AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

VÁ LÁ, NÃO ESTEJAM TRISTES

Sendo certo que estados de tristeza e depressão parecem cada vez mais frequentes na nossa sociedade e que publicações recentes questionam o efeito dos antidepressivos, creio que uma forma de contrariar esta tendência mais negativa será olhar para alguns, SÓ ALGUNS, aspectos do quotidiano. Aqui vai um pequeno e humilde contributo.
O Prof. Garcia Pereira, eterno líder do PCTP-MRPP e defensor acérrimo dos oprimidos e vítimas da fome vai defender o Dr. Portas, o Paulo, num processo em tribunal em que este se queixa do deselegante tratamento recebido do Ministro da Agricultura. Garcia Pereira e Paulo Portas juntos e ao vivo, fantástico.
Depois de uma reunião com a FENPROF, ouvi o Dr. Menezes produzir um discurso igualzinho ao dos sindicatos face à política governativa. Notável, o Dr. Menezes e os sindicatos!
Sucessivas reformas no trabalho educativo não conseguiram algo que sempre se prometia e não se concretizava, a ligação da escola com a comunidade, a escola voltada para fora. Pois esta PEC (Política Educativa em Curso) conseguiu-o. Não há noticiário que não mostre ou refira que os professores estão na rua, finalmente fora da escola. Lamentavelmente parece que se esqueceram dos alunos.
No debate na Assembleia da República entre o Primeiro-ministro e o líder de um partido da oposição, a questão discutida foi saber quem tinha medo de quem. Um país feliz onde esta é a matéria discutida no seu Parlamento.
O PSD, através do menino guerreiro, o Dr. Santana Lopes, quer discutir a questão das incompatibilidades na Assembleia da República. O PSD recusa-se a discutir a questão das incompatibilidades na Assembleia Legislativa da Madeira. Estranho? Não, o Portugal dos Pequeninos.
Ficaram melhor? Eu nem por isso. Peço desculpa da falhada tentativa de animação.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

ENTÃO A ESCOLA É SÓ A MINISTRA E OS SETORES?

Tou mesmo a ficar farto desta cena. Tou na escola só oiço falar das cenas da ministra com os setores, da avaliação deles e mais da gestão da escola e mais de uma data de cenas. Vou no autocarro a conversa é a mesma. A televisão só fala nisso e mais da cena dos hospitais que fecham. Lá em casa o meu pai diz que é bem feito mas não sabe explicar porquê e minha mãe diz que tem pena da ministra porque chamam-lhe nomes e dizem mal. Parece que isto da educação é só a ministra e os setores. E a gente? Ninguém fala da gente. Lá na minha escola há um rapaz com bué da problemas, que anda numa cadeira de rodas, havia uma contínua para o ajudar, tiraram-na da escola e a gente agora é que o ajuda. Há um grupo que passa o tempo a arranjar cenas nos intervalos e não acontece nada. Às vezes batem nos chavalos mais pequenos e roubam-lhes massa para os lanches. A gente precisava de uns materiais para fazer umas cenas no laboratório e a setora diz que não há que chegue. Lá na escola quando chove o ginásio mete água e a gente fica na rua. O pessoal às vezes precisa de uma ajuda para estudar mas parece que os setores não podem dar mais horas. A minha escola não tem espaço para o pessoal estar quando não há aulas. Na minha escola também há muito pessoal que chumba e depois alguns vão para turmas à noite, não aprendem cena nenhuma mas dão-lhe certificados e a gente não percebe o esquema.
É pá um dia destes, começo a mandar sms e a falar no messenger, juntamos o pessoal todo e fazemos também uma manif. para ver se não esquecem que a gente também anda na escola e as cenas não andam bem.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

NEM NOS PRESERVATIVOS, NEM NOS ANTIDEPRESSIVOS

De acordo com a imprensa de hoje, terão sido distribuídos em Lisboa milhares de preservativos sem qualidade, rompem-se facilmente. Esta distribuição foi realizada no âmbito das campanhas de prevenção da infecção VIH/SIDA. Representantes de várias Associações e do Bloco de Esquerda referiram a enorme e natural preocupação com esta falta de qualidade dos preservativos. Por onde andará a ASAE?
Também hoje foi divulgado um estudo publicado em Inglaterra cujos resultados questionam a eficácia dos antidepressivos que terão um efeito pouco mais positivo que um placebo. E agora?
Falham os preservativos, os antidepressivos têm efeitos quase nulos, confiamos em quê na procura da felicidade?

SERENAMENTE

(Foto de Pedro n s Ramos)

Talvez não te lembres

Foi há muito tempo

E tu

Então fizemos

Foi bonito

Por fim ficámos

Serenamente

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

UMA SOCIEDADE INFLAMADA

O mal-estar sentido na sociedade portuguesa, referido no relatório da SEDES e traduzido nos indicadores de confiança e bem-estar dos cidadãos que têm vindo a ser divulgados, parece real embora seja negado, naturalmente, pelo Governo e pelo Dr. Jorge Coelho que, como sabemos, tem o privilégio de ser amigo do Governo. Os factores contributivos para este mal-estar são de natureza diversa.
Hoje refiro-me brevemente a dois deles, decorrentes de processos inflamatórios complexos. O primeiro, que designaria por inquerite inconsequente”, traduz-se num incontrolado impulso de realizar inquéritos por parte de qualquer entidade pública que tenha competência para tal. De forma geral, destes inquéritos não resulta algo de substantivo a não ser o desgaste de tempo, meios e, pior, da confiança dos cidadãos na capacidade reguladora das instituições. Socialmente o efeito é terrível.
Segundo factor é o que designo por “vale tudite”. Um dos sintomas mais visíveis deste processo inflamatório é a forma como os diferentes actores reagem a ideias ou opiniões diferentes. Dois pequeninos exemplos. Um ministro, Jaime Silva, reagindo a críticas políticas do Dr. Portas, afirmou, “há coisas que não se branqueiam na cadeira do dentista”. A afirmação, do mais fino recorte literário, é ilustrativa de como parece valer tudo como também aconteceu com a recente utilização terrorista da trágica morte de um bebé como arma política. Um outro exemplo desta “vale tudite” é a tentativa de agressão ao Professor Catedrático Iluminado Génio Único Rui Santos que criou no futebol português duas eras, ARS (antes de Rui Santos) e DRS (depois de Rui Santos) realizada, presumo, por alguém que discordou das suas doutas opiniões. Assim não vamos lá, não pode valer tudo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

AINDA OS POBRES PUTOS POBRES

O relatório sobre protecção social e inclusão social produzido pela Comissão Europeia de que aqui falei ontem foi objecto de divulgação pela imprensa de hoje (link em baixo).
Acho importante voltar a ele referindo dados que apontam para a relação entre risco de pobreza para as crianças e nível de escolaridade dos pais. Segundo o relatório da Task-Force on Child Powerty and Child Well-Being, um dos mais significativos factores de risco em situações de pobreza é justamente o nível de escolaridade dos pais. Nesta matéria o relatório da Comissão Europeia refere que, em Portugal, 68% das crianças vivem com pais sem o ensino secundário enquanto a média europeia é de 16%. Se considerarmos as crianças já em situação de risco, em Portugal, 88% vivem neste tipo de agregados.
Estes números esmagadores evidenciam que a qualificação dos portugueses é inadiável e constitui-se como uma batalha que não podemos perder. O Governo tem tido este discurso e o Programa Novas Oportunidades é uma aposta neste sentido, embora os processos e iniciativas mereçam discussão. Veremos os resultados. O que temo, como a imprensa hoje parecia indiciar é uma tentativa, aliás recorrente, de minimizar ou desvalorizar os dados do relatório.
http://ec.europa.eu/employment_social/spsi/publications_en.htm

PS – Recomendo vivamente a leitura de um artigo de José Dias Urbano “Senhores Deputados, restituam-nos a esperança” hoje apresentado no Público e tocando numa das fragilidades da democracia à portuguesa, a lógica partidária da representação parlamentar.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

POBRES PUTOS POBRES

Certamente na conspiradora tentativa de contrariar o oásis evidenciado pelo Engenheiro Sócrates, a Comissão Europeia produziu um relatório, a divulgar amanhã na imprensa portuguesa, sobre protecção social e inclusão social e que será adoptado dia 29 pelo Conselho de Ministros de Emprego e Segurança Social. O relatório refere dados devastadores. Vejamos. Cerca de 20% das crianças em Portugal vivem em risco de pobreza considerando a situação de emprego e desemprego familiar o que nos torna um dos oito países da UE com a situação mais grave. Se forem consideradas apenas as famílias com adultos desempregados, a situação agrava-se, só a Polónia está em pior situação. O relatório elaborado a partir de três indicadores, desemprego, pobreza dos trabalhadores e insuficiência na assistência social, divide os países em três grupos. Neste lamentável ranking estamos incluídos no terceiro, o grupo com indicadores mais negativos. Em que parte do oásis irão o Engenheiro Sócrates e o Dr. Jorge Coelho encaixar estes resultados da visão “tremendista” (adoro a expressão) da União Europeia? Pobres putos pobres.

O DESERTO, O OÁSIS E A MIRAGEM

Deve ser coisa de engenheiros, difícil de entender para o cidadão comum. No mítico discurso do “jamais”, o Engenheiro Mário Lino colocou-me a viver num deserto, a margem sul, sublinhando a inexistência aqui de tudo o que define uma área desenvolvida. Não parece que assim seja, bem longe disso. A poeira assentou, os engenheiros estudaram, pensaram e, estranhamente, até acharam que o novo aeroporto de Lisboa deve vir para a margem sul. Os engenheiros é que sabem.
Bom, no passado sábado, o Engenheiro Sócrates num discurso proferido no Fórum Novas Fronteiras retomou a ideia do deserto mas agora num “remake” da versão oásis. Aquelas notícias que falam de desemprego, de insucesso e abandono escolar num sistema educativo em ebulição, de descontentamento e falta de confiança dos cidadãos, de desigualdades inaceitáveis, de corrupção, da sensação de que a justiça não funciona, de escândalos na banca, de derrapagens inexplicadas em obras públicas com a sistemática impunidade dos (ir)responsáveis, de bolsas de exclusão em diferentes áreas, etc., não se referem obviamente ao país que o Senhor Engenheiro descreveu na intervenção glorificadora. Não entendo. Vem um engenheiro, põe-me num deserto que não existe. Vem outro engenheiro põe-me num oásis que também não existe. Será que isto é tudo uma miragem?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

É NOVO, NÃO PENSA.

Numa altura em que tantas e tão importantes questões merecem a nossa atenção e ou preocupação, peço-vos desculpa por vos falar desta pérola vinda directamente do Portugal dos Pequeninos.
Um rapaz de 29 anos, André Almeida, deputado do PSD, em representação de Aveiro em substituição do ex-chefe Marques Mendes e, portanto, recém-chegado às lides parlamentares fez umas afirmações ao JN elogiando as condições de trabalho que veio encontrar no Parlamento e afirmando a sua satisfação com o salário (base e complementos) que passou a auferir. Referiu ainda que tinha decidido entregar 10% do vencimento a uma instituição do distrito de Aveiro.
É novo, não pensa. É claro que o bem-intencionado e feliz moço foi obrigado a pedir desculpa aos seus colegas deputados do PSD que terão ficado muito desagradados com as ideias do jovem deputado. Entendem até, que “as suas declarações à imprensa causaram danos que não desaparecem só porque pediu desculpas”.
Ninguém lhe terá explicado que a sua função não é pensar e ter iniciativas? Ninguém lhe disse que ele tem que votar no que, e como lhe manda o aparelho partidário? Ninguém lhe explicou que o seu contributo é carregar no botão ao sinal do menino guerreiro, o chefe Santana Lopes? Então a agência de comunicação deixa o rapaz vir com estas barbaridades para a praça pública? Pois é caro André Almeida. Assim não vai longe

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A RETOMA OU LÁ O QUE É

Sabendo que a nossa vida social, económica e política tem indicadores absolutamente preocupantes, como desemprego, particularmente entre os mais jovens e os mais velhos, desigualdade extrema entre os mais favorecidos e os menos favorecidos, níveis de endividamento familiar insustentáveis, apoios sociais insuficientes às populações mais carenciadas, etc., é bom ficar a saber pela imprensa económica de hoje, que os quatro maiores bancos privados a operar em Portugal, BCP, BPI, BES e Santander Totta, tiveram durante 2007 um lucro de 5.6 milhões de euros por dia, 2035 milhões no total. Importa ainda sublinhar que estes números não envolvem o lucro da CGD e o impacto da crise interna do BCP nos respectivos lucros. Se estes dados fossem considerados os resultados seriam mais elevados. Afinal o Governo tem razão. Estamos no caminho da recuperação, da retoma, como lhe chamam. É certo que a esmagadora maioria da população, retoma cada vez que acorda a preocupação com o dia-a-dia, mas a banca já vai bem e não se pode fazer tudo ao mesmo tempo.
Hoje, merece ainda registo o facto de, pela primeira vez, um partido, PSD, e uma empresa, Somague, terem sido condenados pelo Tribunal Constitucional a pesadas multas por financiamento partidário ilegal. Esta é, de facto, uma boa notícia.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

FUI EU QUE DEI O CASINO

Pronto, está bem. Fui eu que tratei de entregar o edifício do Casino à Estoril-Sol. Constou por aí que alguns elementos dos Governos de Durão Barroso e do menino guerreiro, o Dr. Santana Lopes, como o Dr. Telmo, mais conhecido pelo “speedy despacho”, e um outro Secretário de Estado se teriam envolvido no processo a pedido do Dr. Assis Ferreira. Parece até que existe uma carta publicada pelo Expresso em que a Estoril-Sol sugeria uma discreta alteração na lei, que passaria despercebida e permitiria a entrega do Casino. Tudo isto são calúnias difamatórias da classe política. Na verdade, fui eu que decidi entregar o edifício do Casino a quem o merecia. Perguntarão porquê. Este meu comportamento prende-se com o chamado paradigma “TQSUPO”, Temos Que Ser Uns P’rós Outros. Não tendo nenhuma certeza sobre a sustentabilidade da Segurança Social, com o valor das reformas em baixa e com o aumento da esperança de vida conforme os dados hoje divulgados pelo INE mostram, é grande a minha preocupação com o futuro. Assim, disse ao D. Assis Ferreira, “Ah pois é, você leva o casininho, mas tem que me arranjar uma reformazita jeitosa”. Ele, de forma desinteressada aceitou e eu pensei “Porreiro pá” e pronto, dei-lhe o casino. Foi assim, não aborreçam mais os políticos. Coitados, é só incómodos. Agora até as cheias são culpa dos autarcas que tanto se esforçam pelo ordenamento adequado dos seus municípios tapando, por exemplo, as linhas de água para que esta não passe e cause transtornos às pessoas.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

OUTSOURCING DE HIGH COST

O Governo identificou como uma das suas prioridades a redução da despesa pública. Os resultados são animadores. De 2006 para 2007 o Estado gastou mais 155 milhões de euros com a aquisição de serviços externos, 19.3% de aumento. Passemos a explicar para os menos familiarizados com este mundo da economia. Depois de alguma actividade de brainstorming foi decidido pelo CEO e restante management staff realizar um downsizing no funding. A opção foi o outsourcing que contribuiria para melhorar o cashflow, mantendo-se cada serviço no seu core business. No entanto, o sistema de accountancy operado em backoffice parece incapaz de atingir um fair price na aquisição de serviços. Em consequência do benchmarking, a decisão de management foi mexer nos incomes do contribuinte, mantendo, por exemplo, o VAT à taxa actual. Parece que no headquarter não existe know-how para mais, embora alguns gurus, por exemplo do BCP, defendam a utilização do offshore para mascarar ratios negativos. Assim, a join venture montada entre estado e prestadores de serviços privados é um sucesso, pelo menos para os prestadores de serviços.
Em síntese. Contra o que é hábito, alguma coisa não está a correr bem. O Estado irá certamente recorrer aos serviços de uma prestigiada consultora para encontrar as causas. Entenderam?

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A REALIDADE NÃO É A PROJECÇÃO DOS NOSSOS DESEJOS

O Sr. Engenheiro irritou-se. À chegada a uma reunião de natureza partidária envolvendo a equipa do ME e professores do PS, foi recebido com apupos por 100 ou 200 elementos, ao que parece professores, que de uma forma activa promoveram algo que os políticos adoram defender, a interacção com a sociedade civil. O Engenheiro não reagiu bem e aos jornalistas disse que “os protestos não são espontâneos mas organizados”, a iniciativa terá “sido organizada por militantes de outros partidos”, que pretendem “condicionar a actividade do PS”, etc. e que, finalmente, a PEC (política educativa em curso) continuará.
Pois é, a democracia tem destas chatices. Uma reunião para explicar a um grupo de cidadãos a política em curso pode ser organizada, mas um protesto tem que ser espontâneo. Porquê? A actividade cívica contempla comportamentos organizados e espontâneos. Serão militantes de outros partidos que protestam. Não me parece estranho que em democracia exista confronto partidário uma vez que um partido representa um conjunto organizado de ideias, interesses e valores e é este confronto que alimenta a vida democrática. Na mesma linha, o confronto partidário implica, naturalmente, a tentativa de “condicionar” a actividade política, entendendo-se o condicionar como o “influenciar” o desenvolvimento dessa actividade.
Fica assim estranha irritação do Senhor Engenheiro. Concordo que seria certamente mais simpático o espontâneo aparecimento de uns milhares de apoiantes socialistas a aplaudirem as geniais políticas em desenvolvimento. O problema Senhor Engenheiro, é que a realidade raramente é a projecção dos nossos desejos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A PERPLEXIDADE, A INDIGNAÇÃO E A TRANQUILIDADE

Daqui, do meu Alentejo e depois de traçar uma “rolota” de lenha de oliveira, três notas, uma de perplexidade (ainda e sempre), uma de indignação e uma de tranquilidade.
A primeira nota, a perplexidade, remete para o facto de nos últimos três anos terem sido apreendidas em Portugal 7 (sete) cartas de condução sendo ainda que cinco delas foram-no por via dos tribunais. Num país em que qualquer cidadão atento já presenciou uma manobra assassina de qualquer delinquente ao volante, é extraordinário como apenas sete indivíduos viram as suas cartas cassadas em três anos.
A segunda nota, a indignação, remete para a actuação delinquente que esta equipa do ME tem realizado no que respeita à educação de crianças com necessidades educativas especiais. Já aqui me referi muitas vezes a esta questão e às razões da minha apreciação, mas ver o Dr. Lemos na AR a defender o indefensável, que não existem crianças com dificuldades sem apoio, é de mais para o meu estômago.
A terceira nota, a tranquilidade, refere-se ao facto de especialistas em sociologia da família terem concluído que a estereotipada ideia de que os homens se interessam mais pelo trabalho e as mulheres pela família não corresponde à realidade. Com efeito, os estudos mostram que uns e outros se interessam, na mesma proporção pelo espaço afectivo que é a família e pelo espaço profissional em que investem. Poderia ser de outra forma?

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

AS ESCOLAS DEVERIAM ESTAR ABERTAS À NOITE

Ontem referi-me à extensão do conceito de Escola a Tempo Inteiro ao 2º ciclo tendo afirmado que os alunos já passam muito tempo na escola e temer alguns efeitos desta medida. Por coincidência, o DN de hoje mostra que, actualmente, um aluno de 6º ano, por exemplo, passa cerca de 39 horas na escola se não sair à hora de almoço, o que acontece a muitos. Se, como se pretende, as escolas organizarem as Actividades de Enriquecimento Curricular no período final do dia, os alunos estarão na escola entre as 8:30 e as 17:30, o que dá a bonita conta de 45 horas. Se avançar como previsto o chamado “apoio à família” para mais duas horas, 17:30 às 19:30, haverá alunos que estarão 55 horas, sim 55 horas na escola. Fantástico! Considerando que a CONFAP (representante dos pais) aplaude e afirma esta absoluta necessidade porque os pais trabalham, sugiro que se considere a possibilidade de as escolas poderem, em alguns dias da semana, funcionar até às 24 horas pois os pais também precisam de algum divertimento e vida cultural e não têm a quem deixar as crianças que sós não devem ficar por razões óbvias.
A sério, para resolver a enorme dificuldade dos pais não podemos exclusivamente aumentar o tempo de permanência dos alunos na escola. Temos necessária e urgentemente de alterar a organização do trabalho e das carreiras de modo a que tenhamos horários mais flexíveis e modalidades de prestação de serviços mais compatíveis com vida familiar de qualidade. Estas medidas teriam ainda, a experiência de outros países mostra isso, impacto na natalidade pois uma das mais fortes razões do abaixamento dos nascimentos é a incompatibilidade sentida entre a paternidade e a vida profissional tal como a temos organizada. Assim, temos que alterar esse modelo de organização em vez de deixar as crianças cada vez mais tempo na escola. Por mais entretidas que estejam.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

TRADIÇÃO E MUDANÇA

Ao fim de um dia que começou cedinho e acabou há pouco, duas boas notícias e uma preocupação.
As boas notícias. Pela primeira vez, que saiba, vão a tribunal sete indivíduos por comportamentos assumidos durante as chamadas “praxes académicas”, normalmente um conjunto alarve de humilhações e comportamentos de mau gosto de consequências graves por vezes. A treta da tradição não pega por manifesto reaccionarismo e abuso. Aliás, o queijo caseiro também é tradicional e a ASAE quer acabar com ele. A integração dos caloiros é outra justificação que não colhe, pois ninguém consegue perceber como é que maltratar alguém pode constituir uma ajuda à sua integração num contexto novo. Curiosamente alguns caloiros divertem-se, dizem, numa provável antecipação do que farão no ano a seguir a quem vem atrás.
Segunda boa notícia. O Ministério da Educação reafirmou a intenção de alterar a organização da estrutura curricular do 2º ciclo diminuindo o número de disciplinas e procedendo a uma reordenação do trabalho docente. Excelente ideia. Vamos a ver como vai funcionar pois o ME, com demasiada frequência, mexe nas coisas certas, mas não faz certas as coisas.
A preocupação. O alargamento do conceito de Escola a Tempo Inteiro ao 2º ciclo com o apoio do movimento associativo dos pais. Já tenho repetidamente afirmado que mais do que ESCOLA A TEMPO INTEIRO, importa EDUCAÇÃO A TEMPO INTEIRO o que não é o mesmo conceito. Os alunos portugueses estão já muito tempo na escola. O ficar mais tempo vai ao encontro de uma necessidade social das famílias (onde colocar as crianças em tempo não escolar) e daí o aplauso de muitos pais mas duvido da qualidade educativa de muito desse “tempo inteiro” e temo os seus efeitos nos alunos. Admitindo que os alunos fiquem mais tempo na escola, NÃO PODE SER PARA TEREM MAIS ESCOLA, tem que ser para terem mais educação mas, sobretudo, é necessário MELHOR ESCOLA. Vamos a ver o que dá. Voltaremos a isto.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

DEVAGAR, DEVAGARINHO

Devagar, devagarinho, fomos atingindo a normalidade democrática, a maturidade cívica do povo português, a robustez da nossa democracia, etc. Estas são algumas das expressões que os aparelhos dos partidos debitam sempre que há eleições, nas quais, como é hábito em Portugal, ganham todos.
A partir de agora está certificada toda esta apreciação. Pela primeira vez desde 1974 foi condenado um cidadão, João Serpa de sua graça, por manifestação ilegal. O episódio, a manifestação de alguns trabalhadores da Pereira da Costa decorreu de forma espontânea e comprovadamente sem incidentes. Acresce que a manifestação tinha a ver com a tragédia dos salários atrasados e não com o escândalo dos salários adiantados como na situação do Dr. Teixeira Pinto ex-BCP. Parece ainda importante referir que alguns especialistas, caso do Professor Jorge Miranda, contestam a constitucionalidade da lei. Pois o cidadão, de acordo com a imprensa, foi a julgamento sem notificação do processo que corria e, como tal, teve defensor oficioso com a eficácia reconhecida nestes casos. O homem foi condenado a 75 dias de prisão. Fez-se assim justiça. A propósito de justiça, foi arquivado o processo de agressão física violenta a um vereador, Ricardo Bexiga, apesar de haver quem confessasse a autoria moral do crime e encomenda do trabalho aos agressores, também identificados. Bom, a democracia também não é perfeita e não se pode ter tudo de uma vez. Como diz o bastonário dos advogados, a justiça enquanto não consegue ser também forte com os fortes, vai sendo forte com os fracos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O CONFORTO DA SENHORA MINISTRA

Acabei de assistir a uma entrevista da Senhora Ministra da Educação na RTP2. Seguindo a agenda os grandes temas da conversa foram a reforma do ensino artístico e a avaliação dos professores. Finalmente entendi o desígnio subjacente à mudança. Trata-se do conforto. É verdade, a responsável pela PEC referiu-se recorrentemente ao termo “conforto”. Todas estas mudanças, afirma e reafirma, visam trazer conforto aos alunos, conforto aos pais e, finalmente, conforto aos professores. Pobres de nós que não entendemos o conforto que nos querem proporcionar. Eu acho (mais achismo, menos achismo, é irrelevante) que este sentimento se deve à alma lusa, nascida para sofrer e educada na matriz judaico-cristã da expiação redentora. Apesar disto, as palavras da Ministra não atenuam o meu desconforto.

HISTÓRIAS SEM HISTÓRIA

Hoje passei algum tempo no Centro de Saúde da minha zona. Como gosto de partilhar experiências interessantes vou procurar retratar o ambiente. Terão de introduzir como música de fundo as vozes de cerca de 20 pessoas, o choro e alguns gritos de três infelizes crianças pequenas, as vozes dos médicos que pela instalação vão chamando os em boa hora designados pacientes e o apito do aparelho que vai mostrando a senha de atendimento. Juntem a isto tudo um ar resignado e de paciente de alguns, o ar ausente de uns poucos, o ar impaciente e agitado de outros e já temos cenário. Agora o que eu fui ouvindo e vendo. “Não atires o telemóvel para o chão se não tiro-te” diz a mãe à criança que chora debruçada no carrinho. “A senhora que número tem? O 7! Ai credo, que eu tenho o 15, quando é que saio de cá” diz uma senhora gorda que comia bolachas. “Espera homem, então agora é preciso tirar senha para pôr o carimbo na receita”, diz a mulher do envelope de radiografias. “Olhe, nem sei do que me queixar, tenho tanta coisa” diz a velhota que parece padecer sobretudo de solidão. “Por aqui? Tás doente?”, pergunta um sujeito com um braço engessado a um jovem que entrou. “Não, venho tratar da baixa” diz o jovem que entrou. “Não saias daqui agora que está quase na nossa vez” diz a mãe do miúdo que faz gincana no corredor de acesso. “O senhor não pode esperar aqui encostado ao balcão” diz o funcionário. “É que me custa estar sentado”, diz o senhor que está encostado ao balcão. “Gosto muito do Dr. Silva, pergunta-me sempre pelos netos” diz a avó que me parece estar ali só para isso mesmo, alguém que lhe pergunte pelos netos.
O aparelho apita. É a senha 43, a minha. “Desculpe estar tanto tempo à espera só para pôr o carimbo” diz a solícita funcionária. “Foi um privilégio” disse eu.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

NUNO DA CÂMARA PEREIRA, HOMEM SEM DOM

Esta é mais um bom exemplo do Portugal dos Pequeninos. Segundo o DN de hoje o deputado do PPM eleito nas listas do PSD, Nuno da Câmara Pereira, andará de candeias às avessas com o senhor D. Duarte de Bragança. Parece que a relação entre os Bragança e os Câmara Pereira até eram boas mas azedaram. Tratando-se de duas brilhantes figuras da política e da cultura portuguesas é certamente importante conhecer o motivo da zanga.
O deputado queria utilizar o título de Dom, sim isso, ser D. Nuno, mas o senhor D. Duarte enviou o pedido para o Conselho da Nobreza que o indeferiu. O deputado zangou-se. Está certo. Um homem deste calibre, com uma carreira política, profissional e cultural notável, com ideias que sempre nos espantam pela inovação e densidade, com um discurso arrebatador a que até o republicano mais empedernido tem dificuldade em resistir, não pode ver assim amputada uma peça fundamental da sua identidade, o Dom. Ainda por cima o Sr. Nuno (já viram este desagradável e plebeu tratamento) afirma que o título lhe foi concedido por D. Vasco da Gama. É decididamente trágico.
Por mim o Sr. Nuno passará a ser Dom. Passe o Senhor D. Nuno da Câmara Pereira muito bem e aceite um conselho deste seu servo, quando abrir a boca … cante, apesar de tudo é menos mau.

DEPRESSA E BEM, NÃO HÁ QUEM

Acho que se impunha. A equipa do Ministério da Educação deveria realizar um retiro sabático embora os seus colegas do ensino superior estejam a combater as licenças sabáticas. Com o “ímpeto reformista” (já cansa) do actual governo, esta equipa desatou a reformar de uma maneira que o país fica tonto com tanta agitação. É óbvio que o sistema educativo precisa de mudança. Mas esta, sempre difícil, tem de partir da necessária avaliação das fragilidades e desajustamentos e então, de forma estudada, reflectida e envolvendo os actores envolvidos, decidir os objectivos e processos de mudança. A equipa que gere a PEC (política educativa em curso), é de uma tal agitação que parece funcionar ao contrário, ou seja, procura mudar tudo e ao mesmo tempo e pensa depois, se pensar. O cidadão fica perplexo, sem confiança o que acaba por minar o impacto de algumas medidas. O mais recente exemplo desta trapalhona e avulsa forma de funcionar remete para a avaliação de professores, em cujo processo o ME teve que recuar quando se percebia desde o início a impossibilidade de realizar o determinado.
A mudança em curso no ensino artístico parece seguir o caminho habitual. É necessário introduzir mudanças no sentido de aumentar a qualidade e acessibilidade do ensino da música às crianças em Portugal, mas porquê assumir a intenção de não permitir o ensino supletivo para crianças mais pequenas? O ensino musical nas escolas de música dos conservatórios não se pode confundir com a educação musical, presença imprescindível na estrutura curricular obrigatória. Cumprem funções diferentes, ambas imprescindíveis. Por favor, parem, estudem, oiçam, pensem e decidam. O País agradece.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

ASTROLOGIA, O GÉNIO DE PAULO CARDOSO

Há momentos que um tipo devia estar quieto. Aqui no meu Alentejo perto do lume de chão deu-me para acender a televisão. Apanhei um astrólogo, Paulo Cardoso creio, a apresentar o seu último livro “Conheça os seus filhos através da astrologia”. Continuei a ver pois considero imprescindível que os pais conheçam os seus filhos. O senhor lá foi explicando que sabendo o signo das criancinhas saberemos o comportamento que adoptam, o seu estilo de funcionamento, etc, etc. Fiquei perplexo. Psicólogos, pediatras, pedopsiquiatras e outros especialistas estais arrumados e pior, desempregados. Basta a carta astral e não há puto que nos surpreenda. Obrigado Paulo Cardoso por esse contributo que a história seguramente não esquecerá.
Já agora para o trabalho ser completo, umas sugestõezinhas. Para quando “Conheça os seus políticos através da astrologia”? Poupavam-se os gastos das campanhas eleitorais e a surpresa que o DE (depois de eleito) nos proporciona. E que tal “Conheça os futebolistas através da astrologia”? Sempre se poderia evitar os disparates do presidente do meu Glorioso que contrata futebolistas a eito. Ou ainda “Conheça o pensamento político de Filipe Meneses através da astrologia” que nos pouparia o recurso aos certamente caros serviços do pessoal do CSI.

MUNDO DE PRESSA

(Foto de Paulo Lisboa)

Depressa. Vá, despacha-te. Então? Anda. Não te demores. Já estamos à espera. Mexe-te. Olha que te atrasas. Sempre a última. Olha as horas. Mais rápido. Parece que estás a dormir. Acaba isso.
Chega! Estou farta deste mundo de pressa. Vou juntar dinheiro e comprar um saco de tempo. Vão ver. Vou ficar com um grande monte de tempo só para mim. Vou fazer do meu tempo o que eu quiser. E se me pedirem, até dou um bocadinho de tempo a quem tiver pouco.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O INTERESSE NACIONAL

O Governo aprovou uma proposta de reordenamento da Herdade da Comporta na costa alentejana e integrada na Reserva Ecológica Nacional. Tal alteração destina-se a permitir a instalação de um mega projecto turístico promovido pelo Grupo Espírito Santo que envolve 744 hectares, a disponibilização de 11000 camas e um investimento de 1130 milhões de euros. Claro que este projecto é de interesse nacional porque o Grupo Espírito Santo é assim mesmo, com um Santo Espírito de beneficência. Para o Grupo.
Por falar em interesse nacional, segundo um estudo da consultora Watson Wyatt envolvendo um universo de 141 empresas em Portugal, as políticas de remuneração em 2007 foram mais favoráveis a dirigentes que a outros empregados. No país da UE onde se verifica o maior fosso entre os mais ricos e os mais pobres é bom sentir que convergência é uma preocupação, ou seja, as políticas salariais convergem na manutenção desse fosso.
O Governo Regional da Madeira, isto é, o Dr. Jardim resolveu oferecer o Estádio dos Barreiros ao Marítimo que procederá à sua remodelação para fins comerciais. Para tal fim contará também, supõe-se, com os fundos generosos brotados da famosa e inesgotável Fonte do Jardim. Esta situação levará ao desmantelamento da única pista de atletismo do concelho do Funchal. Está certo. Com um carnaval como o do Funchal quem é que precisa de correr. Ainda ficam como o Engenheiro, com a mania das corridas.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O QUE GASTAM OS PAIS, O QUE CUSTAM OS FILHOS

Ainda vou a a tempo do comentário. Duas psicólogas conduziram um estudo coordenado por esse ícone da psicologia à portuguesa, o sussurrante e omnisciente Professor Eduardo Sá, com o objectivo de saberem quanto custa ser “bom pai”. De acordo com a imprensa “bom pai” significará, no âmbito do estudo, providenciar as necessidades básicas. Como resultados publicados temos que uma família de classe média-baixa gasta em média mensal 236.446€ com um filho e uma família de classe média-alta gastará 678.875€.
Bom, e então que conclusões? Não as conheço. Eu só fiquei com dúvidas.
Os pais mais ricos gastam mais porque têm dinheiro, são melhores pais ou têm filhos mais caros? Vocês sabem que os mais pobres contentam-se com pouco. É por isso que continuam pobres.
Espero que tenham sido considerados os efeitos da economia de escala, isto é, mais filhos torna cada um mais barato. Os pais bons gestores estarão atentos a isso.
Considerando os custos da paternidade, que efeitos na qualidade terão os gastos nas férias de inverno na neve e nas de verão nas Caraíbas, em contraste com férias de inverno em casa e de verão ao molho no parque de campismo? E o impacto das diferenças entre os custos das roupas de marcas exclusivas e as de marcas que escaparam ao controlo da ASAE vendidas na feira? Devastadores certamente.
Como se sentirão os pais mais pobres que lerem estes dados? Culpados por não serem tão “bons pais”? Felizes porque são poupadinhos? Invejosos e, portanto, em pecado?
Agora desculpem mas vou fazer as contas para saber quanto me custa a paternidade, boa, espero.

HÁ UM ANO

A idade, para além de todas as outras consequências, vai instalando em nós uma relação diferente com o tempo. Há muitos anos tinha a ideia de que mesmo envolvido em muitas coisas, tudo cabia no tempo. Hoje, predomina a sensação de que o tempo é breve, que cada hora tem segundos a menos, cada mês tem dias a menos e cada ano tem semanas a menos. Apesar de querer ser optimista tenho mais caminho andado que caminho para andar. Provavelmente é por isso que cada vez mais parece faltar o tempo para tudo o que ainda não está feito.
Serve esta introdução para referir que este espaço se iniciou há 350 mensagens atrás, em 6 de Fevereiro de 2007, ontem, portanto. Lá está o tempo a fugir. Quando o iniciei, a título de experiência, fi-lo sem grande convicção porque assenta em algo que para mim não é fácil, escrever. No entanto, também me deixei seduzir pela ideia de que, procurando ser e estar atento ao que anda à minha volta, poderia ser engraçado ter um espaço de partilha dessas atentas inquietações para lá da esfera profissional, com a curiosidade de não saber com quem. De início foi mais difícil devido à escrita, sou um pouco como aquele miúdo que para justificar as suas dificuldades dizia, ”eu quero escrever mas a minha mão não deixa”. Depois criei uma espécie de adição, todos os dias estou a pensar sobre o que, e quando vou escrever e tem ficado mais fácil. Estou a gostar de aqui andar, veremos até quando. Entendo a atenta inquietude como uma condição de vida da qual não prescindo.
Agradeço a vossa companhia neste andar e que o tempo vos seja leve.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

NOTAS DO CARNAVAL

Notas do Carnaval.
Não simpatizo com a ideia de incentivos de produtividade aos cirurgiões do SNS, designadamente aos responsáveis por transplantes. Parece-me preferível que sejam mais bem pagos e não dependentes de prémios indexados a valores como: um coração 25000€, uns pulmões 55000€, um fígado 55000€, já uma córnea vale só 1600€. Os cartazes no talho têm a mesma elegância.
Um texto de crítica literária solicitado pelo Expresso a uma sua habitual colaboradora sobre o último livro de Miguel Sousa Tavares, não terá sido publicado pelo jornal pois batia forte no produto. Atreveu-se a dizer menos bem de uma das vacas sagradas do momento. Pensa que é o Vasco Pulido Valente ou quê?
O Director da PJ retirou o tapete aos seus homens com as declarações que fez sobre o caso Maddie. Um chefe competente e com capacidade de liderança não se faz por nomeação política.
Cerca de 40% dos efectivos da PSP podem ver-lhe retiradas as armas por reprovação nos testes de tiro. Já me tinha parecido que, demasiadas vezes, as nossas polícias não acertam onde devem, acertam onde podem. Sempre nos mais fracos.
O Conselho Nacional de Educação aconselha o Governo a deixar cair a mudança na gestão das escolas e a melhorar o que já existe. Estão a brincar. Então e o ímpeto reformista traduzido numa diarreia legislativa frequentemente ineficaz, avulsa e caótica.
O Ensino Superior, público e privado, está a ser pressionado pela tutela para encerrar cerca de 200 cursos com menos de 20 alunos. É imprescindível uma racionalização dos recursos e da oferta de formação, de cuja regulação, aliás, o Ministério se tem demitido, mas a Universidade não pode, não deve, andar a reboque exclusivo do mercado, tem de criar valor e inovação que necessariamente correspondem a nichos.
Dezenas de titulares de cargos políticos solicitaram ao Tribunal Constitucional que mantivesse inacessível à opinião pública as respectivas declarações de rendimento a que por lei estão obrigados. Certamente em nome da transparência.
Segundo o INE, em 2006 25% dos portugueses não têm acesso a rede de esgotos. Está explicada fertilidade dos nossos solos e a poluição das ribeiras.
Dados oficiais referem que os casos reportados de violência doméstica têm aumentado sempre ao longo dos últimos 8 anos. Tragicamente, nesta situação e contrariamente às intenções da ASAE, a tradição continua a ser o que era.
Carnaval? Estou cansado.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

NAS LÉRIAS SOBRE O TRABALHO

O fim-de-semana no meu Alentejo foi um bocado carregado de trabalho. Exceptuando um bocado de terra fabricada com o escarificador, que sempre se torna mais leve graças ao tractor, tratou-se de limpar oliveiras, de machado e motosserra, e traçar a lenha para a lareira ou para a queima das sobras. O meu companheiro de lida, o mestre Zé Marrafa, pertence a uma geração em que as preocupações com a segurança no trabalho são uma modernice sem grande importância porque os acidentes só acontecem a quem não sabe, ou seja, aos outros. Depois de cá de baixo “fazer o desenho”, vê-lo a trabalhar em cima da árvore a manejar a motosserra assusta-me pelo risco e espanta-me pela estratégia e tranquilidade.
No fim da tarde de sábado estávamos os quatro nas lérias, (eu o mestre Zé e duas cervejas), e a conversa, naturalmente, encaminhou-se para o trabalho e a pouca vontade que desperta em alguns. O mestre Zé lembrou-se de uma “anadota” que lhe tinham contado, “Um viajante queria chegar a Portugal mas como não conhecia a extrema não sabia quando é que já lá estaria. Um companheiro mais andado disse-lhe que fosse andando e quando visse um homem a trabalhar e cinco a olhar tinha chegado a Portugal”. Dito de outra maneira, o mestre Zé afirma que há pessoas que nascem com as mãos fechadas e nunca as abrem para não terem de agarrar numa ferramenta. Noutra versão, diz o mestre Zé que há uns companheiros que quando ouvem dizer “vamos” dão logo um passo às arrecuas. Mas isto foi a má-língua das lérias.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

FINALMENTE. ESTAMOS A CRESCER!

Finalmente em convergência com a Europa. Os portugueses estão a aumentar a sua altura média cerca de 1 cm por década. Tal informação consta do estudo realizado pela antropóloga Cristina Padez, da Universidade de Coimbra, através do qual ficamos a saber que já atingimos a altura média de 1,72 m, embora nos mantenhamos os mais baixos da Europa. Estabelece-se também a potencial relação entre crescimento e qualidade de vida, razão pela qual os habitantes dos países do norte, os mais altos, terão tendência a estabilizar a sua altura uma vez que atingiram patamares elevados de qualidade o que facilitará a convergência. Também fiquei com a auto-estima em alta pois estou a crescer mais do que a média, já falo do alto dos meus 1,73 m. O Dr. Vitalino Canas está a preparar uma conferência de imprensa na qual o Primeiro-ministro assinalará mais este momento histórico em que os portugueses através do impulso reformista do Governo mostram começar a ficar à altura dos desafios da modernidade e do desenvolvimento e blá, blá, blá, blá, aproveitando Novas Oportunidades de crescimento, blá, blá, blá, blá, contrariando a oposição que só atira abaixo, blá, blá, blá, blá, e o Engenheiro finalizará com uma pérola soprada pelo Ministro Pedro Silva Pereira “Eu próprio me sinto a crescer diariamente. Internacionalmente já sou reconhecido como político de grande estatura”.

ACABOU-SE. NÃO COMPRO MAIS O PÚBLICO

Desta vez não resisti. Acabou a minha ligação diária em papel com o Público. Durava só desde o primeiro dia de publicação do jornal. Foi um companheiro interessante e uma boa ajuda para espreitar o mundo. A minha relação começou a abanar com direcção de José Manuel Fernandes, homem que sabendo pouca coisa, opina sobre tudo com a maior das arrogâncias, a da ignorância. Será uma questão de equilíbrio, para um José Sócrates arrogante, um J. Manuel Fernandes mais arrogante, estamos no tempo dos arrogantes. Lembro-me ainda da forma discreta como tratou a enorme e indesculpável barraca da manchete sobre a vitória de Hugo Chavez no referendo na Venezuela que afinal era uma clara derrota. Um pormenor.
O episódio final, a gota de água, que ditou a minha atitude prende-se com a recente investigação das antigas actividades do Eng. Sócrates antes e na altura em que começou a carreira política.
Quero sublinhar que a liberdade de imprensa, de opinião e o direito à informação são imprescindíveis a uma democracia saudável. Também não tenho nenhuma reserva quanto às investigações que o Público tem vindo a realizar sobre o Primeiro-ministro. Entendo que em democracia, é inalienável o permanente escrutínio sobre as figuras públicas, designadamente as que assumem ou querem assumir responsabilidades políticas. Pode discutir-se a forma, a pertinência ou o critério mas não o essencial, o direito a proceder a esse escrutínio.
Dito isto e face à matéria publicada, o Eng. Sócrates entendeu comentar afirmando que o Jornal realiza política e não jornalismo. É a opinião dele, concorde-se ou não. O que me parece completamente insustentável é o Director do Público vir no Editorial de sábado justificar a razão das investigações. Os direitos não se justificam, usam-se. Só o peso na consciência dita a necessidade de justificação. No mesmo texto e respondendo directamente ao Primeiro-ministro o Dr. Fernandes afirma “o Público não está na política: está no jornalismo”. Um homem que usa o jornal para defender a invasão do Iraque, para defender a Administração Bush, para fazer a apologia da ideologia neo-cons de uma forma que nem Bush é capaz, faz jornalismo? Escrever num jornal, só por si, não é jornalismo. A opinião publicitada é, como se sabe, uma fortíssima arma política. Para mim chega.
Vou sentir a falta desta rotina, a compra e leitura do Público, mas vou habituar-me. Já me basta ter de suportar políticos arrogantes e incompetentes sem poder evitá-lo, mas não trazer um para casa todos os dias, disso sou capaz.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O HOMEM DA SESTA E D. DUARTE DE BRAGANÇA

Vinha a caminho do meu Alentejo e, mania minha, troquei o CD pelo noticiário das 13 na RDP. Em boa hora. Vejam estes dois tesouros noticiosos.
No âmbito de uma peça sobre a remodelação em curso, (o Governo poderia, como é costume na net, colocar um aviso do tipo “em remodelação, esperamos que sejam do seu agrado as modificações que estamos a efectuar”), o jornalista enunciava os nomes dos novos Secretários de Estado e os respectivos pelouros. Quando chegou ao novo Secretário de Estado da Protecção Civil, João Miguel Medeiros, afirmou que é uma pessoa “conhecida por gostar de dormir uma sesta depois de almoço, sendo fundador da Associação Portuguesa dos Amigos da Sesta”. Fiquei espantado com a pertinência da informação. Eventualmente foi essa circunstância que o recomendou para o cargo. Logo a seguir fiquei preocupado. O homem que vai zelar pela nossa protecção civil dorme a sesta?
No mesmo serviço noticioso foi abordado, naturalmente, o centenário do regicídio. Entre outras referências foi ouvido D. Duarte de Bragança, o eterno candidato a um trono que a República teima em negar. Esta superior figura de analista, filósofo, historiador e o que mais seja, afirmou esta pérola de análise, “Portugal é o país mais atrasado da Europa porque tem a mania das revoluções”. O Senhor D. Duarte está a precisar urgentemente dos serviços de uma agência de comunicação que trave o disparate, talvez a Cunha Vaz que já tem grande experiência com o Dr. Menezes.
Perceberam bem, noticiário das 13 na RDP. Viva o carnaval.

CARNAVALINHO

Aí está de novo o deprimente carnaval. Saí de casa para me encontrar com a bica da manhã e o jornal e fiquei engarrafado com o desfile que estava a sair da escola da minha zona para mais uma incursão no meio servindo de exemplo da boa relação da escola com a comunidade. Era suposto que toda a gente estivesse mascarada de contente, mas as caras de miúdos e adultos não se mostravam particularmente animadas. Lá estava o fotógrafo da autarquia para que o Boletim Municipal testemunhe através das fotos como a educação é apoiada no concelho. Lá estavam alguns pais de telemóvel em punho a verem e registar o passeio dos seus rebentos dentro do fato do Zorro e de outras originalidades. Mais deprimente que isto só mesmo as mocinhas que desfilam, pouco vestidas, na quentura do nosso Inverno com o ar mais carioca que conseguem mostrar e, pior que mau, uma rapaziada que compõe o ar mais “macho latino” que conseguem e aparecem caricaturados de mulher, não posso dizer travestidos, com um ar muito animado e com a mais reaccionária das conversas. Chamem a ASAE que este Carnaval é contrafeito e faz mal às pessoas.