Bom, aí está o produto sazonal
que dá pelo nome de “ranking das escolas” nas suas diferentes declinações e
leituras dos dados disponibilizados e bem pelo ME. Agora, relativos a 2024. Em
linha com a sazonalidade, umas notas.
Apesar de continuar com
dificuldade em defender a sua relevância, não tenho uma atitude fundamentalista
face à sua construção. Sublinho, sobretudo, a evolução que se tem verificado
nos últimos anos, quer na disponibilização de informação por parte do ME para
além dos “meros” resultados da avaliação externa, quer na forma como essa
informação é tratada e divulgada por diferentes entidades e imprensa. Este ano, em algumas abordagens é considerada a “capacidade de superação” das escolas,
atingindo resultados “inesperados” para a população que servem. Deve ainda referir-se que também se divulga algum do bom trabalho realizado em diversas escolas da rede pública.
Na verdade, se me parece muito pernitente
a análise dos dados providenciados pelo ME, já me parece bem menos relevante a
construção de listas classificativas de escola.
Continuo também a sentir-me
incomodado com as estratégias de marketing dos negócios da educação a propósito
da divulgação dos rankings, basta olhar para as páginas da imprensa que divulga
rankings. A própria imprensa em algumas das peças que acompanham os rankings serve essas estratégias.
A mais frequente defesa da sua
construção assenta na importância da avaliação externa. No entanto, é evidente
que a imprescindível avaliação externa não tem que, necessariamente, obrigar à
construção dos rankings que, aliás, alguns países não realizam.
Mas existindo e apesar das
mudanças que se têm verificado que mostram, ou não, os rankings?
Dificilmente mostrarão algo de
substantivamente diferente como parece claro.
Mostram que genericamente as
escolas privadas apresentam melhores resultados e que também existem escolas
privadas com resultados mais baixos. Mostram algumas notas simpaticamente
altas.
Mostram que existem escolas
públicas com bons resultados e escolas públicas com resultados menos bons.
Mostram uma descida dos
resultados médios apesar de mais resultados positivos. Outros dados de
avaliação externa têm apontado nesse sentido.
Mostram que existem escolas que
face ao contexto sociodemográfico que servem conseguem bons resultados ou, pelo
menos, progresso no trajecto dos alunos e que existem escolas públicas que
ainda não conseguem contrariar o destino de muitos dos seus alunos.
Mostram que a tradição ainda é o
que era, pais (mães) mais escolarizados, têm, potencialmente, filhos com
melhores resultados.
Mostram que as escolas públicas
são as que mais progressos promovem nos alunos embora não cheguem de forma
significativa aos lugares superiores dos rankings da superação. E tal situação
é tanto mais de registar quanto sabemos das dificuldades muito significativas e
da falta de recursos que se verificam. Seria interessante considerar a variável, alunos sem professores a todas as disciplinas, situação que envolve várias escolas e tem envolvido muitos alunos.
Mostram que nas escolas com
melhores resultados, em regra, são as que têm menos alunos abrangidos pela
Acção Social Escolar.
Mostram que a escola, os
professores, fazem a diferença e promovem a “superação”
Mostram ainda que se continua a
falar de “melhores escolas” e “piores escolas”.
Mostram que …
Enfim, os rankings mostram tudo,
só não mostram o que se fará considerando a informação que os rankings mostram,
com que meios, com que recursos humanos, com que políticas públicas. Na
verdade, também não mostram o tanto que não se consegue medir, mas se pode
avaliar e que é tão essencial como o que se mede.
Quatro notas finais.
1 - A propósito de rankings -
Gert Biesta da Universidade Stirling numa obra notável, "Good Education in
a Age of Measurement - Ethics, Politics, Democracy", afirma que uma
obsessão centrada na medida, assenta na gestão continuada de uma dúvida, "medimos
o que valorizamos ou valorizamos o que medimos?"
2 - Por onde andam nos rankings
os alunos com necessidades educativas especiais? (desculpem o termo não inovador dentro do
novo paradigma, mas ainda não me habituei às novas "não categorias"
como "adicionais", "selectivas" ou
"adicionais"). Provavelmente à
espera da operacionalização de um novo indicador-chave da avaliação das
escolas, a inclusão de cuja consideração na construção dos rankings não me dei
conta.
3 – Continuo com a dúvida
expressa por Gil Nata e Tiago Neve do Centro de Investigação e Intervenção
Educativas da U. do Porto que num texto no Público a propósito dos rankings de
há três anos escreviam, “Assim, passados 20 anos, a pergunta impõe-se onde
estão as evidências de que a publicação dos rankings tenha contribuído para a
melhoria do sistema educativo?” Acresce a manutenção da dúvida relativa a alguma inflação das avaliações realizadas por alguns estebelecimentos.
4 – Há já algum tempo, ainda estava
no activo, a directora de um agrupamento de escolas que ocupa posições bem
abaixo nos rankings, situada num contexto social e económco complicado e à qual
de me desloquei diversas vezes para colaborar em algumas iniciativas, dizia-me,
“Como conhece algumas pessoas da imprensa diga-lhes para nos visitarem
durante o ano a ver o que fazemos. É que quando aqui vêm é por causa do
ranking, e nós fazemos tantas coisas com os alunos e com os pais”. E eu sabia
que sim.
Para o ano cá estaremos e atentos
ao que resulta deste ano duríssimo para a escola pública.
E voltarei a estas notas. São
assim os produtos sazonais.