AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

NAS LÉRIAS SOBRE O TRABALHO

O fim-de-semana no meu Alentejo foi um bocado carregado de trabalho. Exceptuando um bocado de terra fabricada com o escarificador, que sempre se torna mais leve graças ao tractor, tratou-se de limpar oliveiras, de machado e motosserra, e traçar a lenha para a lareira ou para a queima das sobras. O meu companheiro de lida, o mestre Zé Marrafa, pertence a uma geração em que as preocupações com a segurança no trabalho são uma modernice sem grande importância porque os acidentes só acontecem a quem não sabe, ou seja, aos outros. Depois de cá de baixo “fazer o desenho”, vê-lo a trabalhar em cima da árvore a manejar a motosserra assusta-me pelo risco e espanta-me pela estratégia e tranquilidade.
No fim da tarde de sábado estávamos os quatro nas lérias, (eu o mestre Zé e duas cervejas), e a conversa, naturalmente, encaminhou-se para o trabalho e a pouca vontade que desperta em alguns. O mestre Zé lembrou-se de uma “anadota” que lhe tinham contado, “Um viajante queria chegar a Portugal mas como não conhecia a extrema não sabia quando é que já lá estaria. Um companheiro mais andado disse-lhe que fosse andando e quando visse um homem a trabalhar e cinco a olhar tinha chegado a Portugal”. Dito de outra maneira, o mestre Zé afirma que há pessoas que nascem com as mãos fechadas e nunca as abrem para não terem de agarrar numa ferramenta. Noutra versão, diz o mestre Zé que há uns companheiros que quando ouvem dizer “vamos” dão logo um passo às arrecuas. Mas isto foi a má-língua das lérias.

1 comentário:

  1. LÉRIAS DO POVO são mensagens, umas vezes de esperança outras de desanimo.

    Foi o que de melhor fez António Aleixo!

    SOLTAS

    Não mais vem, como desejo,
    Um mundo novo, perfeito;
    Só fechando os olhos, vejo
    Tal desejo satisfeito...

    Rouba muito que, de resto,
    Terás um bom advogado
    Que prova que és mais honesto
    Que propriamente o roubado.

    Faz-te lobo traiçoeiro,
    Inteligente e astuto...
    Se dás a ver que és cordeiro,
    Não vives mais um minuto.

    Há tantos burros mandando
    Em homens de inteligência,
    Que ás vezes fico pensando
    Que burrice é uma ciência!

    Qual é o Deus que autoriza,
    Ao rico, mil esplendores,
    E aos pobres trabalhadores,
    Nem pão, nem lar, nem camisa?...
    Manda, para quem não precisa,
    O oiro, a prata e os cobres,
    Palácios, honras de nobres!...
    E eu, triste farrapo humano,
    Julgo esse Deus um tirano,
    Que não faz caso dos pobres!

    O padre não mostra côr
    Política na contenda:
    É apenas o defensor
    Do governo que o defenda.

    Se os homens de um Deus precisam,
    Não me deixa satisfeito
    O que os padres utilizam
    Apenas em seu proveito.

    Quem tem massa é cavalheiro,
    Por isso a vida anda torta.
    O que importa é ter dinheiro,
    Donde ele vem não importa.
    ______________________________

    Por hoje já TORREI suficientemente
    a paciência de quem caiu na armadilha...

    Poe isso... as minhas desculpa!!!


    Saudações

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