Vão-se repetindo as referências às enormes dificuldades sentidas por pais e escolas na resposta adequada a alunos com necessidades especiais, desculpem a insistência na terminologia, não me dou muito bem com a inclusiva arrumação de alunos nas gavetas das medidas “universais”, “selectivas” ou “universais”.
No Público surge mais um trabalho
elucidativo destas dificuldades “Pais de crianças doentes e com necessidades especiais são “abandonados pelo sistema de ensino". No trabalho são
referidas situações dramáticas vividas pelas famílias e a impotência das
escolas para providenciarem os apoios adequados.
Como há pouco escrevi a propósito
do pedido de escusa de responsabilidade de um grupo de professores de educação
especial de uma escola em Almada, os ventos não vão de feição para os mais
vulneráveis.
Reconheço e conheço, aliás, como
sempre conheci, excelentes e inspiradores trabalhos de professores, técnicos,
pais, escolas ou instituições ao longo destas quase cinco décadas de paradigmas
diferentes. No entanto, também importa reconhecer, veja-se os testemunhos da
peça acima e outros, por exemplo de relatórios da IGEC, que propagandear
discursos sobre inclusão assentes em “wishful thinking” ou torturar a realidade
para que se mostre diferente não é assim muito eficaz. Não, muitos alunos não
estão incluídos nem sequer integrados, estão “entregados” com as consequências
que professores, técnicos e pais bem conhecem.
Desculpar-me-ão a heresia ou
descrença, mas uma escola inclusiva é algo que não existe e, provavelmente, não
existirá nos tempos mais próximos. Os modelos e estilos de vida actuais,
económicos, políticos, sociais, culturais, as assimetrias brutais que se mantêm
não são compatíveis com “uma escola inclusiva”, de todo, são brutalmente
inquietantes os tempos que vivemos. Existem escolas, isso sim, que desenvolvem
excelente trabalho com alguns alunos, o que é diferente de “uma escola
inclusiva”.
Eu sei e gosto de acreditar que a
escola é, também, uma alavanca de mudança, mas a verdade é que a escola, de uma
forma ou de outra, é sobretudo um reflexo da sociedade que serve no tempo
histórico em que vive.
No entanto, em nome dos meus
netos que serão o futuro e das minhas convicções, e como disse acima, acredito
numa escola que possa, quanto possível, tentar promover educação, a relação
diária entre quem está na escola, assente em princípios de educação inclusiva.
E neste sentido em todas escolas existirá educação inclusiva, há sempre quem a
promova mesmo em contextos menos favoráveis.
Finalizo voltando ao início, as
políticas públicas são onerosas, a política pública de educação é onerosa, a
suficiência de recursos será sempre uma questão problemática, mas é, também,
por aqui que se avaliam a competência e adequação das… políticas públicas.
E, fazendo bem as contas, a
exclusão tem custo bem mais elevados.
Muitos pais, muitos alunos,
muitos professores, muitos técnicos, não são “abandonados pelo sistema de
ensino", estão abandonados na incompetência das políticas públicas e na retórica
em matéria de educação inclusiva, seja lá isso o que for.
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