quarta-feira, 22 de junho de 2016

DOZE MESES DE ESCOLA POR ANO OU CHEGAM ONZE?

Lê-se na imprensa que as direcções das escolas e agrupamentos, bem como os pais, estão preocupadas pelo desconhecimento sobre o calendário escolar do próximo ano lectivo.
Parece claro que seria desejável que com maior antecedência e também estabilidade fosse conhecido o calendário escolar que facilite a melhor organização das escolas e também das famílias.
Antes de algumas notas umas pequenas dúvidas, a saber:
As escolas estariam abertas 12 meses por ano ou seriam suficientes 11 meses conforme o presidente da Confap defendia há um ano?
A escola é “o espaço em que os pais mais confiam”, o espaço em que mais delegam competências, o espaço em que mais depositam os filhos, ou o espaço em que se sentem obrigados a deixar os filhos por falta de alternativas?
A generalidade das pessoas adoraria ter um programa de actividades lúdicas no seu local de trabalho durante as férias e ficaria com uma muito melhor relação com essa instituição pois seria um local de trabalho e um excelente parque de diversões?
Mais a sério e retomando notas antigas
O facto deste tempo tão grande de permanência na escola ser algo de pouco comum na generalidade dos países não me parece relevante como argumento embora mereça atenção.
A ideia de no sistema educativo que temos e no modelo de sociedade em que vivemos proporcionar onze meses (pelo menos) de estadia na escola é insustentável.
É verdade, sentimos todos, que os estilos de vida actuais colocam graves problemas às famílias para assegurarem a guarda das crianças em horários não escolares. A resposta tem sido prolongar a estadia dos miúdos nas instituições escolares radicando no que considero um equívoco, o estabelecimento de uma visão de “Escola a tempo inteiro” em vez de “Educação a tempo inteiro”. A Confap insiste neste caminho.
No actual quadro de organização das escolas os alunos podem estar na escola entre as 8h (ou 7:30 em algumas escolas) e as 19h (19:30 em algumas escolas), é obra!
É preciso o maior dos esforços, espaços, equipamentos e recursos humanos qualificados para que se não transforme a escola numa “overdose” asfixiante para muitos miúdos e um clima pouco positivo de trabalho para todos profissionais que nela trabalham.
É verdade que existem boas práticas neste universo mas também conhecemos situações em que se verifica a dificuldade óbvia e esperada de encontrar recursos humanos com experiência e formação em trabalho não curricular com crianças a partir dos seis anos.
Acresce que muitas escolas, fruto da concentração de alunos e do número de alunos por turma, não possuem espaços ou equipamentos que permitam com facilidade o desenvolvimento de actividades fora do figurino mais habitual de actividades de natureza escolar.
Em muitas situações, apesar do empenho dos profissionais (alguns não o são por falta de qualificação adequada), apesar dos alunos estarem “guardados” o benefício imediato é quase nulo e a consequência a prazo poderá ser a desmotivação, no mínimo.
Neste quadro, manter aos alunos onze meses na escola é de um enorme risco.
Creio que a Confap andaria melhor se promovesse, dentro das suas competências, a discussão sobre a organização do trabalho, os horários e políticas de família, para que as famílias, quando fosse possível evidentemente, pudessem ter alternativas de horários laborais que lhes permitissem mais disponibilidade para os filhos.
Seria também de explorar a possibilidade de recorrer a outros serviços e equipamentos das comunidades, desportivos ou culturais, por exemplo, que respondessem às necessidades de crianças e jovens e não mantê-los na escola, a resposta mais fácil mas com inconvenientes que me parecem claros. Aqui sim, parece-me importante o papel das autarquias.
Na mesma lógica da pretensão expressa pela Confap por que não avançar com a proposta de que as escolas estejam abertas, por exemplo, à sexta à noite de modo a permitir vida cultural ou social dos pais?
Sim, é anedótico e demagógico mas trata-se de sublinhar que, por um lado, a escola não pode ser a solução para todos os problemas das famílias, crianças e jovens e, por outro lado, nem sempre os interesses dos pais coincidem com os interesses dos filhos.

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