigo de uma coisa chamada CEI são em algumas situações sujeitos a situações inaceitáveis que de educação, formação ou inclusão têm nada, seja em espaço escolar, seja em espaço institucional ou laboral.Também por isto o modelo que estava em vigor parece francamente desajustado e foi generalizado sem que na altura tivesse terminado a sua avaliação.
No modelo que estava em vigor, os alunos com insucesso, estamos a falar, presumo, de gente com capacidades "normais" irão “obrigatoriamente para” o ensino vocacional. Sabe-se que o insucesso escolar é mais prevalente em famílias mais desfavorecidas embora também conheçamos as excepções, muitas. Assim, mantemos a velha ordem, os mais pobres "destinados" preferencialmente para o trabalho manual, os mais favorecidos preferencialmente para o trabalho intelectual como a UNESCO reconhece.
A diferenciação dos percursos, necessária e imprescindível mas, reafirmo, deve surgir mais tarde, disponível para todos os alunos como se verifica na maioria dos sistemas educativos que se preocupam com os miúdos, com todos os miúdos.

domingo, 20 de dezembro de 2015

DAS ATÍPICAS PRESIDENCIAIS (2)

Como já aqui escrevi as próximas eleições presidenciais são atípicas
Em primeiro lugar pelo cenário político actual, um governo apoiado por uma maioria parlamentar de esquerda apesar de nenhum dos partidos dessa maioria ter sido o mais votado nas legistalativas de 4 de Outubro.
Em segundo lugar pela natureza das três candidaturas que parecem agregar mais apoios, Marcelo Rebelo de Sousa pelo lado direito do espectro político e Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa pelo lado esquerdo se assim se pode dizer no que respeita a Maria de Belém.
É verdade que devemos considerar Marisa Matias e Edgar Silva mas concorrem na pista dos respectivos partidos, BE e PCP, e parecem acreditar na ingénua ideia de que só por existirem Marcelo Rebelo de Sousa é derrotado, veremos o resultado de tal entendimento.
Na verdade esta atipicidade decorre do facto de PSD e CDS-PP terem sido "obrigados" a apoiar um candidato que não desejavam, Marcelo é um bom jogador e "tapou" Rui Rio e a inócua e vazia candidatura de Maria de Belém ter sido fabricada num quadro de ajustamento de contas interno no PS e com o objectivo claro de impedir o previsto apoio do PS a Sampaio da Nóvoa. 
Neste cenário Maria de Belém é, curiosamente, uma candidatura simpática para a direita que, acredito, se sentiria mais segura com Maria de Belém na presidência do que com o "cata-vento" Marcelo Rebelo de Sousa como lhe chamou Passos Coelho quando definiu o perfil do candidato que NÃO queria ver em Belém
Finalmente, Sampaio da Nóvoa concorre para esta atipicidade por várias razões. É uma candidatura que emerge da cidadania e não da partidocracia embora não seja, não deve nem pode, contra os partidos. Comete o pecado original de não ser "um de dentro" que carrega um conjunto de interesses mais pequenos e conciliáveis em arranjos de alternância e de poder. Percebe-se bem o seu "pecado" ao verificar como a sua candidatura tem sido tratada, quer pelos aparelhistas de serviço nos vários partidos, quer pela imprensa amiga que numa campanha tóxica e discriminatória mostram porque na realidade a candidatura de Sampaio da Nóvoa é um "mundo novo" é um caminho de abertura.
Sampaio da Nóvoa é ainda um candidato atípico pois desde o início tem expressado uma visão e um projecto que dentro das competências presidenciais pretende colocar ao serviço de Portugal e dos Portugueses. Contrasta com as "saltitantes" e "simpáticas" aparições de Marcelo Rebelo de Sousa que se limita a gerir a sua verdadeira campanha eleitoral, anos de exposição na TV. Quando menos disser menos se compromente e tenta pescar à esquerda num namoro interessante que deixa os seus constrangidos apoiantes do PSD e CDS-PP à beira de um ataque de nervos.
De facto, durante estes meses a candidatura de Sampaio da Nóvoa tem promovido múltiplas iniciativas de discussão e construção de ideias e caminhos dentro das mais importantes áreas do nosso funcionamento enquanto comunidade. Esta discussão aberta, participada, descentralizada e abrangente contando sempre com a presença envolvida e activa de Sampaio da Nóvoa contrasta com o deserto de ideias, o Presidente não se "intromete" como diz Maria de Belém ou a banalidade diletante do oráculo predestinado que vê a presidência escrita nas estrelas.
É justamente o conjunto de características da candidatura de Sampaio da Nóvoa que o tornam o Presidente necessário nesta etapa da nossa estrada.
Vai ser difícil mas acredito que é possível.

PELA EDUCAÇÃO É QUE VAMOS


A ler e a reflectir sobre o quanto está por fazer. Recorrendo a uma formulação de Sebastião da Gama, pela Educação é que vamos. 
Eppur se muove.

VIDAS TROIKADAS POR ENGANO. FOI SEM QUERER

Reconhece que teria sido melhor incluir uma reestruturação da dívida pública.
Recordo que esta medida, defendida em Portugal por vários sectores, sempre foi recusada pela Troika e ainda hoje é recusada pelos pelo PSD e CDS-PP que como excelentes alunos que foram do diktat da Troika mantêm a insensível e insensata persistência num caminho que produziu empobrecimento para milhões de famílias e falências a muitos milhares de pequenas empresas o suporte do tecido económico e do mercado de trabalho português.
O programa ERRADO que a Troika nos impôs produziu perto de três milhões de portugueses em risco de pobreza e exclusão, perto de um milhão de desempregados, cortes brutais nos rendimentos das famílias e nos apoios sociais com consequências catastróficas nas condições de vida e na dignidade de muitas milhares de pessoas e esta gente afirma, tranquilamente, afinal “a coisa não correu como estávamos à espera”.
Não é possível ouvir estes abutres sem sentir um profundo embaraço. Usam modelos que reconhecem errados, produzem previsões que reconhecem erradas, arrasam a vida de milhões, e serenamente informam, “tenham paciência”, “não correu bem”.
E não acontece nada?
Nós sabemos quem pagou e está a pagar um preço altíssimo e devastador pelo "engano". E os(ir) responsáveis?

sábado, 19 de dezembro de 2015

SÓ APRENDE QUEM SE RI

Cantinas também matam a fome às famílias dos alunos

A situação, recorrente nos últimos anos, mostra um outro lado da ideia de Escola a Tempo Inteiro e da municipalização da educação.

A melhoria das condições de vida tarda a chegar a muitos milhares de famílias apesar da insistência em discursos que esquecem ou negam esta realidade. Muitas crianças e adolescentes encontram na escola a única refeição consistente e equilibrada a que acedem levando a que em muitas autarquias as cantinas escolares funcionem também no período de férias ou de interrupção de aulas.
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares no rendimento escolar e comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias sempre me lembro da história que aqui já tenho contado e foi umas das maiores lições que já recebi, acontecida há uns anos em Inhambane, Moçambique. Ao passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda durante a estadia por lá, disse-me que se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, miúdos com fome não aprendem e vão continuar pobres.

PIAF

Há cem anos nasceu uma senhora dona de uma das mais notáveis vozes de sempre, Edith Piaf.
Como referia há dias a propósito do centenário de uma outra Voz, Frank Sinatra, também a voz de Edith Piaf permanece para lá do tempo.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

GOSTEI DE OUVIR O SECRETÁRIO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

Um dia muito comprido e cumprido só agora me permitiu ouvir a excelente intervenção do Secretário de Estado da Educação, João Costa, no Parlamento.
A diferença entre o saber e a opinião e a desmontagem da ideia, esta sim, “facilitista” de que apenas medir melhora as aprendizagens, por exemplo.


O NATAL JÁ NÃO É O QUE ERA

Estava o Burro tranquilamente a tomar uma bica numa esplanada ao solzinho da tarde, quando apareceu a Vaca com quem já tinha trabalhado várias épocas. Depois dos cumprimentos da praxe, o Burro lamentou-se.
Nunca me tinha acontecido tal, dois anos no desemprego nesta altura. Como sabes, já trabalhámos juntos, a situação habitual era escolher bem entre as muitas ofertas. A tradição já não é o que era. Ninguém liga a presépio a sério e conforme a tradição. As poucas famílias que os fazem optam por produtos baratos vindos lá da China. Onde é que já se viu? Burros em plástico? Dão cabo das tradições e a ASAE a isso não liga, tantos Burros portugueses com capacidade para aguentarem três árduas semanas de companhia ao Menino Jesus e vamos para o desemprego. O que vale é que algumas Câmaras ainda fazem uns presépios, mas também não adianta muito, empregam os Burros ligados ao partido que manda na Câmara, sem critérios transparentes de mérito na selecção. É Vaca, isto está mesmo mal. E tu, também não devias estar aqui nesta altura. Também te está a correr mal a vida?
Não me digas nada, Burro. Estou com os mesmos problemas que tu e, para piorar as coisas, desde aquela crise das minhas primas loucas, nunca mais confiaram em nós como antigamente. Para os poucos empregos que ainda vão aparecendo exigem atestado veterinário de sanidade, que é caro e é uma burocracia para tratar e, na volta, não nos dão o emprego. E ainda vai ficar pior, ouvi dizer que iam proibir os presépios por causa do Menino Jesus. Dizem que obrigar o miúdo a ficar três semanas nas palhinhas, mal aquecido, é maus-tratos e exploração de mão-de-obra infantil. Então é que vai ficar mesmo mal para a gente, não sei mesmo o que fazer, só sei trabalhar em presépios. Na volta ainda vou ter que pedir a reforma antecipada ou um subsídio de desemprego de longa duração. E tu, Burro?
Se as coisas continuarem assim, vou inscrever-me no Centro de Emprego, espero que me chamem para formação profissional para certificarem em qualquer coisa. Era bom era receber um computador, como fizeram a um primo meu quando havia o Novas Oportunidades mas agora já não há dinheiro para estas cenas. Mas se fosse mais qualificado talvez consiga qualquer coisa. Quem sabe, com uma cunha do Menino Jesus até poderia entrar para um banco para brincar com os filhos dos administradores. Era um bom emprego mas até os Bancos estão a ir abaixo. Vaca, achas que consigo?
Deixa-te de sonhos Burro, o Natal já não é o que era.

DA(S) FAMÍLIA(S)

Tenho para mim que a generalidade das pessoas manterá o que pensava antes independentemente deste resultado, ou seja, as pessoas que que defendem a mudança aplaudem e as pessoas com posição contra continuarão ... contra, apesar da alteração legislativa e do conhecimento vindo da ciência não sustentar consequências negativas para as crianças como muitas vezes aqui referi.
Na verdade, e esperando que todos os processos de adopção corram bem, qualquer que seja o tipo de família, é fundamental não esquecer que temos uma taxa altíssima de crianças institucionalizadas e que os vínculos estabelecidos em contextos familiares são mais sólidos e duradouros que vínculos com cuidadores em instituições.
Uma família é um direito e um bem de primeira necessidade para as crianças. Termino com uma afirmação já aqui citada de um autor muito conhecido na área da educação e do desenvolvimento, Bronfenbrenner, "Para se desenvolverem bem todas as crianças precisam que alguém esteja louco por elas". Uma família, por exemplo. 
Por coincidência interessante esta decisão cai em cima da época de Natal cujo contexto de comemoração é justamente o ambiente familiar.

OS PRESENTES DE NATAL. E OS FUTUROS?

O espírito natalício é incontornavelmente marcado pelos presentes oferecidos sobretudo aos mais pequenos.
Apesar da importância óbvia que os presentes assumem, em particular nesta altura, continuo convencido que a questão essencial não tem a ver com os presentes que temos, podemos ou queremos dar aos miúdos, mas os FUTUROS que preparamos para lhes oferecer, esses sim, verdadeiramente importantes.
Bom Natal.