AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 28 de fevereiro de 2009

OS AUDI DA VERGONHA

O DN reportava hoje que o Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro adquiriu 4 Audi A4 para elementos do Conselho. A medida, nos tempos que correm é, no mínimo insultuosa para muitos cidadãos. As instituições, designadamente, as instituições públicas têm a responsabilidade ética da contenção e pudor quanto a gastos que possam ser inadiáveis, além de um dever de solidariedade para com as dificuldades de muitíssimos cidadãos. O Presidente do Conselho de Administração, Carlos Vaz, argumenta que se trata de uma regalia legal. É um argumento delinquente, todos os dias existem trabalhadores que perdem a regalia legal do direito ao trabalho, todos os dias há gente que não acede a bens de saúde porque o seu orçamento não suporta a regalia legal do direito à saúde, todos os dias há gente que se dirige às instituições de apoio social porque não tem orçamento para a regalia legal de comer decentemente todos os dias, existe gente que vive em condições degradadas porque não tem a possibilidade de aceder à regalia legal de uma casa com um mínimo de condições, todos dias há cidadãos prejudicados nas suas garantias legais por diferentes instituições públicas de áreas diversas que não cumprem eficazmente as suas competências porque não têm meios suficientes.
Este procedimento imoral da Administração do Centro Hospitalar deveria, num país a sério, constituir motivo de demissão, mas isso é para gente com pudor e espinha, de que esta rapaziada não faz, obviamente, parte.
Mais uma vez, desculparão, esta conversa não é demagogia é apenas indignação.

NÃO MERECEMOS

A nossa tão pequenina política vai-nos oferecendo algumas pérolas de coerência. O discurso de António Costa no Congresso do PS malhando no diabolizado Bloco, o parasita, é tanto mais notável por ser produzido por quem ganhou a irrelevante e pouco visível Câmara de Lisboa coligado com … o Bloco, representado por um tal Zé Sá Fernandes que fazia falta e continua, como vereador, no elenco municipal. Das duas uma, ou a falta de seriedade política é impressionante, ou o Dr. Costa acha que somos néscios e aceitamos de barato tal hipocrisia. Lamentavelmente, creio que o Dr. Costa acumula. Mais grave ainda, na acção política do Portugal dos Pequeninos, continua a valer tudo.
Ainda no que respeita ao Congresso, achei curioso que, no Jornal da Tarde na RTP1, parte substantiva da peça sobre o evento foi ocupada pela ida, ou não, do poeta Alegre e dono da esquerda ao Congresso do partido. O homem ainda não tinha aparecido e a RTP já tinha transformado um não acontecimento num acontecimento, ou seja, o que ainda não aconteceu é mais importante que o que aconteceu e está a acontecer. Pormenores como projectos, ideias ou a sua falta, não passam disso mesmo, pormenores.
Não percebo, mas estou tranquilo, não sou comentador, analista, jornalista, politólogo, opinador, etc., que me crie a obrigação de proferir discursos decentes sobre coisas indecentes. Sorte a minha.

UM HOMEM CHAMADO DÚVIDA

Era uma vez um homem chamado Dúvida. Desde pequeno sempre revelou alguma dificuldade em decidir o que fazer. Não era capaz de escolher uma brincadeira de que gostasse mais, do brinquedo que mais lhe agradava, do gelado que melhor lhe sabia.
Não era capaz de identificar quem eram os seus amigos favoritos, por que matérias escolares sentia mais interesse ou que caminho escolher para si.
O Dúvida, raramente ia ao cinema por que não se sentia capaz de se decidir por um filme e praticamente não lia pela mesma razão, que livro deveria merecer a sua atenção.
Viveu só, não foi capaz de se decidir sobre quem seria a melhor companheira para a sua vida.
Foi saltando de emprego em emprego sem nunca ter a certeza de que tinha feito a escolha definitiva que, aliás, continuava a procurar.
Velho, encostou-se a um canto sem saber o que fazer com o tempo longo que agora tinha.
A morte encontrou o Dúvida com a maior indecisão da sua vida. O que fazer com ela.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

ESPIONAGEM PARENTAL

Hoje, soube pelo DN do número já significativo de situações, referido por relatos de profissionais envolvidos, em que os pais contratam “detectives privados” para vigilância dos filhos sobretudo ao nível dos comportamentos de consumo, companhias, locais frequentados, etc. Devo confessar que fiquei inquieto. Sou pai, conheço os factores de risco hoje presentes na vida de adolescentes e jovens, por isso, percebo que os pais entendam conhecer o que se passa com os filhos por qualquer meio que vislumbrem contribuir para o seu sossego. Mas, de facto, inquieta-me a situação. Em primeiro lugar pelo que significa de falta de confiança nos filhos e da percepção de incapacidade para conhecer o que é a actividade dos filhos. Inquieta-me também pela natureza ética da situação, espiar alguém, o que pode até estar nos limites da legalidade.
Finalmente, inquieta-me pelos riscos que a situação pode ter na relação entre pais e filhos, ou seja, o meu pai vem dizer-me, por exemplo, que eu, ontem à noite, bebi umas cervejas a mais, perplexo pelo seu conhecimento, procuro-lhe porque diz isso e como sabe e ele responde-me que o detective contratado para me seguir o informou. Não parece difícil imaginar o efeito devastador que esta cena imaginária pode ter na relação entre nós. Se de facto eu beber uns copos a mais, não acredito que este processo de espionagem possa permitir reverter a situação, antes pelo contrário, como reacção pode até aumentar o risco. Para além de comprometer séria e definitivamente a relação que se exige de confiança recíproca entre pais e filhos. Não aceito o argumento de que isto seja romântico ou negligente. Sem essa confiança não há mudança e o risco de desvio é maior. É também uma questão de confiança dos pais em si próprios.

ENTRE ESPINHO E BRUXELAS

Na estratégia habitual, sempre que uma figura da oposição opina, salta o Malhador-mor, Santos Silva, para defender o chefe. Fica-lhe bem e assegura a continuidade do lugarzinho. Manuela Ferreira Leite manifestou-se fortemente contra a ideia de José Sócrates faltar a uma cimeira europeia em Bruxelas para ficar no encerramento do Congresso do PS em Espinho. Diz a senhora que é o tipo de reunião que “até com 40º de febre” se deve comparecer. Como-lhe é peculiar, a argumentação é de fino recorte e a posição tomada inscreve-se, naturalmente, na disputa partidária que, considerando os partidos em questão, nas mais das vezes é irrelevante e pouco estimulante e esclarecedora para o cidadão comum. Como creio que estaremos de acordo a presença de José Sócrates em Bruxelas é, em bom rigor, de pouca importância pois, o quer que seja discutido e decidido depende nada da presença do Primeiro-ministro português.
O que acho mais importante é a forma como o Malhador-mor justifica a decisão do Chefe. Diz o rapaz que sendo os partidos os pilares fundamentais da democracia entende-se a opção pelo Congresso. A verdadeira e preocupante questão é que os partidos, mais do que pilares da democracia, na verdade instituíram um sistema que os tornou Donos da democracia. Compreende-se assim que o Engenheiro dê particular atenção à gestão do Partido, e, em termos práticos, considere a presença em Espinho mais importante que em Bruxelas.

RETRATOS

Sou, creio, como a maioria das pessoas, quando estabelecemos uma relação forte com algo ou alguém, a separação fica bem mais difícil. Assim tem sido a minha relação com uma gripe nova que se ligou a mim vai para uma semana. Afeiçoámo-nos tanto um ao outro que se tornou bastante complicado pôr fim a tal ligação. De tal modo que acabei por necessitar de apoio especializado nestas matérias e fui ao médico. Na sala, entretendo a espera com o jornal, ia imaginando a gripe a despedir-se de mim em pranto e eu, hipócrita, a fingir um ar pesaroso que disfarçasse um suspiro de alívio. Entretanto, entrou uma senhora que depois de simpaticamente cumprimentar os presentes, senta-se, saca do telemóvel e a conversa, não podia deixar ser ouvida, começou assim.
Sou eu, cheguei agora ao médico e lembrei-me de te ligar. E desenrolou-se uma longa conversa da qual, de memória, partilho alguns excertos.
… Tudo bem e tu?
… Ela disse-te isso?
… Já te disse mil vezes que não se pode confiar nela, é uma falsa.
… Tens que fazer como eu, oiço-a, vou dizendo que sim mas não lhe ligo nenhuma.
… Não penses que é só contigo, é assim para toda gente. Para mim não que eu dou-lhe para trás.
… Depois passa a vida a queixar-se armada em sonsa.
… E ele meteu-se na conversa? Depois dizem que as mulheres são metediças. Ele tem um bocado a mania. E não é só ele.
… Também serve para passar o tempo, estou aqui à espera que me chamem para o médico.

De repente oiço chamar por mim, levantei-me e saí quase a correr. Não me despedi nem da senhora, nem da amiga, nem da colega má e do colega metediço. Foi um prazer.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

CRISE? NÃO, DIZEM AS CARTAS

Fiquei bastante mais satisfeito. Há pouco, logo na abertura do Jornal da RTP2 surge uma peça sobre a crise e a forma como os portugueses estão reagir. Várias entrevistas de rua mostraram as preocupações das pessoas com os seus recursos e empregos e referindo os cortes em algumas despesas por contenção e poupança e a dificuldade e realizar desejos ou necessidades como compra de casa, obras, troca de carro, férias, etc. Para finalizar a peça o autor entendeu por bem consultar uma taróloga para que nos elucidasse sobre a dimensão e evolução da crise. Cansado das previsões falhadas de economistas, políticos, analistas, comentadores e outros musicólogos, tornei-me mais atento. E descansei.
Podeis descansar também. As cartas não prevêem uma crise grande e duradoura. Uma das razões, não consegui perceber muito bem porquê, tinha a ver com a carta do Papa. Então percebi, a taróloga coloca a crise nas mãos do representante de Deus na terra. Está em boas mãos.
E eu não paro de me espantar. Tarot? Jornal da 2? Para falar da crise? Está tudo louco.

O SACO DE GATOS E O REBANHO

Não entendo muito bem a apreciação do Dr. Paulo Pedroso. O PS, tal como qualquer outro partido, sobretudo quando se integra no chamado arco da governação funciona com uma lógica semelhante e previsível. Quando estão na oposição e se desencadeiam lutas pelo poder interno, o partido transforma-se num saco de gatos, não é que discutam ideias ou projectos, armadilham-se uns aos outros, questionam qualidades existentes ou ausentes, tentam falar cada um mais alto que os outros, mas animação não falta. Chegam ao poder, deixam de ser um saco de gatos passam a ser um rebanho que aplaude tudo o que o governo faça, criticam tudo quanto a oposição proponha e calam-se até ao próximo acto eleitoral. Mantendo-se o resultado, o rebanho pastará em paz. É certo que, em cada partido, agora no PS que é poder, aparecem alguns “estorvos” e “incómodos” que, no fim, desde que não exagerem, até dão uma pincelada de cor que “demonstra” a democracia interna. Quando os “estorvos e incómodos” passam as marcas permitidas, o Governo designa alguém suficiente bem formado nas lides da democracia para malhar neles, como é o caso do fundamentalista Santos Silva. Mais longe do “inner circle”, S. Bento, Parlamento e Rato, o rebanho alimenta-se do pasto dos lugares dos serviços descentrados e nas autarquias, e tenta engordar preparando-se para uma pastagem mais seca que possa sair de um resultado eleitoral insuficiente para manter o poder.
Então este “estorvo”, este “incómodo” Paulo Pedroso está à espera de quê? Não se acautele e ainda o cão do pastor do rebanho, rottweiler S.S. (Santos Silva) começa a malhar nele.

UM TIRO NO PÉ

Lamentável. A ideia do Procurador-geral da República de levantar o segredo de justiça no caso Freeport, não por razões técnicas, mas por incapacidade de o prevenir é um autêntico tiro no pé, ou seja, a investigação deveria realizar-se em segredo, quem de direito não consegue (ou não quer) mantê-lo, que fazer? Acaba-se com ele e resolve-se o problema. Claro, mas cria-se mais um degrau na falta de confiança do cidadão no sistema de justiça e investigação.
Se é o próprio Procurador-geral que atira a toalha ao chão e desiste de fazer cumprir o segredo de justiça, todas as habituais fontes das informações sobre processos em averiguação vão sentir-se em roda livre e com perfeito à vontade para este ilícito. Ao fim e ao cabo, não é estranho, toda a gente se sente mais ou menos à vontade para a prática de ilícitos.
Grave e estranho, é ser o Procurador-geral a admiti-lo.
Acho que até seria interessante que as autoridades de investigação organizassem conferências de imprensa diárias, informando sobre os resultados das iniciativas realizadas no dia anterior e anunciassem as iniciativas previstas para esse dia, no âmbito da investigação dos processos mais significativos. Não haveria fugas de informação, tudo seria mais transparente. E menos eficaz, o que, naturamente, muita gente deseja.

MILÍCIAS

Na imprensa de hoje encontram-se duas referências à existência de milícias de vigilantes.
Na primeira, no DN, refere-se que na noite de Carnaval um grupo de “vigilantes populares” armados de pás, sacholas, tacos, etc., conhecidos por “Justiceiros de Constantim”, cerca das 2h, numa zona de Vila Real frequentada por jovens, entraram a varrer e causaram vários feridos, um deles em risco de perder a visão. Na segunda referência, descreve-se a formação na Escola do 2º e 3º Ciclos Ruy Belo em Monte Abraão, de uma milícia de professores em regime de voluntariado para funcionar na vigilância da escola e gerir ou prevenir casos de violência.
Fico apreensivo face a estas situações. Populares a vigiar as ruas e a bater em quem entendem, alimenta uma ideia de justiça e manutenção da tranquilidade pública inaceitáveis. Provavelmente, somos capazes de entender as motivações e inquietação que estão por detrás do fenómeno, mas não é seguramente assim que se deve fazer. Esse papel cabe às autoridades e não podemos deixar de exigir ao poder político o cumprimento das suas responsabilidades.
No caso da milícia de professores, publicada no CM, ainda me preocupa mais. Será que a função reguladora dos comportamentos dos alunos que se espera dos professores é compatível com uma actuação do tipo milícia? Como se organizará? Em brigadas? Como se apresentarão? Fardados? À civil? Terão treino de intervenção? Em termos de avaliação de professores, como será considerado o trabalho de milícia? Com que parâmetros? Poderão ter acções de milícia observadas para poderem chegar ao Muito Bom ou ao Excelente?
Como disse, não será difícil entender as justificações para estas iniciativas, mas é perigoso que as autoridades deleguem ou alienem as suas específicas competências em matéria de segurança pública.

SAUDADE


(Foto de Vitor Tipologos)

Um dia, quando nos voltarmos a encontrar, levarei mais flores. Assim, o reencontro vai ser ainda mais bonito.
Até lá.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

DUPLA DISCRIMINAÇÃO

É verdade, num manifesto exercício de autoritarismo, algumas mulheres socialistas vão ser obrigadas a integrar o Secretariado Nacional do partido. Quando este órgão foi constituído, quem definiu a sua composição, entendeu que as pessoas mais competentes, acredito que a presença em órgãos de direcção decorra da competência, eram, claro, as que o constituem. Chegam agora à conclusão que o número de mulheres está abaixo da quota. Em consequência deste facto terão que sair alguns homens “competentes”, por isso integram o Secretariado e terão que entrar algumas mulheres “incompetentes, por isso não integraram o Secretariado, numa estranha situação de dupla discriminação.
É por isso que, embora entenda o aparecimento de quotas em várias circunstâncias e tendo como alvo franjas populacionais diferentes, tenho para mim que as quotas não são exactamente um bom serviço à causa das discriminações.

PAGAR? VAI PARA TRIBUNAL E LOGO SE VÊ

Se considerarmos o que se passa no sistema de justiça, em termos gerais, 1300 processos para cada juiz nos tribunais tributários, números de 2007, não parece excessivo e demonstra a coerência do sistema, ou seja, todas as áreas funcionam com os mesmos níveis de eficácia. Parece consensual, que uma das peças mais importantes para promover a confiança do cidadão no estado, é justamente a percepção de eficácia do sistema de justiça, pelo que, um quadro de ineficácia e morosidade facilita a manutenção de um sentimento de impunidade, estimulante de comportamentos menos lícitos, instalando assim um círculo vicioso em que o cidadão é negligente porque acha que não vai acontecer nada, aumenta a litigância e, naturalmente, mais processos, mais ineficácia e morosidade. Desde sempre, ouvimos o discurso político a sublinhar a necessidade inadiável de “reformas” no sistema de Justiça. O governo actual também assume a realização de “importantes reformas” na matéria, estranhamente, o cidadão comum dificilmente se dá conta do impacto das “reformas”.
Enquanto a situação se mantiver sem alterações, continuaremos a ser um dos países Europeus onde verificam mais casos de cobrança coerciva de impostos, com todas as consequências que daí advêm.

O BAILE DE MÁSCARAS

Amanhã, apesar de em alguns locais se realizarem algumas iniciativas carnavalescas, voltamos ao nosso verdadeiro Carnaval, o dia a dia. Talvez não concordem comigo, mas voltamos ao quotidiano e real Baile de Máscaras. Vejamos alguns exemplos.
Muitos de nós temos uma forma de estar na profissão assente num enorme movimento e uma baixa realização, o que eu chamo agitação improdutiva. No entanto, esperamos que nos vejam com uma máscara de incansáveis produtivos.
Muitos de nós falamos, falamos e não dizemos nada. No entanto, esperamos que nos vejam com uma máscara de carismáticos eloquentes.
Muitos de nós adoptamos comportamentos autoritários. No entanto, esperamos que nos vejam com uma máscara de bom líder.
Muitos de nós produzimos discursos populistas. No entanto, esperamos que nos vejam com uma máscara de populares.
Muitos de nós adoptamos comportamentos de indiferença. No entanto, esperamos que nos vejam com uma máscara de atentos e tolerantes.
Muitos de nós somos arrogantes. No entanto, esperamos que nos vejam com uma máscara de confiantes e assertivos.
Muitos de sós somos dados a habilidades e manhas. No entanto, esperamos que nos vejam com uma máscara de criativos e flexíveis.
Muitos de nós somos teimosos. No entanto, esperamos que nos vejam com uma máscara de persistentes.
Muitos de nós somos incapazes de mudar algo em nós. No entanto, esperamos que nos vejam com uma máscara de coerentes.
Muitos de nós assumimos comportamentos de subserviência. No entanto, esperamos que nos vejam com uma máscara de boa pessoa e conciliadora.
Durante o Carnaval temos a oportunidade de trocar de máscaras. Esperamos que nos vejam com uma máscara de pessoa feliz e divertida.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

PIOR A EMENDA QUE O SONETO

A experiência ensina-nos que quando se faz asneira da grossa, dificilmente se arranja uma boa desculpa. Manda o bom senso e a seriedade que a tentativa de arranjar uma boa desculpa não leve a acentuar o erro que se cometeu, ou seja, correr o risco de que a emenda fique ainda pior que o soneto. A justificação da PSP para o lamentável episódio da apreensão do livro em Braga é extraordinária. Uma imagem reproduzida de um quadro com um nu feminino, como capa de um livro sobre arte, excitou de tal maneira as perversas mentes das crianças que num passa palavra libidinoso a publicitavam a outros inocentes, que os pobres pais, aflitos por não conseguirem controlar a libido dos seus rebentos, muitos deles dificilmente controlam alguma coisa quanto mais uma libido aos saltos, chamam a PSP que, ao avaliar o teatro das operações, entendeu estar-se à beira de uma situação de confronto físico, imagino que entre os pais e os miúdos, entre os miúdos e os livreiros, entre os livreiros e os pais, etc. A PSP numa operação de limpeza da cena do crime decide, acabou-se, não há mais livro para ninguém e, assim, acabou com uma situação que poderia ficar incontrolável e degenerar num conflito de enormes proporções. Andou bem, embora com o pequeno lapso de confundir “pornocracia” com “pornografia”, mas que se entende. Quem já andou por cenários de guerra ou conflitos significativos sabe que é difícil manter a calma e a lucidez em situações muito complicadas. Tal como nós, face a episódios deste tipo.

MAIS VALE TARDE QUE NUNCA

Como o povo costuma dizer, “mais vale tarde, que nunca”. A intervenção do Ministro das Finanças no sentido de clarificar que os apoios ao BPP apenas envolverão a salvaguarda dos depósitos e não os investimentos ligados à chamada “gestão de fortunas”, só peca por tardia. De facto, proteger os interesses ligados a fundos de investimentos, de natureza muitas vezes especulativa, era incompreensível e inaceitável. Acresce ainda que a protecção desses interesses seria sustentada com garantias do Estado e, como sempre, lá estaríamos nós a pagar os desvarios especulativos e erros de gestão de uma minoria, que não se dispõe, nunca, a partilhar lucros, mas que está na primeira linha a reclamar ajudas quando as coisas correm mal. Desta vez, andou bem o Ministro das Finanças, pode ser que se habitue.

PS – Ontem à noite vi uma peça num jornal televisivo que, embora compreenda, me incomodou. A propósito da crise, constata-se que se produz menos lixo porque baixa o consumo, o que tem efeitos positivos de natureza ambiental. Entende-se mas a oportunidade e a linguagem utilizada não foram felizes. Estiveram quase a dizer que, quando o pessoal estiver a pão e água, sem sair de casa porque não tem emprego e a não comprar porque não tem dinheiro, então a produção de lixo baixa ainda mais e o ambiente agradece. Tenham decoro.

A ESCOLA DE BERLUSCONI

A Escola de Berlusconi começa a ser isso mesmo, uma escola na forma de abordar a arte. Como é sabido, Berlusconi mandou substituir na sua residência oficial um quadro de Tiepolo, em que uma mulher surgia como seio desnudado, lindo este termo, por uma réplica com o seio pudicamente tapado com um pedaço de pano. Ao que parece, Berlusconi esteve para substituir o Tiepolo pela conhecida obra do Menino Com A Lágrima No Olho que se vende nas feiras ou a famosa peça da Fruteira com Maçãs, mas os seus conselheiros artísticos sugeriram-lhe uma réplica, mas decentemente composta que “ha meno rumore, confusione”.
Pois a escola de Berlusconi já está instalada entre nós e ficamos felizes porque, certamente, nos livrará de algumas “sem vergonhices”. Começou com o episódio de Torres Vedras e as meninas despidas que estavam no ecrã do Magalhães. A Delegação do Ministério Público, numa atitude de normalidade cristã, entendeu, muito bem, mandar retirar tal pornográfico e obsceno material. Lamentavelmente, numa atitude de inusitada cobardia voltou atrás. Até o novo S. Nuno de Santa Maria, antes chamado Condestável, corou de raiva.
Agora, os seguidores da Escola de Berlusconi da corrente de Braga, um grupo que se inclui num movimento conhecido por PSP, resolveu apreender livros expostos numa feira de livros. O livro apreendido, sobre pintura, esse campo de devassidão e luxúria, tinha na capa uma reprodução de um quadro de Courbet, um representante da decadência francesa, veja-se a relação entre Sarkozy e Carla Bruni, que mostra uma mulher com as coxas desnudas. No próximo debate no casino da Figueira com a Fátima Campos Ferreira, poderemos ouvir, com toda a certeza, o aplauso de D. Saraiva Martins à iniciativa em nome da normalidade, as mulheres são para aparecer compostas.
Sou um leigo em pintura mas tratar-se-á, creio, de um problema de perspectiva e percepção das formas.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

PENA BEM PROPORCIONADA

Em primeiro lugar, é importante sublinhar que, finalmente, alguém envolvido num negócio importante, que realiza uma tentativa de corrupção é julgado e, espanto, é condenado. Não conheço, o Sr. Domingos Névoa, não conheço a Bragaparques, apenas sei que o tribunal deu como provado que procurou corromper activamente e, de facto, não simpatizando com corruptos ainda simpatizo menos com a branda impunidade e os processos cheios de manhas jurídicas que, frequentemente morrem de prescrição, estado de coma, ou, simplesmente, por “esquecimento”. Só por curiosidade e, certamente, por coincidência o Sr. Domingos Névoa foi defendido por um conhecido advogado, Artur Marques, que, verdadeiro especialista em corrupção é, a título exemplo, advogado de Fátima Felgueiras, de um arguido no famoso Apito Dourado e de um outro arguido no processo de mega fraude nos processos liquidatários de empresas falidas, um verdadeiro expert.
Por outro lado, merece também registo a “pesada” e “desproporcional” pena aplicada. De facto, num negócio que envolve milhões, muitos, uma pena de 5000 € é arrasadora e, obviamente, dissuasora de comportamentos de corrupção em negócios importantes. É claro que o advogado especialista irá recorrer, pois já afirmou que o seu objectivo é a absolvição total. Está certo, ao fim e ao cabo é para isso que lhe pagam, certamente mais do que o valor da pena. E assim se cumpre Portugal.

PALAVRAS PARA QUÊ? É UM ARTISTA PORTUGUÊS

Se bem reparam no trabalho que o Público fez sobre o preço da casa, só duas pessoas compraram andares a preços bastante elevados, dois emigrantes que, por condição, estão isentos de sisa. Certamente por coincidência todos os outros compradores, pagadores de sisa, pagaram as casas a preços muito inferiores, alguns, até ao preço pago pelo Eng. Sócrates. Isto quer dizer aquilo que todos sabemos, somos um país de “Xico espertos”. Quando o entertainer político, mais conhecido por Professor, vem dizer que o Primeiro-ministro é um “Xico esperto” só comprova que o homem é da mesma matriz que nós, não conheço ninguém que tenha insistido em comprar (declarar) casa por preços reais para poder pagar a sisa mais elevada. A questão essencial é de cultura e educação pois, para além da hipocrisia das críticas e a demagogia dos discursos, a esmagadora maioria dos portugueses, estou a admitir algumas excepções de gente naturalizada, portanto com outro código genético, já realizou algum Chico-espertismo e se não realizou, foi porque não pôde ou não conseguiu. Isto não branqueia eventuais comportamentos que para além da duvidosa legalidade, são certamente imorais e pouco éticos, sobretudo quando assumidos por figuras com responsabilidades públicas. No entanto, sempre me irritam discursos hipócritas e demagógicos de virtuosas figuras cobertas por telhados de vidro.

O MAGALHÃES QUANDO NASCE, É PARA TODOS

De há muito se conhece e reconhece que a escola não consegue de forma satisfatória minimizar o efeito das desigualdades sociais e culturais, sendo que, frequentemente, as alimenta. Provavelmente, o programa e-escolinhas não estaria à espera de contribuir para essa desigualdade na escola ao criar duas classes de alunos, os SM e CM, ou seja, os Sem Magalhães e os Com Magalhães. Claro que esta discriminação deixa pais e professores muito preocupados, com toda a razão, na minha terra temos até um ditado que reza, “o Magalhães quando nasce, é para todos”. Os miúdos sem Magalhães estão ansiosos, tristes e constrangidos por não terem Magalhães e os meninos que têm Magalhães sentem-se mal por serem foco de inveja. Em algumas escolas os professores não estão a utilizar o Magalhães enquanto não chegar o Magalhães para todos, o que acontecerá até final de Março, segundo a empresa fornecedora a quem saiu um verdadeiro jackpot. É bom saber que na escola existe tal preocupação, com os SM.
Fico bastante mais descansado com a atenção que a escola dará a várias outras formas de desigualdade existentes entre os alunos, sobretudo em tempos de crise e em que as famílias enfrentam problemas bastante mais pesados.

UM CONTO DE CARNAVAL

Era uma vez um miúdo, o Manel, com oito anos que ia participar num desfile de Carnaval preparado lá na escola. Tinha mesmo de participar, os desfiles são obrigatórios por ordem do Ministério, disse a professora dele.
O Manel ficou um bocado atrapalhado porque tinha de ir mascarado e não tinha pensado que máscara escolher. Começou a imaginar as máscaras do costume, cowboy, pirata, astronauta, Zorro, polícia, Batman, Super-homem, Homem-aranha, etc., mas nenhuma destas possibilidades o convencia. Muitos miúdos de muitas escolas escolhiam máscaras daquelas e o Manel gostava de fazer coisas um bocadinho diferentes dos outros. Às vezes, a professora dele até se aborrecia, “Mas porque queres sempre fazer diferente, Manel?”. Mas o Manel era assim. No meio dos seus pensamentos, de repente, surgiu-lhe a ideia, “Já sei, vou mascarar-me de Homem Perfeito”.
Dirigiu-se à professora e disse, “vou mascarar-me de Homem Perfeito”, “lá estás tu Manel, como é que uma pessoa se mascara de Homem Perfeito?”, “vou descobrir”, disse o Manel convictamente.
No dia do desfile, apareceu com uma máscara de homem invisível. Ninguém o via, mas ouvia-se o Manel a dizer que estava mascarado de Homem Perfeito.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

HABEMUS SANCTUS

Ontem, o estado gripal não me deixou disponibilidade para isso, mas ainda vai a tempo. O Papa anunciou a canonização de Nuno Álvares Pereira para dia 26 de Abril. Num processo conduzido por D. Saraiva Martins e assente num milagre que curou o olho da D. Guilhermina, portanto, cheio de normalidade, que a igreja não defende essas coisas de anormalidades, vamos ter um, mais um santo. Como dizem os políticos, é bom para a nossa auto-estima, um santo português. Temos muita gente e até importante que, como o povo diz, que “parecem uns santos”, mas de um santo mesmo a sério estamos a precisar com urgência. Talvez até S. Nuno de Santa Maria possa mudar de ramo, deixando a oftalmologia e dedicar-se à economia e à política e fazer mais uns milagres. Como sugestões prioritárias para os milagres necessários, talvez criar empregos e transformar parte da nossa classe política em gente mais competente e preocupada com os verdadeiros interesses do país.
PS – Já agora uma cunhazinha para o meu Benfica, sem milagres não vamos lá.

A TRADIÇÃO AINDA É O QUE ERA

No trabalho do Público sobre a violência doméstica, vários dos ouvidos manifestam-se chocados com o baixíssimo número de condenações, segundo os últimos dados comparáveis, os de 2006, em 20595 ocorrências registaram-se 495 condenações, elucidativo. Lamentavelmente, por razões de natureza variada, acho que não se podem considerar inesperados ou chocantes os dados, mesmo sabendo que a violência doméstica é crime público desde 2000. Vejamos algumas dessas razões. Em primeiro lugar, temos uma questão de cultura, num estudo recentemente divulgado sobre as relações de namoro entre jovens, constatou-se a ocorrência de episódios de violência em cerca 25% dos casos, estamos a falar de jovens e com níveis de escolarização elevados. Aliás, até esperei um aviso da Igreja no sentido de que casar com um agressor é meter-se num monte de sarilhos que nem Deus sabe onde acaba, desculpem, enganei-me isto é com os muçulmanos. Também em termos de cultura e valores prevalece ainda a ideia de que entre “marido e mulher não metas a colher”, portanto, ninguém tem que se meter em assuntos destes, nem os juízes. Por outro lado e ainda no que respeita à actuação dos juízes, alguns deles, na apreciação destes, casos assumem um abstracto princípio de “defesa da família” que tem com consequência a impunidade do agressor e a manutenção da agressão. Há alguns meses atrás a comunicação social de fez-se eco de um acórdão de um Tribunal de Recurso que, num caso de condenação, sublinho de condenação, revogou a medida acessória de afastamento do agressor da residência da agredida o que é notável, prova-se que agride mas continua viver na mesma casa.
Finalmente, se muitíssimos outros crimes são deixados impunes, por que milagre ou mistério este deverá merecer condenações? Como sabem, somos melhores na prisão preventiva, que na prisão efectiva, que o diga Vale e Azevedo.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

UM CONVITE JUSTIFICADO

Não percebo o alarido levantado pelo convite a Hugo Chavez para participar no Congresso do PS. O convite parece-me perfeitamente justificado e nada surpreendente, antes pelo contrário. Uma das principais razões, compreensível aliás, é a colónia portuguesa na Venezuela. Pela mesma razão e ao que consta, valor da emigração portuguesa, o Presidente Sarkozy também foi convidado tal como o Primeiro-ministro luxemburguês. Segunda razão, a aprendizagem, o PS em época de eleições precisa de afinar os dispositivos de propaganda e de eternização no poder, logo entende-se um convite a um guru destas matérias para a realização de um workshop sobre estas matérias. De fonte bem informada soubemos que o primeiro inscrito foi Santos Silva. Terceira razão, a afinidade política, o que é natural num congresso partidário, lamentavelmente e ao que parece José Eduardo dos Santos não pode vir. Quarta razão, a dimensão estética, o vermelho das camisas de Chavez, que combina com as gravatas de Sócrates e fica lindamente com os tons de rosa desmaiada do Congresso. Finalmente, acho lamentável que se comente de forma deselegante os convites que se fazem ou deixam de se fazer. Somos, devemos ser, completamente livres para convidar quem queremos para nossa casa e Chavez é menos incómodo que Manuel Alegre. E se não fosse o medo da concorrência e os problemas de tradução ainda viriam Mahmoud Ahmadinejad e Kim Jong-il numa perspectiva de abertura, tolerância e espírito internacionalista.

A MÁSCARA DO ENGRIPADO

E pronto, mais um Carnaval do meu descontentamento. Desta vez ainda parece pior, cheguei ao meu Alentejo com uma gripe de que ando a fugir desde o princípio da estação. Isto é que os zelosos guardiões como a Comissária Moreira da DREN ou os delegados do Ministério Público deviam proibir. Então chega um homem para uns dias criadores, destes, com um solzinho mais quente a seguir a uns dias, muitos, de chuva, cheio de vontade mexer na terra e sente-se à beira do colapso, a Ilvicos e chá de limão com mel, cheio de frio mesmo à beira do lume de chão. Deve ser castigo por não gostar do Carnaval. Mas não gosto mesmo. Não gosto da obrigação de parecer feliz, para esquecer tristezas, Não gosto da indústria da máscara. Durante o resto do ano e com produção artesanal, as nossas máscaras são bem mais bonitas, às vezes, até parecemos nós. Como disse num texto anterior não gosto de desfiles patéticos, especialmente aqueles cheios de tipos travestidos a debitar boçalidades sempre que apanham um microfone por perto. Não gosto da importação triste do samba dançado ao frio de Fevereiro. Talvez agora com o Acordo Ortográfico, tudo fique mais parecido. Como vêem, tenho um problema sério com o Carnaval.
Mas devia estar caladinho, para castigo, vou passar os próximos tempos mascarado de engripado, e não me falta nada, a máscara está completa. Com a vossa licença, está na hora dos Ilvicos e chá com mel.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

OS DESFILES FELIZES DOS MENINOS E PROFESSORES FELIZES

Hoje é dia de desfiles de Carnaval para as escolas portuguesas. Devo dizer, como registo de interesses, que não sou particular adepto da quadra, o que, eventualmente poderá contaminar estas notas.
À excepção das criancinhas de Paredes de Coura e dos respectivos professores, que são obrigados, é verdade, obrigados a desfilar por uma inenarrável decisão da Comissária Moreira da DREN, nas outras escolas os desfiles são um passaporte para a felicidade, mesmo transitória, o que em tempos de crise não é de somenos. Já me cruzei hoje com dois desses desfiles e é enternecedor o ar feliz que os cowboys, as bruxas, os super-homens, os homens aranha, os polícias, as fadas, as enfermeiras, as borboletas e flores, etc. etc. compõem na rua. Parece mesmo que estão felizes, até emociona. E os seus professores, o ar risonho, contente, com que, depois do desgaste de vários dias a preparar os meninos, os desfiles e os fatos, acompanham as criancinhas numa visita ao meio. Os desfiles acabam por ser contagiados pelo clima de empatia e boa-disposição que se vive nas escolas, os meninos armazenados muitas horas por dia, os papás a temer pelo desemprego e sem aparecerem na escola e os professores com uma estabilidade profissional e com um clima nunca antes sentido face à genial política do ME. Até os professores não titulares estão contentes. Não consegui verificar, mas é natural que durante os desfiles alguns professores avaliadores estejam atentos às performances dançantes dos professores, às coreografias, às cantigas, aos fatos que os meninos carregam. Como as aulas só são avaliadas se os professores quiserem ser excelentes ou muito bons, então o desfile é para avaliar. Tão bonito. E os fotógrafos das autarquias sempre em cima do desfile, para aquelas fotos que colocadas no Boletim Municipal, farão as delícias do Vereador responsável e do Presidente, relembrando que a Autarquia apoia a Educação. Lindo.
Estão a ver porque raio não simpatizo com o Carnaval?

O INCÓMODO DE TER VOZ

Em Portugal, tal como noutros países da nossa esfera cultural e política, algumas figuras públicas com carreiras políticas de relevo, atingem um estatuto de referência, são muitas vezes referidos por “senadores”, termo com uma simbologia e significado óbvios. Não discuto se, do meu ponto de vista, esse estatuto é “merecido” ou não, apenas sublinho o discurso frequentemente produzido sobre essas figuras. Um desses “senadores” é o Dr. Almeida Santos, presidente do PS e que ocupou variadíssimos lugares significativos. Pois o Dr. Almeida Santos, referência política, afirmava hoje numa entrevista à Antena 1, num excerto que ouvi, que o deputado Manuel Alegre é um deputado “incómodo”, por que um deputado, cito de memória, aplaude a política do partido, aplaude as posições do partido, diz bem do partido e mais não quero referir. Estas declarações de uma figura de referência, dizem, são elucidativas da “partidocracia” instalada. Os partidos são donos das consciências das pessoas, só se pode estar num partido sem perspectiva crítica, não se pode ser incómodo para O Partido.
É evidente que nem sequer é relevante se se concorda, ou não, com as posições de Manuel Alegre, a questão é se pode ter voz dele, não a do partido.

DE TÚNEL EM TÚNEL

(Foto de Ricardo Costa TattooDevil)


Solo voy com mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino

(Manu Chao)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

PERFILADOS DE MEDO

Os tempos vão feios. O lamentável episódio de Torres Vedras com a censura de imagens a utilizar no desfile carnavalesco é apenas mais um. Trata-se de malhar no que, de alguma forma, contrarie aquilo que o pessoal menor pensa que é desagradável para o chefe. É um dos sintomas mais perversos de regimes doentes, a existência de cabos de esquadra que, na ânsia de proteger com fidelidade canina o líder, acabam por tomar decisões que, certamente, envergonhariam … o líder. Estes cabos, que tanto podem mascarar-se de Delegados do Ministério Público, como de Directores Regionais de Educação, como de Ministros ou qualquer agente de autoridade, entendem que serviço público é serviço ao governo. Este policiamento censório de costumes, ideias ou discursos é perigoso.
Provavelmente, algumas vozes que nos últimos tempos têm referido, com alguma frequência, os medos que, de mansinho, se vão instalando na nossa sociedade merecem ser ouvidas com atenção. O José Mário Branco bem falou dos perfilados de medo, sem mais voz.

NÃO PASSARAM POR CÁ, DERAM A VOLTA

A verdade fica assim reposta. Alguns passageiros, de alguns voos, que várias organizações internacionais comprovam ter feito escala em território português não têm rigorosamente a ver com a prisão de Guantânamo, mas sim com prováveis estadias de praia em Varadero ou Cayo Coco. O relatório do Parlamento Europeu sobre os voos ao serviço da CIA eliminou a referência a Portugal. A situação fica, portanto, esclarecida. No entanto, creio que este “esclarecimento” não constitui um particular motivo de orgulho. Parece comprovada a passagem de voos da responsabilidade da CIA pelo nosso território, vários relatórios internacionais com matéria factual apontam nesse sentido. Assim sendo, uma de duas situações, ou, de facto, o Governo da altura desconhecia a situação e tal circunstância, utilização do espaço aéreo e facilidades terrestres para fins desconhecidos, constitui um atentado à nossa soberania, ou, pior, o Governo tinha conhecimento e escamoteia tal facto atentatório dos direitos humanos.
É o tipo de história de que, quando acontece, ninguém sai bem.

O SONHO DAS GRAVATAS

Um dia destes, ou uma noite destas, não me lembro se foi a sonhar a dormir se foi a sonhar acordado, vejo-me, não sei porque razão, a assistir a uma reunião para discutir os destinos do mundo. Tanto quanto consigo recordar, estavam os responsáveis pelos países donos da globalização, não estavam os globalizados, e estavam pessoas das instituições globalizantes, grandes empresas e organizações. Coisa importante mesmo e eu meio perdido sem perceber porque estava ali. Quando começaram os trabalhos, procurei seguir com atenção o que iria acontecer, sempre se tratava de decidir o que fazer com o mundo. Estava com a sensação de que algo não estava bem. De repente, percebi que aquelas figuras todas eram apenas fatos, cinzento ou azul-escuro, com uma gravata, a sério, não se via corpo algum dentro dos fatos e eram as gravatas que falavam. Entretanto, também percebi que a linguagem utilizada pelas gravatas era estranha, indecifrável. Já aflito, levantei-me e procurei interromper a reunião mas as gravatas continuavam a falar sem eu as entender, até que duas fardas sem polícia dentro me tiraram da sala e eu despertei.
Desde então, fico inquieto sempre que me lembro do mundo a ser dirigido por uma mão cheia de gravatas sem cabeça dentro e a falar uma linguagem que ninguém entende.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

LAPSOS A MAIS, COMPETÊNCIA A MENOS

O ME, através da DREC, mandou para as escolas um conjunto de perguntas sobre o envolvimento e participação dos professores e dos Conselhos Executivos no processo de avaliação em termos que foram considerados como intromissão e, ou forma de pressão. Sabe-se agora que terá sido um lapso. Tudo bem, como se diz na minha terra, “só não se engana quem não trabalha”, mas há lapsos e lapsos.
Lembro-me do lapso da visita da PSP a escolas e a sindicatos antes da realização de acções de reivindicação dos professores.
Lembro-me do lapso do Relatório apresentado, toda a gente ouviu, como sendo da OCDE mas que não era da OCDE.
Lembro-me dos lapsos com a distribuição dos computadores Magalhães aos alunos.
Lembro-me dos lapsos em concursos de professores.
Lembro-me da decisão da DREN de, certamente por lapso, obrigar um Agrupamento de Escolas a fazer um desfile de Carnaval, sim perceberam bem, um desfile de Carnaval.
Lembro-me de medidas como as destinadas a alunos com necessidades educativas especiais que, neste caso e certamente por lapso, tiveram como efeito a existência de inúmeras situações de meninos sem apoio e o Dr. Lemos afirmar, certamente por lapso, “que não o preocupa alunos sem apoio”
Num país de brandos costumes, cada vez menos brandos, confunde-se frequentemente lapso com incompetência.

DO "ORGULHOSAMENTE SÓS" AO "CONTRISMO"

Este tipo de discurso evidencia o modelo de funcionamento que de há muito se instalou na nossa vida política. O governo, de qualquer partido e sobretudo com maioria absoluta, entende e assume-se como omnisciente e infalível, rejeitando qualquer proposta da oposição, das oposições, por essa simples razão, vem da oposição. A oposição considera errada qualquer medida ou proposta só por que vem do governo. Sintetizando, temos um paradigma assente na tensão entre o “orgulhosamente sós” e o “contrismo”, sempre contra, na qual, ao longo do tempo, os protagonistas mudam de papéis. Por outro lado, a experiência mostra que, quer uma posição, quer outra, não dão bons resultados. De facto, a história recente, portuguesa e não só, tem muitos exemplos de circunstâncias em que se torna imperativo colocar interesses nacionais acima dos famosos “interesses partidários de ocasião” e desencadear políticas concertadas e mobilizadoras. E é nestas fases que emerge o verdadeiro estofo das lideranças políticas, um chefe nem sempre é um líder por mais que se queira convencer, a si próprio e aos outros.

A ANORMALIDADE NORMAL

Não sei se é do ar da Figueira, se é do ar da Fátima Campos Ferreira, ou do ar do Casino, mas temos nova homilia. Desta vez coube a D. José Saraiva Martins, Prefeito Emérito da Congregação para as Causas dos Santos, título normal para um cidadão normal. Como é normal, a Igreja acha-se dona da definição de normalidade, D. José Saraiva Martins, veio explicar-nos o que é normal e o que não é normal, referindo-se à homossexualidade. Da minha parte agradeço a tentativa mas dispenso. Como já aqui tenho referido, dispenso a ideia de ser “normal” a descriminação das mulheres na Igreja, estão impedidas de exercer o sacerdócio, o que é normal, não reúnem condições para tal, coitadas, Deus quis que nascessem mulheres. Dispenso a ideia de que é “normal” a discriminação realizada pela Igreja face a católicos divorciados, então separaram-se, são anormais e querem os mesmos direitos dos normais, não pode ser, a Igreja tem razão. A Igreja também acha normal que as mulheres não utilizem dispositivos anticonceptivos ou que recorram à interrupção da gravidez, mesmo em circunstâncias de vida dramáticas. Claro, têm de sofrer e fazer sofrer, é normal.
A Igreja não entende, não quer entender que a questão, não é uma posição individual ou institucional em matéria de valores, é um problema de direitos individuais. Eu, que sou normal, desculpem o enorme atrevimento, apenas entendo como normal que todas as pessoas tenham os mesmos direitos. O resto é anormal.

UM HOMEM CHAMADO ESTRANHO

Era uma vez um homem chamado Estranho. Viveu sempre só. Quando era pequeno não tinha amigos porque os pais dos outros miúdos sempre os avisavam de que não se deviam dar com Estranhos, não se deviam aproximar de Estranhos, para terem muito cuidado com os Estranhos.
Quando era adolescente o Estranho passava o tempo só, não havia ninguém como ele, Estranho. Todos os rapazes e raparigas arranjavam um grupo para pertencerem e se sentir bem, mas como não havia nenhum grupo de Estranhos, o Estranho ficou entregue a si mesmo.
Quando chegou a adulto procurou alguém que quisesse partilhar a vida com ele. Não encontrou. Afinal, não é fácil encontrar alguém que goste e queira viver com um Estranho.
No seu trabalho, nas mais das vezes, estava no seu canto, sempre com o seu ar de Estranho. Naturalmente que os colegas não se aproximavam de alguém com aquele ar de Estranho.
Em velho fechava-se nos livros, ninguém estava particularmente interessado na companhia de um velho Estranho.
Finalmente alguém se aproximou dele, do Estranho. Como sabem, a Morte não liga a nomes, mesmo de alguém que se chame Estranho.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

QUEM SERÁ MARTIM MONIZ, O ENTALADO?

Aperta-se o cerco à capital do império socialista. As hostes cristãs, comandadas por D. Santana Lopes, de cognome o Menino Guerreiro, recebeu agora o apoio da brava gente do CDS-PP para de uma vez por todas correr com os infiéis. Já se perfilam as nobres tropas com os seus garridos estandartes e as suas brilhantes espadas e lanças, montadas nos corcéis fogosos que, de crinas ao vento, enfrentarão o inimigo. O Dr. Portas, o Paulo, com uma vestimenta de inspiração britânica ao estilo de Braveheart, acolitado pela sua fiel lugar-tenente, a Marquesa Caeiro, dispõe-se ao combate em apoio do Menino Guerreiro. Com o indomável espírito de luta forjado nas duras cruzadas contra os vermelhos, a vitória não fugirá e os futuros compêndios de história cantarão tal feito.
Talvez até tenhamos alguém entalado na história tal como aconteceu a Martim Moniz. Resta pois a dúvida, quem será o entalado? O Menino Guerreiro, o Braveheart Portas, a Marquesa Caeiro? O Costa que manda no castelo?
Oiçam daqui a alguns anos o Fado do Entalado por João Ferreira Rosa.

O ESSENCIAL E O ACESSÓRIO

Qualquer medida que introduza transparência e informação no mercado é um bom serviço prestado ao consumidor. Assim, o conhecimento prévio do consumidor, através da Net, dos preços praticados pela maioria dos postos de abastecimento de combustíveis aumenta a sua capacidade de escolha. No entanto, creio que no mercado de combustíveis a grande questão não é o conhecimento dos preços, ainda por cima através de um meio não acessível a muita gente, mas a eterna suspeita de cartelização dos preços entre as grandes empresas. É certo que a Autoridade da Concorrência não conclui pela existência de cartelização, mas as coincidências nas alterações dos preços, tempo e valores, não elimina a ideia de que o mercado não é transparente. Por outro lado, também seria interessante perceber, de facto, os mecanismos de constituição dos preços, pois nem sempre são claras as consequências da flutuação dos preços do petróleo na fixação dos preços dos combustíveis para o consumidor, sobretudo quando, obviamente, se trata de descidas, porque nas subidas as empresas são lestas, todas.

UM RAPAZ CHAMADO SE

Era uma vez um Rapaz chamado Se, nome pequeno e estranho. Em boa verdade ele não se chamava Se, mas toda a gente quando falava dele só falava no Se. Se quisesse, era bom aluno. Se estivesse com atenção, aprendia. Se é esperto, porque não aprende. Se tivesse uma família como deve ser, estava melhor. Se pensa que gostamos dele, está enganado. Se não fosse assim, era um bom rapaz. Se fizesse o trabalho como deve ser, a situação era diferente. Se mudasse, ficava bem melhor. Se trabalhasse mais, safava-se. Se não tivesse sempre aquele ar, era bem melhor para ele. Se tivesse outro comportamento, aprendia mais. E assim por diante.
De tal maneira as pessoas falavam do Se que o Rapaz ficou com uma enorme dúvida. Se seria ele? ou ele seria Se?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

PLEASE, DO NOT DISTURB

Por razões de segurança não é possível mostrar, mas a porta do gabinete do Governador do Banco de Portugal tem permanentemente pendurada a placa "Do not disturb". O Dr. Portas, o Paulo, tem alguma razão. Parece hoje consensual que a actividade reguladora do Banco de Portugal tem sido, digamos, sonolenta. O Dr. Vítor Constâncio com aquela agitação que lhe é tão característica, esforça-se por nos convencer que a malandragem dos bancos é que lhe dificultavam a vida, sonegando informação e mentindo. É verdade, não fora o esforço do hiperactivo Governador ainda hoje estariam por conhecer metade das nobres actividades de algumas administrações. O problema é que a outra metade, provavelmente, nunca se irá conhecer e, como sempre, não vai acontecer nada.
Também é justo e não demagógico considerar que, pelo magro salário auferido pelo Dr. Constâncio, não seria legítimo esperar mais agitação, regulação, supervisão, ou que lhe quiserem chamar. Para o efeito, é indiferente.

CUIDADO COM O FUTURO

Mais um sinal. Já há alguns dias a imprensa fez-se eco de problemas que algumas escolas do subsistema privado estavam a sentir no que respeita ao pagamento das mensalidades por parte de algumas famílias, bem como na participação dos miúdos noutras actividades, quase sempre, devido a situações de desemprego. Agora aparece a referência às dificuldades de suportar a formação ao nível da frequência do ensino superior. Como disse na altura, este é o aspecto em que as famílias não podem, não devem, ver comprometidas as suas necessidades. Ver comprometida a formação escolar de crianças, adolescentes e jovens é, obviamente, ver em risco possibilidade de vencer a guerra da qualificação. É certo que se pode sempre fingir que se qualifica, aumentando os níveis de certificação mas é grave para o país que tal aconteça.
Esta questão torna ainda mais premente a definição criteriosa dos apoios a mobilizar para enfrentar as actuais dificuldades e a sua regulação. Sabemos que os recursos disponíveis não são um saco sem fundo, por isso, mais rigor se torna necessário, mas estamos em ano de eleições, o que me deixa receoso.

SALA DE ESPERA

A vida de cada pessoa, de cada um de nós, espalha-se por múltiplos espaços, interiores e exteriores, e múltiplos tempos, que, muitos deles, são também espaços e tempos de outras vidas. Em todos eles, espaços e tempos procuramos, das mais variadas formas, sentir-nos confortáveis, tão confortáveis quanto possível. É também verdade que cada espaço e cada tempo não significam o mesmo para todas as pessoas. Ainda assim, todos nós temos na nossa vida um espaço e um tempo a que podemos chamar sala de espera. Passamos muitos tempos na sala de espera, alguns de nós tempos demais.
Esperamos pelo que ainda não chegou e esperamos sem saber se chega.
Esperamos por alguém que tarda e esperamos sem saber se chega.
Esperamos por um afecto que não temos a certeza de vir.
Esperamos o que não conhecemos com medo de conhecer.
Esperamos o que não queremos que venha e sempre insiste em aparecer.
Esperamos tempos de sol a seguir a dias de chuva.
Esperamos alegrias que mascarem as tristezas.
Esperamos entender o que não percebemos.
Esperamos que o dia chegue depressa porque o escuro assusta.
Às vezes, muitas vezes, até esperamos por nós.
E às vezes, desesperamos.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

A MEMÓRIA DE UM ANJO

Esta história do BPN e da SLN, tal como outras em exibição em salas perto de nós, parecem uma espécie de aterro sanitário mal construído, é um cheiro que não se aguenta e um atentado ao ambiente. Quanto mais se mexe pior. Uma impoluta figura com umas asinhas chamada Dias Loureiro já contou o que tinha a contar sobre a história e, se mais não disse, é porque não se lembrava ou não sabia. Vem o Expresso com uma documentação que prova a colaboração do anjo Loureiro nuns daqueles negócios de que ele não se lembrava ou não sabia. Tudo outra vez baralhado. O pessoal da Comissão de Inquérito da Assembleia da Republica, convencido que alguém os leva a sério e que as comissões parlamentares servem para alguma coisa, querem ouvir o anjo Loureiro de novo mas talvez seja aconselhada previamente alguma medicação para a memória.
O Presidente da Republica sempre muito loquaz, afirmou que, sobre o tema já tinha dito tudo. O anjo Loureiro é que não.

ÚLTIMA HORA. A INESPERADA VITÓRIA DE JOSÉ SÓCRATES

Notícia de última hora. Segundo despacho da Lusa, num espectacular volte-face que contrariou todas as sondagens, incluindo as realizadas à boca das urnas, o Eng. José Sócrates ganhou as eleições para Secretário-geral do PS. Depois de uma renhida campanha eleitoral em que os diversos candidatos tentaram captar os votos dos militantes, provando a vitalidade democrática e a abertura interna do partido como, em diferentes ocasiões, Vitalino Canas e Augusto Santos Silva tiveram oportunidade de sublinhar, José Sócrates ganhou. Reassumindo a sua afirmada postura de “animal feroz” e apesar de desgastado pela “campanha negra” actualmente em vigor, José Sócrates acabou por reverter a seu favor as sondagens que não o consideravam o candidato melhor colocado. De facto, sendo surpreendente a sua vitória, os resultados não deixam de evidenciar quanto equilibrada foi a disputa, Sócrates ganhou pela escassa margem de 96,43%.
Os adversários, ainda atordoados pelo choque da derrota, começaram por felicitar o Eng. pela vitória e disponibilizaram-se para emprestar toda a colaboração ao novo e inesperado líder. José Sócrates, no discurso de agradecimento, sublinhou o espírito democrático e aberto em vigor no PS, prometeu o maior empenho pela vitória nos próximos actos eleitorais e agradeceu particularmente a Santos Silva pela esforço gigantesco desenvolvido na campanha prometendo malhar, e malhando, a quem não estivesse de alma, coração e neurónios com Ele, o chefe.
Também segundo a Lusa, Manuel Alegre, ainda de espingarda às costas para se defender de Santos Silva, não revelou em que candidato votou.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

UM PAIS TRANSPARENTE

Não percebo a algazarra que por aí vai porque uma lista com nomes e fotografias de 23 Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) esteve disponível na intranet da Presidência do Conselho de Ministros. É absolutamente normal para um país transparente, isto é, para um país em que tudo o que deveria ser reservado é do domínio público. Senão vejam o que se passa com o segredo de justiça, é segredo, pois é, mas todas as informações são conhecidas e comentadas, pois é, estão a ver? Sabe-se que pessoas ou instituições a serem investigadas têm informação prévia que lhes permite “acautelar” a defesa dos seus interesses, também deveria ser segredo. Já repararam certamente que muitos factos e circunstâncias da vida pessoal de muita gente são completamente devassados na praça pública. Também já terão dado pela intenção, sob as mais variadas razões, de promover o acesso a informações que podem ser considerados da esfera privada, como exemplos temos o projecto do chip na matrícula dos automóveis e o aumento das situações de videovigilância.
É o que vos digo, não percebo tanto alarido por causa da "minudência", como agora se diz, de estar exposta uma lista com nomes e fotografias de “agentes secretos”, trata-se apenas de mais um exemplo do país transparente que somos.

SOMOS TODOS REBELDES

Ontem no complexo onde pratico desporto estávamos por ali de conversa enquanto não começava a actividade, quando apareceu o Miguel, um adolescente de 14 anos. Um dos treinadores dirigiu-se ao Miguel e, metendo-se com o seu cabelo meio comprido e desarrumado, diz qualquer coisa do tipo, “tens um cabelo à rebelde”. O Miguel com um jeito tranquilo respondeu, “já não há cabelo à rebelde, agora somos todos rebeldes”. Aquele diálogo ficou por ali mesmo mas fiquei a pensar no que o Miguel tinha dito, melhor, no que ele quereria dizer.
Será que ele entende mesmo que todos são rebeldes? Ou considera que os rebeldes já não têm marcas distintivas, como o cabelo, por exemplo? Ou achará que a rebeldia será algo, um atributo, que faz parte da condição de adolescente e, portanto, sem relação com qualquer particularidade? Ou, mais simplesmente, será uma afirmação “provocatória”, típica de adolescente? Ou tem a ver com nada disto? Ou trata-se de eu estar, simplesmente, à procura de motivo de escrita?
Ainda assim e como curiosidade última, gostava de saber o que entenderá o Miguel por rebelde. E nós? Também achamos que eles são todos rebeldes?

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

OS MIÚDOS E OS VIDEOJOGOS

No Portugal Diário deparo com um título “Os videojogos fazem bem às crianças”. Porque aqui muitas vezes me tenho referido a esta questão, a relação das crianças com as novas tecnologias e porque me interessa o que faz bem às crianças, fui ler. Diz então a notícia que as conclusões de um relatório da União Europeia elaborado pelo Comité do Mercado Interno e de Protecção do Consumidor do Parlamento Europeu, sob a coordenação de Toine Manders, “contradizem muitos estudos que sublinham a dependência e a violência que os videojogos podem provocar nos mais pequenos, deixando alguns pais mais tranquilos” e, citando o próprio relatório, os videojogos estimulam “a aprendizagem de factos e habilidades como a reflexão estratégica, a criatividade, a cooperação e o sentido de inovação”. O relatório também refere que alguns videojogos podem não ser apropriados. Ainda bem que refere.
Vamos ser sérios, não conheço ninguém, especialista ou não, que diga que os videojogos fazem mal, conheço muita gente, eu próprio, que se inquieta com a falta de qualidade, com os conteúdos violentos e desadequados às crianças de muitos destes produtos que lhes estão acessíveis. Conheço muita gente, especialistas ou não, eu próprio, que se inquieta com o tempo excessivo que muitas crianças e adolescentes passam sós, agarradas a um ecrã, numa espécie de teledependência pouco positiva. Esta preocupação não tem nada a ver com um entendimento definitivo de que os videojogos fazem mal. Existem excelentes videojogos que, naturalmente, serão úteis e positivos na vida dos miúdos, mas não coloquem como título “Os videojogos fazem bem às crianças”. É um mau serviço prestado aos miúdos e aos pais.
Comer faz bem às crianças, mas comer excessivamente e produtos de má qualidade, provoca sérios problemas de saúde.
Que se eduque o consumo, sem se diabolizar ou exaltar disparatadamente o produto.

UM PARTIDO PARTIDO

Ãngelo Correia, um dos barões, ou marqueses, ou lá o que é, do PSD, eu confundo os títulos, veio dar uma, mais uma, valiosa ajuda ao partido, Ferreira Leite, na rua já, clama o senhor. Li e até acho que ouvi uma voz familiar, “porreiro pá”. Outra voz também familiar acrescentou, “já nem preciso de malhar neles, ele malham uns nos outros”. Pois é, o PS até vai poupar uns euros na campanha eleitoral, a vitória cairá madurinha no seu regaço. A rapaziada do PSD entretém-se a dar palmadinhas nas costas uns dos outros com uma marreta na mão. Chora o Menezes, o Calimero de serviço, o Passos Coelho, o novo mais velho que eu já conheci em política, diz que está com a líder mas o partido não vai bem, o inimputável Jardim grita lá do quintal a estabelecer prazos para uma liderança ganhadora, se não ele … não percebemos o quê, o entertainer conhecido por Professor, o Marcelo, bate em Ferreira Leite ao Domingo e anda para trás à Segunda, o poeta Bota não quer a Senhora e amuou por causa do PJ Gonçalo Amaral para a Câmara de Olhão, o génio Pacheco Pereira, sempre infalível, já percebeu que Ferreira Leite para cuidar do netinho, ainda vá que não vá, mas ganhar eleições, é mentira. E falta o Marco António, do povo do norte, que apoia o Professor, ao Domingo, isto é, malha na Dra. Ferreira Leite. O Santana Lopes deram-lhe a hipótese de concorrer a Lisboa, calou-se, para já. O PSD é, actualmente, um partido literalmente partido.
Já me esquecia, aquele rapaz, com ar de professor, o António Borges, apoia a Dra. Ferreira Leite.

NÃO DESESPERE ISALTINO

A justiça portuguesa no dia de ontem fez conhecer duas decisões com relevância social, o arquivamento, claro, do caso da “fruta” envolvendo Pinto da Costa, e o julgamento de Isaltino Morais por corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Coube ao Isaltino, grande azar, servir de “prova” de que a justiça funciona. Mas ele que não desespere. O julgamento arrastar-se-á, os recursos e expedientes dilatórios suceder-se-ão, umas prescrições pelo meio, uns erros processuais estranhos mas habituais e o caso virá a morrer por morte morrida.
Como sempre.

A HISTÓRIA DO AZARADO

Era uma vez um homem chamado Azarado. Toda a sua vida foi um conjunto de circunstâncias desencontradas. Nasceu rapaz, os pais desejavam uma rapariga e nasceu no meio do Verão contrariando o esforço de planeamento dos pais que o queriam no Inverno. Na escola o Azarado sempre encontrou os professores menos simpáticos e não havia jogo que conseguisse ganhar. Nos testes acontecia sistematicamente que esperava por umas questões e apareciam outras. O Azarado desesperava, é que não se pode saber tudo e ele nunca acertava.
A rapariga mais bonita que ele conheceu e por quem sentia uma paixão tão grande como aquelas que vêm nos livros, não lhe ligava nem um bocadinho, era com se ele não existisse. No entanto, tinha que fugir de uma miúda que o adorava mas de que ele só gostava ao longe, muito ao longe.
Na sua profissão, vendedor de Projectos, perdeu a grande oportunidade porque furou a caminho da entrevista que mudaria a sua vida.
O Azarado apresentou um dia a mulher ao seu colega mais amigo. Desse encontro, resultou um amor que o deixou sem mulher e sem amigo.
Viveu só o resto dos dias, sempre em desencontro com as circunstâncias. Uma manhã, o Azarado não acordou.
Os amigos comentaram, “Que sorte a do Azarado, ficou-se que nem um passarinho”.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

NÃO É O IDEAL, MAS É O CAMINHO

Não é o ideal, nunca é, nem sequer se sabe o que é o ideal. Tão pouco é o que em muitos países já se pratica em matéria de apoio à parentalidade. No entanto, creio que qualquer medida que aumente e proteja a proximidade entre pais e filhos nos primeiros meses de idade deve ser sublinhada positivamente. Nos tempos que correm, altamente competitivos, com níveis preocupantes de precariedade no trabalho, que coexistem com baixos índices de natalidade por, frequentemente, se tornar impossível conciliar carreira profissional e segurança no emprego com a maternidade ou paternidade, é, por esta via, também importante o estabelecimento de medidas que protejam a situação de pais e mães.
Como sempre, alguns virão clamar pela insuficiência. Também acho que ainda não chega, faz parte do caminho.
É também de registar a equiparação da situação de adopção à parentalidade para efeitos dos apoios agora definidos o que corrige uma desigualdade injusta e pouco favorável aos processos de adopção.

OS DONOS DAS PREOCUPAÇÕES

A Ministra da Saúde entende que a eutanásia não está no centro das preocupações. A Igreja acha que a sociedade portuguesa não está preparada para discutir a eutanásia. Não percebo com que direito é que esta gente assume por nós, quais são as preocupações certas ou o nível de preparação exigido para discutir qualquer coisa. Se bem repararem toda a gente fala da crise mas existem algumas, poucas, pessoas para quem ela não está no centro das preocupações, e então? Não se discute? O casamento entre pessoas do mesmo género também não está no centro das preocupações, tal como aconteceu com o aborto e o divórcio, claro, só os envolvidos é que “sofrem” as consequências do quadro legal existente, para os outros, não está no centro das preocupações ou não estão preparados para discutir. Como sempre digo, tudo o que diz respeito às pessoas, aos seus direitos, ao seu bem-estar, deve estar sempre na agenda, mesmo que existam diferenças de entendimento e valores, ninguém é dono das preocupações, nem do que deve ser discutido.

HISTÓRIA DE FAMÍLIA COM PROFESSOR NO MEIO

Vou-vos contar uma história que, devo confessar, não me agrada nada contar mas é real, passou-se com um amigo meu e é um preocupante sinal dos tempos.
Estava este meu amigo num café, quando entrou uma família com um gaiato de nove ou dez anos. Ao pé do balcão, o miúdo começou a pedir, a exigir como agora fazem muitos miúdos, determinada pastilha, bolo ou qualquer coisa do género. Os pais não acediam ao pedido e quando a mãe, de forma mais veemente, negou pela enésima vez a exigência, o miúdo disparou um sonoro, “vai à merda”. A mãe, zangada, levantou a mão e ameaçou ruidosamente, “levas uma estalada, pensas que sou a tua professora?”. Extraordinário.
A história, em si, dispensa obviamente comentários, mas o que significa é perturbador. Entendo que todos, professores incluídos, temos alguma responsabilidade neste abastardamento progressivo da imagem social de uma classe profissional que, nos tempos que correm, assegura uma dimensão muito significativa do processo de educação e formação das pessoas.
O grande desafio que enfrentamos é inverter este trajecto e devolver aos professores uma imagem de respeito e confiança, sem a qual a sua tarefa é impossível. É o que se espera de todos, incluindo professores, quem os representa e quem os gere.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O MEU PAI NÃO PERCEBE NADA DE COMPUTADORES

De acordo com um estudo do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa sobre a utilização da net por parte de crianças e adolescentes, é de sublinhar que entre os mais novos, dos 8 aos 10 anos, 35.7% afirma que utilizam a net em casa sem regras estabelecidas, sendo que 42% também refere que não têm controle sobre páginas consultadas e correio electrónico.
Estes dados, apesar de não surpreendentes, são preocupantes. Muitas vezes já aqui tenho referido como o ecrã, qualquer ecrã, é hoje a “baby-sitter” de muitíssimas das nossas crianças e adolescentes que neles, ecrãs, passam um tempo enorme “fechados”. Como também sabemos, parte importante desse tempo é passado só, facilitando a falta de controlo sobre a utilização do ecrã, neste caso a net. A situação é ainda agravada pelo facto de em muitas das nossas famílias ainda verificar alguma iliteracia informática que também complica a possibilidade dos pais acederem e dominarem a utilização dos recursos informáticos. Neste quadro, importa que o acesso e domínio destes meios seja estimulado juntos dos pais, que os programas de net segura, sejam reforçados, e que pelas vias da educação a tempo inteiro (não confundir com escola a tempo inteiro) e de mudanças na organização do trabalho, se diminua o tempo que as crianças e adolescentes passam, sós, ligados a um ecrã.

A ESQUERDA PARA O INFERNO

A Igreja, pela voz do Padre Morujão, secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, avisa, “os católicos são inteligentes”, “na hora do voto, seguramente, os cristãos tomarão a sua decisão, porque não é fiável quem se mete nestas aventuras”.
As “aventuras” é a inscrição na agenda política do PS da causa fracturante o casamento entre pessoas do mesmo género. A igreja avisa, assim, para que se acautelem os partidos que apoiem tal “ameaça” à “dignidade e decência”. Pois tem o senhor padre muita razão, agora vem esta gente da esquerda com esta modernices, é o fim do mundo. É preciso defender a família, a família normal, é claro. Sempre, contra tudo e contra todos a família sempre, nada de divórcios também, outra praga inventada pela esquerda. A família onde tantas vezes as pessoas se autodestroem, agridem, apenas se suportam ou mesmo se odeiam, deve manter-se? Claro, é preciso defender a família. A família que atropela e maltrata miúdos deve manter-se? Claro é preciso defender a família.
A igreja um dia, vai entender que o direito à família, considerado nos termos em que a nossa cultura e modelo de organização legal o coloca é um direito individual, não é uma coisa para “estúpidos” e esquerdistas desavergonhados.

UM HOMEM CHAMADO SEM NADA

Era uma vez um homem chamado Sem Nada. Como é de tradição nasceu de um Sem Nada e Sem Nada ficou.
Toda a sua vida foi um homem que, como agora se diz, não teve oportunidades, ou se teve, não deu por isso, ou ainda, se as teve não as aproveitou.
Cresceu como crescem os Sem Nada, por ali, por aqui, em risco e sem projecto, como agora se diz.
A sua vida adulta foi uma sucessão de desencontros com os afectos e de passagens breves por actividades avulsas que foram autorizando a sobrevivência do Sem Nada.
Velho, o Sem Nada arrumou-se onde se arrumam os velhos como o Sem Nada, sós no meio dos outros iguais a si.
Finalmente, saiu da vida exactamente como entrou, Sem Nada. Cumpriu o destino dos Sem Nada.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

POLÍTICA A MAIS, EDUCAÇÃO A MENOS

Acho sempre muito interessantes e pertinentes as considerações do Professor Marçal Grilo sobre o nosso sistema educativo. Tenho respeito pela figura e, com alguma frequência, concordo com as suas ideias. No entanto, fico sempre com uma sensação um pouco estranha, o Professor Marçal Grilo foi Ministro da Educação do XIII Governo entre 1995 e 1999, ou seja, teve um papel de protagonista na definição das políticas educativas que temos vindo a “sofrer”. Com as suas tomadas de posição, frequentemente importantes e oportunas, junta-se àquele vasto leque de políticos que, depois de saírem das pastas que ocuparam, sabem sempre o que deve ser feito. A nós resta-nos perguntar, então porque não fizeram?
Posto isto, também desta vez me parece importante sublinhar as afirmações do Professor Marçal Grilo quando defende, "menos Ministério e mais escola, menos sindicato e mais professores". Provavelmente, não será muito popular o que vou dizer, mas como já aqui tenho afirmado, na actual conjuntura e pese o fundamental papel das estruturas sindicais, o Ministério da Educação, a actual equipa, e muitos dos discursos e posições dos sindicatos são parte significativa do problema pelo que, dificilmente, serão parte da solução.
A grande questão é que a incontornável instrumentalização política de uma área tão apetecida como a educação, leva a que ME e sindicatos não estejam disponíveis para recolocar a educação no espaço e contexto de onde ela não pode, não deve, sair, ou seja da escola, portanto de alunos, professores e famílias o que obrigaria a uma profunda reflexão e, provável, alteração do papel do ME e das organizações sindicais.

A FAMÍLIA FAZ-DE-CONTA

O DN de hoje faz eco de uma situação que, de acordo com os relatos, começa a ser mais frequente. Refere-se o trabalho a famílias que, não estando em situação de separação, recorrem aos tribunais para mediação de decisões respeitantes aos filhos. O trabalho jornalístico ilustrava a situação com decisões sobre escola a frequentar, questões de diferença religiosa entre os pais, recurso a serviços de apoio psicológico, etc. Foram ouvidos alguns especialistas com experiências profissionais nesta matéria que relataram casos de diferentes contornos. É impressionante como uma família, que se entenda como tal, precisa de mediação judicial para decisões respeitantes aos filhos. É por isso, que sempre entendi como preferível uma boa separação a uma má família.
Só por hipocrisia ou por desrespeito dos interesses dos miúdos é que se pode defender a manutenção a todo o custo de famílias, que mais não são que um conjunto de pessoas com a chave da mesma casa.
Os miúdos precisam de mais.

O BRINQUEDO PREFERIDO

De há uns tempos para cá apareceu uma moda naquela terra que “impede”as pessoas de falarem em brincar nas escolas da terra, é proibido brincar nas escolas. A moda foi fabricada por uma gente ignorante de miúdos, obcecada com trabalho e produtividade, mesmo infantil, uns infelizes neo-liberais. Mas ainda existem uns professores, muitos, naquela terra que não se deixam enganar, sabem ler os miúdos e percebem que eles aprendem porque também brincam e brincam porque também aprendem. Aliás, brincar e aprender são as coisas mais sérias que os miúdos fazem, sorte a deles, a de alguns, felizmente muitos.
Um dia, um desses professores lembrou-se, que sacrilégio, de dizer aos seus alunos para trazerem para a escola o seu brinquedo preferido. A Maria trouxe uma boneca. O João apareceu com a playstation nova. A Sara vinha vaidosa com umas bonecas que o pai tinha trazido do estrangeiro. A Irina trazia o Noddy. O Carlos vinha com uns olhos quase tão grandes como a bola de futebol que trazia debaixo do braço. O David, sempre pronto para as lutas, trazia uns bonecos lutadores de wrestling. A Joana não ligava a ninguém com o seu mp3 cheio das músicas de que gosta. Enfim, por um dia, toda gente veio para a escola com um brinquedo, o seu preferido. O último a chegar foi o Manel.
Feliz e sorridente entrou na sala de aula com o avô pela mão.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

"METE-ME ESPÉCIE"

Estava com a TV na SIC Notícias com o Jornal das Nove, quando cinco minutos depois de começar, entrou a notícia do despedimento de um treinador de futebol brasileiro por parte de um clube inglês. A esfíngica Ana Lourenço começou então a ouvir durante 15 minutos, é verdade 15 minutos, um “comentador” chamado Jorge Batista que, entre profundas análises, referiu várias vezes alguns aspectos a vida do clube inglês que “lhe metiam espécie”, é verdade, metiam-lhe espécie. Antes que me esqueça, o treinador brasileiro é um senhor chamado Scolari e o clube inglês é o Chelsea. Depois ainda ouvi nos cinco minutos finais, antes do “frente a frente”, algumas minudências sem interesse como a liderança de Ferreira Leite no PSD, as investigações do caso Freeport e uns pormenores sobre a crise.
Lembrei-me do mítico incidente com Santana Lopes e a chegada de José Mourinho ao aeroporto, também na SIC Notícias. Devo confessar, citando o comentador Jorge Batista, “que me mete espécie” estes critérios. Mas devo estar errado, naturalmente, é uma questão de prioridades.

JÁ NÃO SEI SE É REVOLTA SE É TRISTEZA

Já perdi a capacidade de me sentir revoltado, o sentimento é mais de tristeza face à incompetência e falta de sentido ético da actual equipa do ME. Já muitas vezes aqui me referi aos problemas da inacreditável e indefensável divisão dos professores em duas categorias, titulares e outros. O ME parece não abdicar desta aberrante posição e argumenta através do SE Adjunto da Educação que ”a manutenção das duas categorias é essencial para a melhoria da escola pública". Eu não consigo entender porquê, acho exactamente o contrário, o que defende a escola pública é uma avaliação competente e rigorosa e um modelo de carreira coeso, transparente, na qual a mobilidade dependa do mérito correctamente avaliado. A divisão assente em critérios completamente surrealistas como as actividades dos últimos sete anos é, simplesmente, disparatada.
Claro que a falta de sentido ético permite insistir e estimular as divisões, dividir para reinar é um truque velho, e no insultuoso cúmulo de oferecer dinheiro a quem se portar bem. Os docentes competentes não precisam de ter cenouras, precisam de se sentir bem tratados e com uma carreira que lhes reconheça o mérito, não um prémio monetário que mercenariza a educação e envergonha, devia envergonhar, quem o propõe.
Mais do que revolta é de facto com muita tristeza que assisto a este indecente espectáculo.

A CRISE E A MUDANÇA

Muitos de nós, temos como característica mudar de comportamentos ou atitudes só mesmo quando nos sentimos obrigados, ou seja, quando não pode mesmo deixar de ser. Isto passa-se em diferentes dimensões como nos estilos de vida ou no exercício profissional. Para exemplificar, muitas vezes, só o aparecimento da doença nos leva à mudança relativamente a algo que de há muito sabemos não ser positivo.
Vem esta conversa a propósito de um efeito que começa a emergir como consequência da actual e dramática crise. De acordo com os dados disponíveis, desde o último trimestre de 2008 que se tem vindo a registar uma subida significativa na utilização dos transportes públicos em zonas urbanas, autocarro, comboio e também o barco na região de Lisboa. Estamos em presença de uma espécie de efeito colateral positivo. Sabemos que em algumas zonas a qualidade dos transportes públicos não será satisfatória, mas também é verdade que muitas deslocações urbanas também ficam mais fáceis e com padrões de conforto aceitáveis quando realizadas em transportes públicos. Como suburbano que me desloco entre as duas margens do Tejo verifico isso mesmo. O problema, como sempre, é que só a crise parece ter força para nos obrigar a abandonar o transporte individual. Estou à vontade porque utilizo habitualmente o mais individual dos meios de transporte, a moto, e dificilmente a abandono. Para além da questão dos transportes, pode acontecer, e seria positivo, que as actuais dificuldades, constituam um forte empurrão para alterações nos estilos de vida, designadamente, ao nível do consumismo excessivo.
Se isto acontecer, depois de ultrapassado este inferno que esperamos breve, pode ser que os tempos sejam melhores, e a crise, para além de alguns pesadíssimos efeitos, tenha sido a chave da mudança.

DIFERENÇA

(Foto de Mico)

Que mania a tua. Sempre a achares que és diferente.
Não te ponhas com ideias, a vida é assim, sempre foi.
Se fosses como os outros, eras mais feliz.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

REQUALIFICAR AS ESCOLAS, UMA BOA MEDIDA

Este texto serve para sublinhar algo que me parece positivo. Não sendo um especialista em economia, mas estando, como a maioria dos portugueses, a ficar um forçado especialista em crise, parece-me que a iniciativa de antecipar o programa de requalificação das escolas é uma boa medida. De facto, creio que mais do que centrar o investimento público em dois ou três emblemáticos projectos localizados e com efeitos eles próprios localizados, parece mais interessante dispersar os investimentos públicos pelo país, mantendo ou criando emprego em diferentes regiões. Acresce ainda que em grandes projectos, os mais prováveis concorrentes envolverão grupos estrangeiros de grande dimensão que, não havendo medidas proteccionistas, comprometeriam o seu efeito no emprego no universo de pequenas e médias empresas. Do meu ponto de vista, a opção de requalificar escolas é também uma melhor opção em termos estratégicos.

O XERIFE DE NOTTINGHAM VIROU ROBIN HOOD

Nesta altura do campeonato e com o aproximar das eleições, começa o namoro eleitoral. O Primeiro-ministro, numa de Robin dos Bosques, promete aliviar a carga fiscal da classe média, suportando esta medida no abaixamento das deduções fiscais dos mais favorecidos, por assim dizer. Duas notas. Em primeiro lugar, a classe média está em vias de extinção, por isso não se percebe muito bem, quem venha a beneficiar. A enorme e prolongada asfixia fiscal da classe média, suportando com os seus impostos o despesismo do estado, fê-la entrar em colapso. Em segundo lugar, depois da classe média, mais uma vez, com os seus impostos, financiar os desvarios e delinquência da gestão bancária acenar-lhe com um abaixamento fiscal, cheira a desculpa de mau pagador, ou seja, retórica política eleitoral.

SÓ PROIBIR NÃO CHEGA

Como é sabido, as estratégias proibicionistas, justificadas em muitas circunstâncias, não têm, quase sempre, o efeito pretendido.
A nossa relação com as leis, sobretudo no que respeita a proibições, é frequentemente assente em alguma elasticidade, para utilizar um termo leve. A título de exemplo, sabemos todos que é proibido circular a mais de 120 Km/h em auto-estrada mas o nível de cumprimento da proibição é “elevadíssimo” como a experiência mostra. Dito de outra maneira, o que em muitos casos a lei tem de imperativo, nós interpretamos como indicativo, é uma sugestão, ou seja, sugere-se que a velocidade não passe muito acima dos 120.
Toda a gente sabe que em muitos estabelecimentos frequentados por adolescentes, o controle sobre a venda de bebidas alcoólicas a menores de 16 é praticamente inexistente, e, como sabem, é proibida. Sabe-se também como muitos adolescentes contornam a lei comprando ou pedindo a alguém que compre bebidas em lojas, não em bares, que depois consomem na rua à porta dos bares. Nas lojas o controle sobre a venda do álcool também é baixo.
Nesta conformidade, embora se possa considerar a proibição de venda para menores de 18, o que até pode ser discutível em si mesmo, a questão central é o papel da educação e formação na vida desta gente. E este problema não se põe só com o consumo do álcool, coloca-se com toda a gama de comportamentos de risco, que não se esgota nos consumos.
Devo sublinhar que colocar a questão fundamentalmente no papel da educação e formação, não tem a ver com uma educação para a santidade, longe disso, mas com uma educação com regras, limites e valores.

(8) "GANDA" CALDINHO

“Você sabe como é qu’ é, os gajos andam todos ao mesmo pá, gandes caldinhos. Mas o gajo, o Sócrates, tará mesmo metido neste caldinho?”. (o meu amigo Zé Barbeiro)

PS – Até que este “caldinho” esteja devidamente esclarecido, não volto a falar do caso Freeport. Assim, diariamente, ficará a dúvida do meu amigo Zé Barbeiro. Até ao fim.
PS 2 - O meu amigo Zé Barbeiro diz que não se percebe nada e que está farto desta cena, e eu também. Aguardemos pois e mudemos de assuntos.

O CAPITAL, POR FRANCISCO LOUÇÃ

Hoje, finalmente um sábado sem chuva no meu Alentejo, deu para realizar algumas tarefas em atraso. Charruar terra para semear as batatas, arranjar os criadores e deixar já semeado o cebolinho da cebola babosa, a que dá para pôr mais cedo e é mais tenra, depois logo pomos a saloia e a de Setúbal. Deu para desmatar as canas à volta das nascentes e apanhar uma bela mão-cheia de espargos, à custa das habituais arranhadelas dos espargueiros que não nos dão os espargos sem luta. Lamentavelmente, nesta tarefa perdi uma companheira de petiscos de há muitos anos, a minha navalha de estimação. Ainda tenho esperança de a encontrar quando a erva secar. Esta lide deixou pouco tempo para a informação. No entanto, na altura do almoço ouvi uma breve referência à Convenção do BE e fiquei impressionado. Apanhei o Dr. Louçã a explicar aos militantes e às militantas do BE o que é o capitalismo. Dizia o Dr. Louçã que se colocarmos dois coelhos, melhor um coelho e uma coelha, num buraco, depois, vão aparecer coelhinhos. Bravo. No entanto, se noutro buraco colocarmos duas notas de 100€, não vão aparecer notas de 20€, Isto é que é o capitalismo, concluiu o Dr. Louçã, o capital não gera nada, o trabalho gera. O trabalho? Então o coelhinho e a coelhinha no bem-bom é trabalho? Já parece a Dra. Ferreira Leite que acha que o casamento é para procriar, não é para andar a gozar sem rendimentos. Francamente Dr. Louçã. Ainda por cima creio que se as duas notas de 100€ fossem para um buraco num off-shore, ou para as mãos do especulador Berardo, talvez depois aparecessem alguns eurinhos. Importa-se de repetir Dr. Louçã?

COM TODA A NORMALIDADE

Já aqui o disse e creio que se confirmará. A luta pela suspensão da aplicação deste modelo de avaliação já foi. Sejam quais forem as razões, coacção, pressão mais ou menos evidente, medo das consequências, falta de coragem, etc. os professores parecem, de mansinho, começar a ficar vencidos mas não convencidos. As posições expressas pelos presidentes de Conselhos Executivos nas duas últimas reuniões, do meu ponto de vista, pecam por tardias. Deveriam ter-se desencadeado logo na altura das hesitações patentes no Conselho de Escolas. Entretanto, na habitual relação estranha com a realidade, a Ministra afirma que o processo corre com toda a normalidade, dando como normalidade, o irrelevante pormenor de dezenas de milhar de docentes não estarem, ainda, a cumprir o calendário da avaliação. Continuo a acreditar que o pecado original foi a excessiva “tranquilidade” com que o Estatuto foi aceite, designadamente na indefensável e inacreditável divisão dos professores em titulares e “outros”. Tudo o resto decorreu daí, incluindo a avaliação. O ME, a administração, transformou-se numa máquina de malhar arrasadora. Em movimento é difícil pará-la, vejam, por exemplo, nos comentários às notícias on-line, os imensos comentários sobre os “malandros” dos professores que não querem ser avaliados e não trabalham. Como é eficaz a máquina de “informação” montada, com toda a normalidade.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

EU SOU A PERCENTAGEM QUE A SONDAGEM NUNCA MOSTRA

A questão da fiabilidade das sondagens em política é eterna, tal como a guerra de números em dias de greve. Os técnicos responsáveis garantem o carácter científico do seu trabalho e, portanto, a sua credibilidade. As figuras ou entidades que aparecem mais beneficiadas não deixam, claro, de lhes emprestar crédito e assumir que elas espelham a opinião ajustada do universo inquirido. Finalmente, as figuras ou entidades cujos indicadores são mais favoráveis entendem por bem duvidar, claro, dos resultados quer ao nível do “rigor científico” quer, versão mais pesada, de alguma manipulação intencional dos resultados. Sempre assim foi, sempre assim há-de ser, creio, por isso fica aquela velha máxima, as sondagens valem o que valem.
A minha questão no que respeita às sondagens remete para uma ideia que há já bastante tempo aqui referi, ou seja e repito, sabendo, é reconhecido, o peso que a opinião publicada tem na construção da opinião pública, o universo normalmente inquirido, creio que é de estar muito e cada vez mais atento ao que “NÃO DIZEM” algumas franjas sociais que habitam a periferia da vivência, a sobrevivência, os que normalmente não são inquiridos.
A este respeito, cito Sam the Kid que, num fenómeno interessante, integra uma área do hip hop que parece estar a ocupar o espaço do que há 40 anos chamávamos música de intervenção e que sem raízes musicais portuguesas (essa a grande diferença) assume um discurso lúcido, atento, crítico e não integrado.

Eu sou a percentagem que a sondagem nunca mostra
Eu sou a mente exausta da miragem mal composta
Eu sou a indiferença e a insatisfação
Eu sou a anti-comparência, eu sou a abstenção

(7) "GANDA" CALDINHO

“Você sabe como é qu’ é, os gajos andam todos ao mesmo pá, gandes caldinhos. Mas o gajo, o Sócrates, tará mesmo metido neste caldinho?”. (o meu amigo Zé Barbeiro)

PS – Até que este “caldinho” esteja devidamente esclarecido, não volto a falar do caso Freeport. Assim, diariamente, ficará a dúvida do meu amigo Zé Barbeiro. Até ao fim.

HISTÓRIA DO HOMEM QUE TARDAVA

Era uma vez um homem por quem toda a gente esperava naquela terra. Havia muito tempo que se falava sobre a sua chegada. Tardava e as pessoas acreditavam que ele vinha de tão longe que a viagem era demorada e daí o atraso. Mas quanto mais ele se atrasava mais as pessoas desesperavam de espera. Nunca se percebeu muito bem qual a razão, mas as pessoas acreditavam que o homem seria capaz de as ajudar a lidar com todas as dificuldades e a minimizar os problemas. Só que para seu desgosto o homem tardava e nunca mais aparecia, já parecia uma maldade, quanto mais as pessoas desejavam e esperavam mais o homem teimava em não aparecer. Alguns ainda pensaram em partir à sua procura mas depressa desistiram, não sabendo qual o caminho do homem, não sabiam por onde demandar. As pessoas da terra envolviam-se em discussões sem fim sobre o que fazer. Alguns, poucos, mais cépticos ou impacientes, achavam que ele já não vinha, nunca. Outros mais optimistas ou desesperados continuavam a acreditar que o homem viria para ajudar, só não sabiam quando e esse é que era o problema. E as discussões retomavam-se, sempre da mesma forma, uns a insistir que tinham de tratar das coisas, de todas coisas, sem estar mais tempo à espera do homem e os outros, tolhidos de espera, acreditando que vai ser amanhã, ou depois.
O mais curioso desta história daquela terra, é que ninguém sabia nada do homem. Apenas que se chamava Sebastião. Parece que, ainda hoje, não chegou.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

HÁ-DEM VER, QUEM SE METE COM O PS LEVA, DE DENTRO OU DE FORA

Eu, se fosse o Engenheiro diria a esta rapaziada para estar calada, cada cavadela cada minhoca. Agora é o José Lello, rapaz cuja obra mais conhecida é a sua ligação ao futebol e uma lista de livros, potenciais prendas a políticos, que elabora no Natal. Depois cansa-se, volta para o Parlamento e fala quando acha que estão a bater no chefe. Claro que se incomoda com as críticas, ele há gente assim, por isso é que adoram chefes que não querem críticas, a vida fica-lhes mais fácil, não têm que pensar.
Ontem foi o guardião do regime, o ministro da doutrina, Santos Silva, que faz parte de uma raça perigosa, morde, perdão, malha, logo que ouve qualquer coisa que na sua cabecinha não lhe pareça um elogio às virtudes do chefe, da política do chefe, das ideias do chefe, do visual do chefe, etc. do chefe. Mas o PS tem este problema, lembram-se dos míticos “há-dem ver” e “quem se mete com o PS leva” daquele rapaz, o conhecido empresário Jorge Coelho, ou o “habituem-se” do ex-Comissário Vitorino, actual concorrente do entertainer Marcelo, o Professor. E não se esqueçam que o Chefe, de vez em quando, vira “animal feroz”. Com este pessoal não se brinca, pensam o quê?
No entanto, acho que se fosse o Engenheiro, por uma questão de decoro e protecção ambiental, pediria a esta rapaziada para estar caladinha, não precisam de ser mais papistas que o papa, ele. É que o papa, ele, já tem problemas que cheguem.

SERÁ NORMAL?

O sub-destacamento de trânsito da GNR de Coina tem parte da frota, carros e motos, imobilizada por falta de combustível devida ao processo de renovação dos cartões da GALP. Naturalmente que a tutela diz que não se passa nada.
Uma senhora acamada de 85 anos foi levada a uma consulta ao Hospital de S. António no Porto ao colo pelo filho, porque Bombeiro Voluntários e Hospital não se entendem sobre o processo de transporte de doentes. A responsabilização é recíproca mas a senhora andou ao colo. É certo que pode constituir um bom exemplo, cada vez mais raro, de cuidado dos filhos para com os mais velhos, mas não devia acontecer.
Para compensar, parece que existem umas cabeças, Madail e Laurentino Dias por exemplo, que defendem a candidatura de Portugal à organização do Mundial de futebol de 2018. Tenham juízo.

(6) "GANDA" CALDINHO

“Você sabe como é qu’ é, os gajos andam todos ao mesmo pá, gandes caldinhos. Mas o gajo, o Sócrates, tará mesmo metido neste caldinho?”. (o meu amigo Zé Barbeiro)

PS – Até que este “caldinho” esteja devidamente esclarecido, não volto a falar do caso Freeport. Assim, diariamente, ficará a dúvida do meu amigo Zé Barbeiro. Até ao fim.

UMA HISTÓRIA FEIA

Os tempos não vão fáceis, antes pelo contrário, as dificuldades são enormes e, nas mais das vezes, transcendem a nossa capacidade individual de as prevenir ou remediar. No entanto, estes tempos ainda ficam mais pesados quando nós, ou alguns de nós, por comportamentos ou discursos ainda os tornamos mais difíceis, mais feios, acho eu. Atentem nesta história que hoje entrou cá em casa. Uma senhora das nossas relações, Mãe de um jovem adulto com uma severa deficiência motora e mental que se desloca exclusivamente em cadeira de rodas e sem autonomia, depois de realizadas as compras no supermercado, chegou com o filho à zona das caixas e colocou-se na fila da caixa com prioridade. Uma senhora diz-lhe “então a aproveitar-se” e continua depois do ar perplexo da Mãe “aproveita-se da situação para se safar”. A Mãe, embaraçada, ainda tentou explicar que a situação do filho na cadeira de rodas e mais as compras era complicada mas ouviu, “ele está melhor que eu, está sentado”. A Mãe fugiu dali para não bater na senhora.
Que se passa na cabeça das pessoas que as torna tão feias? É da crise económica? É da crise dos valores? Como pode uma pessoa estar tão doente ou ser tão infeliz que precisa de cobrar alguma coisa a uma Mãe naquela situação? Têm alguma ideia?