AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

BALANCEMOS POIS

Os balanços em final de ano não são coisa que me entusiasme particularmente mas fazem parte da liturgia da época. Sem a preocupação de ordenar pela importância que lhes atribuo, aqui ficam algumas notas sobre o ano da graça de 2007.
Numa época de descrença creio que merecem registo dois, pelo menos, milagres realizados pelo Governo do Grande Engenheiro. Milagre primeiro, a taxa de desemprego continuou a subir mas o Governo criou milhares de empregos. Milagre segundo, os aumentos salariais definidos são abaixo da inflação prevista mas os cidadãos vão recuperar poder de compra. Obrigado Senhor. Queria ainda agradecer a forma como o Governo conseguiu colocar o Verão em Julho e Agosto, o que me possibilitou umas idas à praia nas férias e ainda o feito de, pela sua competência e ímpeto reformista, realizar o Natal em finais de Dezembro permitindo mais um descansozinho ao cidadão. Merece ainda registo a extraordinária e prestigiante presidência da UE, que bem dificultará a vida à Eslovénia e seguintes, pois apenas o Kosovo ficou por resolver e ainda assim, já todos os interessados foram avisados de que, ou se entendem, ou o Engenheiro leva lá o menino guerreiro Santana Lopes e dá-lhes com a Dulce Pontes.
O cidadão, burro e desqualificado, não parece entender as reformas e tudo o que de bom está a ser feito. Vai daí, passa o tempo a protestar. O meu prémio, só pelo nome, vai para esse inesperado e estimulante problema chamado de linhas de muito alta tensão. Uns dizem que deve andar no ar e depois queixam-se de que anda tensão no ar. Outros querem enterrá-la, coisa que também não me parece assim muito bonita. São pobres e mal agradecidos. Não lhes ligue Senhor Primeiro-ministro. Não o entendem e não o merecem.
O País emocionou-se com a desgraça de duas crianças, Maddie e Esmeralda. Esqueceu-se de milhares de outras mas, em certas alturas, até parecia que nos preocupávamos a sério com os putos.
Um país ainda marcado pela matriz judaico-cristã no que diz respeito à família, entristeceu-se com as desavenças entre o Sr. Pinto da Costa e a D. Carolina contadas numa obra de fino recorte literário. Também é de referir um dos momentos altos do ano e que decorreu da estruturante dúvida, afinal, o homem é Engenheiro ou não?
Vamos ser qualificados à força e ainda bem. Em qualquer freguesia em que o Sr. Zé quis ter uma Nova Oportunidade para tirar o curso de padeiro, apareceu um Senhor Ministro, qualquer um, a oferecer um computador. Foi bonito e vai ser útil. Estatisticamente.
O processo Casa Pia continuou na suave vergonha em que se transformou. Continuo a pensar que os putos acabarão condenados por assédio. Em matéria de justiça, continuamos à espera. De justiça.
O meu reconhecimento aos cavaleiros da ASAE pela sua fundamentalista preocupação com o meu bem-estar. Em todo o caso não esqueçam que o povo afirma “tudo o que sabe bem, ou faz mal, ou é pecado”. Agradeço o cuidado, mas sejam sensatos e não se escondam em leis de burocratas assépticos que nos desconhecem e não sabem que a vida nem sempre cabe num tubo de ensaio ou numa norma europeia.
Na vida político-partidária, não posso deixar de registar o regresso do Menino Guerreiro, o Dr. Santana Lopes, que não começou muito bem mas espera melhorar. Os primeiros 50 anos é que são difíceis, depois aprende-se. O Dr. Menezes correu com o Dr. Marques Mendes e depois de desmantelar o PSD ameaça desmantelar o país em seis meses, se o deixarem. Foi bonito também assistir ao regresso de duas das maiores figuras do Portugal dos Pequeninos, o Dr. Bota, o poeta pimba e o Dr. Gomes da Silva mais conhecido pelo Pavlov pois sempre que ouve o menino guerreiro saliva e abana o rabo para receber umas festinhas na cabeça. O Dr. Portas parece que se esqueceu da lavoura e agora é guarda-fiscal. O Dr. Louçã e o Sr. Jerónimo continuam no contrismo, isto é, seja o que for, estou contra. É uma questão de princípio. O Dr. Jardim ainda existe mas parece estar à espera de alta.
O tratado de Lisboa não fez esquecer o tratamento que as sucessivas administrações autárquicas têm dado a Lisboa. Lisboa não merece.
O clown de serviço no Governo, o Ministro Mário Lino, teve os 15 segundos de glória com o discurso do “jamais” e do deserto sobre a questão do aeroporto que continua isso mesmo, uma questão.
Num país em séria crise económica, com o fosso entre ricos e pobres a aumentar, a Banca continuou com lucros a subir o que prova a excelência da sua gestão. A recente turbulência no BCP ajuda a perceber como.
Os seguranças da noite no Porto estão finalmente a cumprir a sua missão. Matam-se uns aos outros e a noite portuense ficará mais segura, mais Branca chamam-lhe.
Finalmente queria sublinhar o meu espectáculo político preferido. O Dr. Menezes ao ataque ao governo e o Dr. Jorge Coelho à defesa do Governo. Vão longe.
Até para o ano.

domingo, 30 de dezembro de 2007

JUSTIÇA

Parece consensual que o nível de confiança dos cidadãos no sistema de Justiça é um bom indicador de desenvolvimento de uma comunidade. É também conhecida e preocupante a má conta em que os portugueses têm a justiça o que assume consequências sociais graves, designadamente na instalação e manutenção de um sentimento geral de impunidade de efeitos devastadores. A entrevista do Procurador-geral da República ao CM de hoje tenta, por um lado, identificar alguns constrangimentos e, por outro, transmitir alguma confiança no funcionamento da máquina da justiça anunciando o fim de processos como Casa Pia, Operação Furacão e Apito Dourado. Se interrogarmos o cidadão anónimo sobre isto, a resposta provável será do tipo “não vai acontecer nada, os tipos safam-se sempre, e quanto maiores melhor se safam”. Será difícil reverter esta ideia. As manobras dilatórias e incidentes processuais explorando os alçapões de leis complexas em que mais do que provar eventual inocência, se procura impedir a acusação e levar à prescrição, alimentarão a ideia de que um bom e bem pago advogado é suficiente para garantir a impunidade. A ver vamos como acabarão estes processos e outros como os que envolvem câmaras e autarcas.
A propósito, não estou muito convencido de que se as comadres no BCP não se tivessem zangado e algumas informações fossem “sopradas” para o exterior, o Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, ou CVM como diz o Comendador, mecenas e filantropo Berardo, não estariam agora a investigar uma série de operações desenvolvidas pelo banco com contornos legais no mínimo duvidosos. Veremos o resultado.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

À VARA LARGA

O frio da noite no meu Alentejo exige um bom lume de chão que dá uma quentura branda pouco inspiradora. Nestes últimos dias tenho-me lembrado de uma expressão usada pelo meu pai quando achava que eu fugia a limites ou regras, “pensas q’isto anda à vara larga ou quê”. É verdade. Passados 40 anos andamos à “vara larga”, isto é, Vara larga a CGD e corre largado para o BCP. O Dr. Vara é daquelas pessoas cuja vida é um exaltante paradigma. Tem sido um dos mais sólidos praticantes de alpinismo político. Desde que entrou no PS foi sempre a subir, no aparelho e nos jobs. O João Garcia que se cuide. É também excelente no surf. Qualquer que seja a onda sai sempre por cima e bem, ou não estivesse tão ligado a uma famosa Fundação para a Prevenção e Segurança. Licenciou-se em Relações Internacionais uns dias antes de ser nomeado, em 2005, administrador da CGD. Ficou com o pelouro do crédito e das participações financeiras do banco embora já fosse director adjunto da área de Obras e Património que é mais ou menos a mesma coisa e ligado à sua formação académica. Tal pelouro parece não requerer conhecimento e experiência que, aliás, lhe não faltariam obviamente. Por fim, por agora, o Dr. Vara, um apoiante do Programa Novas Oportunidades do amigo Engenheiro, vai agora aplicar no BCP a larguíssima experiência de administração que adquiriu em dois anos.
O meu pai tinha razão. Isto anda mesmo à vara larga.

Notinha – O Sr. Pinto da Costa, pecador, perdão, fumador arrependido apresenta hoje no Público uma comovente ladainha sobre a nova Lei do Tabaco. Diz a personagem, “A Lei do Tabaco é a melhor lei que este Governo implementou nos últimos tempos”. A quentura do lume certamente que me amolece o intelecto, mas isto é um elogio?

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

918 MILHÕES DE MENSAGENS

Neste Natal os portugueses trocaram 918 milhões de SMS, o dobro do verificado o ano passado, apenas 459 milhões.
Rendo-me. Afinal não somos uma comunidade fechada, com baixos níveis de comunicação, 918 milhões de mensagens é obra. Afinal não somos uma comunidade com pouca apetência para a leitura e escrita, 918 milhões de mensagens é obra. Afinal não somos uma comunidade pouco dada ao exercício, teclar 918 milhões de mensagens é obra. Afinal não somos uma comunidade de distraídos, concentrarmo-nos em 918 milhões de mensagens é obra. Afinal já somos uma comunidade “high tech”, equipamento electrónico suficiente para 918 milhões de mensagens em 5 dias é obra.
Só me admiro pelo facto de o Eng. Sócrates não ter promovido uma conferência de imprensa para sublinhar o importante contributo do governo, obviamente, o grande responsável por este fantástico aumento de produtividade. Um grande bem-haja.

ARRANJA-ME UM EMPREGO

“Arranja-me um emprego
Pode ser na tua empresa
Concerteza.
Que eu dava conta do recado
E para ti era um sossego.”


Não, não é. É certo que parece uma conferência de imprensa do Dr. Menezes a reclamar pública e despudoradamente a sua parte junto do Presidente do Conselho de Administração da JOB FOR THE BOYS - BLOCO CENTRAL COMP. SA., mas trata-se apenas de um excerto de uma canção de Sérgio Godinho do álbum Campolide, publicado em 1978.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

SMS - Sossega, Medo Sentido

Sossega, medo sentido.
Vêem-me só e avisam,
cuidado com as companhias.
Porquê
são as companhias que me cuidam.
Não entendem.
Queixam-se do meu silêncio.
Porquê
todos falam de mim e ninguém fala comigo.
Não entendem.
Parecem com medo de mim.
Porquê
o meu medo é ainda maior.
Escondo-me com os fones
no máximo para não o ouvir,
o medo sentido.
Não entendem.
Dizem que me porto mal.
Porquê
só procuro um porto bom.
Não entendem.
É preciso pensar no futuro, dizem.
Porquê
o meu amanhã,
vai ser igual ao hoje,
igual ao nada.
Não entendem.
Sossega, medo sentido.

DO DESERTO AO OÁSIS

Sou dos que entendo como necessário um discurso positivo e optimista por parte dos líderes políticos de forma a promover segurança e confiança nos cidadãos. Sei também que num mundo cada vez mais globalizado e interdependente, a resolução ou minimização dos problemas de cada país, designadamente nos de menor dimensão e influência, estão para lá da capacidade de gestão imediata dos respectivos governos. Dito isto, parece-me que o discurso de Natal do Primeiro-ministro foi isso mesmo, um discurso natalício. A quadra manda-nos esquecer problemas, ser generosos, pessoas de boa-vontade, apoiar criancinhas e sem-abrigo, velhinhos e outros excluídos. É certo senhor Primeiro-ministro que tudo o que de positivo se tem conseguido deve ser afirmado, mas o fosso que se tem acentuado entre mais “favorecidos” e menos “favorecidos”, o desemprego, os baixos níveis de confiança, os fenómenos de exclusão, a quantidade de famílias a (sobre)viver no limiar de pobreza, o mal-estar ético dos níveis de corrupção, etc. não autorizam o seu discurso que nos coloca, outra vez, à beira do oásis. Mesmo que seja Natal, sobretudo por ser Natal. Não é justo para todos, e são muitos, os que não sentem os efeitos de tanta obra.
PS – Uma boa notícia do DN refere-se ao notável aumento da taxa de mulheres licenciadas, 9.3%, um dos valores mais altos da UE. Em alguns casos a tradição começa a não ser o que era. Felizmente.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

ACABOU O NATAL, A VIDA SEGUE DENTRO DE MOMENTOS

(Foto de Honey)
A vida segue dentro de momentos,
porque amanhã já não é Natal.
Voltaremos a ser os putos da atenção pequena.
Pode parecer grande,
de tão presente nos presentes.
Ficará pequenina,
de tão ausente do futuro.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

INVENTAR PALAVRAS JÁ INVENTADAS

De vez em quando lembro-me de Almada Negreiros. Em várias circunstâncias e por diferentes razões. O Mestre dizia, “Nós não somos do século de inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas.”
A D. Gracinda, da aldeia de Pitões, nas Terras do Barroso e hoje referida no Público, mostra uma forma muito bonita de inventar palavras já inventadas.
“O meu marido e os seus irmãos tinham a arte de carpinteiros. Faziam obras finas. As mãos deles não haviam de ser comidas pela terra.”

FARINHA DO MESMO SACO

É tudo farinha do mesmo saco. O Dr. Menezes tem-se mostrado ofendidíssimo com a ideia de que o Estado, ou seja, o PS possa estar a interferir na crise instalada na Banca devido ao BCP. Em particular, refere-se à eventual passagem de administradores da CGD conotados com o PS para a administração do BCP, designadamente, Santos Ferreira e Armando Vara. É óbvio que este tipo de procedimentos é um péssimo serviço prestado à saúde ética e cívica da nossa comunidade. O Sr. Vara, que da banca possuía a experiência de um balcão foi colocado na Administração da CGD e agora, já conhecedor e especialista, passará para o BCP. Fantástico e bonito percurso que ainda envolveu uma obscura passagem pelo governo e o escândalo da Fundação para a Prevenção e Segurança. O que acho curioso é a virgem ofendida, o Dr. Menezes, pertencer ao PSD que teve um chefe de Governo, Santana Lopes (brrrrr!!!!), que após uma brilhante e inesquecível passagem pelo governo da D. Celeste Cardona, a nomeou para a administração da CGD, também atendendo, obviamente, ao seu sólido currículo na banca. Haja vergonha. É tudo farinha do mesmo saco.

domingo, 23 de dezembro de 2007

POSTAL DE NATAL

Fui ao Natal ao Almada Fórum. Nós temos um Centro Comercial cá no deserto. É um dos maiores. Fui a pé porque, disseram-me, é muito difícil estacionar no Natal do Fórum. Parece que está sempre cheio. Logo nas entradas dos parques se via o Natal. Os carros com as luzes e piscas ligados e a apitar pareciam um enfeite. Muito bonito e as pessoas estavam com um ar contente de espírito natalício. Lá dentro havia gente que vou-vos contar. Mas cria-se um ambiente tão simpático e aconchegante com o aquecimento no máximo e as pessoas ao colo umas das outras, que se deseja que o Natal não acabe. Foi uma experiência fantástica. Para terem uma ideia do meu Natal no Fórum, deixo-vos uns fragmentos do que fui captando.
“Ó Cajó não tesqueças que temos que ir ao JUMBO buscar os camarões que são mais baratos que no LIDL. Tá bem Micas, aproveita-se e levamos as bejecas.”
“Crise? Qual crise? Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”
“Vanessa não insistas. Inda em Agosto, pelos anos, te comprei um telemóvel, não te vou já comprar outro. Na tua idade não precisas de uma banda muito larga, essa chega muito bem.”
“É sempre a mesma coisa e eu não aprendo. A tua mãe está lá dentro da loja há uma hora, na volta não compra nada nesta e temos que apanhar outra seca.”
“Crise? Qual crise? Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”
“Não me chateies com os livros. Ainda não leste todos os que estão lá em casa.”
“Tatiana, por amor de Deus, 12 prendas chega. Queres mais alguma coisa pede à tua avó.”
“Não Miguel, é ao contrário, o Natal é que passas com a mãe e na passagem de ano é que vais com o teu pai.”
“Crise? Qual crise? Crise é para mim que não me sai o Euromilhões.”
“Ó mãe deixa-me pôr outra moeda na máquina. Ainda só andei seis vezes. Vá lá.”
“Vou ali à FNAC comprar aquela cena do GPS. Fica fixe no carro. O people tem todo.”
“Eu bem te disse que não era boa ideia trazer a velhota. Nunca mais vamos sair daqui.”

Aproveitando, espero que quando forem ao vosso Natal se sintam felizes. Mais do que eu.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

LÍDERES OU REPRESENTANTES

Líder é um dirigente político que pode antecipar o seu tempo e é capaz de pôr em risco a sua liderança por objectivos que não são necessariamente populares…Representantes, pelo contrário, conduzem os países por sondagens, não antecipam o seu tempo, governam cada dia como se as eleições fossem para a semana.”
(Luís Campos e Cunha, Público, 21/12/2007)

Bem pensado, digo eu.

PORTUGUESES E ESPANHÓIS

Os dados constantes no Relatório A Península Ibérica em Números 2007 produzido pelo INE são deveras interessantes. Vejamos alguns.
Casamo-nos menos que os espanhóis. A tradição já não é o que era e, é sabido, de lá nem bons ventos, nem bons casamentos.
Temos menos filhos que os espanhóis. O tão falado e sério problema da produtividade.
Bebemos mais vinho mas, compensamos, bebemos menos leite. Pensam que somos alguns meninos ou quê?
Temos mais telemóveis (mais aparelhos que habitantes) e mais automóveis que os espanhóis. E depois ainda vêm p’ra cá dizer que estão mais à frente. Aguentem-se seus invejosos subdesenvolvidos.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

NÃO, NESTA ESCOLA NÃO PODES ANDAR

De Pessoa, a estranheza e a perplexidade. Um trabalho do JN refere que uma equipa do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE encontrou escolas públicas que seleccionam os seus alunos por rendimento escolar e origem social, o que parece inconstitucional. Sobre esta matéria a Confederação Nacional das Associações de Pais afirma, “é uma questão que estamos agora a analisar com as administrações regionais e ME”. Não sei se chore, se ria. Então esta gente tem estado emigrada? Há muito tempo que esta situação ocorre e é conhecida. Aliás, se não se verificasse o abaixamento da população em idade escolar, o fenómeno seria, como já foi, bem mais evidente. Com muitos alunos as escolas escolhem (discriminam) mais, com menos alunos, as escolas ficam mais “tolerantes” para justificar a manutenção (ou aumento) do corpo docente.
É também por estas razões que, defender uma educação de qualidade e para TODOS, isto é assente numa perspectiva inclusiva, não é retórica, não é uma ficção, é apenas, uma questão de direitos.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A SALTO

(Foto de Sofy Sá)
Agora chegaram a Portugal. Pelo acaso do clima e correntes ou pela acção criminosa de alguma rede traficante, 23 marroquinos descobrem o caminho marítimo para Portugal numa estranha reviravolta da história.
Num mundo cada vez mais assimétrico e com um inaceitável fosso entre os mais ricos e desenvolvidos e todos os outros, não será de estranhar a tentativa de fuga a um destino marcado. Os portugueses têm a noção exacta do que isto é. Centenas de milhar dos nossos compatriotas também deram o salto na busca do futuro, Também clandestinamente, também vítimas de traficantes criminosos, também arriscando a vida e a expulsão à chegada, também enfrentando, por vezes, comunidades hostis e discriminatórias. Insistiram e resistiram. Acabaram por se tornar imprescindíveis ao desenvolvimento dos países de acolhimento e as suas remessas têm sido um fortíssimo contributo para a nossa economia.
Estranho pois algumas reacções que parecem esquecer a história. Torna-se necessária uma política de emigração para a UE que contemple, naturalmente, questões de economia e segurança mas também direitos humanos e solidariedade. Ou a cimeira EU – África não passará de um evento social destinado a aquietar consciências europeias e a legitimar governos africanos cleptocratas e ditadores.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

UM DIA

(Foto de Zé Pedro)

Um dia.
Um dia,
Vou subir até ao cimo do mundo.
E então,
Vão ver-me.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O INSUCESSO ESCOLAR, O DR. LEMOS E A FINLÂNDIA

De novo o insucesso escolar. Em 2005/2006 chumbaram 120 000 (sim 120 000) alunos no Ensino Básico, ou seja, 10% da população escolar deste nível. Como termo de comparação a média da OCDE é de 3% e na Finlândia, o país emblemático, a taxa é de .005% (sim, .005%). Mais do que nas razões pensemos nas soluções. O Secretário de Estado, Dr. Lemos, em entrevista ao Público sublinha a obrigação legal das escolas definirem planos de recuperação para os alunos que começam a experimentar dificuldades e afirma a existência de escolas que realizam bom trabalho e outras que nem por isso. Deixando de lado o papel que nesta matéria também desempenha a gestão, responsabilidade e avaliação das escolas e daí a urgência da reforma, o Dr. Lemos, num excelente exercício de retórica desconhecedora ou fingidora sobre o real, defende as escolas que resolvam. Ora as práticas das escolas, de muitas escolas, são parte do problema. Como podem então ser parte da solução? O Público esclarecer-nos-ia se verificasse o que em muitas escolas se entende por planos de recuperação. Ficaríamos esclarecidos e perceber-se-ia melhor os números do insucesso.
O Público foi ouvir um elemento da Embaixada da Finlândia sobre as eventuais razões para o seu baixíssimo insucesso que não parece explicável por razões genéticas ou climáticas. Referiu a senhora como bases do sucesso, “diagnóstico precoce de problemas e dispositivos de apoio a todos os alunos”, “orientação e aconselhamento a todos os alunos ao longo do ensino básico” assegurando “bem-estar físico, psicológico e social”. A diferença. Em Portugal, frequentemente, não se procede ao “diagnóstico de dificuldades”, estabelece-se a impressão de que “se não aprende é porque não tem capacidades ou a família não funciona” pois não existem, na maioria das escolas, recursos qualificados para este diagnóstico e consequente intervenção. Daí os planos de recuperação serem muitas vezes um ineficaz enunciado de lugares comuns do tipo “deve ser assíduo” ou “deve fazer os trabalhos de casa”. Em Portugal, em 2006 e segundo a DGIDC existiam 519 serviços de psicologia e orientação no subsistema oficial. Este número significa 640 técnicos, um serviço por cada 26 escolas !!!, um técnico por cada 2317 alunos !!!. Elucidativo e animador, o apoio e orientação disponíveis para os alunos. Será parecido com a Finlândia? Esta matéria é da responsabilidade do Dr. Lemos, um fingidor.

domingo, 16 de dezembro de 2007

PORTUGAL DOS PEQUENINOS

Não entendo muito bem porquê, mas o fim-de-semana deixa-me mais atento ao Portugal dos Pequeninos. Duas notas de humor e uma de preocupação com os pequeninos.
Ouvi um excerto de um discurso do Dr. Portas, o Paulo, proferido não me lembro onde, em que, com o seu ar habitual, recomendava “humildade” ao Engenheiro, o Primeiro-ministro. É certo que ao Engenheiro Sócrates falta em humildade o que sobra em arrogância, mas ouvir o Dr. Portas, um dos maiores umbigos da política portuguesa, recomendar humildade é de um sentido de humor “very british”. Ouvi também o Dr. Jardim afirmar que na Madeira não se assiste a falta de democracia, penalizações por delitos de opinião e outros males que só os cubanos do Continente sofrem. É certo que se pode sempre dizer que o homem está senil e inimputável mas o que me espanta é que o povo aplaude. Tanta generosidade só pode mesmo vir de ser um povo superior.
Nota de preocupação. Exigir nesta altura que todos os partidos provem ter 5000 filiados é bater na democracia. Ela já está doente, tratem-na, não lhe batam, logo o Tribunal Constitucional. Qualquer grupo de eleitores com ideias próximas pode, num exercício de cidadania, organizar-se em movimentos que, de acordo com as regras, procurarão difundir essas ideias. Se a comunidade adere o movimento alarga, caso contrário definha. Esses movimentos podem ser partidos que, apesar de pequenos, são imprescindíveis à inovação e mudança. Nenhuma ideia dominante, nasceu dominante, mas sempre as ideias dominantes se defenderam das que, apesar de pequenas, eram diferentes. A história repete-se.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

COMO SEMPRE

(Foto de António Bastos)


O sol está a pôr-se. Vai ficar frio.
Como sempre.
Prometeram que vinham.
Como sempre.
Como sempre,
sinto-me só.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

APLAUSO A UMA APOSTA NOS LIVROS e um post scriptum

Uma excelente notícia. Num país com níveis de leitura e compra de livros preocupantemente baixa, apesar dos planos e campanhas ciclicamente destinadas à sua promoção, ainda aparece alguém com a coragem de abrir a que será a maior livraria portuguesa, a BYBLOS. O empresário, Américo Areal, merece ser bem-sucedido na iniciativa numa altura em que as livrarias de referência e com preocupações de catálogo vão desaparecendo. Há quem diga que vender livros no meio dos sabonetes do hipermercado ou entre os refrigerantes das gasolineiras, generaliza e promove a sua aquisição. Acredito que sim. Mas sei também que procurar e encontrar "aquele livro" e não best-sellers, acompanhado por quem os conhece e de quem deles gosta é um privilégio que nenhuma grande superfície comercial oferecerá.

PS – Não, PS quer dizer post scriptum e serve para deixar uma pequena nota do Portugal dos Pequeninos. A Câmara de Loures gasta mais de 2.5 milhões €/ano em avenças. Deve obviamente ser fruto do acaso, mas um bom número dos avençados tem relações familiares e/ou políticas com os responsáveis pelos gabinetes camarários. É só mais um exemplo. Viva o poder autárquico tão atento aos problemas e necessidades do cidadão.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

CORRUPÇÃO? NÃO, É IMPRESSÃO

Segundo notícias de hoje, encontram-se detidos por corrupção 22 indivíduos. Este número corresponde a 6% dos 370 inquéritos registados pela PJ nos últimos dois anos. Diz-se também que estes 22 casos de detenção apenas se verificam por cometimento de outros crimes pois “só” a corrupção seria insuficiente. Em vários estudos, os portugueses identificam a corrupção como uma preocupação o que significa a percepção de que o fenómeno está suficientemente presente no nosso quotidiano para nos tornar apreensivos. Sabemos também que muitos fenómenos de “pequena” corrupção passam sem denúncia ou inquérito pois fazem parte da rotina e da cultura do “e não se pode dar um jeitinho?”. Este quadro, a percepção de uma quase impunidade, uma cultura favorável aos comportamentos de corruptores e corruptos, um quadro normativo “envergonhado” face a este tipo de crimes e com um órgão legislativo, a Assembleia da República, aparentemente desinteressado em alterá-lo, tem efeitos severos sobre a qualidade da nossa vivência cívica. Mas o mais inquietante, é que, para lá da retórica dos discursos, a manutenção desta situação parece servir a todos. Para quê alterá-la?

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

MUDANÇAS NA GESTÃO DAS ESCOLAS. SERÁ DESTA?

Numa rápida consulta à net durante um dia cheiíssimo fiquei a saber que o Governo afirmou na Assembleia da República a intenção de introduzir mudanças no modelo de gestão das nossas escolas. Com a natural reserva decorrente de desconhecermos conteúdos e alcance das mudanças, parece-me uma boa notícia. Não existe hoje a menor dúvida de que, numa qualquer organização ou instituição, a qualidade e modelo de liderança é um factor fortemente contributivo para a qualidade dessa estrutura. Torna-se pois necessário um modelo de gestão, cuja qualidade não fique exclusivamente dependente do jeito ou vocação que um docente ou grupo de docentes tenha para tarefas dessa natureza e que equilibre adequadamente responsabilidade e autonomia. Um bom professor não é necessariamente um bom gestor e, obviamente, pode-se ser um bom gestor sem necessariamente se ser bom professor. Vamos em todo o caso aguardar por mais informação.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

BOAS E MÁS NOTÍCIAS

Creio que é mais interessante começar pelas boas notícias. Em 2006, a taxa de mortalidade infantil em Portugal foi a mais baixa de sempre, 3,3 óbitos por mil nascimentos. Para termo de comparação é interessante saber que o melhor registo foi atingido pela Suécia em 2004, 3,1 óbitos por mil nascimentos. Uma excelente notícia. Importante é que, assegurando a vida dos putos, saibamos cuidar deles. Mas isso, é uma outra questão que não refiro para não estragar a boa nova. Segunda boa notícia. O Tribunal Central de Instrução Criminal decidiu levar Isaltino Morais a julgamento com a acusação de corrupção e abuso de poder. Não esqueço que, até à decisão final, deve admitir-se a presunção de inocência, mas é um sinal positivo face à sensação de impunidade em torno deste tipo de crimes e deste tipo de arguidos. Terceira boa notícia. A vacina contra o vírus causador do cancro do colo do útero foi incluída no Plano Nacional de Vacinação. Assim, ainda vou mantendo a esperança no Serviço Nacional de Saúde.
Mas o princípio da realidade obriga também às más notícias. No ensino superior público, 35% dos alunos não termina o curso no tempo previsto. Será interessante avaliar o impacto económico desta situação e considerar que ao superior chegam, em princípio, os alunos mais preparados e que resistiram aos elevadíssimos níveis de insucesso e abandono nos Ensinos Básico e Secundário. Paralelamente, é ainda relevante a informação de que 70% dos licenciados em engenharia civil por cursos não acreditados pela Ordem dos Engenheiros, chumbou no exame de admissão à Ordem. Das duas uma, ou o exame é particularmente difícil ou, mais preocupante, a qualidade da formação destes profissionais dá razão ao facto de a Ordem não acreditar os cursos. O Ministro Mariano Gago deve ter alguma coisa a dizer.

domingo, 9 de dezembro de 2007

RECONHECIMENTO AOS POLÍTICOS

O meu companheiro de corrida, Zé Oliveira, comentava hoje que neste espaço não uso um discurso muito positivo quando me refiro à classe política, àqueles a que me refiro, naturalmente. Sendo o meu amigo um homem ponderado e de bom senso, fiquei a pensar. É capaz de ter razão e eu, imponderado e desajeitado, estarei a ser injusto. Para reparar tal risco, aqui fica o meu reconhecimento a todos aqueles que:
. Depois de carreiras profissionais de sucesso e reconhecidas, entendem colocar essa experiência ao serviço do bem comum como, por exemplo...
. Não ascenderam a lugares políticos tendo uma carreira exclusivamente dentro do aparelho dos partidos, começando logo nas jotas como, por exemplo...
. Não utilizaram o desempenho de cargos políticos para acederem a colocações profissionais, às quais nunca teriam acesso se não tivessem passado político como, por exemplo...
. Fazem do desempenho político uma prova de seriedade sem demagogias ou falsas promessas como, por exemplo...
. Reconhecem tanto o seu erro como a virtude de outra opinião ou ideia como, por exemplo...
. Recusam utilizar o peso político para benefício pessoal ou dos que lhe são próximos, sem a utilização de critérios transparentes assentes no mérito como, por exemplo...
. Os que entendem que na história fica a obra e não o autor como, por exemplo...
. Os que nunca se esquecem que os eleitores são pessoas como, por exemplo...
. Os que resistem à pressão dos sindicatos de interesses que conflituam com o bem comum como, por exemplo...

Este reparo fica completo se acrescentarem com critérios vossos os exemplos que eu não referi.

INSENSATEZ E IGNORÂNCIA

Já me referi algumas vezes à reserva que me causa a actuação dos cavaleiros da ASAE no seguimento de normas paridas em Bruxelas, assentes num fundamentalismo normalizador justificado por uma defesa do consumidor, que, qualquer dia, pede para não ser defendido, assim. Lembra-me a velha história que se refere à necessidade de seis escuteiros para ajudar a velhinha a atravessar a rua porque ela... não a queria atravessar. As normas não podem ser definidas em abstracto, dirigem-se a pessoas e realidades concretas, e ignorando tradições, cultura e identidade. Por isso, chamo a vossa atenção para o texto de Francisco José Viegas no JN de hoje.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A PRODUTIVIDADE DO MENINO GUERREIRO

Hoje passei por uma experiência um pouco atribulada. Aconteceu no meu Alentejo, quando ao almoço, com uma tranquilidade de fazer inveja ao Paulo Bento, estava de volta de umas caras de bacalhau e couves criadas aqui no monte. Como sabem, é um petisco que requer vagar e paciência devido às espinhas. Então não é que de repente me aparece o menino guerreiro, o Dr. Santana Lopes, com o ar mais sério que possam imaginar, acho que é aquilo a que estes políticos de aviário chamam de pose de estado, a afirmar que o problema do País é produtividade e, blá, blá, blá e, produtividade e blá, blá, blá. Engasguei-me a sério e vi as caras mal paradas. Este pessoal não se enxerga. Então o rapaz, um dos maiores bluffs das últimas décadas da política à portuguesa, sem especial obra política ou carreira profissional que o recomende para além da animação de comícios e da frequência de eventos sociais, atreve-se a falar de produtividade? O menino guerreiro está a chegar a uma idade em que se espera algum decoro, embora haja sempre a possibilidade de enveredar por uma postura à la Alberto João e então percebe-se o estilo. A ver vamos.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

PORTAS DA DIREITA

O Dr. Portas, o Paulo, dedicou-se hoje à educação com o conhecimento que se lhe reconhece. Entre outras afirmações ilustrativas do que é um pensamento de direita, no sentido mais retrógrado e reaccionário, postulou que “a escola inclusiva é um erro intelectual de primeira grandeza” e que “a escola é para quem aproveita, para quem estuda, para quem se esforça”. Entusiasmado, parou à beirinha de afirmar que “arbeit macht frei” (o trabalho liberta) com o dentinho branco à vista e o olhinho a piscar de frémito. Insistiu ainda no que chama de liberdade de escolha “para que quem é pobre possa ter acesso à escola que entende”. Algumas notas. A ignorância e uma visão de direita elitista e ultraliberal, não o deixam entender que “escola inclusiva” é algo que não existe. Defende-se sim, que numa sociedade desenvolvida e com princípios de solidariedade, se exija à escola pública esforço e qualidade destinada a TODOS os alunos, ou seja, que subscreva princípios de educação que não excluam porque, sabe-se, a exclusão escolar é a primeira etapa da exclusão social. Chama-se princípio de equidade e exige qualidade, avaliação e rigor. Este entendimento não tem nada a ver com facilitismo ou laxismo e a PEC – política educativa em curso, tem pouco de inclusiva. Já aqui o tenho afirmado repetidamente. Quanto à liberdade de escolha, a demagogia populista, reaccionária e ignorante do Dr. Portas não chegam para convencer ninguém de que a D. Alzira da mercearia, pega num cheque dado pelo estado, bate à porta de um colégio particular bem cotado na praça e recebem-lhe o filho só porque ela pode pagar. Seja sério Dr. Portas, você sabe que isto é uma ficção. Já agora, que solução preconiza para os alunos que “não aproveitam, não estudam, não se esforçam”, ou não são tão dotados intelectualmente como o senhor? Prende-os? A partir de que idade? Deporta-os? Instala uns campos de reeducação? Põe-nos a trabalhar na lavoura?

CONTA-CORRENTE ECOLÓGICA

Ontem verificou-se alguma agitação face a uma noticiada intenção do Governo taxar a utilização dos sacos de plástico, designadamente os fornecidos nas grandes superfícies comerciais (abrir parêntesis – adoro esta expressão, como se o mundo em que vivemos não fosse todo ele uma grande superfície comercial – fechar parêntesis). Embora se tenha depois verificado um aparente recuo na intenção do Governo, a justificação desta taxa ecológica assenta no princípio do “poluidor, pagador”. Não posso estar mais de acordo e defendo a sua operacionalização. Assim, num exercício de cidadania, proponho um estabelecimento de uma conta-corrente ecológica entre o cidadão e a administração que, à semelhança do que acontece como os impostos, seria saldada anualmente. Como sabem, o cidadão, quando poluidor, paga já na aquisição de variadíssimos bens e serviços uma taxa destinada a suportar os custos ecológicos desses bens ou serviços, como por exemplo, pneus, combustíveis, aparelhos, recolha dos resíduos domésticos, etc. Tudo bem. Poluímos, pagamos. Mas o estado, enquanto poluidor, paga o quê ao cidadão? É aqui que entra a minha conta-corrente. O estado deve indemnizar-nos pelos custos ambientais e ecológicos dos disparates do Ministro Lino, pela poluição intelectual de alguns discursos políticos, pelo impacto na qualidade de vida dos cidadãos de algumas decisões políticas, pelo impacto ecológico da trágica política urbanística de muitas autarquias, pelo custo ético e ecológico dos níveis de corrupção, pelos custos ecológicos e de qualidade de vida decorrentes da excessiva burocracia, pelo telelixo que o serviço público de radiotelevisão produz, etc, etc. Acho que era justa esta conta-corrente.
Tenho ideia é que lá se ia a recuperação do défice nas contas públicas.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

RESULTADOS ESCOLARES, BIFANAS E ISCAS

Vou resistir. Não vou falar dos resultados do estudo PISA – 2006 que, na linha dos anteriores, continuam a posicionar os nossos alunos significativamente abaixo da média dos 57 países envolvidos e, coerentemente, nas três áreas de competências analisadas, Leitura, Ciências e Matemática. Também vou resistir a falar das declarações do Secretário de Estado Adjunto e da Educação, Jorge Pedreira, responsabilizando as elevadas taxas de retenção por estes resultados. Por isso, não digo que as elevadas taxas de retenção, tal como os resultados do PISA, não são culpadas, são a consequência da falta de qualidade que informa muito do que se faz no Sistema Educativo. Os alunos são retidos porque os professores, em resultado das avaliações, constatam as suas (in)competências. Pode, e deve, discutir-se, como aqui já o referi, se a retenção e consequente repetição, só por si, transformarão o insucesso em sucesso, mas afirmar que o chumbo é a causa da falta de saber, é uma sofisticada, inovadora e estranhíssima tese que merecia investigação. É fácil. Os alunos passam todos, medem-se os seus conhecimentos e constataremos, seguramente, a excelência dos resultados. Mas eu não vou falar disto.
Vou antes aproveitar a greve às horas extraordinárias dos cavaleiros da ASAE para ir a uma tasca que eu conheço, não vos posso dizer qual, onde se comem umas bifanas e umas iscas à antiga, feitas naquelas frigideiras grandes com a “patine” de muito fogão e de muitos molhos, acompanhadas por um jarrinho de tinto da casa e no fim, como digestivo, arrumar um bagacinho caseiro que nestes dias frios é um conforto. Pronto, está bem. Se prometerem não informar a ASAE, um dia destes digo-vos onde é a tasca.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

DIA INTERNACIONAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Hoje, 3 de Dezembro, compete-nos dedicar um segundo às pessoas com deficiência pois, seguindo a agenda das consciências, é o Dia Internacional do Deficiente. Já aqui afirmei a minha convicção de que a forma como as comunidades lidam com as suas minorias é um excelente indicador do desenvolvimento dessas comunidades. Entre nós a coisa não vai bem. Numa sociedade altamente competitiva, gerida por princípios económicos ultra liberais, não cabem aqueles que podem não render o máximo (às vezes podem, se tiverem oportunidades). Numa sociedade cada vez mais normalizada, os diferentes não encaixam. Na acessibilidade a recursos e equipamentos sociais, as pessoas com deficiência enfrentam barreiras por vezes intransponíveis apesar da legislação favorável há muito existente. O mercado de trabalho é um sonho impossível para muitas das pessoas com deficiência. A PEC – política educativa em curso, apesar dos malabarismos justificativos e da negação do Dr. Lemos, destrata muitos alunos com necessidades especiais. É, a situação está difícil.
É certo que as pessoas com deficiência também não colaboram. Podiam ser como nós, normais. Ficava tudo bem mais fácil. O que não quer dizer melhor.

domingo, 2 de dezembro de 2007

EU TAMBÉM QUERO UM ESTUDO

Agora foi o Ministro do Ambiente a considerar a hipótese Alcochete, como de “grande credibilidade” para receber o novo Aeroporto de Lisboa. Depois do famoso “jamais, jamais” do Ministro Mário Lino face à mesma ideia, esta posição de um membro do Governo, em plena fase da realização do estudo por parte do LNEC, garante a continuidade do folclore sobre o local da construção. Já foi a Ota, suportada por imensos estudos e pelo “empenho pessoal” do Ministro Lino, é a hipótese Alcochete resultante do estudo encomendado pela CIP, é a hipótese Portela + 1 pela qual conclui o estudo encomendado pela ACP e, enfim, todas as hipóteses que decorrem do velho ditado “cada cabeça, sua localização”. Deve sublinhar-se que todas as hipóteses foram sempre avançadas com base em “rigorosos estudos”, realizados sempre por figuras ou instituições de “intocável prestígio” e também com elevados custos de elaboração que o país ou desinteressadas entidades vão pagando.
Chegou a minha vez. Também quero um estudo. Cada vez mais entendo que se justifica um estudo que inventarie tudo o que já foi gasto neste processo, quem pagou, quem encomendou, quem realizou os diferentes estudos, que conclusões e que eventuais relações entre as conclusões e os sindicatos de interesses envolvidos, etc. Realizado este estudo, o meu estudo, e devidamente publicitado, então decidam-se mas … a sério.
Se não se realizar a análise que proponho, a velha máxima "cada povo tem a Ota que merece" ganhará nova actualidade.