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sexta-feira, 25 de setembro de 2020

A LER, "PORQUE FALHAM AS NAÇÕES COM TURMAS NUMEROSAS"

 

No Público encontra-se um texto de Paulo Prudêncio, “Porque falham as nações com turmas numerosas” que propõe uma reflexão estimulante em torno das políticas públicas e considerando um aspecto de forma mais particular, o número de alunos por turma.

Trata-se de uma questão recorrente e com uma abordagem frequentemente com equívocos. Como é sabido, em Junho foi reprovada no Parlamento uma redução do número de alunos por turma que sustentasse um trabalho educativo com mais qualidade e qualidade para todos no ano lectivo que agora se iniciou.

A este propósito retomo algumas notas que me parecem oportunas considerando as circunstâncias de uma parte significativa das nossas escolas e agrupamentos e os efeitos em muitos alunos da forma como decorreu a parte final do ano lectivo passado.

Actualmente e em consequência da alteração de uma das muitas “melhorias” introduzidas por Nuno Crato, as turmas do ensino básico e secundário têm entre 24 e 28 alunos e o ensino profissional entre 22 e 28 sendo que também no secundário se pode verificar a redução para 22 quando existirem na turma alunos com necessidades especiais. Talvez seja de recordar que esta medida existe de há muito no básico e nem sempre se aplica, provavelmente em nome da “inclusão”.

Antes de mais parece-me importante sublinhar um aspecto nem sempre valorizado quando se fala do número de alunos. Seria desejável que em conjunto com a análise e redução do efectivo de turma se considerasse um outro importante aspecto nem sempre valorizado, o número de alunos por professor. Muitos professores lidam com muitas turmas perfazendo números acima dos 120 ou 150 alunos. Parece dispensável explicitar as implicações negativas desta situação.

A revisão de estudos sobre o número de alunos por turma e o seu impacto mostra o que também conhecemos, existem vantagens em turmas de menor dimensão que podem ser mais ou menos significativas em função das variáveis em análise.

Parece-me de acentuar que os estudos sugerem com clareza a existência de impacto positivo no clima e comunicação na sala de aula, na maior facilidade de práticas educativas mais diferenciadas, no comportamento dos alunos, etc., o que, evidentemente deve ser considerado e tem uma importância crítica nas escolas actuais.

Alguns estudos, apenas centrados em resultados, não encontram diferenças significativas, mas também me parece que nem sempre são consideradas variáveis importantes, de contexto por exemplo, o que frequentemente também não é tido em conta nos discursos de alguns economistas da educação.

É também fundamental considerar as diferentes características dos diversos territórios educativos independentemente da sua classificação como TEIP. Na verdade, é necessário considerar as diferenças de contexto, isto é, a população servida por cada escola, as características e dimensão da escola, a constituição do corpo docente, os recursos disponíveis, etc. Importa ainda sublinhar que a qualidade e sucesso do trabalho de professores e alunos depende de múltiplos factores, sendo que a dimensão do grupo é apenas um, ou seja, importa considerar, vejam-se relatórios e estudos nesta área, as práticas pedagógicas, os processos de organização e funcionamento da sala de aula e da escola, recursos e dispositivos de apoios, bem como o nível de autonomia de cada escola ou agrupamento, entre outros. Daí a importância de promover uma autonomia real. Aliás, dentro do que entendo por verdadeira autonomia das escolas, estas deveriam ser a ter a competência para definir e organizar as turmas embora aceite a existência de orientações nesse sentido.

Aliás, também com base na autonomia das escolas poderiam ser consideradas outras opções como a presença de dois professores em sala de aula mesmo com um efectivo de turma mais elevado. Em algumas circunstâncias pode ser mais vantajosa que a redução do número de alunos por turma.

Acresce nesta matéria a importância da qualidade do trabalho em turmas com alunos com necessidades educativas especiais, sim existem alunos com necessidades especiais, o que, evidentemente, deve ser considerado na análise do efectivo de turma, desde logo cumprindo o que esteja legislado e acautelando a tentação de “inclusões administrativas” em que os alunos ficam “entregados” e não “integrados”.

Diga-se ainda que é quase dispensável referir a diferença entre trabalhar com 26 ou 28 alunos num estabelecimento privado de acesso “protegido” ou com o mesmo número de alunos num mega-agrupamento de uma escola pública em que um professor lida com várias turmas, centenas de alunos ou se desloca entre escolas para trabalhar.

Não só por esta razão, dimensão das turmas e qualidade do trabalho dos alunos, de todos os alunos, e dos professores, também me parece que deveria ser promovida uma verdadeira desburocratização do trabalho nas escolas e promovido algum ajustamento na sua organização e funcionamento o que certamente libertaria tempo de professores para trabalho em turma ou em apoios que promovessem qualidade.

Sei que mudanças neste sentido são politicamente difíceis e terão custos. No entanto, são imprescindíveis e os custos do insucesso e da exclusão são incomparavelmente mais caros.

Como fica claro no texto de Paulo Prudêncio.

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