domingo, 28 de novembro de 2010

É CRIME DESPERDIÇAR

Há umas semanas atrás escrevia aqui que, considerando as enormes dificuldades que muitas pessoas atravessam, constitui quase um crime o desperdício de comida confeccionada que vai diariamente parar ao lixo onde, cada vez mais frequentemente, é "recuperada" por pessoas sem alternativas. É de sublinhar que estamos a falar de sobras e não de restos.
Na altura alguma imprensa referia que muitos restaurantes, num bom exemplo de responsabilidade social, estariam na disposição de providenciar essas sobras a instituições de solidariedade social mas estão impedidos de o fazer devido às restrições legais nas condições de transporte e distribuição de alimentos fiscalizadas pela ASAE e entendem, com alguma razão não ser seu dever providenciar também o transporte já que dão a comida confeccionada.
Já nessa altura corria a petição que sabemos agora, refere o Público, parece ter encontrado eco e a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, autarquias e instituições de solidariedade social surgem envolvidas na criação de uma rede nacional que suporte e operacionalize o aproveitamento e a distribuição por quem necessita das sobras de alimentos confeccionados.
Como é evidente é preciso proteger a saúde pública e acautelar riscos, sobretudo os relacionados com o transporte e acondicionamento, mas é quase que num período em que disparam as solicitações junto dos Bancos Alimentares e das instituições sociais todos os dias se coloquem no lixo toneladas de comida confeccionada.
Como na altura afirmava o responsável de um restaurante as autarquias poderiam providenciar um transporte adequado cujo custo seria, creio, amortecido pelo valor dos bens distribuídos o que minimizaria os gastos em apoios.
É por questões desta natureza que às vezes me refiro às dimensões de natureza ética e do sistema de valores que estão directamente ligadas aos tempos difíceis que atravessamos. Assistimos sem grandes sobressaltos à luta pela sobrevivência diária de milhões de portugueses em situação de pobreza ou em risco e, com a mesma tranquilidade, assistimos ao obsceno desperdício diário de bens de primeira e urgente necessidade, em nome da protecção da saúde pública, questão facilmente resolúvel se houvesse vontade para tal. Parece que vai haver.

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