AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 22 de maio de 2017

DAÍ ESTE MEU CANSAÇO

É apresentado hoje um estudo da associação EPIS – Empresários pela Inclusão Social realizado em parceria com Fórum das Políticas Públicas - CIES-IUL e coordenado por maria de Lurdes Rodrigues. O estudo, “Aprender a ler e escrever em Portugal", investigou a a questão do insucesso escolar no 1º ciclo.
Os resultados são surpreendentes e merecem análise cuidada. A coordenadora do estudo se tivesse acesso a este conhecimento teria certamente um diferente desempenho e prioridades no tempo em que passou pela 5 de Outubro.
Alguns dados em termos de síntese
Ficamos a saber e não sabíamos que continua a verificar-se um nível importante de insucesso escolar no 1º ciclo desde logo no 2º ano, o primeiro em que a retenção, o chumbo, é possível.
Ficamos a saber e não sabíamos que muitas escolas são espaços de sucesso e que o insucesso é mais elevado em escolas de periferia que servem territórios mais vulneráveis em termos sociais e económicos e em escolas de concelhos do interior mais desertificado.
Ficamos a saber não sabíamos que no âmbito do insucesso identifica-se como questão crítica a aprendizagem da leitura e da escrita.
Ficamos a saber e não sabíamos que a atribuição de causalidade face ao insucesso privilegia o “contexto familiar” e o meio socioeconómico desfavorecido mais do que questões de natureza curricular ou de recursos físicos, humanos ou espaços.
Ficamos a saber e não sabíamos que mais de metade dos docentes inquiridos (52.2%) admite desvantagens na retenção mas 87% considera a retenção “como uma oportunidade e não como um problema” e defende vantagens pois permite a “aquisição e consolidação das aprendizagens”.
Ficamos a saber e não sabíamos que a maioria dos professores inquiridos não concorda com a proibição de chumbar no 1º ano.
Por outro lado, sabemos e não é de agora que o chumbo, a retenção, não transforma o insucesso em sucesso, repetir só por repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme os estudos mostram quer se queira, quer não. Aquilo a que alguns chamam de “cultura de retenção” existe e marca de forma importante alguns dos discursos agora retratados
Também sabemos que para promover mais sucesso e não empurrar os alunos para os anos seguintes sem nenhuma melhoria nas suas competências ou saberes é essencial promover e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo.
Sabemos também que a escola pode e deve fazer a diferença, em muitas escolas isso acontece. Mas para que isto seja consistente e não localizado também sabemos que o sucesso se constrói identificando e prevenindo dificuldades de forma precoce, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio eficazes, competentes e suficientes a alunos e professores, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, com a valorização do trabalho dos professores, com práticas de diferenciação e expectativas positivas face ao trabalho e face aos alunos, com melhores níveis de trabalho cooperativo e tutorial, quer para professores quer para alunos, etc.
Sabemos tudo isto. Nada é novo.
Só falta um pequeno passo.
Construir para todos os miúdos trajectórias de sucesso. Não, não é uma utopia. Tal como o insucesso não é uma fatalidade do destino.

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