AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O NATAL JÁ NÃO É O QUE ERA

Estava o Burro tranquilamente a tomar uma bica numa esplanada ao solzinho da tarde, quando apareceu a Vaca com quem já tinha trabalhado várias épocas. Depois dos cumprimentos da praxe, o Burro lamentou-se.
Nunca me tinha acontecido tal, dois anos no desemprego nesta altura. Como sabes, já trabalhámos juntos, a situação habitual era escolher bem entre as muitas ofertas. A tradição já não é o que era. Ninguém liga a presépio a sério e conforme a tradição. As poucas famílias que os fazem optam por produtos baratos vindos lá da China. Onde é que já se viu? Burros em plástico? Dão cabo das tradições e a ASAE a isso não liga, tantos Burros portugueses com capacidade para aguentarem três árduas semanas de companhia ao Menino Jesus e vamos para o desemprego. O que vale é que algumas Câmaras ainda fazem uns presépios, mas também não adianta muito, empregam os Burros ligados ao partido que manda na Câmara, sem critérios transparentes de mérito na selecção. É Vaca, isto está mesmo mal. E tu, também não devias estar aqui nesta altura. Também te está a correr mal a vida?
Não me digas nada, Burro. Estou com os mesmos problemas que tu e, para piorar as coisas, desde aquela crise das minhas primas loucas, nunca mais confiaram em nós como antigamente. Para os poucos empregos que ainda vão aparecendo exigem atestado veterinário de sanidade, que é caro e é uma burocracia para tratar e, na volta, não nos dão o emprego. E ainda vai ficar pior, ouvi dizer que iam proibir os presépios por causa do Menino Jesus. Dizem que obrigar o miúdo a ficar três semanas nas palhinhas, mal aquecido, é maus-tratos e exploração de mão-de-obra infantil. Então é que vai ficar mesmo mal para a gente, não sei mesmo o que fazer, só sei trabalhar em presépios. Na volta ainda vou ter que pedir a reforma antecipada ou um subsídio de desemprego de longa duração. E tu, Burro?
Se as coisas continuarem assim, vou inscrever-me no Centro de Emprego, espero que me chamem para formação profissional para certificarem em qualquer coisa. Era bom era receber um computador, como fizeram a um primo meu quando havia o Novas Oportunidades mas agora já não há dinheiro para estas cenas. Mas se fosse mais qualificado talvez consiga qualquer coisa. Quem sabe, com uma cunha do Menino Jesus até poderia entrar para um banco para brincar com os filhos dos administradores. Era um bom emprego mas até os Bancos estão a ir abaixo. Vaca, achas que consigo?
Deixa-te de sonhos Burro, o Natal já não é o que era.

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