Nos últimos tempos face a
diversos episódios de mal-estar, violência, delinquência ou abusos que envolvem crianças, adolescentes e
jovens e também com o impacto da série da Netflix, “Adolescência” as referências
à relevância de regras e limites na educação dos mais novos e em diferentes
áreas do seu funcionamento destacando-se a questão dos comportamentos, dos
consumos de natureza diversa e, naturalmente, a exposição a ecrãs e a tudo o
que por eles chega no telemóvel, no tablet ou no pc.
Ao longo da minha actividade
profissional e desde há muito tenho abordado estas matérias, quer na formação dos
meus futuros colegas, quer em trabalho com professores e pais com quem tive oportunidade
de realizar muitos encontros interessantes, mas também com algumas inquietações,
confesso, face a discursos que fui ouvindo.
E a verdade é que ao longo do
tempo estas questões têm vindo a evoluir num sentido cada vez mais preocupante
e, finalmente, parece que estão definitivamente na agenda familiar e institucional,
designadamente, na área da educação, mas também na saúde mental.
Aqui no Atenta Inquietude têm
sido múltiplas as referências a este universo.
Por curiosidade, deixo um texto de
Abril de 2012, “Não, não e … sim”, que me parece manter a sua pertinência.
Já por aqui temos conversado, de
forma mais séria ou através de estórias, sobre a ideia de como o ”não” e o
”sim” são bens de primeira necessidade na vida dos miúdos.
Acontece que, por diferentes
razões, na vida das famílias, de muitas famílias, parece estar a ser
progressivamente mais difícil administrar o “não” usando-se de forma, por vezes
excessiva, o “sim”, seja de forma mais activa ou apenas por omissão do “não”.
Tal cenário acaba por estar
associado a situações em que os miúdos evidenciam grandes dificuldades em
perceber as regras e os limites do seu comportamento, uma das funções mais
importantes do “não”. Como consequência, o comportamento dos miúdos torna-se despótico,
desregulado, transformando-os no “pequeno ditador” de que alguns falam e muitos
conhecem, gerando-se situações de grande embaraço e climas educativos e
relacionais pouco saudáveis entre graúdos e miúdos.
Assistimos com muita frequência a
cenas bem exemplificativas deste funcionamento, pais envergonhados e impotentes
e meninos a fazer o que lhes passa pela cabeça, quando lhes passa pela cabeça.
Em muitas circunstâncias, os
estilos de vida dos pais, o pouco tempo que têm para os miúdos, instalam de
mansinho um sentimento de culpa que leva a que os pais, quase sempre sem se dar
conta, se inibam, para evitar situações de tensão ou crispação que "estraguem"
o pouco tempo que têm para os filhos, de dizer de forma firme e persistente,
“não”, "não podes fazer isso". Acontece que o “não” inicial
desencadeia no miúdo uma reacção de birra, mais ou menos exuberante, a que os
pais não resistem e, é uma questão de tempo, o “não” passa a “sim” quase sempre
acompanhado de um “só desta vez”, “só uns minutos” ou qualquer outra expressão
que na circunstância atenue o desconforto.
Os miúdos são inteligentes,
percebem muito facilmente quando um não é não ou quando o não passa rapidamente
a sim. Aprendem com serenidade as regras e os limites. É, pois, fundamental que
os pais se sintam confiantes e usem o “não” de forma adequada, ainda que
flexível, sem medos das “birras” ou de perderem o afecto dos miúdos por serem
“duros”. Na verdade, as crianças precisam dessas regras e dos limites para
estabelecer relações de afecto positivas, a sua ausência é que é um risco.